EXTRATO DE: REGRESSO AO ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Autor: Aldous Huxley

Ed. Hemus – 1959/.../2022

 

PREFÁCIO

 

Por mais elegante e resumida que seja, a brevidade nunca pode, pela natureza dos fatos, ter em conta todos os casos de uma situação complexa. (...) só se pode ser conciso à custa de omissões e simplificações. [elas] nos auxiliam, em muitos casos, a compreender imperfeitamente; porque a nossa percepção pode ser só a percepção das noções nitidamente formuladas por quem resume, e não da realidade vasta e ramificada, a partir da qual tais noções foram separadas de modo tão arbitrário.

 

(...) a tarefa daquele que sintetiza é fazer da melhor maneira possível um trabalho que, embora essencialmente mau, ainda seja melhor do que nada. (...) as temerárias meias-verdades e quartas-partes da verdade sempre foram a moeda corrente do pensamento.

 

Os capítulos que seguem devem ser lidos contra um pano de fundo de pensamentos sobre (...) o orçamento que cada nação reserva para a sua “defesa”, sobre as intermináveis colunas de rapazes uniformizados, que marcham obedientemente para a vala comum.

 

1 – SUPERPOPULAÇÃO

 

As profecias feitas em 1931 estão para realizar-se muito mais depressa do que eu calculava.

 

No argumento de 1984, feito por Orwell em 1948, parecia terrivelmente convincente. Porém, os tiranos são mortais e as circunstâncias variam.

 

A punição sustém temporariamente o comportamento indesejável, porém não elimina definitivamente a tendência da vítima em sentir-se bem ao agir daquele modo.

 

Limitemos a nossa atenção àquelas forças impessoais que estão, atualmente, tornando o mundo bastante inseguro para a democracia e rude para a liberdade individual.

 

Não resolvido [o problema da superpopulação], se tornará insolúveis todos os outros nossos programas. Pior ainda, acarretará condições tais que a liberdade individual e as vantagens sociais do sistema democrático de vida tornar-se-ão impossíveis, quase imaginárias.

 

Passemos em revista, por alto, as razões desta estreita correlação entre povo em excesso, entre povo que se multiplica rapidamente, e a formulação de filosofias autoritárias, o nascimento de sistemas totalitários de governo.

 

Onde a tradição republicana ou a tradição monárquica atenuada são fracas, a melhor das constituições não impedirá os políticos ambiciosos de se rejubilarem às tentações do poder.

A crise contínua é o que esperamos num mundo onde a superpopulação está gerando um estado de coisas em que a ditadura, sob os agouros comunistas, se torna quase inevitável.

 

2 – QUANTIDADE, QUALIDADE, MORALIDADE

 

Nos maus dias de antigamente, as crianças com defeitos hereditários consideráveis ou até leves, raramente sobreviviam.

 

Estamos nas extremidades de u m dilema ético, e para acharmos o caminho intermediário serão necessárias toda a nossa inteligência e toda a nossa boa vontade.

 

3 – SUPERORGANIZAÇÃO

 

A estrada mais curta e mais larga em direção ao pesadelo do Admirável Mundo Novo passa (...) pelo aumento sempre crescente do número total de seres humanos (...) com a maior parte da humanidade encarando a escolha entre a anarquia e o controle total.

 

A Natureza das Coisas é tal que neste mundo pode atingir coisa alguma sem dar alguma coisa em troca.

 

Em um mundo de produção e de distribuição em grande escala os pequenos, com o seu fundo insuficiente de capital operante, vêem-se em grande desvantagem. Em competição com os grandes perdem o seu capital e a sua própria existência como produtores independentes. [Lembrando Churchill] nunca tantos foram dirigidos por tão poucos.

 

A tecnologia moderna tem conduzido à concentração do poder econômico e político, e ao desenvolvimento de uma sociedade controlada (...) pelo Alto Negócio e pelo Alto Governo.

 

Os sintomas, como tais, não são nossos inimigos, porém, nossos amigos; onde há sintomas há conflito, e conflito indica sempre que as forças da vida, que pugnam pela harmonização e pela felicidade, ainda lutam.

 

“Uniformidade” e liberdade são contraditórias. A uniformidade e a saúde mental são igualmente incompatíveis... O homem não foi preparado para ser um autômato, e se se transforma em autômato, a base da saúde mental estará arruinada.”

 

Qualquer cultura que, no interesse da eficácia, ou em nome de qualquer dogma político ou religioso, procura padronizar o indivíduo humano, comete um ultraje contra a natureza biológica do homem.

 

É na esfera social, no domínio da política e da economia, que a “Vontade de Ordem” se converte realmente em perigo.

 

A Vontade de Ordem pode converter em tiranos os que aspiram simplesmente a desfazer a confusão. A beleza da boa ordenação é aplicada como justificação para o despotismo.

 

À pergunta quem montará guarda em volta dos nossos guardas, quem será o engenheiro desses engenheiros? A resposta é uma suave negação de que eles precisem de qualquer supervisão.

 

Leito de Procusta: Mito utilizado como metáfora para situações em que se pretende impor um determinado padrão ou querer a todo o custo obrigar que algo encaixe numa matriz pré-estabelecida ou pré-determinada, e, por isso, representa a intolerância humana.

 

4 – PROPAGANDA NUMA SOCIEDADE DEMOCRÁTICA

 

A despeito do Id e do Subconsciente, a despeito da neurose endêmica e da supremacia de baixos quocientes de inteligência são [os seres humanos], talvez, suficientemente honestos e razoáveis para lhes ser entregue a direção dos próprios destinos.

 

As instituições democráticas são preceitos destinados a conciliar a ordem social com a liberdade da iniciativa individual, e submeter o poder imediato dos governantes de um país ao poder ultimo dos governados. (...) Se lhes oferecem oportunidade, os seres humanos podem governar-se a si próprios, e governar-se a si próprios melhor, ainda que talvez com menos eficiência mecânica, do que podem sê-lo por “autoridades alheias à sua vontad3e”.

 

O liberalismo prospera numa atmosfera de progresso e declina quando a prosperidade decadente exige do governo a sua intervenção, cada vez mais frequente e drástica, nos assuntos dos seus súditos.

 

Há forças de outra tendência, menos abstratas, forças que podem ser deliberadamente empregadas por homens ávidos de poder, cujo objetivo seja estabelecerem controle parcial ou total sobre os seus semelhantes.

 

A propaganda a favor da ação inspirada por impulsos (...) apresenta provas falsas (...) evita os argumentos lógicos e procura influenciar as suas vitimas pela simples repetição de frases feitas, pela denuncia louca de godês expiatórios, estrangeiros ou domésticos (...).

 

Segundo os princípios de John Dewey, “um rebento de fé na natureza humana comum, nas suas potencialidades em geral, e no seu poder em particular, de anuir à razão e à verdade, é obstáculo mais seguro contra o totalitarismo do que uma demonstração de êxito material, ou do que a devoção religiosa por uma certa manifestação legal e política”.

 

Na vida pública e privada, sucede muitas vezes que não há apenas tempo para colher os fatos relevantes ou para avaliar a importância deles. (...) Tudo o que está ao nosso alcance é sermos tão verdadeiros e racionais quanto as circunstâncias o permitam, e reagirmos como pudermos à limitada verdade e aos raciocinios imperfeitos, oferecidos à nossa consideração por outros.

 

Jefferson declarou: “Em nada do que se lê num jornal pode-se acreditar atualmente”, disse também que “nos limites da verdade, a Imprensa é uma nobre instituição, igualmente amiga da ciência e da liberdade civil”.

 

A comunicação com as massas não é boa nem má; é simplesmente um poder e, como qualquer outro poder, pode ser bem ou mal empregado. (...) Utilizada de modo diverso [ao bem da democracia] encontra-se entre as armas mais poderosas do arsenal dos ditadores.

 

No passado (...) o Natal só surgia uma vez por ano, as festas eram “solenes e raras”, havia poucos leitores e muito pouco que ler, e o que havia mais aproximado de um cinema de bairro era a igreja paroquial, onde os espetáculos, se bem que frequentes, eram bastante monótonos.

 

Uma sociedade [que abandona a vigília] (...) terá dificuldade em resistir às investidas daqueles que quiserem orientá-la e controlá-la.

 

Na sua propaganda, os ditadores atuais limitam-se (...) à repetição de estribilhos que pretendem sejam aceitos como verdades, à supressão de fatos que eles pretendem sejam ignorados, ao desencadeamento e à racionalização de paixões que podem ser aplicadas nos interesses do Partido ou do Estado.

 

(...) os ditadores do futuro aprenderão, sem dúvida, a combinar esta técnicas com as distrações ininterruptas que, no Ocidente, ameaçam agora sugerir num mar de irrelevância a propaganda racional indispensável à manutenção da liberdade individual e à sobrevivência das instituições democráticas.

 

5 – A PROPAGANDA SOB UMA DITADURA

 

 

[Na Alemanha de Hitler]

 

Através de artifícios técnicos como o rádio e o alto-falante, oitenta milhões de pessoas foram privadas da liberdade de pensar. (...) Os ditadores que antecederam Hitler necessitavam de assistentes altamente qualificados mesmo nos escalões mais inferiores – homens que podiam pensar e agir de maneira totalmente livre.

 

Hoje, a arte de controlar os espíritos está em vias de se tornar uma ciência. Os praticantes desta ciência sabem o que estão fazendo e por quê. São guiados na sua obra por meio e hipóteses firmemente estabelecidas sobre uma grande massa de fatos experimentalmente constatados. Graças a novos pontos de vista, e a novas técnicas tornadas possíveis por esses novos pontos de vista, o pesadelo que foi “quase concretizado no sistema totalitário de Hitler” não tardará talvez a ser totalmente realizável.

 

O objetivo de Hitler era, primeiramente, mover as massas e após, tendo-as arrancado às suas fidelidades e moralidades tradicionais, impunha-lhes (com o consentimento hipnotizado da maioria) uma nova ordem autoritária, de sua própria inventiva.

 

“Hitler”, escrevia Herman Rauschning em 1939, “tem uma profunda reverência pela Igreja Católica e pela ordem dos Jesuítas. (...) devido ao “maquinismo” que eles elaboravam e controlaram, o seu método hierárquico, as suas táticas bastante ágeis, o seu profundo conhecimento da natureza humana e o sagaz uso da fraqueza humana para dominarem os crentes”.

 

O princípio fundamenta de Hitler era (...) que as massas são absolutamente desprezíveis. São incapazes de pensamento concentrado e desinteressadas de qualquer caso que ultrapasse a sua experiência direta. O seu comportamento é regulado, não pelo conhecimento e pela razão, mas por sensibilidades e impulsos inconscientes. É nestes impulsos e sensibilidades que “as raízes das suas atitudes, tanto positivas quanto negativas, estão implantadas”.

 

Os grupos são capazes de ser tão morais e inteligentes como os elementos que os formam; uma multidão é desordenada, não tem objetivo próprio, e é capaz de qualquer desatino com exceção de ação inteligente e de pensamento realista. (...) Numa palavra, uma pessoa numa multidão comporta-se como se tivesse tomado uma grande dose de tóxico. É uma vítima do que eu denominei “envenenamento gregário”. Como o álcool, o veneno gregário é uma droga ativa e estimulante. Os membros de uma multidão intoxicada fogem à responsabilidade, à inteligência e à moralidade, e entram numa espécie de animalidade frenética e alienada.

 

 

Ler é uma ocupação privada e não coletiva. O escritor dirige-se apenas a indivíduos, sentados em suas casas, num estado de sobriedade normal. [Não é mais assim] O orador fala para massas de indivíduos [assim é nas redes sociais], já bastante contaminados pelo “veneno gregário”,  (...) Otto Strasser denominou Hitler “um alto-falante, proclamando os desejos mais íntimos, os instintos menos admissíveis, os sofrimentos revoltas pessoais de todo um país”.

 

“Toda propaganda efetiva”, escreveu Hitler, “deve resumir-se ao estritamente indispensável e deve, portanto, exprimir-se em meia dúzia de fórmulas estereotipadas”.

 

A filosofia nos ensina a sentirmo-nos indecisos sobre coisas que nos parecem evidentes por si mesmas.

 

[Para um propagandista] na sua visão do mundo não há atenuantes, as coisas ou são diabolicamente pretas ou celestialmente brancas. (...) [Ele] jamais deve admitir que tenha errado ou que as pessoas que defendem um ponto de vista diferente possam ter parcialmente razão. Não se deve altercar com adversários; serão atacados, reduzidos ao silencio, ou se se tornam demasiado prejudiciais, liquidados. (...) As massas estão sempre convictas de que o “direito está do lado do agressor ativo”.

 

A ausência sub-humana de espírito a que o demagogo dirige o seu apelo, a imbecilidade moral em que se apóia quando induz as suas vitimas à ação, são características não dos homens e das mulheres como indivíduos, mas dos homens e das mulheres em multidão.

 

Sob os nazistas, grandes grupos de pessoas eram forcadas a despender muito tempo marchando em filas cerradas (...). A marcha distrai o pensamento. A marcha põe um fim à individualidade. A marcha é o passe de mágica indispensável com o objetivo de habituar o povo a uma atividade mecânica, quase ritual, até que se torne uma segunda natureza.

 

Numa época de superpopulação crescente, de crescente superorganização e de meios de comunicação cada vez mais eficientes com as massas, como podemos manter intacta a integridade e reafirmar o valor do ser humano individual? Eis uma questão que ainda pode ser levantada e que seja talvez possível resolver de maneira eficaz. Daqui a uma geração poderá ser demasiado tarde para se encontra uma resposta, e talvez seja até impossível, no asfixiante ambiente coletivo dessas épocas futuras, suscitar o problema.

 

6 – AS ARTES DE VENDER

 

A sobrevivência da democracia depende da capacidade de grandes maiorias para fazerem escolhas de modo realista à luz de uma informação sólida. [!!! Isto jamais será possível.]

 

(...) que tipo de coisa devemos esperar para o futuro?

 

A longo prazo, a cólera e o ódio são emoções que se exterminam. Mas a curto prazo apresentam altos dividendos, sob a forma de satisfações psicológicas e até (dado que libertam grandes quantidades de adrenalina e noradrenalina) fisiológicas.

 

Hitler não cessava de martelar palavras violentas como “ódio”, “força”, “impiedade”, “esmagar”,!despedaçar”; e acompanhava estes termos violentos com gestos ainda mais violentos. Urrava, vociferava, as veias inchavam-lhe e tornava-se arroxeado.

 

(...) grande parte das pessoas encontra prazer intenso nos pensamentos, sentimentos e ações que concorrem para a guerra e para a tirania.

 

Keats: A beleza é a verdade, a verdade é a beleza.

 

O tempo, à medida que escoa, separa a boa arte da má metafísica. Podemos nos aprender a fazer esta distinção, não depois do acontecimento, mas enquanto ele está por realizar-se?

 

As crianças (...) desconhecem o mundo e seus costumes, e estão, portanto, totalmente desprevenidas.

 

Os vendedores de política recorrem apenas para a debilidade dos eleitores, não para a sua força potencial.

 

Dada a natureza da oratória, sempre h ouve entre os políticos e os eclesiásticos a tendência para simplificarem ao extremo as questões complexas.

 

7 – LAVAGEM CEREBRAL

 

Diga-se, com sarcasmo, as únicas pessoas que conseguem suportar indefinidamente a pressão da guerra moderna são os psicopatas. A loucura individual está prevenida em relação às consequências da loucura coletiva.

 

(...) a horrível falta de humanidade do homem para com o homem [é] inspirada pelo amor da crueldade, devido à terrível fascinação que esta exerce.

 

John Wesley iniciava o seu sermão com uma descrição longa e minuciosa dos tormentos a que os seus ouvintes seriam, com certeza, condenados para todo o sempre, a menos que se convertessem.

 

A eficiência da propaganda religiosa e política depende dos métodos aplicados, não  das doutrinas ensinadas. (...) Sob condições favoráveis, praticamente qualquer pessoa pode ser convertida a qualquer coisa.

 

 

O objetivo [sempre é o de] criar uma sociedade de pesadelo, onde um [espione e denuncie] os outros.

 

O condicionamento universal da infância e outras técnicas de manipulação e controle ainda estão afastados de nós pelo lapso de algumas gerações. No caminho que leva ao Admirável Mundo Novo os nossos dirigentes têm de contentar-se com técnicas de lavagem cerebral provisórias e transitórias.

 

8 – PERSUASÃO QUÍMICA

 

[no Admirável Mundo Novo] O Ópio, ou antes o Soma, era a religião do povo. Como a religião, a droga tinha o poder de consolar e de compensar, criava visões de outro mundo, de um mundo melhor dava esperança, fortalecia a fé e promovia a caridade.

 

A farmacologia, a bioquímica e a neurologia estão evoluindo sem parar, e podemos estar cientes de que, no transcorrer de poucos anos, serão descobertos novos e mais eficientes métodos químicos de aumento da sugestibilidade e de abaixamento da resistência psicológica. Como qualquer outra coisa, estas descobertas podem ser usadas para o bem ou para o mal [para mim a maioria será usada para o bem e para o mal]. Podem auxiliar o psiquiatra na luta contra a doença mental, ou podem ajudar o ditador na lua luta contra a liberdade. Visto que a ciência é minimamente imparcial, é mais provável que tais descobertas escravizem e libertem, curem e destruam, ao mesmo tempo. [Como eu entendo.]

 

9 – PERSUASÃO SUBCONSCIENTE

 

A ciência pura não permanece indefinidamente pura. Mais cedo ou mais tarde fica apta a tornar-se ciência aplicada e, finalmente, tecnologia.

 

Uma sugestão feita acima do nível da consciência é mais capaz de produzir efeito se aquele que a receber estiver num estado de ligeira hipnose, sob a fluência de algumas drogas, ou se se encontrar debilitado por doença, por inanição ou não importa qual tensão psíquica ou moral.

 

Para robustecer a fé existente (...) o propagandista (...) deve gerar nova fé, deve saber como atrair o indiferente e o indeciso para o seu lado, deve ser capaz de abrandar e talvez até de convencer os que lhe são contrários.

 

Numa campanha política o patriotismo pode ser associado com qualquer causa desde a segregação até a integração, e com qualquer tipo de pessoa, desde Mahatma Gandhi até ao senador McCarthy (...).

 

Daqui a dez ou vinte anos, (...) o que é agora mera ficção científica, tornar-se-á um fato político de todos os dias.

 

10 – HIPONOPÉDIA

[Hipnopédia é o método de educação ética controlado pelo Estado no romance Admirável Mundo Novo.]

 

Uma sociedade democrática está baseada na certeza de que se abusa muitas vezes do poder e que é conveniente, consequentemente, não o confiar aos funcionários, senão em porções limitadas e por intervalos de tempo reduzidos.

 

Uma pessoa adormecida profundamente não é sugestionável. Mas quando são dadas sugestões a pacientes mergulhados em sono leve, eles responderão a essas sugestões, da mesma maneira como reagem a sugestões quando em estado de hipnose, segundo diz o sr. Theodore X. Barber.

 

Sob condições adequadas, a Hipnopédia oferece resultados efetivamente – resultados, parece, tão eficientes como a hipnose.

 

Ainda que as sugestões dadas (...) só fossem eficientes em dez por cento dos casos, os resultados ainda seriam impressionantes e, para um ditador, altamente desejáveis.

 

Na realidade, como insistem os budistas, muitas pessoas estão meio adormecidas durante todo o tempo e passam a vida como sonâmbulos que obedecem às sugestões de qualquer pessoa. A palavra Buda pode traduzir-se por “o Iluminado”.

 

Até que ponto pode ser neutralizada pela educação, para benefício do próprio indivíduo ou para benefício de uma sociedade democracia, a tendência natural para ser sugestionável em excesso?

 

11 – A EDUCAÇÃO PARA A LIBERDADE

 

A educação para a liberdade deve começar por impor fatos e por expor argumentos de valor, e deve ir ao ponto de gerar técnicas apropriadas à execução de valores e ao combate de quem que, por qualquer motivo, prefere a ignorância da realidade ou a negação dos valores.

 

A Moral Social afirma que a educação é de máxima importância na definição do comportamento humano e que a natureza – o equipamento psicofísico com os quais os indivíduos nasceram – é um fator desprezível. (...) que justificativa pode alegar-se para o caso de se afirmar que o indivíduo tem menos importância do que o grupo do qual é membro.

 

A liberdade é, pois, um grande bem, a tolerância uma grande virtude e a associação uma grande desgraça.

 

Jamais teremos conhecimento de tudo. Devemos contentar-nos, portanto, com o conhecimento parcial e com as causas próximas – incluindo entre elas a influencia dos grandes homens.

 

[Se somos 100% resultado das circunstâncias] se Shakespeare tivesse sucumbido de cólera infantil uma outra mãe de Straford-upon-Avon deveria apresentar uma copia igual ao original para restabelecer o equilíbrio sociológico?

 

Segundo Bertrand Russel, os princípios das modificações históricas são de três espécies – desenvolvimento econômico, teoria política e individualidades importantes.

 

Quando se executa um trabalho no mundo, o que o executa verdadeiramente? De quem são os olhos e os ouvidos que o percepcionam, o cérebro que o idealiza? Quem experimenta os sentimentos que fazer agir, a vontade que supera os obstáculos? Certamente não será o ambiente social (...).

 

A ética comunista está alicerçada em pontos de vista errôneos sobre a economia.

A ética nazista em pontos de vista errados sobre as raças.

Ambas justificaram atrocidades numa escala absurda.

 

Os seres humanos não são seres totalmente sociáveis; são apenas ligeiramente gregários.

 

No mundo em que vivemos (...) enormes forças impessoais estão agindo a favor da centralização do poder e por uma sociedade centralizada.

 

Se desejarmos que esse tipo de tirania seja evitado, devemos começar, sem demora, a educar-nos a nós e aos nossos filhos para a liberdade e o autogoverno.

 

Uma educação para a liberdade deve ser, entre outras coisas, uma educação do emprego correto da linguagem.

 

Em nenhuma parte se ensina às crianças um meio sistemático de distinção entre afirmações inverídica, verdadeiras, com sentido ou sem sentido

 

O primordial será a liberdade individual, alicerçada nos fatos da diversidade humana e na unicidade genética; o valor da caridade e da compaixão, fundada no velho fato familiar, de que seja qual for a sua diversidade física ou mental – o amor é tão imprescindível aos seres humanos como o alimento e o abrigo; (...).

 

12 – O QUE PODEMOS FAZER?

 

A liberdade está ameaçada, e a educação para a liberdade torna-se necessária, urgentemente.

 

A vítima da manipulação do espírito ignora que é vítima. Para ela, são invisíveis os muros da prisão, e julga-se a si própria livre. Que não esteja livre é visível apenas para as outras pessoas. A sua servidão é estritamente objetiva.

 

[No futuro] a democracia e a liberdade serão os argumentos de todas as emissões radiodifundidas e de todos os artigos de fundo – porém tratar-se-á de uma democracia, de uma liberdade num sentido absolutamente pickwickiano.

 

[Estabilizar a população] é mais fácil de escrever do que fazer. É necessário reduzir o excedente anual dos nascimentos. Como? Devemos escolher entre a fome, as epidemias e a guerra, de um lado, e o malthusianismo de outro lado.

 

[Se vier a existir uma pílula que iniba a reprodução de maneira definitiva] como poderão as pessoas que devem tomar a pílula, mas não querem tomá-la, ser persuadidas a modificarem o seu parece? E que fazer contra as objeções estabelecidas pela Igreja Católica a qualquer forma de controle da natalidade a não ser pelo chamado Método rítmico?

 

Em uma corrida, seja ela qual for, entre a quantidade das massas humanas e os recursos naturais, o tempo trabalha contra nós.

 

O poder está realmente sendo concentrado em um número cada vez menor de mãos.

 

Sabemos que numa sociedade vasta e complexa, a democracia não tem qualquer sentido senão em função de grupos autônomos de dimensões manejáveis – e todavia, uma parte cada vez mais importante dos negócios de um país é gerida pelos burocratas dos Grandes Governos e do Alto Negócio.

 

[Quase nunca na história da humanidade] fomos capazes de agir com eficiência em função do que sabemos.

 

Desejamos realmente agir segundo o que sabemos?

 

(...) investigações recentes da opinião pública revelaram que a maioria dos adolescentes abaixo dos vinte anos, os eleitores do futuro, não acreditam nas instituições democráticas, não vêem desvantagem na censura das ideias impopulares, acham impossível um governo do povo pelo povo e julgar-se-iam perfeitamente satisfeitos por serem governados de cima por uma oligarquia de técnicos qualificados, se puderem continuar a viver conforme o estilo a que a prosperidade os habituou.

 

Todo pássaro que aprendeu a esgaravatar uma boa porção de vermes sem ser impelido a usar as asas, logo renunciará ao privilegio de voar e permanecerá para sempre na terra.

 

“Ao final”, diz o Grande Inquisidor na ficção de Dostoiewski, “hão de dizer-nos: Torna-nos teus escravos, mas alimenta-nos.”

 

Mas o milagre, o mistério e a autoridade não são o necessário para garantir a sobrevivência duradoura de uma ditadura. No Admirável Mundo Novo os ditadores acrescentaram a isso a ciência, o que lhes permitia assegurar a sua autoridade pela manipulação de embriões, dos reflexos nas crianças e dos espíritos de pessoas de qualquer idade.

 

Sob a palmatória de um ditador científico a educação produzirá realmente os efeitos desejados e daí resultar que a maioria dos homens e das mulheres chegarão a adorar a sua servidão sem nunca pensar em revolução.

 

Um relativo número de pessoas crê ainda que sem a liberdade os seres humanos não podem tornar-se verdadeiramente humanos e que a liberdade é, por isso, um valor supremo. Talvez as forças que agora ameaçam o mundo sejam demasiado poderosas para que se lhes possa resistir durante muito tempo. É ainda nosso dever fazer tudo o que pudermos para resistir-lhes.

 

 

Uma ideia: canal sobre percepção da informação

 

A definição de Pickwickian no dicionário é de, ou se parece com o Sr. Pickwick em Charles Dickens The Pickwick Papers, especialmente em ser ingênuo ou benevolente. Outra definição de Pickwickian é estranha ou incomum.