EXTRATO DE: UMA BREVE HISTÓRIA DE QUASE
TUDO
Bill Bryson
Companhia
das Letras – 2005
Para você
estar aqui agora, trilhões de átomos agitados tiveram de se reunir de uma
maneira intricada e intrigantemente providencial a fim de criá-lo.
Por mais
complexa que seja, no nível químico a vida é curiosamente trivial: carbono,
hidrogênio, oxigênio e nitrogênio, um pouco de cálcio, uma pitada de enxofre,
umas partículas de outros elementos bem comuns – nada que você não encontre na
farmácia mais próxima -, e isso é tudo de que você precisa.
A vida na
Terra, além de breve, é desanimadoramente frágil.
Se você
tivesse se desviado um mínimo que fosse de qualquer das mudanças
evolucionárias, poderia estar agora lambendo algas em paredes de cavernas,
espreguiçando-se como uma morsa em alguma praia pedregosa ou lançando ar por um
orifício no alto da cabeça antes de mergulhar vinte metros para se deliciar com
uns suculentos vermes.
O astrônomo
britânico faz uma analogia com uma enorme loja de roupas: “Se houver um grande
sortimento de roupas, uma pessoa não se surpreenderá se encontrar um terno que
lhe sirva. Se houver muitos universos, cada um governado por um conjunto
diferente de números, num deles existirá um conjunto particular de números
adequado à vida. Estamos exatamente nele.”
A maioria dos sistemas colares no cosmo é binária (com duas estrelas), o que
torna o nosso Sol solitário uma leve excentricidade.
Frank
Drake, professor de Cornell na década de 1960, formulou uma equação para
calcular as chances de existência de vida avançada no cosmo. Divide-se o número
de estrelas num trecho selecionado do universo pelo número de estrelas com
probabilidade de possuírem sistemas planetários; divide-se o resultado pelo
número de sistema planetários; divide-se o resultado pelo numero de sistema
planetários que poderiam teoricamente conter vida; divide-se o numero assim
obtido pelo numero daqueles em que a vida, tendo surgido, avança até um estado
inteligência; e assim por diante. (...) mesmo com os dados mais conservadores,
o numero de civilizações avançadas, somente na Via Láctea, sempre se situa na
casa dos milhões.
Pouca coisa
no universo é visível para nós. Somente cerca de 6 mil estrelas são visíveis da
Terra a olho nu, e somente cerca de 2
mil podem ser vistas de um só lugar. Com binóculo, o numero de estrelas
visíveis de um só lugar aumenta para umas 50 mil e, com um pequeno telescópio
de duas polegadas, salta para 300 mil.
As 3 leis
do movimento de Newton:
E a lei da
gravitação universal: todo objeto no universo exerce atração sobre todos os
outros. E a atração entre quaisquer 2 objetos é “proporcional à massa de cada
um e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles”.
Definição
dada por Lyell para unidades de tempo geológico desde a era dos dinossauros:
§
Pleistoceno
– a mais recente
§
Plioceno
– mais recente
§
Mioceno
– moderadamente recente
§
Oligoceno
– quase nada recente.
O tempo
geológico divide-se primeiro em 4 grandes blocos conhecidos como eras:
Pré-cambriano,
Paleozóico (do grego “vida antiga”), Mesozóico (“vida média”) e Cenozóico
(“vida recente”). Cada uma delas se divide em subgrupos, denominados períodos.
Ex: Cretáceo, Jurássico, Triássico, Siluriano etc.
Em nenhum
ponto a Bíblia afirma que Deus criou o Céu e a Terra no primeiro dia, mas
meramente “no princípio”.
As 3
principais leis da termodinâmica são expressas de forma jocosa como:
Ernest Rutherford
descobriu que elementos radioativos decaiam em outros elementos – que um dia se
tinha um átomo de urânio, digamos, para no dia seguinte se ter um átomo de
chumbo. Era alquimia, pura simplesmente; ninguém jamais imaginar que tal coisa
pudesse acontecer natural e espontaneamente. Ele também observou que, em
qualquer amostra de material radioativo, o decaimento de metade da amostra
levava sempre o mesmo tempo – a célebre meia-vida – e que essa taxa constante e
confiável de decaimento poderia servir como uma espécie de relógio.
A meia-vida
é apenas uma conveniência estatística – uma espécie de tabela atuarial para
coisas elementais. Cada átomo sobreviverá na verdade por um período de tempo
totalmente aleatório, sem nenhuma relação com múltiplos de trinta; poderia
durar dois segundos ou oscilar durante anos, ou décadas, ou séculos, antes de
desaparecer. Ninguém sabe ao certo. Mas o que podemos dizer é que, para a
amostra como um todo, a taxa de desaparecimento será tal que metade dos átomos
desaparecerá a cada trinta segundos.
A datação
do carbono funciona apenas para objetos com até cerca de 40 mil anos.
Tendo
acabado de solucionar vários dos mistérios mais profundos do universo, Einstein
candidatou-se a um emprego de professor universitário e foi rejeitado, e depois
a um de professor do curso secundário e foi igualmente rejeitado. Assim, ele
voltou ao seu emprego de perito de terceira classe, mas sem parar de refletir.
Ele estava longe de terminar.
Somos todos
reencarnações – embora efêmeras. Ao morrermos, os nossos átomos se separarão e
procurarão novas aplicações: como parte de uma folha, outro ser humano ou uma
gota de orvalho. Ninguém sabe ao certo por quanto tempo um átomo consegue
sobreviver, mas de acordo com Martin Rees provavelmente uns 1035
anos.
Um átomo
está para uma linha de um milímetro de espessura assim como a espessura de uma
folha de papel está para a altura do Empire State Bulding.
Em
Os
clorofluorcabonos foram proibidos em 1974 nos Estados Unidos, mas eles
continuam a ser produzidos pelas fábricas americanas no exterior. Ele só será
proibido nos países do terceiro mundo em 2010.
A cada
segundo, a Terra é visitada por 10 mil trilhões de trilhões de neutrinos
minúsculos, quase desprovidos de massa (a maioria liberada pela combustão
nuclear do Sol).
Em que
ponto atingimos a base irredutível? Carl Sagan, em Cosmos, levantou a
possibilidade de que, se descesse até um elétron, você descobriria que ele
continha um universo próprio: “Dentro dele, organizadas no equivalente local de
galáxias e estruturas menores, está um numero imenso de outras partículas
elementares bem menores, que são, por sua vez, universos no próximo nível, e assim
por diante para sempre – uma regressão descendente infinita, universos dentro
de universos, incessantemente. E para cima também.
Kalr
Popper, sugeriu que talvez não exista uma teoria definitiva da física – talvez
cada explicação possa requerer uma explicação adicional, produzindo uma “cadeia
infinita de princípios cada vez mais fundamentais”.
Ou nas
palavras de Martin Rees: “Nossa satisfação atual com nosso estado de
compreensão pode refletir a escassez de dados, e não a excelência da teoria”.
“A história de qualquer parte da
Terra, como a vida de um soldado, consiste em longos períodos de tédio e breves
períodos de terror.”
Derek V. Ager, geólogo britânico.
Tóquio, uma
cidade de 30 milhões de habitantes, é “uma cidade aguardando a morte” na
descrição de um especialista em riscos.
As camadas
da Terra:
Sabemos que
a força do campo magnético da Terra se altera de tempos em tempos: na época dos
dinossauros, era até três vezes maior do que agora. Sabemos também que ocorre
uma inversão aproximadamente a cada 500 mil anos em media, apesar de essa media
abrigar alto grau de imprevisibilidade. A ultima inversão foi há cerca de 750
mil anos, Às vezes, ela permanece inalterada por milhões de anos – 37 milhões
de anos parece ter sido o período mais longo – e em outras se inverteu após
apenas 20 mil anos. No todo, nos últimos 100 milhões de anos, ela se inverteu
cerca de duzentas vezes, e não temos nenhuma idéia da causa. Essa é considerada
“a maior pergunta não respondida das ciências geológicas”.
As
propriedades dos elementos podem tornar-se mais curiosas quando eles são
combinados. Oxigênio e hidrogênio, por exemplo, são dois dos elementos mais
amigos da combustão, mas, ao se juntarem, formam a água incombustível.
Richard
Feynman costuma fazer uma brincadeira sobre as conclusões a posteriori, como
são chamadas. “Veja bem que coisa espantosa aconteceu comigo esta noite. Vi um
carro com a placa ARW 357. Você acredita? Das milhões de placas do estado, qual
a chance de eu visse hoje à noite justamente essa? Impressionante!”. O que ele
queria mostrar era que é fácil fazer qualquer situação banal parecer
extraordinária se você tratá-la como fatídica.
A água está
por toda parte. Uma batata é 80% água, uma vaca, 74%. Uma bactéria, 75%. Um
tomate, com 95%, tem pouca coisa além de água. Mesmo os seres humanos são 65%
água o que nos torna quase 100% mais líquidos do que sólidos.
Um tipo de
verme chamado alvinelídeo foi encontrado vivendo bem nas margens, com a
temperatura da água em sua cabeça 78 graus C mais quente do que na cauda. Antes
disso, acreditava-se que nenhum organismo complexo conseguisse sobreviver em águas
com mais de 54 graus, e ali estava um sobrevivendo em temperaturas superiores
àquela e, ainda por cima, ao frio extremo.
Desde 1946
os Estados Unidos transportavam tambores de
Tudo era
feito no maior desleixo. A maioria dos tambores era exatamente do tipo que se vê
enferrujando atrás de postos de gasolina ou do lado de fora das fábricas, sem
nenhum revestimento protetor. Quando um tambor não afundava, o que era comum,
os atiradores da Marinha crivavam-no de balas para deixar a água entrar (e, é
claro, plutônio, urânio e estrôncio vazarem).
Christian
de Duve diz que “a vida é uma manifestação obrigatória da matéria, fadada a
surgir sempre que as condições forem apropriadas” e ele acha provável que essas
condições se encontram talvez 1 milhão de vezes em cada galáxia.
As chaminés
marinhas borbulhantes são na atualidade as candidatas mais populares ao berço
da vida.
Em setembro
de 1969 uma bola de fogo (um meteorito) explodiu sobre a cidade de Murchison,
na Austrália. (...) Descobriu-se que o meteorito possuía 4,5 bilhões de anos e
estava repleto de aminoácidos – 74 tipos no topo, oito dos quais estão
envolvidos na formação das proteínas terrestres.
Em certo
momento, em um passado inimaginavelmente distante, uma pequena bolsa de
substâncias químicas nervosamente adquiriu vida. Ela absorveu alguns
nutrientes, pulsou com suavidade, teve uma existência breve. Apenas isso já
poderia ter acontecido antes, talvez. Muitas vezes. Mas esse pacote ancestral
fez algo adicional e extraordinário: partiu-se e produziu um descendente. Um
feixe minúsculo de material genético passou de uma entidade viva para outra e
nunca mais parou. Os biólogos costumam chamar esse momento inicial de Grande
Nascimento (Big Birth, em analogia ao bib-bang).
Na verdade,
não adianta tentar se esquivar das suas bactérias, pois elas estão sempre
presentes, em números que você nem consegue imaginar. Se você goza de boa saúde
e tem bons hábitos de higiene, terá um rebanho de cerca de 1 trilhão de
bactérias pastando em suas planícies carnudas – cerca de 100 mil em cada
centímetro quadrado de pele. Elas estão ali para consumir os aproximadamente
100 trilhões de flocos de pele que você perde todo dia...
E essas são
apenas as bactérias que habitam sua pele. Existem mais trilhões escondidas em
suas tripas e nos orifícios nasais, presas a seus cabelos e cílios, nadando na
superfície de seus olhos, perfurando o esmalte de seus dentes. Seu sistema
digestivo sozinho abriga mais de 100 trilhões de micróbios, de pelo menos
quatrocentos tipos. (...) Cada corpo humano consiste em cerca de 10 quatrilhões
de células, mas hospeda cerca de 100 quatrilhões de células bacterianas.
No todo,
apenas cerca de um micróbio em mil é um patógeno para os seres humanos, de
acordo com a National Geographic – embora, diante do que alguns conseguem
fazer, nada seja mais natural do que acharmos que esse numero já é suficiente.
Conquanto na maior parte benignos, eles ainda são o assassino numero 3 do mundo
ocidental, e mesmo muitos micróbios menos letais já fazem com que lamentemos
profundamente sua existência.
No todo os
micróbios estão começando a ganhar a guerra de n ovo: só nos hospitais
americanos, cerca de 14 mil pessoas por ano morrem de infecções hospitalares.
Um vírus é
uma entidade estranha e desagradável – “uma porção de acido nucléico cercada de
más noticias”, na expressão memorável do premio Nobel Peter Medawar. Menores e
mais simples que as bactérias, os vírus por si mesmos não estão vivos.
Isoladamente, são inertes e inofensivos. Mas introduzidos no hospedeiro
adequado, entram em atividade – ganham vida.
É quase
impossível para nós, cujo tempo na Terra se limita a umas poucas décadas
animadas, conceber quão remota foi a explosão cambriana. Se você pudesse voltar
no tempo à velocidade de um ano por segundo, levaria cerca de meia hora para
atingir a época de Cristo, e pouco mais de três semanas para retroceder até os
primórdios da vida humana. Mas seriam necessários vinte anos para chegar à
aurora do período Cambriano. Ou seja, aquilo já faz muito tempo, e o mundo era
um lugar diferente.
[Sobre
criaturas fossilizadas encontradas
Para
Stephen Jay Gould contrariamente ao que prega Richard Dawkins: “A história da
vida é uma história de retirada maciça seguida de diferenciação dentro de
algumas estirpes sobreviventes, não a lenda convencional de um aumento
constante da excelência, complexidade e diversidade.”
Tendemos a
ignorar o pensamento de que a vida simplesmente existe. Como seres humanos,
estamos propensos a achar que ela precisa de um objetivo. (...) Mas o que é a
vida para um líquen? Todavia, seu impulso por existir, por ser, é tão forte
quanto o nosso – possivelmente até mais forte. Se eu fosse informado de que
teria de passar décadas como uma cobertura felpuda de uma rocha na floresta, acho
que perderia a motivação para continuar vivendo. (...) Como quase todo ser
vivo, eles sofrerão qualquer adversidade, agüentarão qualquer insulto, por um
momento de existência adicional. A vida, em suma, simplesmente deseja ser. Mas,
em geral, não deseja ser muita coisa.
Estamos tão
habituados à noção de nossa própria inevitabilidade como a espécie dominante de
vida que é difícil compreender que estamos aqui somente devido a choques
extraterrestres oportunos e outros eventos aleatórios. Nas palavras Gould: “Os
seres humanos estão hoje aqui porque nossa linhagem específica nunca se rompeu
– nem uma vez em qualquer dos bilhões de momentos que poderiam ter nos apagado
da história.
Se você imagina os cerca de 4.500
bilhões de anos da história da Terra comprimidos em um dia terrestre normal, a
vida começa muito cedo, em torno das quatro da madrugada, com o surgimento dos
primeiros organismos unicelulares simples, mas depois não avança mais nas
próximas dezesseis horas. Somente quase às oito e meia da noite, com cinco
sextos do dia já decorridos, a Terra consegue exibir ao universo algo alem de
uma cobertura irrequieta de micróbios. Finalmente as primeiras plantas marinhas
aparecem, seguidas vinte minutos mais tarde da primeira medusa e da enigmática
fauna de Ediacaran, vista pela primeira vez por Reginal Sprigg, na Austrália.
Às 21h04 entram em cena os trilobites (a nado), seguidos mais ou menos
imediatamente pelas criaturas bem formadas de Burgess Shale. Pouco antes da 22
horas, plantas começam a brotar em terra firme. Logo após, faltando duas horas
par o fim do dia, despontam os primeiros animais terrestres. Às 22h24 a Terra é
coberta pelas grandes florestas carboníferas cujos resíduos fornecem todo o
nosso carvão, e os primeiros insetos com asas se fazem notar. Os dinossauros
entram em cena pouco antes das 23 horas e dominam por cerca de 45 minutos.
Faltando 21 minutos para a meia-noite, desaparecem, e a era dos mamíferos
começa. Os seres humanos emergem um minuto e dezessete segundos antes da
meia-noite. Nessa escala, toda a nossa história registrada não furaria mais do
que alguns segundos, e a vida de um único ser humano mal duraria um instante.
Nesse dia grandemente acelerado, continentes deslizam e se chocam num ritmo
positivamente frenético. Montanhas se erguem e se desfazem, bacias oceânicas
surgem e desaparecem, lençóis de gelo avançam e recuam. E o tempo todo, cerca
de três vezes por minuto, em algum ponto do planeta, um fulgor marca o impacto
de um meteoro do tamanho do de Manson, ou até maior.
A vida na
Terra possui outra qualidade bem pertinente: ela se extingue. Com certa
regularidade. Apesar de todo o esforço para se formarem e se preservarem, as
espécies entram em colapso e morrem bastante rotineiramente, e quanto mais
complexas se tornam, mais rápido parecem se extinguir.
99,99% de
todas as espécies que já viveram não estão mais conosco. “Numa primeira
aproximação”, como gosta de dizer David Raup, da Universidade de Chicago,
“todas as espécies estão extintas.”
A Terra
assistiu a cinco episódios de extinção em grande escala durante sua existência
– no Ordoviciano, no Devoniano, no Permiano, no Triássico, e no Cretáceo, nessa
ordem – e a muitos menores. As extinções do Ordoviciano (440 milhões de anos
atrás) e do Devoniano (365 milhões) exterminaram, cada uma, cerca de
As
seguintes causas foram identificadas como estando na origem dos casos das
grandes extinções:
Richard Fortey, do Museu de História
Natural de Londres: “Aquele era um sujeito bem legal chamado Norman, que passou
42 anos estudando uma única espécie de planta, a erva-de-são-joão. Ele se
aposentou em 1989, mas continua vindo todas as semanas.”
Bill Bryson: “Como é possível passar
42 anos estudando uma única espécie de planta?”
Fortey: “É notável, não é? Parece
que ele é muito meticuloso.”
Se seu
travesseiro tem seis anos, estimou-se que um décimo de seu peso será
constituído de “pele que se soltou, ácaros vivos, ácaros mortos e estrume de
ácaros”. “Se você lava roupa suja a
temperaturas baixas, tudo o que obtém são ácaros mais limpos”.
Porque não
podem fugir dos predadores, as plantas tiveram de criar defesas químicas e
estão, portanto, particularmente enriquecidas com compostos químicos
intrigantes. Mesmo agora, cerca de um quarto de todos os remédios prescritos
são derivados de apenas quarenta plantas, enquanto outros 16% advêm de animais
ou micróbios.
O rotífero
bdeloídio, um organismo microscópio, é capaz de sobrevier a quase tudo. Quando
as condições são adversas, eles se enrolam em uma forma compacta, desligam o
metabolismo e aguardam épocas melhores. Nesse estado, você pode jogá-los em
água fervente ou congelá-los até quase o zero absoluto – nível em que até os
átomos entregam os pontos. Quando terminar o tormento e eles forem devolvidos a
um ambiente mais ameno, os bdeloídios se desenroscarão e seguirão em frente
como se nada tivesse acontecido.
Tudo começa
com uma única célula. A primeira célula divide-se em duas, e as duas em quatro,
e assim por diante. Após apenas 47 duplicações, você tem 10 mil trilhões de
células em seu corpo e está pronto para entrar em ação como um ser humano. Cada
uma dessas células sabe exatamente o que fazer para preservar e acalentá-lo, do
momento de sua concepção até seu ultimo alento.
Composição
de uma célula:
§
um
invólucro ou membrana externa
§
um
núcleo onde residem as informações genéticas necessárias para manter você
§
um
espaço movimentado entre os dois chamado citoplasma
Tipicamente
uma célula conterá cerca de 20 mil tipos diferentes de proteínas, dos quais
cerca de 2 mil estarão representados, cada um, por pelo menos 50 mil moléculas.
Isso significa um mínimo de 100 milhões de moléculas de proteína em cada
célula. Tal cifra desconcertante dá uma idéia da imensidão pululante da
atividade bioquímica dentro de nós.
Os genes
são nada mais (e nada menos) que instruções para produzir proteínas. Combine os
genes, como você combinaria teclas do piano, e podem-se criar acordes e
melodias de variedade infinita. Junte todos esses genes, e você terá a grande
sinfonia da existência conhecida como o genoma humano.
Os pilares
da estrutura em caracol de uma molécula de DNA são feitos de um tipo de açúcar
chamado desoxirribose, e a totalidade da hélice é um acido nucléico – daí o
nome “ácido desoxirribonucléico”. Os degraus são formados por duas bases que se
juntam no espaço intermediário, combinadas de dois jeitos: guanina sempre com
citosina, e tiamina sempre com adenina.
Ocasionalmente,
cerca de uma vez em 1 milhão, uma letra vai parar no lugar errado. Isso se
denomina polimorfismo de nucleotídeo único. O equilíbrio entre precisão e erros
na replicação é sutil. O excesso de erros impede o funcionamento do organismo,
mas sua falta sacrifica a adaptabilidade. Um equilíbrio semelhante deve existir
entre a estabilidade e a inovação em um organismo.
A humanidade
é atualmente representada por 6 bilhões de genomas. Somos todos 99,9% iguais,
mas também, nas palavras do bioquímico David Cox, “podemos dizer que todos os
seres humanos não compartilham nada, e isso seria igualmente correto”.
O DNA-Lixo
é a parte empregada nas “impressões digitais” do DNA.
Na maior
parte, nosso destino e nosso conforto – e até a cor de nossos olhos – não são
determinados por genes individuais, e sim por complexos de genes funcionando em
aliança.
O
crescimento da barba do homem, por exemplo, é em parte uma função de quanto ele
pensa em sexo (porque pensar em sexo produz um aumento da testosterona).
[!!!!!!!!!]
Nunca é demais dizer: todas as
formas de vida têm algo
O mais
extraordinário de tudo é que não sabemos o que é mais provável: um futuro
oferecendo uma eternidade de frio mortal ou períodos igualmente longos de calor
sufocante. Só uma coisa é certa: vivemos no fio da navalha.
John Reader
As
batatas-doces são nativas da América do Sul. Portanto, como foram parar em
Papua, Nova Guiné? Não sabemos. Não temos a menor idéia. Mas o que é certo é
que as pessoas vêm se deslocando com bastante certeza por mais tempo do que
tradicionalmente se pensava, e quase sem dúvida compartilhando genes, além de
informações.
A teoria
mais aceita pelas pessoas da área para explicar os movimentos humanos é que os
seres humanos se dispersaram pela Eurásia em duas ondas. A primeira consistiu
no Homo erectus, que deixou a África com uma rapidez espantosa – logo depois de
surgir como espécie -, a partir de 2 milhões de anos atrás. Com o tempo, ao se
fixarem em diferentes regiões, esses erectus antigos evoluíram ainda mais em
tipos diferentes: o Homem de Java e o Homem de Pequim, na Ásia, e o Homo heidelbergensis
e finalmente o Homo neanderthalensis na Europa.
Sabe-se
também que o homem de Neandertal e os seres humanos modernos coexistiram, de
algum modo, por dezenas de milhares de anos no Oriente Médio.
Não se
acredita que uma certa “promiscuidade” entre os homens de Neandertal e os
modernos tenha resultado em uma descendência reprodutivamente bem-sucedida. Uma
possibilidade é que os homens de Neandertal e os Cro-Magnon tivessem números deferentes
de cromossomos, complicação que costuma surgir quando espécies próximas, mas
não totalmente idênticas se unem. No mundo eqüino, por exemplo, os cavalos
possuem 64 cromossomos e os burros, 62. Se você acasalar os dois, obterá um
rebento com um número reprodutivamente inútil de 63 cromossomos. Obterá, em
suma, uma mula estéril.
No final de
200, um estudo sueco sobre 53 pessoas, concluir que todos os seres humanos
modernos emergiram da áfrica nos últimos 100 mil anos e descendem de uma
linhagem reprodutora de não mais de 10 mil indivíduos.
“Para obter
um espécime realmente puro, é preciso escavá-lo em condições de esterilização e
realizar os testes no local da descoberta. Não contaminar um espécime é a coisa
mais difícil do mundo.”
Na América,
trinta gêneros de animais grandes – alguns bem grandes – desapareceram
praticamente de um só golpe após a chegada ao continente dos seres humanos
modernos, entre 10 mil e 20 mil anos atrás.
Em 1907,
quando um conhecido colecionador percebeu que havia abatido os três últimos
espécimes do black mamo, uma espécie de pássaro silvestre descoberta apenas na
década anterior, observou que a noticia o enchia de “júbilo”.
Na década
de
Chegamos a esta posição de
proeminência em um período incrivelmente breve. Os seres humanos
comportamentalmente modernos – ou seja, pessoas capazes de falar, produzir arte
e organizar atividades complexas – existiram por apenas cerca de 0,0001% da
história da Terra. Mas sobreviver mesmo durante esse tiquinho exigiu uma cadeia
quase incessante de boa sorte.
GLOSSÁRIO
Singularidade
– é o termo usado para indicar a compressão de tudo o que no universo em um
ponto tão infinitesimalmente compacto que não terá nenhuma dimensão (um espaço
inconcebível).
Códons -
palavras em que as instruções genéticas estão escritas.
Bases – são
as letras do alfabeto genético (Adenina,
Tiamina, Guanina e Citosina, ).
Densidade
critica – é o termo usado para definir a gravidade na medida certa que manterá
o universo coeso exatamente nas dimensões certas para que as coisas prossigam
indefinidamente.
J. B. S.
Haldane (biólogo): “O universo não é apenas mais estranho do que supomos; ele é
mais estranho do que conseguimos supor.”
Entropia –
é a forma de medir quão desordenado é um estado e de determinar a probabilidade
de resultados específicos com novos embaralhamentos.
Panspermia
– teorias da origem extraterrestre da vida.
Eucarioto –
significa “realmente nucleado”.
Procarioto
– significa “pré-nucleado”
Isótopo –
um átomo com um numero anormal de nêutrons.
Tetrápodes
– animais com quatro membros que terminam em no máximo cinco dedos.
Dinossauros, baleias, aves, seres humanos, peixes.