EXTRATO DE: VIDA EM FRAGMENTOS
Autor: Zygmunt
Bauman
Ed. Zhar -
(1995/2011)
[Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do
comportamento humano ao tentar explicar as regras morais de forma racional,
fundamentada, científica e teórica. É uma reflexão sobre a moral.
Moral é o conjunto de
regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas
regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos
sobre o que é moral ou imoral, certo ou errado, bom ou mau.
No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito
semelhante. São ambas responsáveis por construir as bases que vão guiar a
conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes, e por
ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.]
Muito antes de nos
ensinarem e de aprendermos as regras de bom comportamento (...) já estamos numa
situação de escolha moral. Somos, por assim dizer, inevitavelmente -
existencialmente -, seres morais: somos confrontados com o desafio do outro, o
desafio da responsabilidade pelo outro, uma condição do ser-para.
"Ser
moral" não significa "ser bom", e sim o exercício da liberdade
de autoria (como autor) e/ou atuação (como autor) na forma de uma escolha entre
o bem e o mal.
Quer escolhamos quer não, enfrentamos nossas
situações como problemas morais e nossas opções de vida como dilemas morais.
Dilemas não têm
soluções prontas. A necessidade de escolher vem sem uma receita infalível para
a escolha correta. (...) A vida moral é um percurso de incerteza contínua.
(...) A solidão é um morador tão permanente e não excluível da morada da
responsabilidade quanto a ambivalência.
Nenhuma religião jamais considerou a vida
sem pecados uma perspectiva viável, nem propôs um caminho para uma vida sem
mal.
No caso da condição
moral, a legislação dizia respeito a projetar um código de ética: um código que
(ao contrário das estratégias religiosas de arrependimento e perdão) pudesse
realmente prevenir o mal, dando ao ator uma certeza a priori em relação ao que
deve ser feito, ao que deve ser deixado de lado e ao que não deve ser
praticado.
Mais depressa que
as soluções religiosas equivalentes, a culpa é eliminada da escolha, agora simplificada
na forma de um dilema entre obediência e desobediência à regra.
Se a caderneta de
poupança era a epítome da vida moderna, o cartão de crédito é o paradigma da
pós-moderna.
Estudos tentam
fazer um balanço daqueles privilégios ambivalentes da vida pós-moderna sobre os
quais ainda não sabemos se são obstáculos ou trampolins; e que, por tudo que
sabemos, ainda podem se tornar as duas coisas.
Religião e
sociedade são a mesma coisa. A sociedade sem religião é incompleta e está
condenada, incapaz de se defender diante de qualquer tribunal. Fundamento de
todos os sentidos, embora ela mesma sem sentido próprio, endosso de todos os
propósitos, embora ela própria despropositada, incapaz de suprimir as
evidências dessa incongruência, a sociedade seria condenada no momento em que se tornasse ré, acusada da
autoria de seus atos e da responsabilidade por eles.
Como "não pode fazer sentido", a
morte deve ser desmentida,
reprimida por um código de confidencialidade cultural, ou desconstruída - e
essa se comprovou uma tarefa extremamente difícil.
Para Schopenhauer,
"a existência é meramente acidental".
A filosofia do século XIX começou com a
utopia de Hegel e terminou com Nietzsche num hospício.
Não há causa nem
razão para a moralidade. A necessidade de ser moral, e o significado de ser
moral, não pode ser demonstrado nem
logicamente deduzido. Assim, a moral é tão contingente quanto o resto do ser:
ela não tem fundamentos éticos.
"Não há um
Deus" significa: não há força maior que a vontade humana nem mais poderosa
que a resistência humana capaz de coagir os selves humanos a serem morais.
Se não houver essa força e essa autoridade,
os seres humanos estarão abandonados ao seu próprio juízo e à sua própria
vontade. [???]
Desde o início dos
tempos, a sociedade existe por meio da autoconstituição.
Quando a
contingência governa, os sábios são rebaixados do alto posto de fazedores da
história ao trabalho braçal de cronistas da corte.
Multiplicam-se os
sinais de que, longe de ser endemicamente universal, a civilização moderna é
imprópria em si mesma para aplicação universalizada.
Jean-François Lyotard: A humanidade está dividida em duas partes. Uma
enfrenta o desafio da complexidade, a oura enfrenta o antigo e terrível desafio
da sobrevivência.
Robert Lane: Estudos em economias avançadas demonstram, como seria de se esperar, que para cada mil libras
esterlinas de renda, há, na verdade, um crescimento na sensação de bem-estar -
mas somente para o quinto mais pobre da população. Para além desse patamar,
não há quase aumento algum na satisfação das pessoas com suas vidas diante
de um aumento nos níveis de renda. (...)
Nos EUA e na Inglaterra, verifica-se apenas uma relação trivial e errática. Os
ricos não são mais felizes que as pessoas de classe média, e os indivíduos de
classe média alta não são mais felizes que os da classe média baixa. Além dos
níveis de renda de pobreza e quase pobreza, se o dinheiro compra felicidade,
ele compra muito pouco, e muitas vezes não pode adquirir felicidade alguma.
Uma renda ampliada
adiciona felicidade à vida somente entre aqueles que estão em situação de
pobreza, mas, como todas as estatísticas mostram, são justamente as pessoas em
situação de pobreza que podem esperar um pequeno aumento de renda como
resultado do "desenvolvimento".
Pode-se dizer que a obsessão legislativa é
uma característica de todas as civilizações.
A lei posicionou-se
entre a ordem e o caos, a existência humana e o vale-tudo animal, o mundo
habitável e o inabitável, o sentido e a falta de sentido. A lei era para todos
e para tudo: e também para tudo que qualquer pessoa pode fazer a qualquer outra.
A busca incessante dos princípios éticos era uma parte do frenesi legislativo.
As pessoas tinham de ser informadas de seu dever de fazer o bem, e que cumprir
seu dever é a bondade.
Se a ordenação e a
criação foram os gritos de guerra da modernidade, a desregulamentação e a
reciclagem tornaram-se as palavras de ordem da pós-modernidade.
No rastro do mundo,
de um lado, mantido por mandamentos de Deus e, de outro, administrado pela
razão, surge um medo de homens e mudanças abandonados a suas próprias sagacidades
e habilidades. Homens e mudanças à solta... Homens soltos, mudanças soltas? A
vida, novamente sórdida, brutal e curta?
Os legisladores não podem imaginar um mundo
ordenado sem legislação. O legislador ético ou o pregador não podem imaginar um
mundo moral sem uma ética imposta pela lei.
Seja o que for que seja passado como
"bom" ou "ruim", explicou Nietzsche, isso tem algo a ver
com hierarquia, superioridade inferioridade, dominação e supremacia.
Nietzsche: Em toda
parte, "nobre", "aristocrático", no sentido social, é o
conceito básico a partir do qual se desenvolveu o bom no sentido de
"espiritualmente nobre", de "espiritualmente bem-nascido":
um desenvolvimento que sempre corre paralelo àquele outro que faz
"plebeu", "comum", "baixo" transmutar-se afinal
em ruim.
Sobrevivência é o
nome do jogo, e a sobrevivência em questão e, em regra, sobreviver até o
próximo por do sol. As coisas são tomadas à medida que se apresentam, esquecidas
à medida que se vão.
Pessoas afundadas
até as orelhas na luta diária pela sobrevivência nunca foram capazes nem
sentiram a necessidade de codificar sua compreensão do bem e do mal sob a forma
de um código de ética. Afinal, os princípios dizem respeito ao futuro.
Manter-se vivo,
hoje, significa não perder o que quer que ontem assegurasse a vida - não muito
mais que isso. O elemento central da sobrevivência é as coisas não ficarem
piores que antes.
O "ético"
é o moral que já foi antecipado, "comunitarizado" ou divinizado. Na
temporalidade do meio, o ético - a lei - sempre já chegou. Ele contribui muito
pouco para aplacar a ansiedade, assim como o conhecimento de que o veredicto de
Deus já foi previamente estabelecido contribuiu para dispersar os pesadelos dos
pios calvinistas. Ainda se confronta a liberdade suspeitando-se de que ela não
é tão livre quanto parece e finge ser, mas conhecendo-se pouco sobre a natureza
do cativeiro. Nas palavras de Maurice Blanchot, "todos aqui têm sua própria prisão, mas
nessa prisão cada pessoa é livre.
Paul Valéry:
Nos tempos de Ronsard, o olho ficava satisfeito com uma vela. Os sábios daquela
época, que voluntariamente trabalhavam durante a noite, liam (e que rabiscos
ilegíveis eles acabavam por ler!) e escreviam sem dificuldade em qualquer luz
bruxuleante e pobre. Hoje, qualquer um precisa de vinte, cinquenta,
cem velas [watts].
O discurso da
"qualidade de vida" é, em seu núcleo mais profundo, uma crítica à
vida cotidiana.
"Qualidade de
vida" torna-se a norma principal da crítica à realidade na parte do mundo
em que a sobrevivência, no sentido biológico básico, foi assegurada para todos ou
quase todos os seres humanos; de modo que o futuro não pode ser imaginado como
"mais sobrevivência", mas apenas como "mais felicidade"
daqueles cuja sobrevivência já foi garantida.
O horizonte da
vida-pelo-bem-da-autopreservação era o estado de perfeição - e a perfeição é o
estado de não mudança, um estado que não pode ser melhorado em mais nada, um
estado que qualquer mudança só pode vir a piorar.
É a perspectiva de
superação de uma infelicidade especifica aqui e agora que sempre se mostra para
nós como "a felicidade enquanto tal".
A característica
mais preeminente de "qualidade de vida" é que ela sempre existe como
uma imagem, e que essa imagem está em perpétua mutação.
O "problema de
identidade" moderno consistia em como construir uma identidade e mantê-la
sólida e estável. O "problema de identidade" pós-moderno diz respeito
essencialmente à forma de se evitar a fixidez e manter abertas as opções.
A principal
ansiedade atrelada à identidade nos tempos modernos era a preocupação com a
durabilidade; hoje, é a inquietação com o evitar o compromisso.
Pensa-se na
identidade sempre que não há certeza sobre o lugar de pertencimento.
"Identidade" é um nome dado à busca da fuga dessa incerteza.
A identidade é uma
afirmação oblíqua da inadequação ou da incompletude "do que é".
Onde quer que o
peregrino esteja agora, não é este o lugar onde ele deveria estar, e não é este
o local em que ele sonharia se ver.
A glória e a gravidade do destino futuro
depreciam o presente, rebaixam seu significado, lançam-lhe luz.
O mundo não é mais
hospitaleiro para os peregrinos. (...) quanto mais fácil seja imprimir uma
pegada, mais fácil será apagá-la. Uma rajada de vento basta. E os desertos são
locais com muito vento.
Determinação para
viver um dia de cada vez, descrever a vida cotidiana como uma sucessão de
pequenas emergências, passam a ser os princípios orientadores de toda conduta
racional.
[Segundo George Steiner, no mundo atual, a mensagem a ser transmitida é
construída para ter] impacto máximo e
obsolescência instantânea, uma vez que o espaço por ela ocupado precisa ser
esvaziado tão logo tenha sido preenchido, para abrir espaço a novas mensagens
que já forçam a entrada.
O tempo não é mais
um rio, mas um conjunto de lagunas e lagos. [O tempo se torna mais curto a cada
dia vivido.]
Enquanto o
peregrino foi metáfora para a vida moderna, o andarilho, o vagabundo, o turista
e o jogador oferecem conjuntamente a metáfora para a pós-modernidade, movida
pelo horror de se estar preso e fixo. (...) Cada um destes tipos transmite
apenas parte de uma história que dificilmente se integra em totalidade. No coro
pós-moderno, os quatro tipos cantam - às vezes em harmonia, mas com mais frequência em
cacofonia.
O andarilho tem
todos os prazeres da vida moderna sem os tormentos a ela inerentes.
A liberdade
definitiva é dirigida para a tela, vivida na companhia de superfícies, e se
chama zapping.
Ruas hoje arrumadas
se tornam perigosas amanhã, as fábricas desaparecem com os postos de trabalho,
habilidades não encontram mais compradores, o conhecimento se transforma em
ignorância, a experiência profissional se converte em deficiência, redes de
relações seguras desmoronam e enlameiam o espaço com lixo pútrido.
Agora o vagabundo é
vagabundo pela escassez de locais assentáveis.
O turista, assim
como o vagabundo, onde quer que ele vá, estará no lugar, mas nunca será do
lugar. (...) O turista é um caçador consciente e sistemático de experiências.
(...) O problema é que, como as escapadelas turísticas consomem cada vez mais
da vida, a própria vida se transforma em prolongada escapada turística, a
conduta do turista torna-se o modo de vida (...)
Para o jogador, o
jogo é como a guerra, mas a guerra que o jogo é não deve deixar cicatriz mental
nem nutrir rancores: "Somos pessoas crescidas. Vamos nos comportar como
adultos e seguir como amigos", solicita o consorte-jogador desistindo do
jogo do casamento, em nome da "jogabilidade" das partidas, por mais
sérias ou cruéis que sejam. (...) O sistema fez o que pôde fazer. O restante é
com aqueles que "jogam".
Hoje é cada vez
mais difícil de se alcançar as amizades, os amores e casamentos profundos e
duradouros.
A humanidade
conheceu o medo desde o princípio. O medo encontraria um lugar próximo ao topo
de qualquer lista que se possa imaginar das características mais evidentes da
humanidade.
Sigmund Freud: Somos
ameaçados pelo sofrimento que chega até nós por três caminhos: nosso corpo, que
é fadado à decadência e à decomposição, e que nem sequer pode existir sem os
sinais de alerta da dor e da ansiedade; o mundo exterior, que pode nos combater
com forças destrutivas assombrosas e impiedosas; e finalmente nossas
relações com outros seres humanos.
Pan-óptico é um termo
utilizado para designar uma penitenciária ideal,
concebida pelo filósofo e jurista inglês Jeremy
Bentham em 1785, que
permite a um único vigilante observar todos os prisioneiros, sem que estes
possam saber se estão ou não sendo observados. O medo e o receio de não saberem
se estão a ser observados leva-os a adotar a comportamento desejado pelo
vigilante.
Bentham: Se um
homem não trabalha, ele nada tem para fazer da manhã à noite senão comer seu
péssimo pão e tomar sua água, sem uma alma com quem falar. O espectro da
incerteza, é exorcizado pelo disciplinamento. A certeza é restaurada por forças
externas ao indivíduo - a partir de fora. (...) Os campos de escolha teóricos
são, para os internos de um pan-óptico, tão amplos quanto para qualquer um, mas
o campo prático se encolhe diante da escolha entre uma ociosidade idiotizante e
maltrapilha e um trabalho idiotizante e
maltrapilhamente remunerado. Assim, este último é mais suscetível de escolha, e
a certeza reina mais uma vez - ou quase.
"Progresso
técnico" significa tornar o pleno emprego cada vez mais irrelevante do
ponto de vista do volume de produção.
O indivíduo é seu próprio guarda e
professor. [Temendo um pan-óptico, nos autoregulamos, autocensuramos,
autocriticamos, autoincriminamos.]
O ideal para uma
cidade harmônica é promover um acerto entre demandas conflitantes. O dilema é
como sacrificar da liberdade apenas o pouco (e não mais que o) necessário para
tornar suportável a angustia da incerteza, para fazer com que se possa viver
com ela.
Dean
MacCannell: O problema central da pós-modernidade
será criar "comunidades" substitutas, imitadas, para fabricar ou até
mesmo vender um "sentido" de comunidade.
O processo civilizador
não consiste na extirpação, mas na redistribuição da violência.
O Estado é uma comunidade humana que
reivindica o monopólio do uso legítimo da força física dentro de determinado
território.
Adiaforização é o
processo de tornar certas ações ou certos objetos de ação moralmente neutros ou
irrelevantes - isentá-los da adequada categoria de fenômenos para a de
avaliação moral.
A adiaforização ganhou poder com o efeito global de
"insensibilização" diante da crueldade que possa emergir do volume sem
precedentes de exposição a imagens de sofrimento humano. (...) E para afastar a
fadiga de visualização, o cotidiano deve ser cada vez mais sangrento, chocante
e, além do mais, "criativo", a fim de despertar algum sentimento que
seja, e verdadeiramente chamar a atenção.
As linhas
divisórias entre as "notícias", a ficção e o jogo tornaram-se cada
vez mais tênues (...)
Sob condições
pós-modernas, a individualidade emergente é marcada pelas seguintes
características:
1 - os indivíduos
são antes de tudo "organismos experimentadores" (...) capazes de
absorver e de responder a um fluxo constante e preferencialmente crescente de
estímulos.
2 - os indivíduos
são atores "originadores", ou seja, caracterizados sobretudo pela
mobilidade e flexibilidade de comportamento espontâneas (...)
3 - Os indivíduos
tendem a se equilibrar como unidades quase autossuficientes e autopropelidas.
4 - O modelo
principal da correção é, portanto, a boa forma, em detrimento da saúde.
"Boa forma" significa a capacidade física e espiritual do indivíduo
de absorver e responder criativamente a um crescente volume de novas
experiências.
Os quatro tipos em
conjunto tendem a tornar as relações humanas fragmentárias e descontínuas.
Seguir o impulso
moral significa assumir a responsabilidade pelo outro, o que, por sua vez,
conduz ao engajamento no destino do outro e ao compromisso com seu bem-estar.
Um sintoma
amplamente divulgado do retorno da violência é a crescente dificuldade em
manter separada orientação paterna firme e abuso infantil; flerte e assedio,
investida sexual e atentado violento ao pudor.
Casamentos,
famílias, país e mães, vizinhanças, locais de trabalho têm perdido muito do seu
papel de postos da fábrica de ordem societariamente gerida. (...) enquanto os
exercícios de poder superior antes obedecidos ou simplesmente despercebidos são
reclassificados como violência ilegítima.
O cogito de Descartes foi
reformulado para "sou notado, logo existo" (e, para fins práticos,
descarregado como "grito, logo existo").
Em nosso mundo
viciado em sensações, estímulos cada vez mais fortes são necessários para
manter a atenção desperta por mais tempo que um momento fugaz.
Quanto mais
nebulosa for uma profecia, mais inflamados os olhos e mais sangrenta a matança.
"A tecnologia
se desenvolve porque se desenvolve"; cada vez mais novos meios são criados
seguindo apenas seu próprio ímpeto (o ímpeto dos laboratórios de pesquisa e dos
lucros do marketing).
[As pesquisas
genéticas] reabrirão as portas dos fundos para desqualificar novas categorias
de seres humanos, como "inferiores" e "superiores".
Podemos estar agora
ingressando na era de um "Holocausto contínuo e silencioso".
Quanto mais
instrumentos temos para fazer funilaria com as realidades da vida, mais
aspectos do ambiente social em que vivemos parecem "problemas" a
respeito dos quais temos que fazer algo.
A liberdade
continua a ser definida em termos de direitos dos grandes e poderosos.
Jeffrey Weeks:
A humanidade não é uma essência a ser realizada, e sim uma construção
pragmática, uma perspectiva a ser desenvolvida pela articulação da variedade de
projetos individuais, de diferenças que constituem nossa humanidade no sentido
mais amplo.
Yi-Fu-Tuan
(analista do poder como forma de gestão): Quando objetos [humanos] se colocam
no caminho dos agitadores e realizadores do mundo, eles são removidos.
A tecnologia se
desenvolve porque se desenvolve, concluiu Jacquel Ellul. "Não há nenhum
clamor para um fim; o que há é um forçar por parte de um motor colocado na
parte traseira, e que não tolera pausa na operação da máquina."
Em breve os casais
serão capazes de selecionar a elaboração de sua escolha no longo e variado menu
de genes, e os médicos irão se encarregar de garantir que as crianças sejam
feitas exatamente de acordo com o pedido - num tubo de ensaio, se necessário.
As vítimas não são
sempre eticamente superiores a seus algozes. O que as faz moralmente melhores,
e torna crível sua reivindicação nesse sentido, é o fato de que, sendo mais
fracas, tiveram menos oportunidades de ser cruéis.
A moralidade
superior é, muito habitualmente, a moralidade do superior.
Nenhuma vitória
sobre a desumanidade parece ter tornado o mundo mais seguro para a humanidade.
Sempre de uma nova maneira, o espectro da desumanidade retorna de seu exílio. A
despeito de toda sua longa história, as escolha morais parecem sempre começar
do zero.
À medida que a
história humana prossegue, a crueldade e o assassinato em massa já não são mais
novidade, e a modernidade pode ser absolvida por não ter tido muito sucesso, no
curto espaço de tempo de apenas 300 anos, em erradicar ódios e agressões com
raízes milenares e em dominar as paixões precipitadas por milhões de anos de
evolução das espécies.
Essas condições
[campo de concentração] que transformaram o impensável em realidade, são realizações de nossa civilização moderna, em
particular de três elementos que sustentam, ao mesmo tempo, sua glória e sua
desgraça: a capacidade de agir à distância, a neutralização dos
constrangimentos morais da ação, e sua "atitude de jardinagem" - a
busca de uma ordem artificial, racionalmente concebida.
É banal dizer que
se pode matar hoje sem nunca olhar a vitima no rosto. Depois que afundar uma
faca num corpo, estrangular ou atirar a curta distância foram substituídos por
pontos que se deslocam numa tela de computador - como se faz nos divertidos consoles de viedogame ou na tela de um Nintendo portátil -,
o assassino não precisa mais ser
impiedoso. Ele não tem a oportunidade de sentir piedade. Este, entretanto, é o
aspecto mais óbvio e trivial, ainda que o mais dramático, de "uma ação à
distância".
Nossas novas e
modernas habilidades de ação à distância consistem em criar uma distância
social e psicológica, e não meramente física e óptica, entre os agentes e os
alvos de suas ações. Essa distância é reproduzida pela gestão moderna da ação,
com seus três aspectos diferentes, apesar de complementares.
Primeiro, quase
nenhum ator tem a chance de desenvolver a atitude de "autoria" em
relação ao resultado final. Não é um autor mas um tradutor das intenções de
alguém.
Segundo, cada ator
tem apenas um trabalho específico a realizar, limitado a si mesmo, e cada qual
produz um objeto sem destino prescrito, sem nenhuma informação sobre seus usos
futuros; nenhuma contribuição parece "determinar" o resultado final
da operação, e a maioria só retém uma tênue ligação lógica com o efeito final.
Terceiro, os
"alvos" da operação quase nunca aparecem para os atores como
"seres humanos", objetos de responsabilidade moral. Como Michael
Schluter e David Lee observaram irônica mas apropriadamente, "a fim de ser
enxergado nos níveis mais altos, você tem de ser quebrado em pedaços, e a maior
parte de você tem que ser jogada longe".
A fragmentação dos objetos da ação é
replicada pela fragmentação dos atores.
A organização
moderna é o governo de ninguém. É, podemos dizer, um dispositivo de flutuação
de responsabilidade - sobretudo da responsabilidade moral.
Sob o signo da modernidade, o mal não
precisa mais de pessoas más.
O sonho do espírito
moderno é de uma sociedade perfeita, purificada das fraquezas humanas
existentes. (...) A ambição era tornar esse sonho real por meio do esforço
contínuo, determinado e radical de "resolução de problemas", da
remoção, um a um, de todos os obstáculos no caminho para o sonho - o que
incluía os homens e mudanças que causavam problemas, que são o problema.
Os promotores
nazistas e comunistas de uma sociedade ordenada, livre de acidentes e de
desvios, se consideravam os descendentes e cavaleiros da ciência moderna e os
verdadeiros soldados do progresso.
Quando a tarefa de
domínio ganha incontestável prioridade sobre todas as outras considerações, os
próprios seres humanos se tornam supérfluos - e os Estados totalitários que
deram a essa tarefa tal prioridade se esforçam justamente para tornar os seres
humanos supérfluos.
A mensagem é: não
há sociedade organizada sem medo e humilhação, não há o domínio do homem sobre o mundo
sem atropelo da dignidade e o extermínio da liberdade humana, não há luta
contra a turbulenta contingência da condição humana que, afinal, não torne o
homem supérfluo.
Em 1975, o exercito
indonésio ocupou o território vizinho de Timor leste. Desde então, "um
terço da população foi executado. Aldeias inteiras foram massacradas pelas
tropas liberadas para estuprar, torturar e mutilar indiscriminadamente".
Não sabemos se as
tropas que torturaram, mutilaram e mataram fizeram isso pelo ódio profundo que
sentiam pelas pessoas dominadas, ou apenas porque é nisso em que consiste o
comando dos comandantes e o mandato dos comandados. Mas sabemos que o ministro
do país que vendeu às tropas os aviões para fazer o trabalho de extermínio não
sentiu emoção de qualquer espécie, exceto, talvez, a satisfação de um negócio
bem-sucedido.
Podemos dizer que o
extermino dos timorenses era - para os governantes da Indonésia - um ato de
criação.
"Soluções totalitárias", nos advertiu Hannah Arendt,
"podem muito bem sobreviver à queda dos regimes totalitários sob a forma
de fortes tentações que surgirão sempre que parecer impossível aliviar a
desgraça política, social e econômica de uma forma digna do homem".
Os vira-latas de ontem eram os não
produtores; os de hoje, são os não consumidores.
A cultura como uma
teoria da ordem social e como prática social de cultivação foi um produto
daquele reforço mútuo. A teoria partia do princípio de que homens e mudanças
por si sós eram incapazes de conviver pacificamente e despreparados para
enfrentar as complexas e restritivas exigências da vida social; de que eles não
superariam esses obstáculos sem ajuda qualificada, e que deveriam ser
assistidos por "pessoas de conhecimento". Elas deveriam ser educadas
de maneira que abraçassem as idéias e as habilidades que as pessoas de mais
conhecimento garantiam ser as certas e adequadas.
A aversão mais virulenta floresce entre as
ruínas de um amor não correspondido.
Programas políticos
que visam ao apoio da maioria só podem ser compostos por "coligações
arco-íris", improváveis de sobreviver à questão que por um instante as
reuniu.
O mercado promove
uma cultura de "máximo impacto e obsolescência instantânea".
Nenhum privilégio
consegue sobreviver à sua universalização. Quando os proclamados obstáculos à
universalidade são afinal removidos, chega a hora da verdade.
A Bulgária é parte da Europa? Os turcos são
europeus como os outros? Quantos temperos diferentes a sopa chamada Europa pode
receber sem se tornar intragável?
Hoje, uma das
consequências da contínua erosão da soberania do Estado-nação é que as forças
da etnia estão mais uma vez à solta, indomadas e desancoradas, flutuantes e
descontroladas. Desatrelada do ônus da gestão econômica e social em que havia
sido atada na era dos Estados-nação, vagando livremente no ar rarefeito das
emoções, a etnicidade é no mínimo uma força mais poderosa hoje do que jamais
foi em toda a história européia passada.
Províncias e
regiões por quaisquer razões insatisfeitas com o lugar que lhes é atribuído
pelos Estados-nação de que são parte não vêem mais qualquer boa razão para se
submeter humildemente ao monopólio estatal da soberania.
O divórcio entre a
autarquia política e autarquia econômica não poderia ser mais completo, e
parece irreversível.
A disputa pela
soberania torna-se cada vez mais a competição por um melhor negócio na
distribuição mundial de capital. Isso se aplica aos dois tipos de clamor por
soberania ora observados. De um lado, os provenientes de localidades prósperas,
como a Lombardia (Itália), a Catalunha (Espanha) (...)
De outro lado, há
as demandas de soberania representadas por localidades carentes com a Escócia,
opondo-se ao que eles vêem como uma parte muito pequena das riquezas garantidas
pelo Estado como um todo.
As necessidades de
identidade tendem hoje a ser cada vez mais agudas (e mais separadoras que no
passado) no despertar de cada vez mais evidente falência dos Estados-nação em
seu antigo papel de produtores e fornecedores de identidade.
Como admitiu Julia Kristeva, pela
primeira vez na história estamos condenados a conviver com nossas diferenças
"sem qualquer totalidade superior que abrace e transcenda nossas
particularidades".
Generalizamos a
partir do que vemos. Sempre que dizemos "as pessoas são o que são", o
que fazemos é falar das pessoas que encontramos; pessoas conformadas, movidas e
guiadas pelo mundo em que ocorre de elas e nós habitarmos juntos. (...) o que
as pessoas são depende, no todo ou em parte, do tipo de mundo em que eles e nós
vivemos.
Pessoas morais não
podem ser atacadas por impulsos irregulares; elas só podem ser guiadas, de
forma coerente e sistemática, por leis, regras, normas, princípios que
especifiquem claramente o que, numa determinada situação, se deve fazer e
aquilo de que se deve abrir mão.
A moralidade, como
o resto da vida social, deve ser fundada na lei, deve haver um código de ética
por trás da moralidade, um código que consista em prescrições e proibições.
[Uma explicação para o que enfrentamos nos
relacionamentos com as empresas nos dias atuais.] As organizações se defendem
[de nós] através do fenômeno da "flutuação de responsabilidade".
Considerando que o membro da organização siga suas regras fielmente e faça o
que seus superiores lhe disseram para fazer, não é ele quem assume a
responsabilidade por qualquer efeito que sua ação possa produzir sobre seus
objetivos. Quem assume, então? A questão é atordoante, uma vez que todos os
outros membros da organização também seguem procedimentos e ordens. Parece, diz
Hannah Arendt, que a organização é governada por ninguém - ou seja, é movida
apenas pela lógica impessoal de princípios autopropulsores.
Atos cruéis de uma
espécie da qual os membros individuais, ao agirem isoladamente, muito
certamente recuariam horrorizados, podem ser a princípio praticados por
organizações modernas.
É
a devastação moral, não o progresso moral, a consequência da espera para que os
mercados "desregulamentados" façam aflorar o melhor das pessoas". Nas palavras de Mulgan,
"o egoísmo e a ganância, além da corrupção no governo e nas empresas,
passaram a ser as marcas distintivas da era
neoconservadora.
[E quanto à sua
história de fidelidade com as empresas, especialmente com bancos, não valer
mais de nada] cada transação comercial, para ser verdadeiramente racional, deve
começar do zero, esquecendo méritos passados e dívidas de gratidão.
A racionalidade
empresarial evita a responsabilidade por suas próprias consequências, e esse é
mais um golpe mortal para a influência de considerações morais.
Nem as organizações
nem as empresas modernas promovem a moralidade. Pelo contrário, elas tornam
difícil e ingrata a vida da pessoa que insiste em ser moral.
Ser prudente e
previdente, pensar no futuro, torna-se cada vez mais difícil, uma vez que há pouco
sentido em acumular competências naquilo que o amanhã pode não demandar, ou
economizar um dinheiro que amanhã pode perder muito de seu poder de compra.
As coisas chamam a
atenção sem aviso prévio para logo em seguida desaparecer ou cair no
esquecimento sem deixar vestígios.
O mundo em que vivemos parece marcado por
fragmentação, descontinuidade e inconsequência.
"Ser previdente" significa agora
muito frequentemente, evitar o compromisso, ser livre para ir embora quando a
oportunidade parar de bater à porta.
Adotar uma atitude
moral significa assumir a responsabilidade com o outro; significa agir segundo
o pressuposto de que o bem-estar dos outros é algo precioso clamando por meus esforços
para preservá-lo e reforçá-lo; que o que faço ou não faço os afeta; que, se eu
não tiver feito isso, isso simplesmente não será feito; e que mesmo que outros
façam ou possam fazê-lo, isso não cancela minha responsabilidade de fazê-lo eu
mesmo.
Num mundo em mudança, à deriva, que possível
beneficio pode um indivíduo obter da união de forças com outros também em
destroços?
Quanto nos custará prover aqueles que não
podem prover a si mesmos.
É natural que o
contribuinte queira pagar menos impostos. (Assim como um burro de carga quer
que a carga diminua.) O resultado é que a qualidade dos serviços prestados
coletivamente desliza encosta abaixo. E, então, todos os que podem pagar o
preço de um barril compram um e saltam nele.
Se podemos, pagamos
individualmente para estar fora das escolas subequipadas, desgastadas; dos
hospitais superlotados, mal-supridos; das miseráveis pensões estatais para a
velhice - assim como já pagamos para nos vermos fora, com consequência que a
maioria de nós tardiamente lamenta, dos transportes públicos que encolhem e
definham cada vez mais.
Quem precisa de
política quando os interesses e significados seguem direções apartadas? O
interesse pela política sempre teve seus altos e baixos, mas agora parece que
conhecemos uma cepa totalmente nova do vírus da apatia eleitoral.
Vez por outra
ouvimos falar de pessoas que se reúnem para promover ou defender uma causa que
parecem considerar compartilhadas por todas elas. Sem esse "sentimento de
partilha" não haveria reuniões públicas, marchas, coletas de assinaturas.
É verdade. Mas, mesmo assim, muito mais vezes essas ações comuns não vivem
tempo suficiente para impulsionar instituições solidárias e merecer uma
lealdade estável de seus participantes - tanto quanto os participantes desfrutam
da experiência há muito esquecida de ajudar uns aos outros e fazer sacrifícios
pelo outro enquanto as ações comuns durem e a "causa comum" continue
a ser comum.
Muito raramente,
esses "temas únicos" manifestam ou reforçam o sentimento de
responsabilidade moral com o bem comum. Mais amiúde eles mobilizam sentimentos
contra, e não sentimentos para. (...) Eles dividem mais do que unem. De forma
oblíqua, promovem a ideia de que pessoas diferentes têm diferentes garantias
morais, e que os direitos de uns implicam
o direito de negar os diretos de outros.
Espera-se que a
"comunidade" seja o candidato mais provável para preencher a lacuna
da falta do sentimento de pertencimento.
É na comunidade que
muitas esperanças privadas por instituições falidas ou desacreditadas agora
centram suas atenções. (...) O que antes era visto como um obstáculo no caminho
para a plena humanidade é agora elogiado como sua condição necessária.
Os novos poderes
apelam para o que distingue uma coletividade humana de outra. Mais preocupados
com a defesa do que com um ataque, estão prontos a admitir que a pluralidade de
formas humanas chegou para ficar: ela não é mais uma
falha lamentável, ainda que temporária, e sim uma característica permanente da
existência humana. E o pensamento social, pronta e gentilmente, mudou seu tom.
A discussão sobre a
supremacia de uma suposta comunidade "natural" na vida do indivíduo
segue da seguinte maneira: cada um de nós nasce numa certa tradição e numa
certa linguagem, que decidem o que há para ser pensado antes de começarmos a
pensar por nós mesmos; o que devemos ver antes de começarmos a olhar; o que
devemos dizer antes de aprendermos a nos
expressar; o que devemos considerar importante antes de começarmos a ponderar
as coisas umas em relação às outras; como devemos nos comportar antes de
começarmos a refletir sobre as escolhas.
Tradições não
existem por si sós e independentemente do que pensamos e fazemos. Elas são todo
dia reinventadas por nossa dedicação, nossa memória seletiva e nosso olhar
seletivo, nosso agir "como se" ela definisse nossa conduta.
O canto das sereias
da comunidade diz respeito ao calor da união, da compreensão e do amor mútuos,
um alívio para a vida fria, dura e solitária da concorrência e da incerteza
contínuas!
A independência é
desaprovada; a dissidência, caçada; a deslealdade, perseguida. A pressão para
manter o rebanho no aprisco é implacável; o desejado conforto do pertencimento
é oferecido como preço pela falta de liberdade.
Nossa sociedade se
torna cada vez mais produtora, monitoradora e administradora do risco.
Começamos a contar
os perigos de uma engenharia genética cada vez mais ramificada da espécie
humana, que visa, em última análise, a oferecer
alfaiatarias de encomenda de proles humanas.
Agimos sem nos dar tempo
suficiente para pensar, muito menos para testar, os efeitos de longo prazo de
nossas ações.
A promoção de uma
ética nova e extremamente necessária para uma nova era é algo que só pode ser
abordado como questão e tarefa políticas.
Segundo a opinião mais
difundida, com a cumplicidade de práticas governamentais cotidianas, a política
consiste em fazer e desfazer leis e estatutos enquanto os eleitores assistem
aos efeitos e reelegem os legisladores se os efeitos forem de seu agrado, ou
entram na concorrência se não forem.
Mais importante e
ainda menos provável é a perspectiva de um esforço legislativo que siga
imperativos éticos de longo prazo, em vez de ser empurrado como um plâncton por
cálculos e ganhos eleitorais imediatos e de curta duração.
Eventos sucessivos
surgem como do nada e logo caem no esquecimento, para dar lugar a outros
acontecimentos; nenhum deles parece deixar muito rastro atrás de si.
Os triunfos de hoje
significam isolar a bagunça deixada pelos atos comemorados ontem.
O governo procura
manter em alta o modo de vida dos andarilhos dos shoppings como paradigma da
humanidade feliz e de vida boa.
Harmonia não é
uniformidade; é sempre um jogo de uma série de diferentes temas, cada um
mantendo sua identidade distinta e sustentando a melodia resultante por meio
de, e graças a, tal identidade.
Jeffrey Weeks: A
humanidade não é uma essência a ser realizada, mas uma construção pragmática,
uma perspectiva a ser desenvolvida por meio da articulação dos diversos
projetos individuais, das diferenças, que constituem nossa humanidade em seu
sentido mais amplo.
As pessoas podem
influenciar os assuntos que lhes digam respeito de duas maneiras: por meio da
voz ou por meio da saída. A diferença entre voz e saída é a diferença entre
compromisso e desprendimento, responsabilidade e indiferença, ação política e
apatia.
Deixe as decisões
para os conhecedores, e eles cuidarão de seu bem-estar. Assim como a si mesmo,
cuide das coisas próximas de sua casa: preserve os valores familiares. Mas
vimos que é a retirada para entre as paredes de uma unidade familiar o que
constitui o mais grave dano corporal a que as atuais privatização e
desregulamentação das preocupações humanas submeteram e seguirão a submeter as chances de renovação moral.
O perigo é de a
sede humana de controle e supremacia degenerar em crueldade e opressão
desumanas.
Entendemos agora
que a incerteza não é um incomodo temporário, e sim uma condição permanente da
vida.
A vida moral é uma
vida de contínua incerteza.
Uma sociedade que engaja
seus membros não exige súditos disciplinados nem consumidores de serviços
sociais prestados em busca de satisfação; exige tenazes e por vezes obstinados,
mas sempre cidadãos, e responsáveis.
Não se pode
garantir que tal comunidade será realmente construída. Na verdade, a única
certeza são os incansáveis esforços dos próprios construtores.