EXTRATO DE: RÁPIDO E DEVAGAR
Duas formas de pensar
Autor: Daniel Kahneman, psicólogo, ganhador do prêmio Nobel
de Economia de 2002 por seus trabalhos sobre as razões, princípios e
referências envolvidas na tomada de decisões.
Ed. Objetiva: 2011/2012/2022
PARTE
1 – DOIS SISTEMAS
O trabalho mental que gera impressões, intuições e diversas
decisões ocorrem silenciosamente em nossa cabeça.
Muitas vezes estamos confiantes mesmo quando estamos
errados, e um observador objetivo tem maior probabilidade de detectar nossos
erros do que nós mesmos.
Será que as pessoas têm uma percepção intuitiva similar para
os princípios básicos da estatística?
(...) desenvolver uma teoria sobre o papel da semelhança em
previsões.
As pessoas tendem a estimar a importância relativa das
questões pela facilidade com que são puxadas da memória – e isso é amplamente
determinado pela extensão da cobertura na mídia.
A intuição (...) é reconhecimento.
Heurísticas[1]
intuitivas: quando confrontados com uma questão difícil, muitas vezes respondemos
a uma mais fácil em lugar dela, normalmente sem perceber a substituição.
As dificuldades do pensamento (...) [por causa de] nossa
confiança excessiva no que acreditamos saber, e nossa aparente incapacidade de
admitir a verdadeira extensão da nossa ignorância e a incerteza do mundo em que
vivemos. Somos inclinados a superestimar quanto compreendemos sobre o mundo e
subestimar o papel do acaso nos eventos.
Adotei termos propostos pelos psicólogos Keith Stanovich e
Richard West:
Você geralmente acredita em suas impressões e age segundo
seus desejos, e tudo bem – normalmente.
Uma “lei do menor esforço” geral se aplica tanto ao esforço
cognitivo quanto físico. Essa lei determina que se há vários modos de atingir
um mesmo objetivo, as pessoas acabarão por tender ao curso de ação menos
exigente. Na economia da ação, esforço é um custo, e a aquisição de habilidade
é impulsionada pelo equilíbrio de benefícios e custos. A preguiça é algo
profundamente arraigado em nossa natureza.
“Ela não se esqueceu da reunião. Estava completamente
concentrada em outra coisa quando a reunião foi marcada e simplesmente não
escutou o que você disse.”
As atividades que impõem altas exigências ao Sistema 2
requerem autocontrole, e a aplicação de autocontrole é exaustiva e degradável.
(...) juizes cansados e com fome tendem a incorrer na mais
fácil posição default de negar os pedidos de condicional.
[O resultado de uma pesquisa] sugere que quando as pessoas
acreditam que uma conclusão é verdadeira, também ficam muito propensas a
acreditar nos argumentos que parecem sustentá-la, mesmo que esses argumentos
não sejam confiáveis.
Inteligência não é apenas a capacidade de raciocinar; é também
a capacidade de encontrar material relevante na memória e mobilizar a atenção
quando necessária.
“O ego dele ficou esgotado após um longo dia de reuniões. Então ele
simplesmente recorreu a procedimentos operacionais padronizados em vez de pensar
acerca do problema.”
[Cientistas já concordam que] a cognição é corporificada:
você pensa com seu corpo, não apenas com seu cérebro.
[Conclusão de um experimento] os jovens que haviam sido
incumbidos de formar frases com palavras de temática idosa percorriam o trajeto
[de uma ponta a outra de um corredor] de um modo significativamente mais lento
do que os outros.
[Ex. de efeito priming[2]
recíproco:] se você fosse estimulado a pensar na velhice, tenderia a agir como
velho, e agir como velho reforçaria o pensamento de velhice.
O aviso para “agir com calma e educação independente de como
você se sente” é um bom conselho: é provável que você seja recompensado
sentindo-se de fato calmo e educado.
Estudos sobre efeitos de priming renderam descobertas que
ameaçam nossa autoimiagem como autores conscientes e autônomos de nossos
julgamentos e nossas escolhas.
Um experimento mostrou que expor as pessoas a imagens de
salas de aula e armários escolares também aumentava a tendência dos votantes a
apoiar a iniciativa pró-escola.
Os efeitos de primina são robustos, mas não necessariamente
abrangentes. Entre uma centena de votantes, só uns poucos cujas preferências
iniciais eram incertas votarão de modo diferente acerca de uma questão escolar
se o seu local de votação for uma escola, e não uma igreja – mas basta uma
pequena porcentagem para determinar o resultado de uma eleição.
[De um experimento com duas fotos diversas junto a um
bebedouro quando uma contribuição estava sendo pedida:] Em média os usuários da
cozinha contribuíram quase três vezes mais nas “semanas com olhos” do que nas
“semanas com flores”.
“O mundo faz muito menos sentido do que você pensa.”
“Me obriguei a sorrir e de fato estou me sentindo melhor!”
Um jeito confiável de fazer as pessoas acreditarem em
falsidades é a repetição frequente, pois a familiaridade não é facilmente
distinguível da verdade.
Os psicólogos (...) não acreditam que as pessoas são
estúpidas ou infinitamente crédulas. O que eles acreditam é que todos nós vivemos
grande parte de nossas vidas guiados pelas impressões do Sistema 1 – e muitas
vezes não sabemos a origem dessas impressões. Como você sabe que uma afirmação é verdadeira?
Se ela está ligada fortemente por lógica ou associação a
outras crenças ou preferências que você possui ou vem de uma fonte em que você
confia e de que gosta, você vai ter uma sensação de conforto cognitivo.
Para sobreviver em um mundo frequentemente perigoso, um
organismo deve reagir cautelosamente a um estimulo
novo, com retraimento e medo.
“É normal que a gente fique inclinado a acreditar nisso
porque foi repetido com tanta frequência, mas vamos pensar a respeito outra
vez.”
“Familiaridade engendra apreço. Esse é um efeito de mera
exposição.”
[Um exemplo de manipulação do mercado financeiro.] Bloomberg
a manchete: TÍTULOS DO TESOURO AMERICANO SOBEM; CAPTURA DE HUSSEIN PODE NÃO
CONTER O TERRORISMO. Meia hora mais tarde, os preços das apólices caíram e a
manchete revisada dizia: TÍTULOS DO TESOURO AMERICANO CAEM; CAPTURA DE HUSSEIN
IMPULSIONA APELO POR ATIVOS DE RISCO.
“Quando o segundo candidato à vaga se revelou ser também um velho
amigo meu, não fiquei tão surpreso. Pouquíssima repetição é necessária para que
uma nova experiência pareça normal.”
Eventos
recentes e o contexto presente têm o maior peso em determinar uma interpretação
[percepção]. Quando nenhum evento recente vem à mente, lembranças mais
distantes assumem o controle.
As evidencia mostra que as pessoas
têm maior probabilidade de serem influenciadas por mensagens vazias persuasivas
quando estão cansadas e esgotadas.
[O
que significa “obstinado”, por exemplo, pra você?]
É a consistência de da informação que importa para uma boa
história, não sua completude. (...) saber pouco torna mais fácil ajustar tudo
que você sabe em um padrão coerente.
Superconfiança: Como a regra WYSIATI[3]
dá a entender, nem a quantidade nem a qualidade da evidência contam muito para
a confiança subjetiva. A confiança que os indivíduos depositam em suas crenças
depende principalmente da qualidade da narrativa que podem contar acerca do que
vêem, mesmo se vêem pouco. Muitas vezes deixamos de levar em conta a
possibilidade de que a evidência que deve ser crítica para nosso julgamento
esteja faltando – o que vemos é tudo que há. Além do mais, nosso sistema associativo
tende a se acomodar em um padrão coerente de ativação e de dúvida e ambigüidade
suprimidas.
Efeitos de enquadramento: Modos diferentes de apresentar a
mesma informação frequentemente evocam diferentes emoções. A afirmação de que
“as chances de sobreviver um mês após a cirurgia só de 90%” é mais
tranquilizadora do que a afirmação equivalente de que a “mortalidade no período
de um mês após a cirurgia é de 10%”.
Negligência com a taxa-base[4]:
(...) [numa aposta da profissão de um sujeito dócil e organizado] embora você
saiba que há mais fazendeiros do sexo masculino que bibliotecários do sexo masculino,
esse fato estatístico quase certamente não virá à sua mente quando você inicialmente
considerar a questão.
“Eles não queriam mais informação que pudesse estragar a
história deles. WYSIATI.”
O Sistema 2 recebe as perguntas ou as gera: em qualquer caso
ele dirige a atenção e procura na memória para encontrar as respostas. O
Sistema 1 monitora continuamente o que está acontecendo fora e dentro da mente,
e gera continuamente avaliações dos vários aspectos da situação sem intenção
específica e com pouco ou nenhum esforço.
Devo
me aproximar ou evitar? [Esta é uma questão que importa mais para uma gazela do
que para um indivíduo urbano] mas herdamos os mecanismos neurais que evoluíram
para fornecer avaliações atuais do nível de ameaça, e eles não foram
desligados.
(...) considere a capacidade de discriminar amigo de inimigo
a um olhar. (...) até uma capacidade imperfeita de avaliar estranhos confere
uma vantagem na sobrevivência.
(...) o efeito de competência facial na votação é cerca de
três vezes maior entre os eleitores pobres de informação e propensos à tevê do
que entre outros que são mais bem informados e assistem a menos televisão.
No Sistema 1, uma escala de intensidade permite equiparação
entre dimensões diversas. Se crimes fossem expressos como música, assassinato
em massa seria tocado em fortíssimo enquanto o acúmulo de multas por
estacionamento seria um leve pianíssimo. (...) Se você escutava duas notas, uma
para o crime e uma para a punição, sentiria uma sensação de injustiça se um tom
fosse bem mais alto do o outro.
O estado normal de sua mente é que você dispõe de
sentimentos e opiniões intuitivos sobre quase tudo que surge em seu caminho.
George Pólya, em “A arte de resolver problemas”: “Se você
não consegue resolver um problema, então há um problema mais fácil que você
pode resolver: encontre-o”.
Sua
preferência política determina os argumentos que você julga convincentes.
A primazia das conclusões não significa que sua mente está
completamente fechada e que suas opiniões são inteiramente imunes à informação
e à argumentação sensata.
No contexto das atitudes, o Sistema 2 age mais como um
defensor para as emoções do Sistema 1 do que como um crítico dessas emoções –
ele mais endossa que impõe.
“Ele
gosta do projeto, então acha que os custos são baixos e os benefícios são
altos. Belo exemplo da heurística do afeto.”
PARTE
2 – HEURÍSTICAS E VIÉSES
A verdade mais profunda é que não há nada para explicar. A
incidência de câncer não é verdadeiramente mais baixa ou mais elevada do que o
normal num condado com uma população pequena, apenas parece ser assim num ano particular
devido a um acidente de amostragem. Se repetirmos a análise no ano seguinte,
vamos observar o mesmo padrão geral de resultados extremos nas amostras. (...)
as diferenças entre condados densos e rurais não contam realmente como fatos:
são o que os cientistas chamam de artefatos, observações que são produzidas
inteiramente por algum aspecto do método de pesquisa – neste caso, pelas
diferenças no tamanho a amostra.
A questão principal é: sim, você sabia de fato que os
resultados de grandes amostrar são ais precisos, mas talvez agora perceba que
não sabia muito bem. Você não está sozinho. O primeiro estudo que Amos e eu
fizemos juntos mostrou que mesmo pesquisadoras sofisticados
têm intuições fracas e uma compreensão incerta de feitos de amostragem.
Usar uma amostra suficientemente grande é o único modo de
reduzir o risco.
A mensagem sobre a pesquisa contém informação de dois tipos:
a notícia e a fonte da notícia. Naturalmente, você se concentra mais na notícia
do que na confiabilidade dos resultados.
Sustentar uma dúvida é um trabalho mais árduo do que passar
suavemente a uma certeza. A lei dos pequenos números é a manifestação de um
viés geral que favorece a certeza sobre a dúvida (...).
Somos
ávidos por padrões, temos fé em um mundo coerente (...).
Processos aleatórios produzem muitas sequências que
convencem as pessoas de que o processo afinal de contas não é aleatório.
William Feller, Para o olho não treinado a aleatoriedade se
apresenta como regularidade ou tendência de agrupamento.
Quantos anos bons você deve esperar antes de concluir que um
consultor de investimento exibe uma capacidade fora do comum?
[Uma pesquisa nos Estados Unidos] concluiu que as escolas
mais bem sucedidas [entre 1.6662], em média, são pequenas. (...) Se os
estatísticos que fizeram a pesquisa tivessem perguntado sobre as
características das piores escolas, teriam descoberto que escolas ruins também
tendem a ser menores do que a média.
Pular para conclusões precipitadas é um esporte mais seguro
no mundo de nossa imaginação do que é na realidade.
“Não posso acreditar que o novo investidos
é um gênio antes de consultar um estatístico capaz de estimar a probabilidade
de sua sequência de acertos ser um evento ao acaso.”
“Planejo manter os resultados do experimento em segredo até
termos uma amostra suficientemente grande. De outro mo, vamos enfrentar pressão
para chegar prematuramente a uma conclusão.
[Um exemplo interessante para se usar na avaliação do efeito
nocivo da interferência do Estado através de leis reguladoras das relações
sócio-econômicas motivadas pela “proteção” aos mais fracos, é este:] Considere o efeito de fixar o teto [de
indenização] em um milhão de dólares. Essa regra eliminaria todas as
indenizações maiores, mas a âncora também jogaria para cima o valor de muitas
indenizações que de outro modo seriam bem menores. Isso quase certamente
beneficiaria muito mais os acusados de crimes graves e as grandes empresas do o opostos.
A moral principal da pesquisa de priming é que nossos
pensamentos e nosso comportamento são influenciados, muito mais do que sabemos
ou queremos, pelo ambiente do momento.
(...) Se o conteúdo de um irrelevante descanso de tela num computador
pode afetar sua disposição de ajudar estranhos sem que você se dê conta disso,
até onde vai sua liberdade?
[Dois lados da ancoragem:]
“A empresa que queremos comprar nos enviou seu plano de
negócios, com a receita que esperam. Não devemos deixar esse número influenciar
nosso pensamento. Ponham isso de lado.”
“Nosso objetivo na negociação é fazer com que fiquem
ancorados nesse número.”
Um evento dramático aumenta temporariamente a
disponibilidade de sua categoria. Um acidente de avião que atrai cobertura da
mídia vai alterar temporariamente seus sentimentos sobre a segurança de voar.
“Ela anda assistindo a muitos filmes de espionagem
ultimamente, então tem visto conspirações por toda parte.”
Depois de cada terremoto significativo os californianos se
mostram por algum tempo diligentes em adquirir seguros e adotar medidas de
proteção e alívio.
[Os erros observados em uma pesquisa de percepções públicas
de riscos:]
A lição é clara: estimativas de causas de morte são destorcidas
pela cobertura da mídia. A própria cobertura em si tende para a novidade e a
comoção.
Jonathan Haidt: A cauda emocional abana o cão racional.
A heurística do afeto simplifica nossas vidas criando um
mundo que é muito mais ordenado do que a realidade.
[Aqui talvez a explicação para as posturas de nossos
políticos quanto à COVID:] Os legisladores e reguladores devem ser amplamente
receptivos às preocupações irracionais dos cidadãos, tanto devido à
sensibilidade política como por estarem propensos aos mesmo
vieses cognitivos dos demais cidadãos.
A importância de uma ideia é muitas vezes julgada pela
fluência (e carga emocional) com que essa ideia vem à mente.
[O
ciclo das notícias na mídia] às vezes é acelerado deliberadamente por
“empresários da disponibilidade”, indivíduos ou organizações que trabalha para
assegurar um fluxo contínuo de notícias preocupantes.
(...) há uma limitação básica na capacidade de nossa mente
de lidar com pequenos riscos: ou os ignoramos completamente ou lhes damos peso
excessivo – nada entre uma coisa e outra. (...) a quantidade de preocupação [por
exemplo] não é adequadamente sensível à probabilidade de dano. [Este é um
exemplo de “negligência com a probabilidade”.]
Racional ou não, medo é uma coisa dolorosa e debilitante, e
os formuladores de políticas devem se esforçar para proteger o público do medo,
não apenas dos verdadeiros perigos.
A psicologia deve informar o projeto de políticas públicas
do risco que combine o conhecimento dos especialistas com as emoções e
intuições do público.
“Isso é uma cascata de disponibilidade: um não evento que é
exagerado pela mídia e o público até inundar nossas telas de tevê e se tornar a
única coisa sobre a qual está todo mundo falando.”
“O negócios
que ele abriu parece impossível de fracassar, mas a taxa-base de sucesso nessa
indústria é extremamente baixa. Como vamos saber que seu caso é diferente?”
A palavra falácia é
utilizada, em geral, quando as pessoas deixam de aplicar uma regra lógica que é
obviamente relevante.
a
estereótipos.]
[O experimento da avaliação de preço de dois aparelhos de
jantar.]
A – 24 peças boas e 9 quebradas.
B – 24 peças boas.
Quando mostrado em conjunto o aparelho A obteve um preço
maior do que o B. Entretanto, quando mostrados em conjunto, o aparelho B
recebeu preço maior que A. Por uma questão simples: o A passou a ser visto como
um aparelho “mais usado” do que B.]
[Conclusão:] A intuição governa os julgamentos, na condição
entressujeitos; a lógica manda na avaliação conjunta.
“Eles construíram um cenário muito complicado e insistiram em
chamá-lo de altamente provável. Não é – é apenas uma história plausível.”
“Adicionaram um brinde vagabundo a um produto caro e
tornaram o negócio todo menos atraente. Menos é mais nesse caso;”
Estereotipar é uma das características básicas do Sistema 1.
(...) É desse modo que pensamos em cavalos, geladeiras e policiais; mantemos na
memória uma representação de u ou mais membros
“normais” de cada categoria. (...) estereótipos, sejam corretos ou falsos, são
o modo como pensamos categorias.
A resistência a estereotipar é uma posição moral louvável,
mas a ideia simplista de que a resistência não tem um custo é errada. Os custos
são algo que vale a pena pagar na conquista de uma sociedade melhor, mas negar
que eles existem, (...) não é cientificamente defensável. (...) As posições que
favorecemos não têm custo e aquelas às quis nos opomos não têm benefícios.
Deveríamos ser capazes de fazer melhor.
[Quanto ao disponibilidade/vontade
de atender a um pedido de socorro, um estudo mostrou que] os indivíduos se
sentem desagregados de responsabilidade quando sabem que outros escutaram o
mesmo pedido de socorro.
Mudar a mentalidade de alguém sobre a natureza humana é um
trabalho difícil, e mudar a mentalidade de alguém em relação ao pior sobre si
mesmo é ainda mais difícil.
”Não
podemos presumir que eles vão aprender alguma coisa de fato a partir de meras
estatísticas. Vamos lhes mostrar um ou dois casos representativos individuais
para influenciar seu Sistema 1.”
Um importante princípio de treinamento de habilidade:
recompensas por desempenho aperfeiçoado funcionam melhor do que pinicão por
erros.
Quando nossa atenção é exigida por algum evento, a ativação
da causa vai se propagar automaticamente para qualquer causa que já esteja
armazenada na memória.
Um consultor empresarial que anuncia corretamente que “os
negócios foram melhores este ano porque foram mal no ano passado” muito
provavelmente está com os dias contados.
Não somos todos racionais, e alguns de nós talvez precisem
da segurança de estimativas distorcidas para evitar a paralisia.
Seguir
nossas intuições é mais natural, e de certo modo, mais agradável do que ir
contra elas.
Previsões extremas e tendência a prever eventos raros com
base em evidência fraca são ambas manifestações só Sistema 1.
PARTE
3 – CONFIANÇA EXCESSIVA
Falácia narrativa, é uma história distorcida de nosso
passado que molda visões do mundo e nossas expectativas para o futuro. (...)
Tais histórias (...) são mais concretas do abstratas; atribuem papel maior ao
talento, estupidez e intenções do que à sorte; e focam antes em uns poucos eventos
notáveis ocorridos do que nos incontáveis eventos que deixaram de ocorrer.
Nassim Taleb[5]
sugere que os humanos se iludem constantemente construindo relatos
inconsistentes do passado e acreditando que são verdadeiros.
[A taxa de sucesso como da dos dois fundadores do Google,
pode ser representado por: 2,5 elevado a -10.]
Claro que houve um bocado de capacidade envolvida na
história da Google, mas a sorte desempenhou um papel mais importante no evento
real do que o faz ao contarmos sua história. E quanto mais sorte está
envolvida, menos há
a se aprender.
É
mais fácil construir uma história coerente quando você sabe pouca coisa, quando
há poucas peças para encaixar no quebra-cabeça. Nossa reconfortante convicção
de que o mundo faz sentido repousa em um alicerce seguro: nossa capacidade
quase ilimitada de ignorar nossa própria ignorância.
Uma vez tendo adotado uma nova visão do mundo (ou de
qualquer parte dele), você imediatamente perde muito de sua capacidade de
recordar em que costumava acreditar antes de mudar de ideia. (...) Solicitadas
a reconsiderar suas antigas crenças, as pessoas lembram-se em vez disso de suas
atuais – um caso de substituição – e muitas não conseguem acreditar que um dia
acharam outra coisa.
A tendência de revisar o histórico de crenças pessoal à luz
do que realmente aconteceu gera uma robusta ilusão cognitiva.
[O
que interessa não é o histórico, mas] se o desfecho bom ou ruim.
Atitudes que pareciam prudentes quando vistas previamente
podem parecer de uma negligencia irresponsável quando
vistas retrospectivamente.
Quanto piores as consequências, maior o viés retrospectivo.
No caso de uma catástrofe com o 11 de Setembro, ficamos particularmente
predispostos a acreditar que as autoridades que falharam em antecipar o
atentado foram negligentes ou cegas.
Alguns golpes de sorte podem coroar um lides inconseqüente
com um halo de presciência e coragem.
Ilusões de compreensão: ficamos inclinados a acreditar que a
empresa fracassa porque seu CEO é inflexível, quando a verdade é que o CEO
parece inflexível porque a empresa está indo mal.
Mesmo que você tivesse uma presciência perfeita de que um
CEO fosse dono de uma visão brilhante e competência extraordinária, ainda assim
você seria incapaz de prever como a empresa iria se sair com uma precisão muito
maior do que jogando uma moeda. Na média, a disparidade em termos de
lucratividade corporativa e retorno de ações entre as empresas excelente e as
menos bem-sucedidas examinada em Feitas
para Durar, diminui para quase nenhuma no período subsequente ao estudo. A
lucratividade média de empresas identificadas no famoso In Search of Excellence
caiu acentuadamente também em um curto espaço de tempo.
[Estudo da Fortune] ao logo de um período de 20 anos, as
empresas com as piores classificações acabaram ganhando retornos de ações muito
mais elevados do que a maioria das empresas admiradas.
“O engano parece óbvio, mas é apenas percepção tardia. Você
não tinha como saber de antemão.”
Devido
ao WYSIATI, só o que conta é a evidencia imediatamente
disponível.
Para alguma de nossas crenças mais importantes, não temos
evidencia alguma, exceto o fato de que pessoas que amamos e em quem confiamos
possuem essas crenças. Considerando o pouco que sabemos, a confiança que temos
em nossas crenças é absurda – e também essencial.
Confiança é um sentimento que reflete a coerência da
informação e o conforto cognitivo de processá-la.
Em um artigo de Terry Odean e Brad Barber, mostraram que, em
média os investidores mais ativos obtiveram os piores resultados, ao passo que
os investidores que fizeram menos operações conquistaram os retornos mais
altos.
A evidencia de mais de 50 anos de
pesquisa é conclusiva: para uma grande maioria de gerentes de fundos, a seleção
das ações está mais para um lance de dados do que um jogo de pôquer. Normalmente,
pelo menos dois em cada três fundos mútuos apresentam desempenho abaixo do
desejável no mercado como um todo a qualquer ano determinado.
Fatos que desafiam pressupostos básicos – e desse modo
ameaçam o meio de vida e a autoestima das pessoas – simplesmente não são
absorvidos. [Sempre ignoramos e vamos contra a taxa-base quando] ela vai de
encontro a nossas impressões pessoais obtidas da experiência.
A
confiança subjetiva dos investidores é um sentimento, não um julgamento.
Tudo faz sentido quando visto em retrospectiva, fato que
gurus financeiros exploram toda noite ao oferecer relatos convincentes sobre os
eventos do dia. (...) A
ilusão de que compreendemos o passado fomenta a Superconfiança em nossa
capacidade de prever o futuro.
[De um estudo com analistas em geopolítica:] Mesmo na região
geopolítica de sua especialidade, os analistas não se saíram significativamente
melhor do que os não especialistas.
A primeira lição é que os erros de previsão são inevitáveis
porque o mundo é imprevisível. A segunda é que não se deve confiar numa
convicção muito subjetiva como indicativo de precisão (pouca convicção pode ser
mais informativa).
A
linha que separa o futuro possivelmente previsível do futuro distante e imprevisível
ainda está por ser traçada.
Ela tem uma história coerente que explica tudo que sabe, e a
coerência faz com que se sinta bem.
[Um estudo de Paul Meehl, um dos psicólogos mais versáteis
do século XX (na opinião de Kahneman) mostrou inequivocamente que] (...) a
precisão dos especialistas foi equiparada ou superada por um simples algoritmo.
[Um outro estudo sobre a previsão do preço futuro de vinhos feita
por Orley Ashenfelter, economista e enólogo] forneceu uma demonstração convincente
do poder das simples estatísticas em superar especialistas de renome mundial. (...)
Ele converteu o conhecimento que obteve em uma fórmula estatística que prevê o
preço de um vinho (...) segundo três características do clima: a temperatura
média durante a temporada de crescimento do verão, o índice pluviométrico na época da colheita e o
total de chuvas durante o inverno precedente. (...) A fórmula se mostrou
extremamente precisa – a correlação entre suas previsões e os preços reais é de
mais de 0,90.
Um motivo para a inferioridade do julgamento dos
especialistas é que humanos são incorrigivelmente inconsistentes em fazer
julgamentos sumários de informação complexa. (...) Radiologistas experimentados
que avaliam raios X do peito como “normal” ou “anormal” se contradizem em 20% das vezes quando vêem
a mesma imagem em ocasiões separadas. (...) mesmo quando um caso é reavaliado
no período de poucos minutos.
Robim Dawes mostrou que a estabilidade conjugal é bem
prevista pela seguinte fórmula: frequência de atividade sexual menos frequência
de brigas.
A história de uma criança morrendo porque um algoritmo
cometeu um erro é mais pungente do que a história da mesma tragédia ocorrendo
como resultado de erro humano, e a diferença na intensidade emocional é
prontamente traduzida em uma preferência moral. Felizmente, a hostilidade a
algoritmos provavelmente irá abrandar à medida que seu papel na vida cotidiana
continuar a se expandir.
“Sempre que podemos substituir o julgamento humano por uma
fórmula, devemos ao menos levá-la em consideração.
Definição de intuição de Herbert Simon: “A situação forneceu
um indício; esse indício deu ao especialista acesso à informação armazenada em
sua memória, e a informação fornece a resposta. A intuição não é nada mais,
nada menos que reconhecimento”. (...) A moral da observação de Simon é que o
mistério de saber sem saber não é um traço distintivo da intuição; é a norma da
vida mental.
Uma única experiência muitas vezes é suficiente para
estabelecer aversão e medo a longo prazo.
Aprendizado emocional pode ser rápido, mas o que
consideramos como “perícia” em geral leva um longo tempo para ser desenvolvido.
Muitos de nós somos propensos ter alta confiança em intuições
infundadas.
A confiança que as pessoas depositam em suas intuições não é
um guia confiável de sua validade.
Não se pode confiar na intuição na ausência de regularidades
estáveis no ambiente.
O feedback [recebido por terapeutas] dos resultadas de longo
prazo de seus pacientes é esparso, atrasado ou (normalmente) inexistente, e em
todo caso ambíguo demais para dar sustentação a um aprendizado com base na
experiência.
“Será que ele realmente acredita que o ambiente de pequenos
negócios começando é suficientemente regular para justificar uma intuição que
vai contra a taxa-base.
Confrontados com uma escolha, abrimos mão
da racionalidade em vez de abrir mão da empreitada.
Previsão
de linha de base: é a previsão que você faz sobre um
caso quando você não sabe nada a não ser a categoria à qual ele pertence.
Na
competição com a visão de dentro, a visão de fora não tem a menor chance.
A preferência pela visão de dentro às vezes vem carregada de
nuanças morais.
[De um outro estudo] O acúmulo gradativo de evidência não
levou os especialistas a se tornarem mais confiantes.
Os autores de planos irrealistas com frequência são movidos
pelo desejo de conseguir que o plano seja aprovado (...) e aproveitando-se do
fato de saberem que projetos raramente são abandonados inacabados meramente
devido a custos extras ou prazos estourados.
Se [o indivíduo] não reconhece a necessidade de uma visão de
fora, comete uma falácia do planejamento.
Usar uma informação de outros empreendimentos semelhantes ao
que está sendo prognosticado chama-se adotar uma “visão de fora” e representa a
cura para a falácia do planejamento.
Uma reserva orçamentária é para empreiteiros e fornecedores
em geral o mesmo que carne vermelha é para leões, e eles irão devorá-la.
As pessoas assumem projetos arriscados porque ficam
excessivamente otimistas em relação às probabilidades que enfrentam. L
“Estamos realizando um investimento extra porque não
queremos admitir o fracasso. Esse é um caso de falácia de custo afundado.”
A maioria de nós vê o mundo como mais benigno do que ele
realmente é, nossas próprias qualidades
como mais favoráveis do realmente são e os objetivos que adotamos como mais
atingíveis do que provavelmente são.
Indivíduos otimistas (...) fazem diferença: eles são os
inventores, os empresários, os líderes políticos e militares – não são pessoas
medianas.
As chances de que um pequeno negócio sobreviva por cinco
anos nos Estados Unidos são de cerca de 35%. [Entretanto, empresários americanos]
estimam em média em 60% suas chances de sucesso para qualquer negócio. (...)
33% estimaram em zero (0) suas chances de fracasso.
Apenas 5 entre 411 projetos receberam uma nota baixa na
avaliação de potencial de sucesso. Dos 5 que conseguiram financiamento, nenhum
teve sucesso.
De modo mais geral, os benefícios financeiros do autoemprego
são medíocres: consideradas as mesmas qualificações, as os conquistam retornos
médios mais elevados antes vendendo suas capacidades para empregadores do que
trabalhando por conta própria. A evidência sugere que o otimismo é disseminado,
teimoso e custoso.
A experiência mostrou que esforços para integrar grandes
firma com mais frequência fracassam do que são bem-sucedidos. [Americanas em
2021]
O estrago causado por CEOs superconfiantes é agravado quando
a imprensa de negócios os consagra como celebridades.
[Neste conto de risco, vem a pergunta:] O governo deve
fornecer empréstimos para candidatos a empresários que provavelmente levarão a
si próprios à falência em poucos anos? [Na Inglaterra houve uma proposta nesse
sentido.]
A consequência da negligencia com a
competição é a entrada excessiva [de novos empreendimentos]: mais competidores
ingressam no mercado do que o mercado é capaz de sustentar lucrativamente, de
modo que o resultado medido deles é prejuízo.
[De um estudo da Duke University sobre previsões no mercado
financeiro:] A conclusão foi inequívoca: os diretores financeiros das grandes
corporações não faziam a menor ideia do futuro a curto prazo do mercado de
ações; a correlação entre suas estimativas e o valor verdadeiro foi
ligeiramente inferior a zero! Quando diziam que o mercado ia entrar em baixa,
era ligeiramente mais provável que o mercado ficasse em alta. [No Brasil de
2021, as previsões eram de a Bolsa terminar o ano nos 145 mil pontos. Termino em torno de 105 mil (27,5% abaixo).
(...) as pessoas e empresas antes recompensam gente que fornece
informação perigosamente enganosa do que gente que fala a verdade.
Especialistas que admitem a plena extensão de sua ignorância
podem esperar ser substituídos por competidores mais confiantes, que são mais
aptos a conquistar a confiança de clientes.
Imaginem que estamos uma não no futuro. Implementamos o
plano tal como existe hoje. O resultado foi um desastre. Queiram por favor
reservar de cinco a dez minutos para escrever um breve histórico desse
desastre.
“Eles têm uma ilusão de controle. Subestimam gravemente os
obstáculos.”
“Eles parecem sofrer de um caso agudo de negligência com o
competidor.”
“Esse é um caso de Superconfiança. Eles parecem acreditar
que sabem mais do que realmente sabem.”
PARTE
4 - ESCOLHAS
Quais regras governam as escolhas das pessoas entre
diferentes apostas simples e coisas seguras?
Toda escolhas
que fazemos na vida vem acompanhada de alguma incerteza(...).
A maioria das pessoas não aprecia o risco (a chance de
receber o menor resultado possível) e se lhes for oferecida uma escolha entre
uma fausta e uma quantia igual ao valor esperado dela, elas vão pegar a coisa
segura. (...) as escolhas das pessoas estão baseadas não em valores monetários,
mas nos valores psicológicos dos efeitos, em suas utilidades.
Para predizer a experiência subjetiva de um volume sonoro,
não basta saber a energia absoluta dele; você precisa saber também o som de
referência com o qual ele está sendo automaticamente comparado.
Cegueira induzida pela teoria: uma vez você tendo aceito uma teoria e a utilizado como ferramenta em seu
pensamento, é extraordinariamente difícil notar suas falhas.
[Mas] a utilidade depende do histórico pessoal de riqueza,
não só da riqueza presente.
No exemplo:
Hoje Jack e Jill têm cada um uma riqueza de 5 milhões.
Ontem, Jack tinha um milhão e Jill tinha 9 milhões.
Ambos estão igualmente felizes? (O valor de utilidade é o
mesmo.)
[Enquanto Jack está nas alturas de felicidade, Jill está no fundo do poço de infelicidade.]
“Ambos os candidatos estão dispostos a aceitar o salário que
estamos oferecendo, as não vão ficar igualmente satisfeitos porque seus pontos
de referência são diferentes.”
Acender
uma luz fraca produz um forte efeito em um ambiente escuro. O mesmo incremento
de luz pode ser indetectável em um ambiente brilhantemente iluminado.
A assimetria entre o poder das expectativas ou experiências
positivas e negativas tem um histórico evolucionário. Organismos que tratam
ameaças como mais urgentes do que as oportunidades têm uma melhor chance de sobrevier
e se reproduzir.
Humanos descritos pela teoria da perspectiva são guiados
pelo impacto emocional imediato de ganhos e perdas, não por perspectivas de
longo prazo de riqueza e utilidade global.
“Ele sofre de extrema aversão à perda, o que o faz rejeitar
todas as oportunidades favoráveis.”
“Considerando a vasta riqueza dela, sua resposta emocional a
ganhos e perdas triviais não faz sentido algum.”
Há bens que os pobres precisam e que não podem adquirir, de
modo que estão sempre “no prejuízo”. Pequenas quantias de
dinheiro que recebem são assim percebidas como redução de prejuízo, não
como ganho. (...) Para os pobres, despesas são prejuízos.
“Ela nos se importava com qual das duas salas seria a sua,
mas um dia após o anúncio ter sido feito, não estava mais disposta a negociar.
Efeito dotação!”
“Perdas assomam como maiores do que ganhos.”
“Ele simplesmente odeia a ideia de vender sua casa por menos
dinheiro do que comprou. É a aversão à perda em operação.”
O cérebro
humano contém um mecanismo que é projetado para dar prioridade a notícias
ruins.
[Do psicólogo Paul Rozin:]
“Emoções ruins, pais ruins e feedback ruim exercem mais
impacto que os bons, e informação ruim é processada de forma mais completa do
que boa. O eu está mais motivado a evitar
autodefinições ruins do que a ir atrás de boas. Impressões ruins e estereótipos
ruins formam-se rapidamente e são mais resistentes à desconfimação do que os
bons.”
[Estimou-se que] um bom relacionamento exige que as interações
boas superem as interações ruins em pelo menos 5 para 1.
[O conservadorismo] ajuda a nos manter estáveis no bairro
onde moramos, em nosso casamento e nosso impregno; é a força gravitacional que
mantém nossa vida coesa junto ao ponto de referência.
[Avalie este exemplo.] Um empregado ganha 9 dólares a hora.
A loja vai bem, mas uma grande loja fechou nas redondezas e o desemprego
aumentou. Outras lojas estão contratando agora 7 dólares. O dono da loja reduz
o salário de seu empregado também para 7. Você aprova a decisão dele?
[Agora avalie com uma pequena mudança no final.] o empregado
não aceita e vai embora, e o dono decide pagar a um novo contratado 7 dólares.
E agora?
A tarefa não é identificar o comportamento ideal, mas
encontrar a linha que separa a conduta aceitável de ações que provoquem opróbrio
e punição.
Um comerciante cujos bens adquiridos se perderam em trânsito
pode ser compensado por custos em que de fato incorreu, mas é improvável que
ele seja compensado pelos lucros perdidos (...) Se as pessoas que perdem sofrem
mais do que as pessoas que meramente deixam de ganhar, talvez elas também
mereçam maior proteção da lei.
”Esta
reforma não vai passar. Os que só têm a perder vão lutar com mais afinco do que
os que só têm a ganhar.”
[Pode ser aplicado à COVID.] Os pesos de decisão que as
pessoas atribuem a resultados não são idênticos às probabilidades desses
resultados, contrariamente ao princípio de expectativa. Resultados improváveis
recebem peso excessivo – isso é efeito de possibilidade.
“Eles sabem que o risco de uma explosão de gás é minúsculo,
mas querem que seja mitigado. É um efeito de possibilidade, e eles querem paz
de espírito.”
Uma imagem de um morte em um ônibus
onde explodiu uma bomba terrorista reforçada pela mídia provoca uma pertubação
emocional associativa, automática e descontrolada, e produz um impulso por
medidas de proteção. O Sistema 2 pode “saber” que a probabilidade é baixa, mas
esse conhecimento não elimina o desconforto criado por você mesmo e o desejo de
evitá-lo.
Dar peso excessivo a resultados improváveis é algo arraigado
nas características do Sistema 1(...). Emoção e vivacidade influenciam
fluência, disponibilidade e julgamentos de probabilidade – e desse modo
explicam nossa reação excessiva aos raríssimos eventos que não ignoramos.
[COVID] Você lê que “uma vacina que protege crianças de uma
doença fatal compreende um risco de incapacitarão permanente de 0,001%. O risco
parece pequeno. Agora considere outra descrição do mesmo risco: “Uma em cada
100 mil crianças vacinadas ficará permanentemente incapacitada”. A segunda
advertência faz algo em sua mente que a primeira não faz: evoca a imagem de uma
criança individual que ficou permanentemente incapacitada por uma vacina (...).
Psicólogos e psiquiatras se dividiram ao avaliar estas duas
proposições:
O segundo relato provocou o dobro de negativas de alta, 41%
contra 21%.
Slovic [alerta para o fato de que] assustar o público em
geral relação à violência de pessoas com distúrbio mental, têm a esperança de
que esse medo se traduza em fundo para os serviços de saúde mental.
[a atribuição de peso insuficiente a eventos raros se explica
pelo fato e que] os participantes nos experimentos nunca
vivenciou um terremoto de grandes proporções e, em 2007, nenhum banqueiro
vivenciou pessoalmente uma crise financeira devastadora.
[Explorar
esta constatação para o ciclo das coisas, principalmente quanto a eventos
ligados a novas utopias, guerras, etc.]
Preocupações excessivas (...) contribuem para o peso
excessivo. E quando não houver peso excessivo, haverá negligência. Quando se
trata de probabilidades raras, nossa mente não está projetada para entender as coisas
muito bem.
“É o familiar ciclo do desastre. Começa com o exagero e o
peso excessivo, depois a negligência aparece.” [Para um artigo sobre as previsões no caso de Bolsonaro perder a
eleição.]
Como em muitas outras escolhas que envolvem probabilidades
moderadas ou elevadas, as pessoas tendem a ser avessas ao risco no domínio dos ganhos
e atraídas pelo risco no domínio das perdas.
Não temos nem a inclinação, nem os recursos mentais para
inculcar consistência em nossas preferências, e nossas preferências não são
magicamente ajustadas para serem coerentes (...).
Richard Thaler conta uma discussão sobre tomada de decisão
que teve com os principais gerentes dos 25 departamentos de uma grande empresa.
Ele lhes pediu para considerar uma opção arriscada em que, com iguais
probabilidades, eles poderiam perder uma grande quantia do capital que
controlavam para receber o dobro dessa quantia. Nenhum dos executivos se
mostrou disposto a fazer uma aposta tão perigosa.
“Cada um de nossos executivos é avesso à perda em seu
próprio campo de atuação. Isso é perfeitamente natural, mas o resultado é que a
organização não está assumindo risco suficiente.”
A moeda derradeira que recompensa ou pune é com frequência
emocional, uma forma mental de lidar consigo mesmo que inevitavelmente cria
conflitos de interesse quando o indivíduo atua como um agente em prol de uma
organização.
[Por outro lado] O comprometimento cada vez maior com
esforços fadados ao fracasso é um equivoco da perspectiva da empresa, mas não
necessariamente da perspectiva do executivo que é o “pai” do projeto em vias de naufragar.
A falácia de custo afundado mantém as pessoas por tempo
demais em empregos ruins, casamentos infelizes e projetos de pesquisa pouco
prometedores.
(...) as pessoas esperam ter reações emocionais mais fortes
(incluindo arrependimento) diante de um resultado que é gerado por ação do que
diante do mesmo resultado quando é gerado por inação.
[Se
arrepender dói mais antes da decisão do que quando do resultado da decisão]
“Continuamos investindo nessa ação só para evitar fechar
nossa conta mental em uma perda. É o efeito de disposição.”
As crenças que você endossa quando reflete sobre moralidade
não necessariamente governam suas reações emocionais, e as intuições morais que
vêm à sua mente em diferentes situações não são internamente consistentes.
Crenças teóricas são robustas, e é preciso bem mais do que
uma descoberta embaraçosa para que teorias estabelecidas sejam seriamente
questionadas.
Vendedores aprendem rapidamente que a manipulação do
contexto em que os clientes vêem um bem pode influenciar profundamente as
preferências.
A multa para uma “violação grave” das regulamentações
relativas à segurança do trabalhador está limitada a um teto de 7 mil dólares,
enquanto uma violação da Lei de Conservação de Aves Selvagens pode resultar
numa multa de mais de 25 mil dólares.
“Quando você vê os casos isoladamente, fica propenso a se
pautar por uma reação emocional do Sistema 1.”
“Em geral, ao ampliar o quadro para outras situações, você
chega a decisões mais razoáveis”.
“A Itália ganhou” [evoca pensamentos do que a equipe fez
para vencer] e a “França perdeu” [evoca pensamentos do que a equipe fez de
errado], portanto, não guardam de forma alguma o mesmo significado.
[Pesquisa quanto ao uso de cirurgia ou radiação nos casos de
câncer, sabendo-se de antemão que as taxas de cinco anos favorecem a cirurgia:]
A
taxa de sobrevivência de um mês é de 90%.
Há
10% de mortalidade no primeiro mês.
A cirurgia foi muito mais popular no primeiro quadro (84%
dos médicos a escolheram) do no segundo (onde 50% favoreceram a radiação).
[Para Sistema 1] mortalidade é ruim, sobrevivência é bom, e
90% de sobrevivência soa encorajador, ao passo que 10% de mortalidade é assustador.
É de certo modo preocupante que os funcionários que tomam
decisões que afetam a saúde de todo mundo possam ser influenciados por uma manipulação
tão superficial – mas devemos nos acostumar com a ideia de que mesmo decisões
importantes são influenciadas, se não governadas, pelo Sistema 1.
[Uma questão
prática:] Como o código tributário deve tratar só filhos dos ricos e os dos
pobres na questão da dedução por filho?
Um artigo publicado em 2003 observou que o índice de doação
de órgãos ficou perto de 100% na Áustria, mas foi de apenas 12% na Alemanha,
ficou em 86% na Suécia, mas foi de apenas 4% na Dinamarca. [O que explica tais
discrepâncias? A diferença na formulação da pergunta. Veja a sentença a
seguir:]
“Pedem que você tique no campo para retirar seu nome da
mala-direta deles. A lista de mala-direta iria encolher se pedissem às pessoas
para ticar no campo caso quisessem fazer parte dela!”
[No caso da doação de sangue está entre, de um lado, um questionário
que considera a doação como default e, de outro lado, um questionário que pede
para a pessoa “ticar” se quer ser doadora.]
PARTE
5 – DOIS EUS
As lembranças são tudo que temos para reter nossa
experiência de viver, e a única perspectiva que podemos adotar quando pensamos
em nossas vidas é portanto a do eu recordativo.
O eu experiencial não tem uma voz. O eu recordativo às vezes
está errado, mas é ele que fica de olho no placar e governa o que aprendemos
com a vida e é ele quem toma as decisões.
“Esse é um mau caso de negligência com a duração. Você está
dando à parte boa e à rim de sua experiência um peso igual embora a parte boa
tenha durado dez vezes ais do que a outra.”
Todos nos importamos intensamente com a narrativa de nossa
própria vida e queremos muito que seja uma boa história, com um heroi decente.
Na avaliação intuitiva de vidas inteiras, bem como de greves
episódios, picos e fins importam, mas duração não.
O fotografo não vê a cena como um momento a ser saboreado,
mas como uma futura lembrança a ser projetada.
[Portanto] as pessoas escolhem por lembrança quando decidem
se querem ou não repartir uma experiência.
“Até que ponto ele está disposto a ter uma relação sexual casual
é sinal de uma completa negligência com a duração.”
[Quando insanamente fotografamos nossos passeios e viagens
em lugar de desfrutar só momentos, estamos deixando de vivenciar para ter
registrado o que recordar? Mas o que recordaremos?]
[As diferenças entre mulheres francesas e americanas:
educação e refeição.]
[Há uma diferença entre estes dois momentos;]
(...) a religião não fornece qualquer redução nos
sentimentos de depressão ou preocupação.
O crescimento médio de bem-estar experimentado associado com
rendas além [de um determinado nível] era precisamente zero.
“Quando você ultrapassa o nível de rendimento da saciedade,
pode adquirir mais experiências prazerosas, mas vai perder parte de sua
capacidade de usufruir as menos caras.”
No dia do casamento, a noiva e o noivo sabem que a taxa de divórcio
é elevada e que a incidência de decepção com o cônjuge é ainda mais elevada,
mas não acreditam que essas estatísticas se apliquem a eles.
Um dos motivos para as baixas correlações entre as
circunstâncias dos indivíduos e sua satisfação com a vida é que tanto a
felicidade vivenciada como a satisfação com a vida são amplamente determinadas
pela genética do temperamento.
Ilusão
de foco: nada na vida é tão importante quanto você pensa que é quando você está
pensando a respeito.
A ilusão de foco pode levar as pessoas a se enganar sobre
seu presente estado de bem-estar, bem como sobre a felicidade dos outros, e
sobre sua própria felicidade no futuro.
Adaptação a uma nova situação, tanto boa como má, consiste
em grande parte em pensar cada vez menos a respeito.
A mente é boa com historias, mas
não parece bem projetada para o processamento do tempo.
“O carro quebrou a caminho do trabalho hoje de manha e ele ficou de mau humor. Esse não é um bom dia para
lhe pergunta sobre sua satisfação com o emprego.”
Existem grandes chances de que muitas coisas que dizemos que
nunca vamos esquecer já estarão há muito esquecidas dez anos depois.
[Uma questão política.]
Considere o investimento que deve ser feito no tratamento de
diversos problemas médicos, incluindo, cegueira, surdez ou falência renal. Será
que os investimentos devem ser determinados pelo grau de temos das pessoas em
relação a essas enfermidades? Os investimentos devem ser determinados pelo
sofrimento que os pacientes de fato passam? Ou devem se pautar pela intensidade
dos desejos dos pacientes em se ver aliviados de sua condição e pelos
sacrifícios que estariam dispostos a fazer para alcançar esse alivio? A classificação da cegueira e da surdez, ou da colostomia
e da diálise, pode muito bem ser diferente, dependendo de qual medida da
gravidade do sofrimento for utilizada. Nenhuma solução fácil encontra-se à
vista, mas a questão é importante demais para ser ignorada.
Uma pessoa racional pode acreditar em fantasmas na medida em
que todas suas outras crenças forem consistentes com a existência de fantasmas.
[O fato de não sermos tanto racionais quanto desejam os
apoiadores de Milton Friedman e demais da escola de Chicago – para quem a
liberdade não apresenta custo algum!!! -, não significa que isto justifica a
intervenção do Estado nas escolhas dos cidadãos, quer elas sejam totalmente racionais,
quer sejam estupidamente emocionais.]
[Os economistas comportamentais] defendem uma posição de
paternalismo libertário, em que se permite que o Estado e outras instituições
dêem um empurrão nas pessoas para que elas tomem decisões que sirvam a seus próprios
interesses de longo prazo. (...) O empurrão está baseado em psicologia sólida
(...). a opção default naturalmente é percebida como a escolha normal. Desviar
da escolha moral é um gesto de comissão, o que exige mais deliberação
laboriosa, implica maior responsabilidade e tem maior probabilidade de evocar
arrependimento do que se você não fizesse nada.
Uma das maravilhas do Sistema 1 é o rico e detalhado modelo
de nosso mundo que é mantido na memória associativa: ele distingue a surpresa
dos eventos normais numa fração de segundo, gera imediatamente uma ideia do que
era esperado em lugar de uma surpresa e automaticamente procura alguma
interpretação causal de surpresas e eventos à medida que ele
têm lugar.
Ilusões cognitivas são geralmente mais difíceis de
reconhecer do que ilusões perceptivas (...) e questionar suas intuições é
desagradável quando você enfrenta o estresse de uma decisão importante. A
conclusão é que é muito mais fácil identificar um campo minado quando você
observa os outros andando por ele do que quanto e você que faz isso.
[Encerrando, tomado do apêndice B:]
Tomar
decisões é como falar – as pessoas fazem isso o tempo todo, tendo ou não
consciência.
Bias = viés.
[1] Heurística: Método de
investigação com base na aproximação progressiva de um problema, de modo que
cada etapa é considerada provisória. Uma outra definição, dada por Kahneman é:
um procedimento simples que ajuda a encontrar respostas adequadas, ainda que
geralmente imperfeitas, para perguntas difíceis. A palavra vem da mesma raiz
que heureca.
[2] Priming: uma ideia influenciando uma ação.
[3] WYSIATI – What You See Is All There Is. (O que você vê é tudo que há.)
[4] Taxa-base é a taxa referente ao resultado mais provável de incidência de qualquer coisa que se esteja analisando. Por exemplo: a taxa-base de falência de novos negócios no Brasil no prazo de 5 anos é em torno de 70%.
[5] Nassim Taleb, autor de “A Lógica do Cisne Negro” onde trata de eventos raros, como um cisne negro. Há um extrato de minha leitura em http://www.sendme.com.br/EXTRATOS/ExtratoDeLogicaDoCisneNegro.htm