NOTAS DE: 1984
Autor: George Orwell
Ed. Cia. Editora Nacional – (1948/1984/2021)
Tinha-se que viver – e vivia-se por hábito transformado em instinto – na suposição de que cada som era ouvido e cada movimento examinado, salvo quando feito no escuro.
Nada pertencia ao indivíduo, com exceção de alguns centímetros cúbicos dentro do crânio.
Não é fazendo ouvir a nossa voz, mas permanecendo são de mente que preservamos a herança humana.
“Quem controla o passado” dizia o lema do Partido, “controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado”.
O espírito de Winston mergulhou no mundo labiríntico do duplipensar. Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da democracia e que o partido era o guardião da democracia, esquecer tudo (...)
As mensagens recebidas referiam-se a artigos ou noticias que, por um motivo ou outro, deviam ser alterados ou, como se dizia oficialmente, retificados. (...) Tornava-se portanto necessário reescrever um parágrafo do discurso do Grande Irmão, de maneira a fazer com predissesse, exatamente o que sucedera. (...) Assim que fossem reunidas e classificadas todas as correções consideradas necessárias a um dado número do Times, aquela edição era reimpressa, destruído o número original, e o exemplar correto colocado no arquivo em seu lugar. (...) a referência era sempre a erros, enganos, equívocos, más interpretações que precisavam ser corrigidos, no interesse da exatidão. Na verdade, porém, não chegava a falsificação. Era apenas a substituição de uma sandice por outra.
Tudo se fundia e confundia num mundo de sobras no qual, por fim, até a data do ano se tornara incerta.
(...) suprimir da imprensa os nomes de pessoas vaporizadas, e portanto consideradas inexistentes.
Por meio de cuidadoso condicionamento, em tenra idade, por meio de jogos e água fria, pelo lixo que lhes impingiam na escola, nos Espiões e na Liga Juvenil, por meio de conferencias, paradas, canções, lemas e música marcial, tinham expulso o sentimento natural.
Mas os proles, se de algum modo adquirissem consciência do seu poderio, não precisariam conspirar. Bastava-lhes levantarem-se e sacudir-se, como um cavalo sacode as moscas.
Não se revoltarão enquanto não se tornarem conscientes, e não se tornarão conscientes enquanto não se rebelarem.
Gritar sempre com a massa, é o único jeito de não correr perigo.
De certo modo, o ponto de vista do Partido se impunha com mais êxito às pessoas incapazes de compreendê-lo. Aceitavam as mais flagrantes violações da realidade porque jamais percebiam inteiramente a enormidade do que se lhes exigia, e não estavam suficientemente interessadas para observar o que acontecia. Graças à fala de compreensão permaneciam sãs de juízo. Apenas engoliam tudo, e o que engoliam não lhe fazia mal, porque não deixava resíduo, do mesmo modo que um grão de milho passa, sem ser digerido, pelo corpo de uma ave.
Os melhores livros são os que dizem o que já se sabe.
Desliberdade: apenas a liberdade que outro me permite.
Os únicos perigos genuínos são a formação de um novo grupo de gente capaz, sem muito trabalho, e faminta de poder, e o crescimento do liberalismo e do ceticismo nas suas fileira governamentais.
A consciência das massas precisa ser influenciada apenas de modo negativo.
Duplipensar é um sistema de fraude mental.
É só reconciliando contradições que se pode reter indefinidamente o poder.
Mais cedo ou mais tarde a força se transforma em consciência.
O Partido não se interessa pelo ato físico; é com os pensamentos que nos preocupamos. Não apenas destrói os inimigos; ele os modifica.
O cansaço da célula é o vigor do organismo. Acaso morres quando apara as unhas.
O poder está em se despedaçar os cérebros humanos e tornar a junta-los da forma que se entender.
Se queres uma imagem do futuro, pensa numa bota pisando um rosto humano – para sempre.
Nós [o Partido] criamos a natureza humana. Os homens são infinitamente maleáveis.
Oh, mal-entendido cruel e desnecessário! Oh, teimoso e voluntário exílio do peito amantíssimo! Duas lagrimas cheirando a gim escorreram de cada lado do nariz. Mas agora estava tudo em paz, tudo ótimo, acabada a luta. Finalmente lograra a vitória sobre si mesmo. Amava o Grande Irmão.