CORTE,
ENXUGUE E LIMPE
Meu
sócio, Emilio Medina, “nasceu e cresceu” no meio outdoor. Mal completados 14
anos e ainda de calça curta, era levado por seu pai, o Medina (como era
conhecido) para onde quer que fosse em suas visitas às
agências de propaganda. Quando nos tornamos sócios, ele com pouco mais de 20
anos, já era um profundo conhecedor do meio, de suas características e do seu
incrível poder de comunicação.
Anos
depois viríamos a formar uma parceria que hoje se expressa através de uma
empresa dedicada exclusivamente a operar mídia out-of-home, termo que trouxe do
mercado americano na falta de um na língua portuguesa que definisse nossa área
de conhecimento e atuação.
Dos
primeiros dias de nossa sociedade, lembro um conceito que usava como referência
para analisar a qualidade de uma peça de mídia exterior: gigantografia.
O termo, que o Emilio me repetia e que o corretor do Word me informa não
existir no dicionário, me vem à lembrança agora quando, finalmente, decidi
escrever sobre o que está “por trás” da eficiência de peças exibidas ao ar-livre.
Se o faço é porque nos incomoda ver diariamente soluções que poderiam ter sido
bem melhor elaboradas, sem que se precise ferir a estrutura gráfica e textual
criada para as demais mídias. Mas se isto pode ser feito, porque continuamos a ter
peças, no mínimo, inadequadas?
São
diversas as razões. As que me lembro de imediato: a) baixa participação do
segmento no mix de mídia, que diz aos profissionais envolvidos qual a que tem
95% de importância e qual a que tem 5%; b) alta-rotatividade dos profissionais
de propaganda, o que não proporciona aos executivos de atendimento, diretores
de criação e de arte, uma prática constante que leve ao aprimoramento; c)
normas restritivas (os “polices”) dos anunciantes
quanto à aplicação de marcas, logotipos e textos; d) vinculação direta e rígida
à solução de leiaute dada para a mídia impressa; e) tempo. Misture tudo e sua
única alternativa será jogar búzios. Só os deuses serão capazes de produzir um
bom resultado.
Muito
temos procurado por caminhos que nos permitam dar uma contribuição para a
melhoria das peças sem que isso seja entendido como ingerência na seara
(leiaute) dos outros. O primeiro deles foi desenvolver um roteiro para uma
palestra em que mostramos peças flagrantemente eficazes e identificamos quais
as características que as tornam especiais. A palestra, sempre que realizada, é
muito bem recebida mas, parece, facilmente esquecida. Um
pouco frustrados, idealizamos um outro caminho. Recentemente,
com muita habilidade para não ferir suscetibilidades, sugerimos às agências das
quais somos parceiros, que fizessem a experiência de nos solicitar uma
avaliação do leiaute antes de a arte final ser enviada para a produção. Alguns dias
depois, recebemos dois leiautes sugeridos para uma empena e, em poucas horas,
entregamos um relatório sucinto apontando aspectos que reduziam o impacto da
peça e/ou prejudicavam o seu entendimento, junto com sugestões de como os
problemas, de cada uma das alternativas, poderiam ser minimizados ou eliminados.
Não avaliamos se a proposta da agência era ou não adequada, isto não nos cabe,
unicamente nos concentramos em oferecer aos responsáveis pela conta,
referências para uma melhor decisão. E mais, decidido qual o leiaute a ser
usado, receberam informações relevantes para tornar mais fácil a percepção da mensagem
por quem passasse por ela a alguns quilômetros por hora. Pelo resultado final
da experiência, temos certeza de que esta agência nos solicitará outras
avaliações e, quem sabe, no futuro, terá incorporado o procedimento nos seus
processos para mídia OOH.
As
duas ações que citei, são internas da nossa empresa, não servem para disseminar
a mensagem. Por isso venho ruminando há tempo uma mensagem simples (como deve
ser a mensagem exibida em mídia exterior), facilmente memorável no momento da
criação de um bom leiaute. Penso que consegui alguma coisa.
O
termo gigantografia que citei no início, é um
resultado ao qual se chega depois de um processo. Para quem vive o meio, diz
tudo, mas para quem se envolve esporadicamente com ele, não diz nada e, por
vezes, confunde. Eu o encaro como a simplificação máxima de conceitos e,
enquanto a mídia exterior se resumia a outdoor, era suficiente. Hoje, este meio
é estupidamente complexo. O que significa, por exemplo, gigantografia
aplicada a uma peça instalada em uma face de uma coluna de sustentação na praça
de alimentação de um shopping? O termo me serviu plenamente para me deixar
concentrado no que era mais importante naqueles idos, quando engatinhava no
aprendizado das manhas do segmento. Hoje, precisamos de uma
outra mensagem.
Hoje
queremos excelência em mídia out-of-home, e isto oé muito mais
abrangente. E para se chegar a um resultado final de excelência em peças para
este meio, o primeiro passo é “cortar”, no sentido estrito que fotógrafos e
diretores de arte conhecem: selecionar parte de um todo, excluir, por corte com
lâmina ou tesoura, até sobrar apenas um núcleo. O “corte” é necessário porque o
objetivo é focar a atenção sobre a imagem essencial. O segundo passo é
“enxugar”, tarefa a ser aplicada sobre o texto, especialidade dos redatores de
publicidade. Enxugue, enxugue, enxugue,
até não poder mais. Mas o último passo, “limpar” é, creio, o principal. Limpar
é, basicamente, aumentar contraste da imagem e do texto sobre o fundo. Mas limpar
também é retirar elementos que “sujam” a visibilidade do que é importante. Com
segurança posso dizer que limpar é deixar o leiaute...perfeito!
Deixo
uma sugestão a todos os profissionais (do cliente e da agência) envolvidos do briefing à aprovação final de campanhas para mídia out-of-home. Em algum lugar, no post-it, na agenda, no desktop, no palmtop, no quadro branco ou negro, na
cortiça ou na parede, coloquem a seguinte frase: “Mídia OOH: Corte, Enxugue e Limpe”. E que venham os prêmios para
todos!
Paulo Vogel
Em 14 de junho
de 2005