EXTRATO DE: RUMO À CIDADE EM TEMPO REAL
Desenvolvimento
Urbano numa Sociedade Globalizada e Telemediática
Stephen Graham*
* Stephen Graham é
catedrático em Planejamento Urbano do Centro de Tecnologia Urbana da
Universidade de Newcastle, Inglaterra. Seu e-mail:
s.d.n.graham@ncl.ac.uk
“Um mundo feito de
redes desafia, em muitas frentes, as categorizações tradicionais
e as estruturas
intelectuais. Questiona as velhas concepções de espaço
e poder. Enquanto
as antigas economias de mercado se formaram a partir de ordenações espaciais e
temporais da vida das cidades, as economias de hoje baseiam-se
numa ordenação
lógica ou ‘virtual’ da comunicação eletrônica, numa nova geografia de conexões
e sistemas, de centros de processamento e controle (...) Redes de
computadores, cabos
e comunicações via rádio governam (agora) o destino das coisas, como elas são
remuneradas, e quem tem acesso a quê. As manifestações
físicas de poder -
paredes, fronteiras, auto-estradas e cidades - foram sobrepostas
por um mundo
‘virtual’ de sistemas de informação, bases de dados e redes.
As edificações
estão sendo redefinidas em função de suas posições nas redes à medida que
‘casas inteligentes’ se juntam a escritórios eletrônicos e fábricas
automatizadas.”
Geoff Mulgan,
Communication and Control
(1991;3)
À
medida que o mundo
está ficando cada vez mais urbanizado, computadores de última geração e
sistemas telemáticos digitais vão penetrando em todas as áreas da vida urbana.
As duas características que definem a civilização contemporânea, embora
questionáveis, são os saltos paralelos rumo a um planeta mais urbanizado e a
uma sociedade cada vez mais baseada na rapidez dos fluxos eletrônicos de
informação. A maioria das mudanças contemporâneas nas economias, na cultura e
na vida social das cidades parece estar relacionadas à aplicação de novas
infra-estruturas de telecomunicações e serviços, ligadas a computadores ou a
equipamentos computadorizados, visando a formação de redes ‘telemáticas’. Tudo
isso transcende, quase que instantaneamente, as barreiras espaciais, de forma a
reordenar as limitações de tempo e espaço entre e intra cidades. Pequenos
pontos e lugares, totalmente separados, estão sendo interligados mundo urbano
afora, com um mínimo de tempo diferido - ou seja, quase que se aproximando do
‘tempo real’. Fluxos globais de voz, e-mail, dados, vídeo, fax e sons estão
aumentando exponencialmente, fazendo com que as cidades fiquem cada vez mais
atadas a extensas redes de comunicação humana, a fluxos de serviços e mídia,
aos fluxos de força de trabalho baseados no ‘teletrabalho’,
e aos fluxos de dinheiro eletrônico.
Figura 1 - Expansão
da rede de fibras ópticas em Melbourne, Austrália
Fonte: Adaptado de
Newton, 1991
Como parte dessa
transformação, tanto as cidades do “Norte”, quanto, de forma crescente, as do
“Sul”, estão sendo recobertas com aquilo que denominamos “uma teia gigantesca e
invisível” de fibras ópticas, cabos de cobre, microondas, ondas de rádio, e
redes de comunicação via satélite ou microondas . Um bom exemplo disso está na
Figura 1, que mostra a rede de expansão das fibras ópticas em Melbourne,
Austrália. Os corredores que interligam as cidades, seja a terra, o oceano ou o
espaço, estão agora se configurando como uma imensa cobertura de “treliças”,
feita de ligações de telecomunicação avançada. Tudo isso conecta os sistemas
urbanos a uma grade eletrônica. São essas grades que circundam o planeta e
constituem-se na base tecnológica para a aceleração dos fluxos no tráfego
mundial de telecomunicações: fluxos de voz, fax, fluxos de dados, fluxos de
imagens, sinais de TV e vídeo. Os fluxos eletrônicos instantâneos explodem,
hoje, no espaço físico das cidades e dos edifícios, e parecem sustentar e
inter-relacionar todos os elementos da vida urbana.
Toda essa
transformação significa que, à medida em que nos aproximamos de um novo
milênio, as velhas idéias e premissas sobre o planejamento, o desenvolvimento,
e o gerenciamento das modernas cidades industriais - estejam elas nos chamados
“Norte” ou “Sul” - parecem ser cada vez menos úteis. Todas as noções geralmente
aceitas sobre a natureza do espaço, do tempo, da distância e dos processos da
vida urbana são, igualmente, questionáveis. A vida urbana parece mais volátil e
acelerada, mais incerta, mais fragmentada e mais difícil de entender hoje do
que em qualquer outro momento desde o final do século passado.
Então, fica claro
que as cidades contemporâneas não são apenas densas aglomerações físicas de
edifícios, de entroncamentos de redes de transporte, ou os principais centros
da vida econômica, social e cultural. Deve-se considerar, também, o papel das
cidades como sistemas eletrônicos que compõem as redes de telecomunicação e
telemática. As áreas urbanas são os centros dominantes de demanda das
telecomunicações e os centros nervosos de irradiação das grades eletrônicas. De
fato, parece existir uma conexão forte e sinérgica entre as cidades e essa nova
infra-estrutura de redes. As cidades - o
maior artefato físico construído pela civilização industrial - são hoje
verdadeiras “casas de força” das comunicações, cujo tráfego flui pela rede
global de telecomunicações - o maior sistema tecnológico até hoje concebido
pelo homem.
Mas, quais são as
implicações destas transformações? O que será das cidades numa era dominada por
redes e fluxos eletrônicos? Qual será o destino de nossas áreas urbanas num
mundo onde imperam as chamadas “corporações virtuais”, as “comunidades
virtuais”, tudo fluindo por “territórios eletrônicos do ciberespaço”, baseados
fundamentalmente no uso da telemática como espaço e tecnologia transcendentes?
O uso crescente e a significância das telecomunicações gera diversas questões
profundas e fundamentais, que estão no cerne dos atuais debates da Habitat II
sobre as cidades e a vida urbana de hoje
e do futuro. Quatro destas questões são particularmente críticas e serão
consideradas nesse documento:
* Primeiro, como poderemos entender as
cidades e a vida urbana num mundo onde a proliferação de redes eletrônicas flui
por todas as formas de vida e por todas as escalas geográficas?
* Segundo, o que acontecerá com as
cidades ao passarem de uma economia internacional, baseada na produção e
circulação de bens materiais, para uma outra fundamentada cada vez mais em
circulação e consumo de bens simbólicos e “informacionais”
numa base global? Como as cidades se sustentarão economicamente dado que, de
uma forma crescente, as tradicionais vantagens econômicas estarão acessíveis,
“on-line”, de qualquer localização virtual?
* Terceiro, como a transição, pelo
menos para as elites sociais, de uma vizinhança física e local, para
comunidades segmentadas, sustentadas por redes eletrônicas - como a comunidade
Internet - afetará a vida social das cidades? Como serão as relações sociais de
poder e os tradicionais conflitos sociais refletidos nas cidades dessa nova era
das telecomunicações?
* E, por último, no que todas estas
mudanças influenciarão os debates para a Habitat II, especialmente sobre as
formas como as cidades são planejadas, administradas e governadas?
CIDADES COMO
AMÁLGAMAS DO ESPAÇO URBANO E DO ESPAÇO ELETRÔNICO
A
cidade
contemporânea é, mais do que nunca, uma amálgama por meio da qual os aspectos
rígidos e tangíveis da vida urbana cotidiana interagem continuamente com os
intangíveis “espaços eletrônicos” construídos a partir de, e acessáveis por
sistemas de telemática e de mídia digitais. Para a compreensão dos papéis
complementares entre as cidades e a telemática será útil considerarmos como
ambas facilitam a comunicação econômica, social e cultural, embora de formas diferentes.
De um lado, as cidades podem ser consideradas como concentrações físicas que
auxiliam na superação das restrições de tempo pela minimização das limitações
de espaço. Por último, e principalmente, concentração nas cidades significa que
a proximidade física possibilita a operação de mercados de serviços,
propriedade, trabalho e produção já que os elementos de uma cidade podem ser
acessados e integrados sem grandes perdas de tempo. As cidades permitem que os
trabalhadores se desloquem para o trabalho; as pessoas podem obter uma ampla
variedade de bens e serviços; e a vida social e cultural das cidades ocorre
através de contatos face a face.
As telecomunicações
produzem, por outro lado, efeitos opostos. Elas superam as restrições de espaço
pela minimização das limitações de tempo, interligando pontos distantes através
de fluxos de fótons e elétrons à velocidade da luz. Então, para compreendermos
a cidade em tempo real será interessante caracterizarmos os diferentes
atributos do espaço urbano e do espaço eletrônico (ver Figura 2).
A CIDADE
Função: fundir
tempo com espaço. Desenvolvida para facilitar as comunicações
pela redução das
limitações de espaço, superando as limitações de tempo.
TELECOMUNICAÇÕES
Função: Conquistar
o espaço com o tempo. Desenvolvida para facilitar as comunicações
pela redução das
limitações de tempo para superar as restrições de espaço.
Figura 2 - As
Relações entre Cidades e Telecomunicações, e entre as Limitações de Tempo e
Espaço
O ponto-chave é que
a vida urbana moderna resume-se a desenvolvimentos interligados no espaço
urbano e no espaço eletrônico. Existem, então, muitos exemplos dentre os
diversos aspectos da vida urbana nos quais foram construídos sistemas
sobrepostos que combinam a presença em espaços urbanos com interações em
espaços eletrônicos. Vejamos, por exemplo:
* os mercados financeiros globalizados,
que interligam as bolsas de valores de cidades como Londres, New York e Tóquio
através de robustos sistemas eletrônicos que suportam, diariamente, fluxos de
trilhões de dólares aplicados em ações, câmbio, mercados futuros, etc.;
* as redes de infra-estrutura de
escritórios, onde serviços rotineiros como processamento de dados, serviços de
telefonia, suporte a softwares e animação são fornecidos “on-line”, a partir de
longas distâncias, para os principais mercados;
* os fluxos globais da mídia,
especialmente a TV via satélite, que transmitem para as cidades novos tipos de
produtos culturais, a partir de pontos distantes;
* os debates sobre “edifícios inteligentes”,
“cidades inteligentes”, “casas inteligentes” e “cibercafés”,
onde a avançada tecnologia da informação configura fábricas de cidades e
edifícios;
* os circuitos fechados de TV e as
redes telemáticas de rastreamento, onde as cidades, escritórios, prédios e
casas são monitorados, na maioria das vezes a longa distância;
* as interações complexas entre os
fluxos de telecomunicações e transporte, por exemplo, com o uso da telefonia
móvel e dos computadores para reduzir os inconvenientes congestionamentos de
trânsito nas grandes cidades;
* as comunidades “virtuais” que operam
via Internet, complementando as interações das pessoas nas cidades e seus
arredores; e
* os “espaços eletrônicos cívicos”
lançados na World Wide Web por prefeituras de todo o
mundo, visando o fomento do desenvolvimento dos espaços urbanos através da
construção de espaços eletrônicos.
Construções
permanentes em espaços e edifícios urbanos, interligadas a redes e “espaços”
eletrônicos poderão constituir-se na definição do que seja edificação no
urbanismo contemporâneo. Juntos, esses espaços eletrônicos levam a um universo
escondido e paralelo de movimentadas redes eletrônicas. Completamente livres
das restrições de tempo e espaço, elas interagem e influenciam a dinâmica tangível
e conhecida da vida urbana, 24 horas por dia e em qualquer escala geográfica.
Assim, viagens de carro, trem, avião ou ônibus, e os fluxos físicos das águas,
das “commodities”, dos produtos manufaturados e da energia são suportados por
um “mundo de redes” (networld) paralelo e eletrônico.
Elas monitoram, formatam e controlam os fluxos físicos numa base de tempo real.
Um congestionamento de trânsito transforma-se, agora, na plataforma de
lançamento para incontáveis conversações eletrônicas e interações através da
telefonia móvel e dos computadores.
O mundo
aparentemente sem vida de um conjunto de escritórios esconde “edifícios
inteligentes” - um sistema dentro de um universo eletrônico por onde fluem, 24
horas por dia, fluxos de capitais, serviços e força de trabalho via redes
corporativas telemáticas.
Em muitas cidades,
a rotina diária dos moradores urbanos se dá através de um conjunto contínuo de
“imagens digitais” captadas por um amplo sistema de rastreamento - câmeras de
circuito fechado de TV, sistemas de transação eletrônica, informática para o
transporte rodoviário, dentre outras. Arredores ricos e encastelados nas
grandes cidades como Los Angeles e São Paulo dependem
de portas e altos muros, interligados a sofisticados sistemas eletrônicos de
vigilância. O mais modesto dos subúrbios de muitas cidades se configura, agora,
num sistema dentro da crescente cacofonia eletrônica dos fluxos globais de
imagens e meios, além de seus moradores assumirem um papel participativo nas
comunidades virtuais, quase que sempre numa escala global. E mais, as políticas
e estratégias urbanas rumam cada vez mais para o delineamento e teste seja do
espaço urbano, seja do espaço eletrônico. Esse nebuloso mundo de espaços
eletrônicos concretiza-se através dos fluxos instantâneos de fótons e elétrons
que circulam dentro das cidades e através das redes metropolitanas planetárias.
Tais fluxos são a base virtual de tudo aquilo que vemos e experimentamos em
nosso cotidiano e, embora possamos enxergá-los, poucos realmente se apercebem
deles.
Mas, tudo isso não
é um único, interconectado e gigantesco “ciberespaço”. Não sem surpresas, esse
mundo sombrio de espaços eletrônicos é tão diverso e complexo quanto as
paisagens e a vida das próprias cidades. Exatamente como na geografia das cidades,
existem muitas segmentações, divisões e conflitos sociais quando da definição e
formatação do espaço eletrônico. Poder, ou a sua falta, estão condicionados a
acesso e controle, tanto sobre as áreas físicas das cidades quanto sobre os
espaços eletrônicos acessíveis via redes telemáticas. Por um lado, existem
enormes “buracos negros de informação” e “guetos eletrônicos”, especialmente
nas mega-cidades do “Sul”. Ali, os mais pobres ficam confinados à tradicional
vida marginalizada, seja pelo confinamento físico, seja pelo sonho distante de
um simples acesso a um telefone. Nesse caso as iniqüidades são notáveis. A
maioria da população mundial já se utilizou de um telefone, e estima-se que em
Tóquio existem mais telefones que em toda a África . Mesmo assim, por outro
lado, existem intensas concentrações de infra-estrutura nos grandes centros das
cidades e nos subúrbios de elite, como suporte às emergentes classes
corporativas globais e às Corporações Transnacionais (TNCs).
E, da mesma forma que o mapa geográfico das cidades, os resultados podem ser
“lidos” como reflexos de processos complexos, onde as relações sociais,
étnicas, de gênero e poder vão contra o cenário de globalização da política
econômica do capitalismo. É também muito fácil para os grupos de elite da
sociedade esquecer esse cenário, pois para a maior parte deste planeta, o
telefone é um luxo inatingível e temas como “ciberespaço”, “Internet” e o “fim
das barreiras de tempo e espaço” atingem níveis da mais absurda ficção
científica.
Assim, as cidades
podem, cada vez mais, ser vistas como centros de cruzamento e interconexão de
redes sociais, institucionais e tecnológicas. Ao mesmo tempo em que se
estabelecem algumas destas interconexões e sobreposições pelo espaço urbano
físico, formando nós na rede, não existem, necessariamente, correlações entre
proximidade física e relações significativas, como era freqüentemente assumido
pelas antigas idéias sobre cidades. Assim, as cidades estão se tornando mais
fragmentadas física, econômica, social e culturalmente. São, então, mais
adequadas as combinações complexas da proximidade eletrônica através dos
espaços eletrônicos do “reino do não-espaço urbano” , onde as proximidades
baseadas no lugar físico deverão ser consideradas em paralelo. As pessoas têm ligações
sociais mais íntimas com outras que estão do outro lado do mundo, através de
grupos de discussão na Internet, mas não sabem o nome de seu vizinho. Uma
região de escritórios em São Paulo provavelmente negocia diariamente bilhões de
dólares por dia com mercados financeiros eletrônicos em Londres, New York e
Tóquio, mas não estabelece conexões com as pessoas que estão à sua volta e nas
vizinhanças. E a vida cultural das cidades talvez seja mais influenciada pela
MTV, captada via satélite de longa distância, do que pela tradicional visão
modernista de interação de grupos sociais nos espaços públicos dos centros das
cidades.
O FUTURO DAS
ECONOMIAS URBANAS NUMA REDE METROPOLITANA PLANETÁRIA
E
m 1968, Melvin
Webber recomendava: “estamos passando por uma revolução que está retardando o
processo social de urbanização de cidades e regiões com situação estabilizada”
. Ele previu que, à medida em que as cidades passassem de centros dominados
pela manufatura, para centros dominados pelos serviços e pelas comunicações,
haveria espaço para o desenvolvimento de uma novo e radical conjunto de
dinâmicas geográficas. Tal dinâmica estaria centrada no uso das
telecomunicações e do transporte rápido para interligar distâncias entre
produtores, distribuidores e consumidores através de formas radicalmente novas.
Pierre Beckouche e Pierre Veltz
captaram muito bem essas idéias quando argumentam que “de uma maneira global, a
velha geografia que vinculava as empresas às fontes de matérias-primas e aos
mercados consumidores começou a confundir-se diante de um arranjo geográfico
mais complexo, onde o sistema de produção-distribuição ocorreria no espaço,
utilizando-se da extensa infra-estrutura de comunicação e de redes, em níveis
nacionais e até mesmo planetários” . Surgem, nesse contexto, dois
aspectos-chave para o desenvolvimento das economias urbanas: primeiro, a nova
“centralidade” das grandes cidades como sistemas e centros de controle da
economia globalizada e, segundo, uma tendência paralela de descentralização dos
serviços de rotina para fora das grandes cidades.
A Nova Centralidade
das Grandes Metrópoles
A tendência atual
das economias das grandes cidades é estarem baseadas, em primeiro lugar, não
nos setores de produção e transporte, mas nos serviços aos consumidores, tais
como lazer, compras, a produção, distribuição e processamento de informação e
de “bens simbólicos” como serviços de informações, finanças, mídia, educação e
publicidade. Atualmente, o comércio mundial de serviços e informação é igual à
soma do comércio de bens eletrônicos manufaturados e de automóveis.
A maior parte dos
empregos de primeira linha disponíveis nas cidades são, atualmente, destinados
a “profissionais da informação” altamente qualificados, exercendo funções de
tomada de decisão, ou funções chamadas “quaternárias”. Tais empregos requerem
habilidades na manipulação, processamento, agregação de valor e disseminação da
informação, do conhecimento e dos símbolos - aquilo que Robert Reich chama de
“analistas simbólicos” . A maior parte dessa informação está eletronicamente
codificada, computadorizada e transmissível via telecomunicações e telemática.
Na Europa, por exemplo, 50% de todos os empregos e 80% de todos os novos
empregos originam-se, hoje, em serviços baseados na informação.
Estes serviços são,
hoje, freqüentemente acessados de qualquer lugar do mundo através de grades
telemáticas globais, do produtor para o consumidor. Tais tendências trazem
implicações profundas para as economias das cidades. Conforme Castells, essa
nova “geometria global” de produção, consumo e circulação de informações, “nega
o significado específico de produtividade de qualquer lugar fora de sua posição
em uma rede, cujo formato muda inexoravelmente em resposta a mensagens de
sinais invisíveis e de códigos desconhecidos” .
Figura 3 - Uma
Hierarquia das Cidades Mundiais
(Fonte: Friedmann, J. (1991), “The World
City Hypothesis”. In P. Knox
e P. Taylor (Eds),
World Cities in a
World System, Cambridge: Cambridge University Press.
Em função dessas
mudanças econômicas, pode-se agora considerar que as grandes áreas urbanas são,
fundamentalmente, “cidades de informação” , “cidades transacionais” , ou “os
centros de troca de informação” da economia mundial . Tudo isso está
interligado a uma única rede urbana planetária, com as cidades intrinsecamente
ligadas, exercendo um conjunto de papéis complementares (ver Figura 3). Mas,
todas essas restruturações, visando elevados níveis
de intensidade da informação não são meramente uma “força pós-industrial”. Na
verdade, as cidades estão ficando muito mais “super-industriais” do que
“pós-industriais”. A crescente complexidade, velocidade e volatilidade que se
espera da economia reflete-se no aumento dos empregos para “profissionais da
informação” em todos os setores econômicos - da mineração, agricultura e
manufatura ao comércio, serviços e governo. O que gostaríamos de ressaltar no
restante deste capítulo é que cidades grandes, globalizadas e dinâmicas são,
particularmente, fortes centros de “profissionais da informação” .
Todas essas
tendências nos levam à identificação do surgimento de um grupo fortemente
interconectado, os “centros de comando global”, que dominam os emergentes
sistemas metropolitanos planetários. Podemos identificar aqui três fatores
preliminares. Primeiro, a globalização dos mercados e o predomínio crescente
das TNCs, com a dispersão pelo mundo das atividades
de produção e manufatura, levando a crescentes necessidades de centralização
das funções de controle por parte das TNCs. Tais
funções estão sendo concentradas nas grandes cidades já que suas localizações
reduzem riscos, oferecem o mais amplo leque de oportunidades e limitam as
incertezas. Segundo, a maior facilidade na movimentação de capitais e moeda
para além das fronteiras nacionais, criou novas demandas para os centros
financeiros, através dos quais esses fluxos financeiros podem ser concretizados
e coordenados. Terceiro, houve uma restruturação das
grandes empresas transnacionais que, agora, sub-contratam uma grande parte de
suas necessidades junto a prestadores de serviços como contabilidade,
advocacia, seguros, consultoria, serviços de publicidade e propaganda, todos
eles em escala global. Tais fatores se mesclam e combinam à necessidade de se
manter os contatos face-a-face nas negociações
complexas de uma empresa, de forma a alavancar o predomínio dessas cidades. Um
fator crítico de sucesso para esses centros de comando global é a concentração
de informações segmentadas. Para Mitchelson e Wheeler, por exemplo, New York tem “a maior concentração de
informações não rotineiras já reunidas num único lugar” .
O mais importante,
então, são as fortes incertezas que surgem pela volatilidade, velocidade e
imprevisibilidade da economia globalizada. Conforme a argumentação de Michelson e Wheeler, “em tempos
de grandes incertezas, algumas cidades adquirem importância estratégica como
centros de comando e como produtoras centralizadas de informações de alto nível
sobre a ordem econômica . No contexto de uma economia global e volátil, o
desenvolvimento, por parte das corporações,
de uma ampla gama de funções descentralizadas, faz com que se espalhe pelo
mundo uma centralização paralela de controle corporativo e de coordenação de
funções sobre esses centros globais de comando. Assim, a descentralização das
rotinas e das funções de manufatura dentro das TNCs
requer, efetivamente, a centralização do controle e das atividades dos
escritórios centrais nos centros de comando global. Citando Saskia
Sassen, “é exatamente por causa da dispersão
territorial, facilitada pelas telecomunicações, que o agrupamento de
determinadas atividades centralizadas tem sido bastante crescente” . Tudo isso
estimula o surgimento de serviços de alto nível em contabilidade, bancos, leis
e outros, que servem para um conjunto de sedes de corporações e que podem
também utilizar a telemática para se interligarem aos mercados globais. Sobre
tais serviços Simmons argumenta que “a melhoria
tecnológica amplia o raio de ação pelo qual se podem oferecer serviços” .
É claro que essa
concentração de escritórios, prestadores de serviços e financeiras acaba
gerando necessidades contínuas por uma ampla variedade de serviços de consumo
geral tais como, restaurantes, centros de compras, limpeza, motoristas de
ônibus, guardas de segurança, garçons, etc. Todas funções freqüentemente
temporárias, de meio período e com baixos salários, que superam, em geral com
um fator de 2 ou 3 para um, o número de postos profissionais de alto nível seja
nas corporações, seja nas empresas de serviços. Essa situação contribui para o
desenvolvimento, nessas grandes cidades, de uma estrutura de classes altamente
desigual e polarizada.
A posição
privilegiada dessas cidades como um sistema componente da melhor, mais barata e
mais competitiva infra-estrutura mundial de telecomunicações, além dos efeitos
benéficos da liberalização, também contribuem para a sustentação da
centralização. Não é por acaso que os Estados Unidos, Japão e Reino Unido
fossem, durante a explosão dos serviços ocorrida nos anos 80, as primeiras
nações a liberalizar suas legislações de telecomunicações. Em todos esses
casos, a liberalização contribuiu de forma bastante adequada para o
fortalecimento das posições dos centros de comando global desses países,
possibilitando inovações competitivas na área de telecomunicações. Também não é
por acaso que exatamente esses centros de comando global, sejam aqueles que
mais freqüentemente apresentem os exemplos mais adequados de investimento e uso
das telecomunicações em metrópoles dominantes, conforme já destacamos
anteriormente. Na Grã Bretanha, por exemplo, a Corporação de Londres argumenta
que a liberalização das telecomunicações no Reino Unido, feita em 1981, tem
contribuído diretamente para que Londres seja, contínua e competitivamente, uma
das capitais globais da informação: “a inovação de produtos e a
disponibilização de serviços em telecomunicações (....) está sendo dirigida
para os serviços financeiros. Percebe-se que a competição entre os provedores
de telecomunicações produz um impacto considerável sobre os consumidores. Houve
uma redefinição dos serviços e uma redução de custos .
Mas, também existem
importantes razões sociais e culturais para esse contínuo predomínio dos
centros de comando global, mesmo quando a informação formal tradicionalmente
dominada por eles possa ser agora acessada “on-line”, de praticamente qualquer
lugar. No mundo dos centros de comando global, altamente incerto e complexo, a
informação tácita, informal e clandestina, baseada na confiança e nas redes de
relações sociais, é extremamente valorizada. Essa informação está sutilmente
confinada àqueles que estão “dentro” dessas redes sociais, localizadas nas
instituições-chave dessas cidades, nas quais um intenso contato face-a-face é de uma importância crítica. Nunca será
possível substituir, pelas informações via telecomunicações, a tácita troca de
informações que ocorre na hora do almoço ou nos bares após o expediente de
trabalho. Em resumo, as pessoas que estão na cúpula do poder nas corporações, e
também aquelas no topo dos mercados financeiro e de serviços, precisam estar
“por dentro” das coisas por meios que não podem ser substituídos pela
telemática. Rob Atkinson conta uma história real sobre uma advogada de um
escritório em Washington DC que foi afastada de seus colegas, “para o outro
lado do prédio”. Após duas semanas, sentindo-se isolada, ela pediu para
retornar junto deles .
Do alto de sua fama
como centros de escritórios corporativos e centros de prestação de serviços de
alto nível, Londres, Tóquio e New York formam, juntas, um eficaz mercado financeiro
globalizado, interligado via telemática. Mais uma vez, isso aconteceu devido à
emergência de verdadeiros mercados globais e TNCs,
que necessitam de fluxos e sistemas financeiros para executar suas operações. A
liberalização do comércio nacional, e das regulamentações sobre investimentos
financeiros, também estimulam, diretamente, a demanda por serviços financeiros
internacionais. Citando Sassen, tais serviços
funcionam como um “mercado transterritorial” para as
finanças, tendo Tóquio como o principal exportador de capitais (com base no Yen), Londres como o principal centro de processamento do
capital internacional (baseado no Marco Alemão e no Eurodólar), e New York como
o principal centro captador de capitais (baseado no Dólar Americano). Juntos,
eles configuram um conjunto de mercados financeiros globais, integrados 24
horas por dia, que dominam o fluxo financeiro e de serviços do mundo
capitalista. As horas de abertura e fechamento do mercado de ações dessas
cidades são coordenadas de forma a algum estar sempre aberto. Além de estar
sendo estudada a possibilidade de um funcionamento contínuo de todos. “Quando
Londres vai dormir, Tóquio inicia suas operações, e Wall Street começa a
fervilhar ao fim dos negócios japoneses” .
Decisivamente, as
transações financeiras em escala global têm sido, cada vez mais, intermediadas
através de complexos sistemas de redes avançadas de telecomunicações, que estão
ocupando os corredores de tráfego entre essas cidades - especialmente através
de satélites mundiais e sistemas de fibras ópticas. Pretende-se, com isso,
eliminar o tempo diferido nas transações financeiras, de forma a melhorar a
taxa de fluxo e circulação de capitais, e conseguir maiores vantagens para os
investidores a cada flutuação mínima nos valores das ações e nas taxas de
câmbio. Os atuais “balcões de negociação” digitais - sistemas computadorizados
de comercialização vinculados à rede de telecomunicação mundial - oferecem aos
operadores conexões virtualmente instantâneas (abaixo de 100 milissegundos) com
os compradores. Atualmente a Rede Digital de Serviços Integrados (RDSI) está
sendo utilizada para as conexões multimídia entre compradores e vendedores.
Esse aumento de velocidade resulta numa crescente volatilidade dos mercados,
num ajuste instantâneo às mudanças das taxas de câmbio, e numa circulação de
fundos de investimentos em rede, jamais vista. A escala desses fluxos
financeiros eletrônicos é espantosa: o valor médio do comércio de ações
inter-fronteiras alcança hoje US$ 10 trilhões por dia. Todos esses fluxos
funcionam como um grande estímulo para outros fluxos de comunicação e
informação entre os três grandes centros, como por exemplo, os centros de
informação financeira on-line e o tráfego internacional de telefones.
Ilustrando, sabe-se que o número de chamadas telefônicas feitas diariamente de
Wall Street cresceu de 900.000 em 1967 para 3 milhões em 1987.
A Descentralização
dos Serviços Rotineiros
A outra face da
centralização das funções de controle corporativas, dos grandes prestadores de
serviços e dos mercados financeiros mundiais reflete um processo de
descentralização em larga escala das funções de produção rotineiras e de
serviços de consumo. Na verdade, estes dois processos estão ligados de forma
simbiótica. O início da descentralização das atividades produtivas das
corporações levou à centralização das funções de controle corporativas; esse
movimento leva agora à descentralização dos serviços rotineiros, visando o
corte de custos, a revitalização dos lucros e a manutenção da competitividade.
De acordo com Mark Hepworth “quanto mais as
organizações ficam intensivas em informação, mais elas buscarão minimizar seus
custos com informação” através das chamadas funções rotineiras de infra-estrutura “extra-escritório” .
As funções rotineiras
“externas” que prestam serviços e apoiam os
escritórios nas cidades mundiais estão começando, agora, a se utilizar da
telemática para poderem se instalar em localizações mais baratas, nos arredores
das grandes cidades globais - e ficam cada vez mais distantes. Com isso, elas
utilizam as telecomunicações para conseguir mão-de-obra e serviços mais baratos
e a volumes crescentes daqueles disponíveis nos grandes centros. Esse fato está
associado à “reengenharia” e ao “downsizing” das empresas localizadas nos
grandes centros. A maioria das cidades periféricas estão depositando suas
esperanças no surgimento de centros de serviços de infra-estrutura como uma
fonte significativa de novos empregos para aquelas economias urbanas mais
prejudicadas pelo colapso do emprego na manufatura. Essa descentralização está
ocorrendo em quatro níveis: em termos globais, entre o “Norte” e o “Sul”,
visando os Países de Industrialização Recente e os Países Menos Desenvolvidos (NCIs e LDCs); entre as regiões
“centrais” e “periféricas” das regiões adiantadas das nações ocidentais; de
áreas metropolitanas para não-metropolitanas e em pequenas cidades; e dos
centros das cidades para os subúrbios. O resultado, no dizer de Judy Hillman, é que “está cada vez mais difícil saber quem está
fazendo o quê e onde. A economia invisível pode ser tão ilusória quanto a
escuridão” .
A primeira geração
de serviços e produtos de infra-estrutura operada entre ou intra nações
ocidentais, permitiu a descentralização entre as economias das cidades e dos países.
Em
As economias de
cidades de localização pouco estratégica estão se transformando devido a um
afluxo de atividades de infra-estrutura. Por exemplo, nos últimos dez anos, os
estados de Omaha e Nebraska declaram ter criado
100.000 empregos telematicamente conectados - resultante das vantagens
trabalhistas, dos baixos custos e das suas posições nos entroncamentos da
infra-estrutura norte-americana de fibras ópticas. Muitos negócios tipo “centros de recolocação” estão se
estabelecendo, apoiados, em geral, pelas autoridades de desenvolvimento rural,
para aproveitar as oportunidades de atração de negócios terceirizados telemediáticos para suas áreas. Todos os centros nacionais
de desenvolvimento estratégico da Irlanda estão explorando seus altos padrões
educacionais, o uso da língua inglesa, e a sua infra-estrutura de
telecomunicações de alta qualidade para atrair escritórios de infra-estrutura
dos Estados Unidos e do Reino Unido, em especial os de serviços financeiros,
editoração e processamento de dados, e desenvolvimento de software.
A queda acelerada
dos custos de telecomunicações, o rápido crescimento de redes globais de
telecomunicações de alta capacidade, e a crescente liberdade de localização das
TNCs estão abastecendo, em todas as escalas
espaciais, a descentralização das teletransações
rotineiras e dos serviços teledefinidos.
Desenvolve-se rapidamente, por todo o mundo, o “distanciamento” de uma ampla
gama de serviços de suporte. Pelto prevê um rápido
crescimento daquilo que ele denomina “imigração eletrônica” - a “importação” on-line do trabalho e das
habilidades (em geral femininas) de “telecolônias”
mais baratas, localizadas em qualquer parte do mundo (Pelton,
1992). Ele diz que “a habilidade de recrutamento e importação eletrônica de
serviços profissionais mais baratos nos Estados Unidos, Europa e Japão pode se
transformar no tema de ponta do comércio internacional do século
Existem, ainda,
muitos exemplos de centros de infra-estrutura “extra-escritório” nos países de
industrialização recente e nos países em desenvolvimento que estão integrados
em “tempo real” para o fornecimento de serviços de primeira linha às capitais
mundiais da informação. Robert Reich, no seu livro The
Work of Nations (1992)
refere-se aos ‘cabos rasos’ da economia da informação” como sendo “hostes de
processadores de dados estacionadas em escritórios de apoio, cujos terminais de
computadores estão ligados a bancos de dados mundiais” . Esses escritórios
estão hoje proliferando nos países de industrialização recente e nos países em
desenvolvimento, que possuem capacitação, uma aparente estabilidade política, e
infra-estrutura de telecomunicações e transporte que podem ser utilizados em
centros de serviços à distância. Nas Filipinas, por exemplo, um único centro
gera mais de 700 milhões de toques (ou caracteres) por mês. As vantagens desses
centros para um consumidor corporativo são consideráveis: os salários são 20%
menores do que a média do ocidente; a rotatividade média da equipe gira em
torno de
De toda forma e
numa escala crescente, serviços de alta qualificação e de alto valor adicionado
estão sendo restruturados pelos meios anteriormente
descritos. Serviços como análise financeira internacional, programação de
software, animação de filmes, processamento de imagens, programação de
computadores, edição e publicações acadêmicas, estão nesse processo. Nesses
casos, complexas cadeias de “valor adicionado” e complexas geografias de
equipamentos de computação estão sendo desenvolvidas. Os dados brutos que
chegam às empresas de serviços de informação são, geralmente, coletados nas
nações ocidentais, transferidos para os países em desenvolvimento para serem
preparados, inseridos nos computadores das cidades ocidentais, e revendidos
para os consumidores do ocidente.
As indústrias de
desenvolvimento de software da Índia, por exemplo, estão crescendo a taxas de
À medida em que
ampliam-se as capacitações para um sistema global de fibras ópticas e
satélites, e à medida em que os custos caem vertiginosamente, prevê-se uma crescente
diversificação das redes de suporte à “imigração eletrônica”. Esse panorama põe
em risco um enfraquecimento gradual da oferta de emprego em serviços nos países
ocidentais mais avançados - o principal motor da economia das cidades
ocidentais - já que muitos dos serviços estão imitando as manufaturas na busca
de custos mais baixos nos países de industrialização recente e nos países em
desenvolvimento. Será cada vez mais viável conectar serviços de vídeo e imagens
a diferentes distâncias do globo, tão baratos quanto as conexões de dados e
voz. O Banco Mundial já propôs a idéia de utilizar o trabalho da África para
monitorar os sistemas de câmeras de circuito fechado de TV (CCTV) dos shoppings
centers americanos. Um conferencista disse,
recentemente, que “existe um potencial
para os países africanos participarem da economia global através desses tipos
de tecnologias” . Para o grupo Tektronix, fabricante
de computadores, o monitoramento por CCTV já está sendo executado a
CÍRCULOS VICIOSOS
OU CÍRCULOS VIRTUAIS? A TELEMÁTICA E A VIDA SOCIAL E CULTURAL DAS CIDADES
O
terceiro
aspecto-chave refere-se às implicações da telemática na vida sócio-cultural das
grandes cidades. As recentes inovações das telecomunicações e da telemática
possibilitam novos tipos de interações sociais
ou transmissões culturais instantâneas à distância, anteriormente
impossíveis. Isso estende os processos já arraigados por meio dos quais os
“espaços” das interações sócio-culturais ficam desvinculados das
particularidades sociais e geográficas de “lugar”. Anthony Giddens
argumenta que essas tecnologias funcionam como “mecanismos desagregadores” que
“alavancam nossas atividades sociais de contextos localizados, reorganizando as
relações sociais em extensas distâncias de tempo e espaço” .
Figura 4 - Taxas de
penetração do consumo doméstico de telecomunicações
em diversas nações
capitalistas avançadas
Fonte: Bannister, 1994
Bannister, N. (1994b), “Go-slow
on the European
multimedia superhighway,
The Guardian, October, 26.
Nesses casos, a
proximidade física passa a ser substituída pelos efeitos interativos das redes
tecnológicas de interligação das pessoas pelo tempo e pelo espaço. Tanto nas
nações ocidentais como nos segmentos mais abastados de cidades das nações em
desenvolvimento, uma crescente variedade de serviços e tecnologias de
telecomunicações está penetrando no ambiente doméstico, o qual reage a esse
processo de diversas formas. As redes de telefonia básica, pessoa-a-pessoa
- “O velho e simples sistema telefônico” - estão totalmente difundidas em,
praticamente, todas as redes sociais de telecomunicações - com uma penetração
próxima do universal na maioria dos países ocidentais. O rádio e a televisão
passivos, também são utilidades domésticas, quase que universais, para a
comunicação de massa. Os telefones de uso corrente, com fio, estão sendo agora
complementados por um novo e amplo sistema de telecomunicações. Em muitas
cidades ocidentais, as redes a cabo de banda larga cobrem mais da metade da
população; a Difusão Direta via Satélite (DBS) possibilita um mix internacional
de canais para as pessoas que não estão ligadas ao cabo (ver Figura 4). Os
videocassetes são quase que universais em muitos países. Os telefones móveis e
os computadores portáteis estão se difundindo rapidamente. Sofisticados
computadores pessoais (PCs) domésticos vão se tornando,
hoje, bens de consumo duráveis. Com a recente explosão das conexões domésticas
à Internet, Batty e Barr
argumentam que “em nossos dias, não existem motivos para que qualquer
computador do mundo não esteja conectado direta ou indiretamente à
Internet” . Finalmente, existe muita
especulação sobre a convergência das telecomunicações digitais, da mídia e das
tecnologias de computação como base para conexões multimídia e interativas
entre as residências, através de PCs ou da TV
interativa. Tais especulações são alimentadas pelos amplos debates sobre os
potenciais efeitos sócio-culturais do “ciberespaço” e da “realidade virtual”
nas cidades.
Todos esses
desenvolvimentos são importantes porque fazem aflorar o potencial, pelo menos
para os grupos de elite, da identidade sócio-cultural, da experiência e das
interações sociais, que podem ser reconstruídas em esquemas mais livres de
tempo e espaço. Os telefones ajudam na manutenção de ligações pessoais a
despeito da distância; os “ritos” da televisão, como as transmissões de grandes
eventos esportivos, possibilitam reuniões sociais; os jogos por computador
levam a diferentes formas de isolamento e introspeção;
e redes como correios eletrônicos e BBS possibilitam encontros sociais no
“espaço virtual” entre pessoas que nunca se encontraram verdadeiramente no
“espaço físico”.
A proliferação de
verdadeiras redes de comunicação social interativa significa que, em alguns
casos, os grupos sociais estão agora estabelecendo relações mais próximas via
redes eletrônicas do que via proximidade física. Similarmente às forças
econômicas das cidades, é impossível compreender social e culturalmente as
cidades sem olhar seus grupos sociais e culturais e as diversas redes
especializadas através das quais eles estabelecem as suas relações -
freqüentemente em níveis cada vez mais aprofundados. Diante disso, Calhoun argumenta que “as grandes cidades estão se
fundindo, harmoniosamente, numa imensidão de comunidades locais, que estão
sendo engolidas por uma rede de larga escala e de sensíveis relações indiretas”
. De qualquer forma, essa visão não atinge os grandes grupos excluídos do
acesso às tecnologias de redes ou às informações que circulam por elas, os
quais, por sua vez, foram impedidos de participar dessas relações “indiretas”
baseadas nas telecomunicações. Charles Handy afirma
que, pelo menos nesse momento:
“o mundo da
tecnologia da informação é um mundo feito para poucos
afortunados, talvez
20% da população; são as pessoas, hoje denominadas ‘analistas simbólicos’, que
podem trabalhar com números e idéias, morando em isolados
e arborizados
subúrbios, cercados por altos portões e guaritas; são aquelas pessoas que ficam
sentadas junto aos seus computadores portáteis e seus telefones, acessando
informações por todo o mundo. E elas não se aventuram sair para o centro da
cidade, não se utilizam dos transportes públicos, e quando viajam, é na parte
dianteira dos vôos internacionais (...) E depois vem o resto, aqueles que não
têm acesso a essas tecnologias, que não sabem como utilizá-la, e que não sabem
gerar produtos através dela.
E esses, moram no
centro das cidades, utilizam-se dos transportes públicos,
e passarão por
tempos difíceis”
(Handy, 1995; Quoted in Channel 4. 1995;20)
Fica claro que a
ameaça mais concreta é que a combinação das atuais tendências econômicas,
sociais e tecnológicas gera tamanhas fragmentações e polarizações, resultando
naquilo que Riccardo Petrella, Comissário Europeu,
chama de “um arquipélago de ricas cidades-regiões de alta tecnologia no mar da
humanidade empobrecida” . Para estes grupos emergentes, com sorte suficiente
para estarem no controle da tecnologia, a telemática lhes oferece inúmeras
possibilidades de reorganização e individualização da vida cultural e social
das cidades. “O indivíduo pode dissociar-se dos outros”, dita Storgaard et al, “e, junto com
isso, aplicando a tecnologia da informação, ele/ela podem eliminar,
praticamente, quaisquer controles. Conforme o estilo de vida, cada indivíduo
poderá dissociar-se do que lhe é estranho, exatamente ao mesmo tempo que poderá
enfatizar sua vinculação a determinado grupo, lugar ou comunidade local. Por
outro lado, as pessoas, utilizando a tecnologia da informação, poderão derrubar
barreiras impostas por um dado grupo ou local. Assim, fica mais fácil escolher
as vinculações futuras de um indivíduo, sem ficar atado indefinidamente a
outras. Ou seja: será mais fácil vincular-se àqueles que compartilham dos
mesmos interesses, do que àqueles que compartilham a mesma localização física .
Mas, o que
realmente significam essas mudanças na vida sócio-cultural das cidades? Vale a
pena discutirmos dois grandes cenários - um negativo e outro positivo - que
ilustrarão as formas pelas quais deverão ocorrer as relações entre espaços
urbanos e espaços eletrônicos. Pelo lado negativo, assistimos à vinculação,
cada vez maior, da telemática ao círculo vicioso de forças que, na argumentação
de muitos, estão solapando o papel das cidades como o reino público no qual
misturam-se, de uma forma livre e democrática, todos os segmentos da sociedade
(ver Figura 5). Essa é a visão de um influente grupo de críticos nos Estados
Unidos .
Figura 5 - Cenários
positivos e negativos de interligação de espaços urbanos e
“espaços
eletrônicos” acessíveis via redes a cabo
É claro que a
argumentação, nesse caso, refere-se ao fato das pessoas buscarem os espaços
eletrônicos por estarem sendo cada vez mais alijadas dos processos de mudanças
de muitas cidades americanas (e, conseqüentemente, de muitas cidades do
Ocidente e do Sul). A classe média, por exemplo, debandou para “esconderijos”
nos subúrbios que possuem poucos espaços públicos genuínos. Esses moradores
suburbanos têm paranóia a crimes e às interferências de outros grupos sociais;
isso gera a instalação de portões (no sentido físico) e sistemas de vigilância
eletrônica, fatos que aumentam o medo e o isolamento. E assim, o círculo
continua. As alternativas são muitas, complexas, e de fácil generalização. Mas,
parece que está havendo uma mudança nesse enclausuramento,
em especial nas classes médias - com a sua retirada dos espaços públicos das
cidades, o uso de tecnologias domésticas e de “auto-serviço”, e o acesso a
redes assumem o lugar do espaço público. O medo da criminalidade e uma
alienação social da vida urbana são os principais motivos dessa tendência. Um
recente programa de televisão reportou que o acesso a redes telemáticas para
compras, lazer e trabalho “parece seguro se comparado à decadência urbana.
Paranóia, violência e poluição estão ceifando a alma da América, que volta-se
para dentro si - para a proteção das casas, a segurança privada, aos códigos de
acesso e para a vídeo-vigilância - ou seja, para verdadeiras fortalezas
controladas . Na mesma linha, Manuel Castells
alerta sobre um futuro urbano não-utópico (americano) sem ideais
coletivos, onde “casas individualizadas e afastadas, localizadas em
intermináveis áreas suburbanas, voltam-se para a preservação de suas próprias
lógica e valores, fechando suas portas para o ambiente externo que as cerca, e
direcionando suas antenas para os sons e imagens de toda uma galáxia” . Muitos
centros de cidades foram re-desenvolvidos como distritos “temáticos”, fechados
e estritamente comerciais, dominados por grandes lojas e cadeias de diversões,
onde os “grupos sociais indesejáveis” são propositadamente excluídos de forma a
maximizar o consumo e os lucros.
Nesse contexto,
Howard Rheingold, um defensor entusiasmado das
comunidades virtuais baseadas na Internet, acredita que “uma das explicações
para o fenômeno (da comunidade virtual) é a necessidade de vida comunitária,
crescente no interior das pessoas mundo afora, à medida em que vão
desaparecendo os espaços públicos de suas vidas reais” . Em outras palavras,
cidades virtuais, com seus “cafés eletrônicos” e seus grupos de discussão
interativos, são antídotos eletrônicos
contra a depressiva realidade da vida urbana das classes médias. Mas,
embora a natureza desregulatória
e anárquica da Internet possa oferecer alento aos alienados americanos dos
subúrbios, alguns críticos questionam que a Internet está se tornando tão
comercial como um imenso “centro de compras eletrônico” - que espelha a tão
arraigada natureza consumista da maioria dos shoppings e centros comerciais das
cidades americanas. Diante disso, o antídoto é apenas temporário.
Mas tem-se, também,
uma visão mais positiva da questão, onde as cidades virtuais funcionam como
suporte e não como fator de destruição do espaço democrático público das
cidades, resultando num círculo virtual muito mais do que num círculo vicioso.
Aqui, a inovação municipal e local de “cidades virtuais” com base na Internet e
na World Wide Web parece ser o caminho de
interligação entre os fragmentos sociais e geográficos que configuram as
cidades reais. Elas auxiliam na criação de um novo espaço para a interação, o
debate e o desenvolvimento cultural, cujos resultados possibilitam um
renascimento na vida sócio-cultural urbana. Alguns argumentam que a
multiplicidade de comunidades virtuais especializadas na Internet retomam o
sentimento de um convívio urbano que foi perdido ao longo das transformações
físicas e sociais que levaram ao urbanismo pós-moderno. A questão é crítica
porque as redes sociais e os laços entre pessoas e lugares transcende, agora,
as definições geralmente arbitrárias de “vizinhança” e de “cidade”. Geoff Mulgan, por exemplo,
coloca: “dado que a arquitetura e a geografia das grandes cidades e dos
subúrbios dispersou os antigos vínculos comunitários, as redes eletrônicas
podem, então, se transformar nos instrumentos de convivência das cidades” . Ele clama os legisladores a explorar esse
potencial através da inclusão de políticas de telecomunicações em suas
propostas rotineiras sobre educação, planejamento, transporte e habitação.
CONCLUSÕES -
HABITAT II: RUMO AO PLANEJAMENTO E ÀS POLÍTICAS PARA UMA CIDADE EM TEMPO REAL
P
ara concluirmos, o
que essas mudanças rumo à “cidade em tempo real” implicam nos debates da
Habitat II? O que pode ser feito pelos planejadores urbanos e pelos
legisladores como uma resposta positiva a esses desafios econômicos e sociais,
visando uma “cidade em tempo real”? Como, em outras palavras, a telemática pode
ser utilizada, em níveis locais, como um “kit de ferramentas” pelas cidades que
buscam fomentar o seu desenvolvimento econômico, reduzir as desigualdades
sociais e sustentar um desenvolvimento urbano progressivo?
Cidades neste mapa:
Almere, Amsterdam, Assen, Beekbergen, Beverwijk, Bolsward, Breda, Culemborg, Delft, Delfzijl, Den Haag, Eersel,
Eindhoven, Enschede, Geleen, Groningen, Hoogeveen, Leende, Leeuwarden, Leiden, Lelystad, Lopik, Maarssen, Maastricht, Middelburg, Nijmegen, Nijverdal, Oegstgeest, Roosendaal, Rotterdam, Schiedam, Steenwijk, Tilburg, Urk, Utrecht,
Zaanstad.
Figura 6 - “Mapa
Ativo” da World Wide Web sobre as Redes de Cidades
Virtuais na Holanda
(Acesso em
http://www.eeb.ele.tue.nl/dhp/960225/category13/category.html)
O ponto-chave é que
a telemática, enquanto base para tais mudanças, parece oferecer um potencial
considerável como um instrumento político em resposta a elas. Está surgindo um
amplo leque de iniciativas locais, tanto no mundo desenvolvido como no mundo em
desenvolvimento, centradas no uso da telemática como uma nova e poderosa
ferramenta política. O mais importante é o rápido surgimento das chamadas
“cidades virtuais”, que estão sendo desenvolvidas pelas prefeituras e pelas
agências de desenvolvimento urbano, para possibilitar um maior acesso à
telemática e a um futuro urbano mais positivo do que depressivo. A Figura 6
apresenta alguns exemplos da Holanda. As cidades virtuais são espaços eletrônicos,
em geral com base na World Wide Web, que foram
desenvolvidos para interligar, de forma explícita, as agendas de
desenvolvimento de cada cidade. Tais cidades virtuais estão funcionando como
ferramenta política para uma variedade de planos e objetivos urbanos: marketing
urbano global, estímulo ao turismo de negócios e de consumo, melhoria das
comunicações entre os cidadãos e os governos locais, aumento da competitividade
das empresas locais, maior integração das economias locais e o renascimento do
civismo e da cultura local.
Enquanto esses
sistemas oferecem, em geral, acesso a outros serviços da Internet - e que podem
ser acessados de qualquer parte do mundo - sua ênfase principal reside nas
discussões locais, nas interações e nos serviços de informação que inserem os
cidadãos em suas próprias cidades. Isso inclui a possibilidade de acesso
eletrônico a serviços locais de caráter municipal e comercial, informações
on-line sobre execução de planos, desenvolvimentos e serviços públicos,
oportunidades comerciais e de empregos, contatos entre agências de bem-estar
social, informações tipo “O que há de novo”, debates em BBSs
sobre uma variedade de assuntos locais. Também podem ser estabelecidas
oportunidades de agenciamento de transações locais, como por exemplo o
pagamento on-line de impostos e taxas.
O desafio para
planejadores e legisladores é a construção de cidades virtuais consistentes,
acessíveis e localizadas, que viabilizem uma visão urbana pública e positiva na
tentativa de re-conectar os diversos fragmentos dos elementos de uma cidade.
Esses são os difíceis desafios políticos numa área em que os legisladores têm
pouca experiência e habilidade. Mas, a crescente experiência no desenvolvimento
de tais sistemas - em especial nos Estados Unidos - demonstra que eles podem
ser relativamente baratos, além de ser um caminho eficaz para a mudança da
cultura tecnológica local e para a melhoria do desenvolvimento de civismo nas
cidades reais.
À medida em que
torna-se fundamental o envolvimento local e municipal na estruturação do
ciberespaço, suas respectivas políticas devem, também, ser realísticas. Deve-se
tomar cuidado para não ser seduzido pelo brilho e glamour que cercam o
ciberespaço e as cidades virtuais. Também devem ser consideradas as desigualdades
flagrantes no acesso à tecnologia, às ferramentas e ao dinheiro para o
pagamento de encargos. Para uma ampla maioria de cidadãos de cidades
latino-americanas, o telefone é um luxo inacessível e um PC com acesso à
Internet é algo como ficção científica. Acesso é a questão fundamental, que
coloca as pessoas mais ricas e com conhecimento de computadores, portadoras de
equipamentos, ferramentas e capacidade de articulação, em extrema vantagem para
beneficiarem-se do acesso ao ciberespaço e às cidades virtuais. Apesar de
muitos grupos sociais encontrarem dificuldades para acessar os espaços públicos
físicos, isso requer apenas uma caminhada ou uma viagem de ônibus. Mas, o
acesso aos espaços públicos eletrônicos fato que requer um computador, um
modem, habilidades computacionais, um telefone ou outros tipos de ligações de
telecomunicações, e dinheiro para pagamento das contas telefônicas. Também são
críticas as questões dos terminais públicos de acesso e do treinamento para não
portadores de computador. Elas são facilmente esquecidas pela elite de
legisladores que, freqüentemente, já estão saturados por facilidades
telemáticas em suas casas, no trabalho e também enquanto se
movimentam. Conforme as afirmações de Dutton para a
realidade dos Estados Unidos, “vivendo numa sociedade da informação, as pessoas
instruídas já nem se dão conta da exposição à tecnologia da informação. Assim,
ela é invisível para a maioria dos que estão no segmento mais pobre das cidades
(...) Na era do chamado excesso de informação, poucos administradores ou
profissionais podem imaginar uma situação na qual faltem informações
essenciais, mas é exatamente este o caso do segmento mais deteriorado” .
Também tenho
dúvidas acerca da extensão de quanto a convivência, as interações face-a-face e o senso público e democrático dos espaços
urbanos podem ser, verdadeiramente, substituídos pela interação em cidades
virtuais. As capacidades de intermediação das atividades econômicas e sociais
através das telecomunicações são, muitas vezes, exageradas; a importância
contínua da concentração de atividades nos espaços urbanos é quase sempre
sub-avaliada no clamor da mediatização da “revolução
das telecomunicações”. Recentemente, dois sociólogos alertaram sobre os perigos
de se esperar muito das cidades e comunidades virtuais. Eles argumentam que
esses desenvolvimentos simplesmente oferecem “uma fantasia pela qual podemos
viver uma aparente proximidade com os outros, conversar com eles e expressar
nossos sentimentos”, enquanto eles “ignoram a dimensão comunitária, que
consideramos central nesse conceito, em especial no aspecto afetivo; e a
dimensão de identidade vinculada ao ‘estar junto’. Esse é o ‘cordão emocional e
afetivo’ da solidariedade” . Ainda não é claro o quanto as cidades virtuais,
estruturadas como espaços específicos, podem suportar o sentimento de “estar
junto”.
Os planejadores
devem estar atentos, também, para o perigo das cidades virtuais produzirem
outras transposições das interações sociais dos espaços urbanos para redes
eletrônicas segmentadas, exacerbando, assim, os problemas. Então, fica como
mensagem para a Habitat II a consideração que políticas inovadoras meticulosas
são, com certeza, importantes, mas, elas precisam ser estruturadas como um estímulo direto a
melhorias nas cidades reais através de, por exemplo, acurados debates sobre a
política de planejamento e desenvolvimento, e a geração de novos eventos e
atividades nos centros das cidades. Resumindo, os espaços urbanos e os espaços
eletrônicos devem ser planejados em paralelo.
Um extrato desse
texto foi publicado por “O Estado de S. Paulo”
em 26 de maio de
1996.