ANOTAÇÕES DE:

SEJA VOCÊ MESMO SEU MELHOR AMIGO

(UM DIÁLOGO COM DOIS PSICANALISTAS)

 

TÍTULO DO ORIGINAL: HOW TO BE YOUR OWN BEST FRIEND

AUTOR: MILDRED NEWMAN AND BERNARD BERKOWITZ

EDITADO EM:    1991                         POR: JOSÉ OLYMPIO EDITORA

Émile Coué - psicólogo francês, defensor da tese do domínio de si mesmo através da auto-sugestão. (Nota do tradutor)

Introdução - por Jean Owen

"A maior parte dos homens vive em silencioso desespero." (Thoreau)

O que nos incomoda está cada vez mais aberto à discussão. (....) não aceitamos a angústia como nosso estado natural. (....) Levamos muito a sério a procura da felicidade e acreditamos que merecemos mais do que temos. (....) [A psicologia [até aqui] nos fez crer que as causas de nossos problemas são os outros:] nossos empregos, nossos maridos, nossas infâncias infelizes. [E não é nada disso.]

O Diálogo

Todas as citações extraídas das perguntas feitas por Jean Owen estarão em itálico.

(....) a verdadeira felicidade parece ser o sonho impossível. Todos a procuram desesperadamente, mas para muitos de nós ela parece nunca se aproximar. (....) Será que desejamos as coisas erradas?

As pessoas esperam que a felicidade aconteça para elas. Não vêem que é algo que têm que fazer. As pessoas enfrentam muitas dificuldades para aprender francês, física ou mergulhar com scuba. Têm paciência para aprender a dirigir, mas não querem se chatear aprendendo a manejar a si próprias.

Temos que entender que o reino está em nós; já temos a chave.

"Este sentimento tomou conta de mim" em lugar de dizermos "Sinto-me assim." (....) Esta visão meteorológica de nossas emoções é utilíssima; nos tira a culpa pelo modo como nos sentimos.

(....) não posso parar de me sentir chateada ou infeliz. [Não pode porque não tem os instrumentos da percepção.] Afinal de contas, se alguma coisa por acaso me feriu, tenho direito a sentir essa mágoa.

Se decidir que quer ajudar a você própria, pode optar por coisas que a façam sentir-se bem com você mesma, em vez de coisas que a façam se sentir infame. Por que deveria fazer o que lhe causa dor se é igualmente fácil dar alegria a você própria?

Para muitas pessoas, encontrar as coisas que as ajudem a se sentir melhor consigo mesmas é um verdadeiro desafio. É como se estivessem usando viseiras que encobrissem todos os lados bons.

Quem se esforça tanto para se convencer ¾ e aos outros ¾ de que é formidável, também está fechando alguma coisa.  (....) Para mudar é preciso olhar realmente para dentro de si próprio, a fim de ver o que está fazendo de errado. Tem que ser capaz de ver como está se diminuindo e decidir que não é isso que quer fazer. Então pode começar a fazer as coisas que lhe dão orgulho e prazer de viver. 

[Para isso é preciso] perceber as próprias realizações. Quando fizer algo de que se orgulha, detenha-se um pouco nisso, elogie a si mesmo, saboreie a experiência, assimile-a. (....) Quando as coisas correm bem temos que nos esforçar para reparar nelas. (....) Quando nos damos os parabéns, o brilho permanece conosco. Ainda é bom ouvi-lo de outros, mas isso não importa tanto se já o ouvimos de nós mesmos. [Para que isto possa ser praticado no trabalho, é preciso que as pessoas tenham uma idéia perfeita de onde quer se chegar e com base em que princípios se deseja conseguir isto.] Os artistas que apesar dos aplausos sentem calafrios no camarim, antes ou depois do espetáculo, é porque não estão ouvindo aplausos de si mesmos. (adaptado)

As pessoas sabem muito mais do que estão prontas a admitir que sabem. (....) Talvez você descubra que em lugar de trabalhar é melhor escrever um poema. Mas é muito pouco provável que você queira "pagar" o preço. [Se você se lamenta de fazer ou de não fazer algo é porque você está confuso quanto aos seus principais valores.]

Fazer o que deixe a gente bem consigo mesmo é na realidade o oposto do comodismo. Não significa gratificar uma parte isolada de você; significa satisfazer a totalidade do seu eu, e isso também inclui os sentimentos, laços e responsabilidade que tenha para com os outros. Comodismo implica satisfazer a menor parte de você, e isso apenas temporariamente.

As pessoas escolhem o tempo todo, mas não querem admitir isso. Você é livre quando aceita a responsabilidade pelo que escolheu. (....) Não é tão difícil de fazer como parece.

Por que lembrar e insistir mais nas derrotas que nas vitórias? Muitas pessoas se encontram sob um tipo de auto-hipnose negativa. Põem rótulos em si mesmas. Dizem: Sou (a) uma pessoa horrível que (b) sempre faz coisas medonhas e que  não pode fazer coisa melhor de jeito nenhum. [Eu fiz isso comigo, minha mulher fez comigo, meus amigos fizeram comigo, anos a fio]

Houve uma época em que os analistas pensavam que tinham pouca chance de mudar as preferências de homossexuais e que pouco sucesso teriam se tentassem. (....) Agora ouvimos todo tipo de casos bem sucedidos. A natureza do homossexualismo não mudou, mas sim a maneira de encará-lo.

Eis o que disse o diretor da Federal House of Detention, em Manhattan sobre seus prisioneiros: "Se você tratar um indivíduo tal como é, ele permanecerá assim. Mas se o tratar como se ele fosse o que deveria ou poderia ser, talvez ele chegue a ser isso."

[Dizer] "estou melhor a cada dia que passa" negando dificuldades, não é a maneira de vencê-las. Não resolve problemas; (....) As pessoas podem andar com sorrisos no rosto, mas continuam arrastando as mesmas âncoras antigas por aí.

Muitos se impõem metas arbitrárias e impossíveis. Quem achar que pode fazer qualquer coisa com que está "invocado" perdeu contato consigo mesmo.

Estar certo é uma das experiências mais satisfatórias do mundo. [E a pior é estar errado.]

É um golpe terrível para o ego sentir que você errou. Por isso é que as pessoas não querem mudar. Um paciente indignado disse: "Mas isso significa que desperdicei os primeiros quarenta anos de minha vida!"

As pessoas são muito teimosas. Algumas vezes acreditam secretamente que, se continuarem por tempo suficiente com seu comportamento equivocado, vão acertar.

Então só temos que cancelar isso? Todo aquele sofrimento, aqueles anos, tudo em que acreditamos quando crianças? Temos que aceitar que tudo aquilo jamais foi o que pensávamos que fosse?

Aos cinco anos, precisamos de nossa mãe; devemos agradá-la e pacificá-la para conseguirmos as coisas de que precisamos. Nossa vida depende literalmente disso. (....) Quando adulto, nada depende de agradar os outros. [???] O que os outros uma vez fizeram por você, você pode agora fazer por si mesmo. Quando tem trinta anos, não precisa que sua mãe o ame do modo como fazia quando tinha três anos. [Mas preciso que o meu patrão, a minha mulher, o meu amigo faça isso.]

O Rousseau disse: O homem nasce livre mas em toda parte está acorrentado.

Está mais certo dizer: O homem nasce acorrentado, mas cada um de nós tem o potencial para ser livre.

(....) as pessoas se agarram às suas cadeias mesmo depois de as terem superado com a idade.

Se você melhora, isso não me piora. Há lugar para muitas pessoas maravilhosas no mundo.

[A análise transacional já mostrou que ] os adultos podem ser infantis, assim como as crianças podem agir muito adultamente. Os dois estados não são mutuamente exclusivos, o que é uma sorte; de outro modo entre as gerações haveria mais que um hiato.  (....) Sei que é isso que muitos pais pensam enfrentar agora, mas o que falta em geral é o genuíno desejo de entender, de fazer um esforço de imaginação, e de aceitar o fato de que os outros são diferentes de você.

A vez em que marido e esposa arranjam problemas é quando ambos querem ser ninados ao mesmo tempo, e um dos dois não está querendo desistir.

Você abandona [algo] o que não precisa mais porque está a caminho de algo melhor.

De tudo, o mais difícil é quando deve desistir de alguma coisa e não vê o que vai conseguir se fizer isso. Por isso as pessoas não querem parar de sofrer; (....) não acreditam que exista outra coisa [melhor]. Uma das personagens de Faulkner disse: Entre a dor e o nada, fico com a dor.

Você começa prestando atenção. Se as coisas continuam a acontecer do modo como você não quer, pergunte a si mesmo o que está fazendo para que seja assim. Veja a ligação entre o que você faz e o que sente. Talvez tenha que se sentar e fazer algumas perguntas a si própria. Por que continua a ser áspera e inamistosa para consigo mesma? Por que obstrui seu próprio caminho?

Eu não desejaria uma vida que não tivesse amor. E quem desejaria?

Quando pequenos as vozes dos outros são mais altas e seguras que a nossa. É mais fácil fazer o que os outros dizem. Eles já têm tudo esquematizado, e nós estamos apenas começando a juntar as coisas.

As pessoas se esquecem de que um bom pai é o que ajuda a criança a cuidar de si mesma e a se importar consigo mesma.

A perfeição não é para os seres humanos. (....) Uma pessoa perfeita, seja lá o que for isso, seria insuportável.

Temos em nós um receptáculo de reações programadas ¾ repreensões relembradas, máximas de escola, nostalgia e crendices ¾ tudo misturado com nossos verdadeiros sentimentos. Então, na prática, "espontaneidade" quase sempre significa agarrar a primeira coisa que surge na mente e tomá-la como se fosse uma mensagem de nossas profundezas. Mas há muita poluição nessas profundezas. Temos que examinar as reações que emergem para ver de onde vêm realmente as mensagens.

Só quando você está realmente no comando de si mesmo é que pode se permitir se soltar, ser espontâneo e esperar que dê tudo bem. Por isso é que o sexo é mais satisfatório para adultos. Só pessoas maduras têm autodomínio para se abandonarem e saber que sairão daquilo intactas. Soa como um paradoxo, mas é um dos segredos do amor.

Não glorifique seus lapsos. Apenas tente compreender por que aconteceram e se oriente de volta para o caminho certo.

Espero poder me lembrar das muitas palavras sábias que acabo de ouvir. "Claro que se lembrará; você as conhecia o tempo todo."