EXTRATO DE: PSICOLOGIA DAS MASSAS E ANÁLISE DO EU

Autor: Sigmund Freud

Ed. L&PM Pocket - 1921/2013/2019

 

 

(...) a mulher encantadora, a santa, a virgem, o chefe, o Cristo, o Deus, a pátria são refúgios comuns da aglomeração em perigo.

 

(...) a psicologia individual também é ao mesmo tempo psicologia social (...)

 

A psicologia das massas trata do indivíduo como membro de uma tribo, um povo, uma casta, uma classe, uma instituição ou como elemento de um grupo de pessoas que, em certo momento e com uma finalidade determinada, se organiza numa massa.

 

Ma o que é uma "massa", como ela adquire a capacidade de influenciar a vida psíquica do indivíduo de modo tão decisivo e no que consiste a modificação psíquica que ela lhe impõe?

 

Le Bom: O que há de mais singular numa massa psicológica é o seguinte: quaisquer que sejam os indivíduos que a compõem, por mais semelhantes ou dessemelhantes que sejam seus modos de vida, suas ocupações, seu caráter ou sua inteligência, a mera circunstância de sua transformação numa massa lhes confere uma alma coletiva, graças à qual sentem, pensam e agem de modo inteiramente diferente do que cada um deles sentiria, pensaria e agiria isoladamente.

 

Nossos atos conscientes se derivam de um substrato inconsciente, formado sobretudo por influências hereditárias. (...) Por trás dos motivos confessos de nossas ações (...) há razoes ainda mais secretas que nem sequer conhecemos.

 

(...) se produziria um caráter médio nos indivíduos da massa.

 

Lê Bom: "A primeira dessas causas consiste em que o indivíduo na massa, pelo mero fato da quantidade, adquire um sentimento de poder invencível, que lhe permite entregar=-se a instintos que, sozinho, necessariamente teria refreado. (...) desaparece inteiramente o sentimento de responsabilidade que sempre detém os indivíduos."

 

[é o] desaparecimento da consciência moral (...).

 

"Uma segunda causa(...) na multidão, todo sentimento, todo ato é contagioso, e isso em grau tão elevado que o indivíduo muito facilmente sacrifica seu interesse pessoal ao interesse coletivo.

 

"Uma terceira causa é a (...) sugestionabilidade. (...) Mediante procedimentos variados, um ser humano pode ser colocado num estado tal que, depois de perder sua inteira personalidade consciente,m obedeça a todas as sugestões daquele que o privou dela e cometa atos mais contrários ao seu caráter e aos seus hábitos.

 

"(...) nas massas (...) a sugestão (...) aumenta devido à reciprocidade."

 

Características dos indivíduos na massa:

 

 

Pelo mero fato de pertencer a uma massa organizada, o ser humano desce vários degraus na escala da civilização.

 

A massa é impulsiva, instável e irritável. (...) Não tolera nenhuma demora entre seu desejo e a realização do desejado. (...) Para o indivíduo na massa, a noção de impossibilidade desaparece.

 

A massa não conhece nem a dúvida nem a incerteza.

 

E, por fim, as massas exigem ilusões.

 

A massa tem tal sede de obedecer que se subordina instintivamente a qualquer um que se nomeie seu senhor.

 

É evidente que está em ação aí algo como uma compulsão a imitar os outros, a permanecer em harmonia com o grande número.

 

(...) os indivíduos são intimados pela massa e seu trabalho de pensamento não está livre, e porque em cada indivíduo diminui a consciência de responsabilidade pelos seus atos.

 

Um indivíduo numa massa experimenta uma modificação muitas vezes profunda de sua atividade psíquica. Sua afetividade se intensifica extraordinariamente e sua capacidade intelectual se limita de maneira notável (...).

 

Primeiro, a massa é mantida coesa por meio de um poder qualquer. (...) Segundo, quando o indivíduo na massa renuncia à sua singularidade e se deixa sugestionar pelos outros, temos a impressão de que o faz por existir nele uma necessidade de estar antes em harmonia com eles a estar em oposição a eles; ou seja, talvez o faça "por amor a eles".

 

(...) o pânico significa a desagregação da massa, e sua consequência é o cessar de todas as considerações que os indivíduos da massa normalmente mostram u s pelos outros.

 

(...) com o fim da ligação ao líder, também acabam as ligações recíprocas entre os indivíduos da massa.

 

Toda religião é uma tal religião do amor para todos que ela abrange, e é natural para todas praticar a crueldade e a intolerância com aqueles que não são seus membros.

 

Segundo a famosa alegoria schopenhaueriana dos porcos -espinhos friorentos, ninguém suporta uma aproximação demasiado intima do outro.

 

(...) quase toda relação emocional íntima de longa duração entre duas pessoas contém um sedimento de sentimentos de rejeição e de hostilidade que só escapa à percepção devido ao recalcamento.

 

[Uma visão errada de Freud] Numa série de casos, a gênese da homossexualidade masculina é a seguinte: o jovem se manteve fixado à mãe, no sentido do complexo de Édipo, durante um tempo e com uma intensidade incomumente grandes. [Ele parece não ter explicado a homossexualidade feminina.]

 

A certeza de que se podia contar com o redespertar da necessidade recém-extinta provavelmente deve ter sido o motivo imediato para dedicar um investimento permanente ao objeto sexual, para "amá-lo" também nos intervalos desprovidos de desejo.

 

Ama-se o objeto devido às perfeições que se aspirou para o próprio eu e que agora se gostaria de alcançar por esse rodeio a fim de satisfazer o próprio narcisismo.

 

Não é de admirar que o eu tome uma percepção por real se a instância psíquica normalmente encarregada da tarefa da prova de realidade advoga a realidade dessa percepção.

 

Opor-se ao rebanho equivale a se separar dele, e por isso a oposição é temerosamente evitada.

 

Justiça social significa que a pessoa se priva de muitas coisas para que as outras também tenham de renunciar a elas, ou, o que vem a ser a mesma coisa, para que não possam exigi-las.

 

Todos os indivíduos devem ser iguais entre si, mas todos querem ser governados por um só. (...) O homem é uma animal de horda, um indivíduo de uma horda dirigida por um chefe.

 

Os indivíduos de massa necessitam da ilusão de que são amados pelo líder (...).

 

Bernard Shaw: estar enamorado significa superestimar indevidamente a diferença entre uma mulher e outra.

 

Há indícios abundantes de que o enamoramento entrou apenas tardiamente nas relações sexuais entre homem e mulher, (...).