EXTRATO DE: POWERSHIFT
AS MUDANÇAS DO
PODER
Escrito em 1990 por
ALVIN TOFLER
Lido e resumido em
Junho/94
GLOSSÁRIO:
EDI - Eletronic
Data Interchange (Intercâmbio eletrônico de dados)
EXTRA-INTELIGÊNCIA
- características das redes que têm a habilidade de alterar (ou tratar) a
informação.
HIPERMEIOS - meios
capazes de armazenar não apenas textos, mas também gráficos, música, fala e
outros.
INFO-GUERRAS -
lutas pelo controle do conhecimento.
INFOTÁTICAS - trata-se de ações e manobras baseadas na
manipulação de informações.
INTRA-INTELIGÊNCIA
- característica das redes, inclusive as neurais, cujas "habilidades"
voltam-se para dentro.
PMD - Países Menos
Desenvolvidos (usado no sentido de "econômicamente" mais
desenvolvidos)
POWERSHIFT -
mudança na estrutura do poder em todos os níveis da sociedade.
VAN - Value Added
Networks (Rede de Valor Agregado). Conhecida como rede de extra- inteligência
PRIMEIRA PARTE - O
NOVO SIGNIFICADO DO PODER
O poder nasce no
cano de um canhão. (Mao tsé-Tung)
O dinheiro fala.
(Anônimo)
O próprio
conhecimento é poder. (Francis Bacon)
1. - A ERA DA
POWERSHIFT
Há uma razão para
se acreditar que as forças que agora sacodem o poder em todos os níveis do
sistema humano irão tornar-se mais intensas e penetrantes no futuro imediato.
(....) Uma "powershift" não se
limita a transferir o poder. Ela o transforma. (....) O próprio poder, que em
grande parte nos define como indivíduos e como nações, está sendo redefinido.
Um deslocamento de poder é normal em qualquer época. No entanto, só raramente
todo um sistema de poder que controla o mudo é feito em pedaços dessa maneira.
(....) 20 anos atrás, 3 cadeias de
televisão, ABC, CBS e NBC, dominavam as ondas americanas. Hoje, estão
diminuindo tão depressa que a sua sobrevivência é duvidosa. (....) No auge do domínio dos médicos nos EUA, as
receitas eram escritas em latim, proporcionando à profissão um código
semi-secreto, por assim dizer, que mantinha a maioria dos pacientes na ignorância.
(....) Com um computador pessoal e um
modem, qualquer pessoa pode ter acesso, operando de casa, a banco de dados como
o Index Medicus e obter trabalhos científicos sobre tudo, desde a doença de
Addison até zigomicose e, de fato, reunir mais informações sobre um mal ou
tratamento específico do que um médico comum tem tempo para ler. Além disso, os
avanços médicos, mesmo que publicados primeiro em revistas médicas, são
divulgados nos noticiosos noturnos das televisões, quase antes do médico ter apanhado
o seu exemplar de assinante na caixa de correspondência. (....) Disse Winston
Churchill: "os impérios do futuro serão os impérios da mente". O que
ainda não foi reconhecido é o grau até o qual o poder bruto elementar - tanto
na vida privada quanto no império - será transformado nas décadas futuras como
resultado do novo papel da "mente".
2. - MÚSCULO,
DINHEIRO E INTELIGÊNCIA
(Aprendemos) que
violência, riqueza e conhecimento são as fontes máximas do poder social. (....)
Sejam quais forem as outras ferramentas do poder que possam ser exploradas por
uma elite dominante ou por indivíduos em suas relações privadas, a força, a
riqueza e o conhecimento são as alavancas máximas. Elas formam a tríade do
poder. (....) A sombra da violência ou da força, incluída na lei, está por trás
de todos os atos do governo. Nesse sentido paradoxal, é a velada ameaça de
violência que ajuda a tornar a vida diária não-violenta. (....) Poder de alta qualidade significa usar o
menor número de fontes de poder para atingir um objetivo. O conhecimento pode
ser usado com frequência, para fazer com que o outro lado goste de seu plano de
ação. Pode, até, convencer uma pessoa de que ela é que teve a idéia. (....) Das 3 principais fontes de controle
social, portanto, é o conhecimento - a mais versátil - que produz o que as
altas patentes do Pentágono gostam de chamar de "o maior resultado pelo
dinheiro empregado". (....) O próprio conhecimento revela-se não só a
fonte do poder da maiis alta qualidade, mas também o mais importante ingrediente
da força e da riqueza.
SEGUNDA PARTE - A
VIDA NA ECONOMIA SUPERSIMBÓLICA
3. - ALÉM DA ERA DA
OSTENTAÇÃO
4. - FORÇA: O
COMPONENTE YAKUZA
Em vez das empresas
produzirem sua própria violência, elas, na verdade, compraram os serviços do
governo. Em todas as nações industriais, a violência estatal substitui a
violência privada. A primeira coisa que um governo tenta fazer, a partir do momento em que é formado, é
monopolizar a violência. (....) Os políticos agem, com maior freqüência, em
nome de seus próprios interesses do que em nome dos interesses de terceiros.
(....) Uma segunda razão pela qual a agressão física direta parece ter quase
desaparecido da vida comercial comum é que a violência foi sublimada,
transformando-se em lei. Por trás de
cada lei, boa ou má, encontramos o cano de uma arma. Como disse Charles de
Gaulle: "A lei tem de ter a força do seu lado". A lei é a violência
sublimada. (....) Sempre que recursos das emrpesas são entregues a candidatos
ou partidos políticos, presume-se que se espere uma compensação. Nos EUA,
apesar de repetidas reformas e mudanças nas leis que governam as contribuições
para as campanhas, toda indústria importante injeta fundos em um ou em ambos os
partidos para comprar, no mínimo, o direito a que se ouça o seu ponto de vista
especial. (....) Um senhor de
escravos ou senhor feudal transplantado da Antigüidade para o mundo de hoje
acharia difícil de acreditar, que nós batemos menos nos trabalhadores... e eles
produzem mais. (....) A total
dependência do sistema monetário, ao contrário da produção para consumo
próprio, transformou todas as relações de poder. (....) A violência não
desapareceu. Mas a sua forma e sua função mudaram quando o dinheiro se tornou o
principal motivador da força de trabalho e a principal ferramenta para o
controle social durante os 3 séculos industriais.
5. - RIQUEZA:
MORGAN, MILKEN... E DEPOIS
As tecnologias
movidas a computador estão tornando possível lançar pequenas tiragens de
produtos cada vez mais feitos sob encomenda, visando a mercados restritos.
Companhias estão passando de grandes tiragens de produtos básicos para pequenas
tiragens de produtos com um maior valor agregado, como aços e produtos químicos
especiais. Enquanto isso, a inovação constante encurta os ciclos de vida dos
produtos. (....)
À medida que as
fábricas ao novo estilo passam do processamento em lote para operações de 24 horas
ou de "fluxo contínuo", a área financeira faz o mesmo, e passa do
"horário bancário" para os serviços de 24 horas. Centros financeiros
brotam em múltiplos fusos horários. (....) Até uma década atrás, um pequeno
grupo de funcionários do Ministério da Fazenda podia afetar de forma decisiva o
preço de tudo ao manipular as taxas de juros e intervir em mercados de moedas
estrangeiras. Hoje, isso está se tornando mais difícil para eles. Há apenas
poucos anos, o Banco do Japão podia influenciar a relaçao iene-dólar com a
compra ou a venda de moeda no valor de 16 bilhões de dólares. Hoje, quantias
como esta provocam risada. Moedas num valor estimado de 200 bilhões de dólares
são negociadas todos os dias, só em Londres, Nova York e Tóquio - mais de 1
trilhão por semana! (Dessa quantia, não mais de 10% estão associados ao
comércio mundial; os restantes 90% são especulação.) (....) A História, cheia
de surpresas, poderá nos obrigar a reformular os problemas de novas maneiras e
a inventar instituições intieramente novas.
6. - CONHECIMENTO:
UMA RIQUEZA FEITA DE SÍMBOLOS
Quando J. P. Morgan
ou outros banqueiros investiam numa companhia, eles provuravam "ativos
sólidos" no balanço dela. (No
início do século) o capital ainda era material. (Hoje), ninguém compra uma ação
da Apple Computer ou da IBM devido aos bens materiais da firma. O que conta é o
poder de sua força de marketiing e vendas, a capacidade organizacional de seus
administradores e as idéias crepitando dentro da cabeça de seus empregados. O
capital passou, portanto, de sua forma tangível (papéis que simbolizavam ativos
tangíveis, ou reais), para uma forma intangível (papéis que representam símbolos nos crânios de uma força
de trabalho que está continuamente mudando). Daí, passou, por fim, para sinais
eletrônicos simbolizando o papel. (_) Estamos seguindo a grande velocidade para
investimentos ainda mais rarefeitos baseados em índices de índices de índices,
derivativos de derivativos, sintéticos refletindo sintéticos. O capital está se
tornando rapidamente "supersimbólico". (....) Nossos trisavós nunca
teriam aceitado papel "inútil" em troca de uma peça de chita que pode
ser udsada ou um saco de milho comestível. (....) No alvorecer da era
industrial, no entanto, começaram a circular novas e estranhas idéias sobre o
dinheiro. Em 1650, um homem chamado William Potter publicou um panfleto
premonitório em inglês sugerindo algo antes inimaginável - que "a riqueza
simbólica iria tomar o lugar da riqueza real". (....) (No advento do
papel-moeda) ele baseava-se quase que inteiramente na confiança. Nem por isso deixou de dominar a sociedade
industrial, a civilização da Segunda Onda. Agora está claro que o papel-moeda,
como as linhas de montagem e as chaminés, é um artefato da moribunda era
industrial. (....) Existem hoje no
mundo cerca de 187 milhões de portadores do cartão de crédito Visa, usando seus
cartões em cerca de 6,5 milhões de lojas de varejo, postos de gasolina,
restaurantes, hotéis e outros negócios, e acumulando contas à razão de US$ 570
milhões por dia, 365 dias por ano. A Visa é apenas uma das firmas de cartão de
crédito. (....) Hoje, com um simples cartão você paga o seu jantar com um débito instantâmeo
em sua conta. Cerca de 61 milhões desses cartões já estão em uso na Europa e no
Japão. (....) Saindo do forno está o "cartão superinteligente", ou
"banco eletrônico da sua carteira". Feito em caráter experimental
pela Toshiba para a Visa, o cartão plástico contém um circuito eletrônico que
permite ao usuário conferir seus saldos bancários, comprar e vender ações,
fazer reservas em companhias aéreas e realizar uma variedade de outras
tarefas. (....) Podemos estar nos
aproximando da era das "moedas de projetistas". "Suponha",
escreve The Economist, "que um país tivesse emitido moeda em carátar
privado, junto com a moeda oficial (...) Consumidores em alguns países já têm
essa moeda paralela - também conhecida como cartão magnético pré-pago, cuja
reserva de valor vai diminuindo à medida que ele é usado. (....) Pode-se
imaginar muitos tipos altamente especializados de paramoeda. O Dep. de
Agricultuira dos EUA está orientando um programa que iria substituir os
vales-alimentação dados aos pobres por um cartão iinteligente programado com o
valor de benefícios para um mês e com número individual de identificação. O usuário
passaria o cartão no terminal do supermercado, que confirmaria a identificação
antes de deduzir o valor da compra do seu saldo remanescente. O sistema tem por
objetivo porporcionar uma contabilidade melhor enquanto reduz o uso
fraudulento, o mercado negro e a falsificação. Isso está apenas a um passo de
distância do que poderia ser chamado de um "Cartão Básico" para todos
os benefícios de pensões. (Dando um pouco de asas à imaginação podemos pensar
num cartão programável, por exemplo, que permitisse aos pais prepararem uma
dieta individual. O cartão de um dos filhos poderia ser bloqueado, digamos,
para refrescos. Se uma criança tivesse alergia a leite, o cartão seria
bloqueado para alimentos contendo produtos de laticínios, e assim por diante.)
(....) Em ponto algum de qualquer uma dessas transações algo remotamente
parecido com "dinheiro" no sentido tradicional, troca de mãos. O
"dinheiro", aqui, consiste de nada mais do que uma fileira de dígitos
um e zeros, transmitido por fio, miccroonda ou satélite. (....) Hoje, quando
vemos grandes somas de papel-moeda trocar de mão é que desconfiamos de que há
algo de errado. A moeda eletrônica irá proliferar e afastar a maioria das
alternativas, precisamente porque combina troca com escrituração instantânea, eliminando,
assim, muitas das dispendiosas ineficiências que vieram com o sistema monetário
tradicional (....) Essa vasta seqüência de transformações é acompanhada de um
profundo deslocamento de crença, quase uma conversão religiosa - de uma
confiança em coisas permanentes, tangíveis, como ouro ou papel, para a crença
em que sinais eletrônicos muitíssimo intangíveis e efêmeros podem ser torcados
por bens ou serviços.
7. - MATERIAL-ISMO
Os EUA é um dos
grandes produtores de gêneros alimentícios do mundo com menos de 2% da sua
força de trabalho ocupada com a agricultura. Por que o mesmo não poderá
acontecer com a manufatura? (....) Nas
décadas de 50 e 60, um pequeno grupo de futuristas nos EUA e Europa, previu a
transição de trabalho braçal para trabalho mental ou trabalho que exige
capacidade psicológica e humana. Na época, foram menosprezados por serem
considerados "visionários". (....) Na economia global de hoje,
injetar dinheiro no bolso do consumidor pode simplesmente fazer com que esse
dinheiro corra para além-mar, sem fazer nada para ajudar a economia interna. Um
americano comprando um novo aparelho de CD, simplesmente envia dólares para o
Japão. A compra não aumenta, necessariamente, o número de empregos no país.
(....) Ainda que houver 10 milhões de
vagas e apenas 1 milhão de desempregados, este milhão não poderá ocupar os
cargos disponíveis, a menos que tenham capacitação. Essas capacitações são
agora tão variadas e se alteram com tanta rapidez, que os trabalhadores não
podem ser intercambiados com tanta facilidade ou de forma tão barata como no
passado. (....) Qualquer estratégia eficiente para a redução do desemprego numa
economia supersimbólica deve depender menos da distribuição da riqueza e mais
da distribuição do conhecimento. [Eu observo: não há saída se não nos (Brasil)
voltarmos para, definitiva e drasticamente, eliminarmos as carências de ensino
em todos os níveis e de pesquisa no nível mais elevado.] (....) Vamos precisar
preparar as pessoas, através da educação escolar, de aprendizados e de estágios,
para trabalho em campos como o dos serviços humanos - ajudar a cuidar, por
exemplo, da nossa população de idosos que aumenta rapidamente, cuidar das
crianças, serviços de saúde, seguro pessoal, serviços de treinamento, serviços
de lazer e recreação, turismo e assim por diante. (....) As divisões da economia em setores
como "agricultura, "manufatura"e "serviços" hoje
obscurece, e não esclarece. As mudanças de alta velocidade de hoje encobrem as
distinções que antes eram claras. Descobrimos cada vez mais que o trabalho em
todos aqueles 3 setores consiste de processamento simbólico ou "trabalho
mental". (....) Arquivistas e cientistas, não fazem mais do que levar
informações de um lado para outro ou gerar mais informações. O trabalho deles é
totalmente simbólico.À medida que a economia supersimbólica se desenvolve, o
proletariado se torna um cognitariado. O que isso sugere é que as companhias
podem ser classificadas, grosso modo, em "cultas",
"semicultas", ou "incultas", dependendo da intensidade com
que usam o conhecimento. (....) De acordo com essse raciocínio, deveria ser
possível chegar-se a um total de QI coletivo para cada companhia. Será que os
operários da Chrysler são inerentemente mais inteligentes do que os das Ford ou
da Toyota? Levados ao absurdo, poder-se-ia imaginar uma nova classificação para
as 500 da Fortune - segundo o QI coletivo. (....) Toda tarefa que é tão
repetitiva e simples que pode ser feita sem pensar é uma candidata à
robotização. (....) Nos EUA está sendo terminada uma fábrica no valor de 65
milhões de dólares, que em breve irá empregar 500 operários fazendo painéis de
chassis de plástico para automóveis. Cada operário, e não apenas os
supervisores e administradores, irá receber um treinamento no valor de
8. - O SUBSTITUTO
FUNDAMENTAL
Assim como estamos
agora reestruturando companhias e economias inteiras, estamos reorganizando
totalmente a produção e a distribuição do conhecimento e os símbolos usados
para comunicá-lo. (....) Empresas, governos e indivíduos estão coletando e
armazenando mais dados puros do que qualquer outra geração na história. (....)
As mais recentes tecnologias de manufatura comandada por computador tornam
possível uma variedade interminável. A Philips, fabricou 100 modelos diferentes
de televisores em 1972. Hoje, a variedade aumentou para 500 modelos diferentes.
(....) No Japão, a NHK que vende bancos e molas para a maioria dos fabricantes de
automóveis japoneses, está procurando sincronizar suas linhas de produção com
as de seus clientes, com tal perfeição que virtualmente elimine os estoques
reguladores. (....) Porque reduz a necessidade de matérias-primas, mão-de-obra,
tempo, espaço e capital, o conhecimento torna-se o recurso essencial da
economia avançada. E quando isso acontece, o seu valor vai aos píncaros. Por
isso, como veremos em seguida, por toda parte estão estourando as
"info-guerras"- lutas pelo controle do conhecimento.
TERCEIRA PARTE - AS
GUERRAS DA INFORMAÇÃO
9. - A BATALHA NA CAIXA REGISTRADORA
Uma característica
da Gillete era fazer 6 "ciclos de marketing" ao longo de um ano, cada
um com uma grande campanha de apoio. Essas campanhas eram tão eficientes que os
supermercados não podiam dar-se o luxo de não venderem produtos da Gillette.
O supermercado
médio nos EUA estoca 22 mil artigos diferentes, e com milhares de novos
produtos substituindo continuamente os velhos, o poder foi transferido para o
varejista, que pode manter o controle de todos esses artigos.
"Agora", diz o presidente das 127 lojas Ralph's, "nós sabemos
tanto quanto o frabricante, se não mais, a respeito do seu produto". Tudo
através das leitoras óticas. Em vez de o fabricante dizer à loja o quanto
comprar, a loja agora obriga os fabricantes a pagarem o que é conhecido como
"push-money" ("despesa de promoção") em troca de espaço, e
quantias assombrosas por locais de atraçvão especial. Diz um ex-diretor da
Gillette: "Nós queremos controlar o nosso destino (...), mas o comércio
está ficando muito poderoso (...) Eles estão procurando negócios mais
vantajosos e relações em que haja cooperação. Estão à procura de melhores
preços, o que reduz a nossa margem de lucro.
A Wal-Mart exige
que todos os seus pedidos sejam preenchidos de forma totalmente correta e que
as entregas sejam feitas segundo a sua tabela, e não a do fornecedor. O
não-preenchimento do pedido ou a não-entrega exatamente no momento marcado
poderá resultar na retenção dos pagamentos do fornecedor ou na dedução de um
"custo de manuseio". (....) Alguns donos de loja estão dizendo:
"Se a minha leitora não conseguir ler o seu código, o problema é seu. Não
estou mandando minha caixa tentar repetidas vezes e deixar o freguês
esperando". Ninguém respondia dessa maneira às grndes companhias. Mas
acontece que ninguém tinha as informações que os varejistas agora possuem. Essa
informação é tão vital que alguns fabricantes estão pagando aos varejistas por
ela. (....) Em um mundo no qual a moeda é "informacionalizada" e a
informação "monetizada", o consumidor paga 2 vezes: a primeira, com
dinheiro, e a segunda ao fornecer informação que vale dinheiro. Se o freguês
ainda pagar com cartão de crédito, muito mais coisa valiosa ele ainda revelará.
Os consumidores
poderão, em breve, ver-se em supermercados cheios das chamadas
"prateleiras eletrônicas". A mágica dessa tecnologia é que ela
permite à loja mudar o preço de milhares de produtos automática e
instantaneamente à medida que entram os dados enviados pelas leitoras óticas na
frente da loja. Assim, os preços poderão despencar para os artigos de venda
lenta, subir para os artigos "quentes", subindo e caindo
continuamente em resposta instantânea à oferta e à procura. (Obviamente o nosso
Alvin Tofler ficaria surpreso com a reação dos nossos burocratas controladores
de preço a uma proposta dessas.) (....) Distribuição
já não significa colocar alguma coisa na prateleira. É, agora, essencialmente
um sistema de informações. A distribuição não será mais uma cadeia de pontos de
estoque, passando produtos ao longo de uma linha, mas um elo de informações entre o fabricante e o
consumidor".
10. - EXTRA-INTELIGÊNCIA
Os telefones
mudaram quase tudo no que se refere aos negócios. Eles permitiam operações numa
área geográfica muito maior. Os executivos máximos podiam falar diretamente com
gerentes de filiais ou vendedores em distantes escritórios regionais para
descobrir, em detalhes, o que estava acontecendo. A comunicação oral transmitia
muito mais informações do que os frios traços-pontos do código Morse.
Devido ao fato de
que grande parte dos negócios depender de obter e enviar iinformações, as
companhias do mundo inteiro vêm correndo para ligar seus empregados através de
redes eletrônicas. Algumas dessas redes são "redes locais", que simplesmente ligam computadores em um
único edifício ou complexo. Outras são redes que circundam o globo.
Só a IBM liga 355
mil terminais pelo mundo todo através de um sistema chamado VNET, que em 87
processou o que se calcula tenham sido 5 trilhões de caracteres de dados.
Sozinha, uma única parte desse sistema -
chamada PROFS - economizou a compra de 7,5 milhões de envelopes, e a IBM
calcula que sem o PROFS iria precisar de quase mais 40 mil empregados para
realizar o mesmo trabalho.
À medida que o dinheiro
se torna mais parecido com a informação e a informação se parece mais com o
dinheiro, ambos vão sendo cada vez mais reduzidos a impulsos eletrônicos. À
medida que essa fusão histórica das telecomunicações e da área financeira se
aprofunda, o poder inerente no controle das redes aumenta exponencialmente.
Mas à medida que
essas redes de um primeiro estágio se expandiam, descobriu-se que no mundo das
redes uma linha reta não é, necessariamente, a melhor maneira de enviar uma
mensagem de um lugar para outro. Na verdade, um número maior de mensagens
poderia fluir mais depressa se, em vez de sempre enviar uma chamada, digamos de
Tallahassee para Atlanta pela mesma rota, a rede pudesse contar as chamadas em
cada perna do sistema e então mandar a
chamada para Atlanta pelas linhas
disponíveis, enviando-a até Nova Orleans ou mesmo St. Luis, em vez de
retardá-los porque a rota mais curta, em linha reta, estava ocupada.
Os pesquisadores
estão correndo para tornar as redes ainda mais autoconscientes. O objetivo são
as chamadas redes neurais. Essas redes irão aprender com suas próprias
experiências, prever onde e quando haverá cargas pesadas e, então,
automaticamente expandir ou contrair seções da rede para corresponder às
exigências. (....) A rede de intra-inteligência é como a inteligência contida
no nosso sistema nervoso perifërico, que regula os funcionamentos involuntários
do corpo, como as batidas do coração e as secreções hormonais. Elas entregam as
mensagens exatamente como foram
enviadas.
A rede de extra-inteligência
não se limita a transferir. Ela analisa, combina, rearruma ou altera mensagens
de outras maneiras, às vezes criando uma nova informação pelo caminho. Assim, o
que sai na outra ponta é diferente do que entrou. Essas redes são chamadas de
Redes de Valor Agregado ou VAN's.
(Eu observo: aquela
antiga discussão sobre se o computador provoca ou não diminuição de emprego, já
acabou. Hoje, já se sabe que não só provoca, e muito, como exige muito maior
qualificação de todos os usuários, e não só dos profissionais. )
11. - O PODER DA
REDE
À medida que as
redes se espalham o poder está começando a se deslocar.
Uma gigantesca
fábrica têxtil americana envia a seus fregueses programas grátis que lhes
permitem comunicar-se diretamente com o computador central da fábrica, explorar
o seu estoque de brim eletronicamtne,
encontrar a peça de tecido que eles querem e encomendá-la - tudo a velocidades
instantâneas.
A Digital
Equipamente (DEC), fabricante de computadores, abre seus segredos sobre
projetos a seus fornecedores. Quando a DEC faz uma encomenda de componentes,
pode transferir eletronicamente todo o seu arquivo de Projeto Assistido por
Computador para a firma fornecedora, de modo que tanto comprador como vendedor
possam trabalhar mais intimamente, passo a passo. O objetiivo é a intimidade.
Se a Shiseido e
outros fabricantes podem "falar" diretamtne com seus varejista e se
os varejistas podem ter acesso eletrônico a informações que estão no computador
do fabricante, quem precisa de intermediário?
A crescente
manufatura sob medida e flexível, tornada possível pelos computadores,
significa, entre outras coisas, uma mudança de padrões de poucas encomendas
grandes de produtos uniformes para muitas encomendas menores de produtos
diiversificados.
O que está se
formando diante dos nossos olhos, portanto, é um isstema inteiramente novo, de
várias camadas, a infra-estrutura da economia para o século XXI. E à medida que
a própria moeda se torna "supersimbólica", o cartão proporciona o elo
que faltava no sistema neural que vai surgindo.
Ao interligar
operações reais através das linhas que dividem as empresas, ao tornar possível
às companhias a concorrência em setores outrora considerados estrahos, as redes
extra-inteligentes acabam com as antigas especializações, com a velha divisão
institucional do trabalho. (....) A informação é o mais fluido dos recursos, e
fluidez é a marca de qualidade de uma economia na qual a produção e a
distribuição de alimentos, energia, bens e serviços dependem cada vez mais de
troca simbólica.
Alguém levantou a
possibilidade de um "monopólio privado global da informação". Mas a
questão não é se um gigantesco monopólo privado global irá controlar todas as
informações mas quem irá controlar as intermináveis conversões e reconversões
delas, tornadas possíveis pela extra-inteligência, à medida que dados,
informações e conhecimentos fluem pelo sistema nervoso da economia
supersimbólica.
12. - A GUERRA QUE SE AMPLIA
Guarda-chuva e
automóveis são diferentes. Estes são produtos sistêmicos. Até mesmo o humilde
cabide pressupõe uma barra para pendurá-lo. Cada um deles é parte de um
sistema. Os produtos sistêmicos precisam de padrões para trabalhar. Os
franceses chamam isso de "la guerre de normes".
No momento 3
padrões básicos de televisão estão em uso no mundo: NTSC, PAL e SECAM. Mas as
imagens produzidas por todos os 3 são difusas se comparadas com o que é conhecido
como HDTV - a televisão do amanhã. (?)
A qualidade do HD
poderá tornar possível aos cinemas no mundo inteiro receberem seus filmes via
satélite e não em películas.
As decisões sobre
padrões de HDTV dizem respeito à criação de um mercado mundial calculado em meo
trilhão de dólares. Os japoneses e os americanos ameaçam tornar todos os
aparelhos de televisão europeus obsoleltos - e ser os únicos com o poder de
substituí-los. (....) Os concorrentes europeus da IBM produziram um
contra-padrão chamado OSI (Open System Interconnection - Interconexão de
Sistema Aberto), que visa permitir que todos os tipos de computadores conversem
livremente uns com os outros. Para alguns, parece que a batalha pelos padrões
das telecomunicações é o começo da era pós-IBM Mas a guerra ainda não terminou.
A batalha pelos padrões nunca é vencida. (....) A manufatura baseada em
computadores leva a um tremendo aumento da variedade de produtos, o que
significa que sistemas devem ligar mais produtos para formar conjuntos ou totalidades,
e isso, por sua vez, explica por que a procura de padrões tem de subir
vertiginosamente. Os vencedores das guerras em expansão pelos padrões irão
deter um imenso poder de alta qualidade no mundo do amanhã, que está chegando
com rapidez.
13. - A POLÍCIA DO PENSAMENTO GERENCIAL
Na União Soviética,
no inicio da era dos computadores, pensou-se que uns poucos "cérebros
eletrônicos" controlados pelo órgão de planejamento estatal, dirigiria não
uma única empresa, mas toda a economia nacional. Esse tipo de fantasia,
subestimava o papel do acaso, da intuição e da criatividade nos negócios. E
mais, partiam do pressuposto de que as pessoas no comando de uma empresa sabiam
o suficiente para especificar qual a informação que era ou não necessária para
as pessoas que trabalhavam abaixo delas na hierarquia.
Em toda revolução
há um período de tumulto e extremismo, seguido de um período de consolidação.
(....) Projetar um sistema de modo
que ele sirva melhor a um departamento do que a outro é um ato político. Até mesmo
a escolha do momento certo é política, se uma unidade recebe uma prioridade de
comunicações inferior à de outra, de modo que a primeira tenha de esperar pelo
serviço. A destiinação dos custos é, sempre, uma questão de poder. (....) Um funcionário aprende a senha adequada e
altera os dados registrados sobre um outro funcionário, depreciativamente, de
modo a vir prejudicá-lo no futuro. Só quando este outro funcionário vai para
outra firma é que é descoberta a adulteração. O que acontece? Quem é foi responsável?
A primeira companhia? Com um mínimo de imaginação é possível estabelecer
milhares de questões desse tipo. Será que iremos precisar de "tribunais
empresariais" para resolver disputas quanto a segurança e acesso? Será que
precisamos de "filósofos da ética de informações" para definir uma
nova moralidade informacional?
Mudança rápida
significa risco. Significa incerteza. Significa concorrência vinda de onde
menos se esperava. Significa grandes projetos que desmoronam e pequenos
projetos que nos deixam aturdidos com o seu sucesso. Como, nesse tipo de mundo,
poderemos pré-especificar com exatidão que informações serão necessárias a
quem? Ou por quanto tempo? (....) O poder, na atividade empresarial do amanhã,
irá fluir para aqueles que tiverem as melhores iinformações sobre os limites da
informação.
14. - A GUERRA
TOTAL PELA INFORMAÇÃO
Sabenos como
agregar valor a lingotes de aço ou peças de tecidos. Mas agregar valor a uma
boa idéia é muito mais problemático. Ainda não temos como tratar um recurso que
é vendável, mas grande parte dele é fornecida (muitas vezes gratuitamente)
pelos próprios clientes. (....) Espera-se cada vez mais que todos os emrpegados
aumentem não apenas o ativo de conhecimento da emrpesa em geral, mas também o
seu arsenal de informação competitiva (IC). Enquanto os executivos japoneses
consideram a coleta de informações uma parte rotineira de suas funções, um
típico pós-graduado de Harvard dirá que isso cabe à bibiotecária da companhia.
(....) Se, por exemplo, 2 varejistas estiverem eletronicamente ligados aos
computadores de um mesmo fornecedor, quanto tempo se passará antes que uma
unidade IC superzelosa sugira que se penetre nos números de identidade e nas
senhas do computador central do fabricante, ou se "grampeie" as linhas
de telecomuniicações e se faça um saque nos seus bancos de dados? (....) Como mostram as descoberetas feitas na
embaixada dos EUA em Moscou, já é tecnologicamente possível uma firma instalar
dispositivos que literalmente imprimam uma duplicata de todas as cartas datilografadas pela
secretária do presidente de uma empresa rival. Um belo dia um concorrente
agindo sob pressão poderá inserir encomendas falsas nos computadores de uma
emrpesa rival, fazendo com que ela produza em excesso os modelos errados e
forneça em quantidade insuficiente aqueles que sejam diiretamente competitivos.
(....) Em cada nível da atividade
emrpesarial, portanto, estamos cercados de infoguerras e infoguerreiros, que
lutam pelo controle do mais essecial recurso da Era da Powershift.
QUARTA PARTE - O
PODER NA FIRMA FLEXÍVEL
15. - O FIM DOS CUBÍCULOS
Gurus de
adminsitração publicam novos métodos organizacionais que são descartados com a
velocidade com que novas frases de efeito podem ser criadas. (....) Os
executivos especializados obtêm o poder com o controle da informação nos
cubículos. Os gerentes conseguem o deles através do controle da informação que
passa pelos canais.
As alterações de
hoje chegam a um ritmo mais rápido do que as burocracias podem absorver. Uma
entrevista coletiva transmitida pela televisão em Teerã provoca uma resposta
imediata em Washington.
É fácil
reclassificar ou separar a informação estocada num computador. Basta copiar um
arquivo em um novo diretório. Mas tente mudar cubículos organizacionais! Quanto
mais depressa as coisas se alterarem no mundo exterior, portanto, maior será a
tensão imposta à estrutura básica da burocracia e maior a fricção e a luta
interna. Quanto mais acelerada a taxa de mudança na atividade empresarial,
maior o número de situações sem igual que surgem.
Quando as
burocracias são obrigadas a lidar com um problema que não se encaixa no
cubículo de ninguém, elas se comportam de certas maneiras estereotipadas.
Depois de uma esgrima inicial, alguém sugere inevitavelmente a criação de uma
nova unidade Mas como ela seria uma
rival a mais a tomar verba do orçamento, todos rejeitam. Encontra-se, então, um
meio-temo: é o conhecido "camelefante" burocrático, ou seja, o comitê
ou grupo de trabalho interdepartamental. Quando o presidente percebe que esta solução
não deu resultados, decide por uma outra manobra padrão, o encaminhamento do
problema para um "mediador" em
vez de esperar que a lenta e resistente máquina burocrática entre em ação. Essa
tentativa de contornar os departamentos existentes só faz indigná-los ainda
mais, e a essa altura as unidades ofendidas começam a trabalhar com capricho
para assegurar o fracasso.
No Japão, existe o sistema dokikai que é um desvio da burocracia formal mas que
a torna muito mais eficiente. Lá, todos os candidatos contratados num mesmo
momento - turma de novos calouros - mantêm contato durante todo o tempo em que
estiverem empregados, subindo de categoria `a medida que vai aumentando o tempo
de serviço. Depois de um determinado tempo, os membros do dokikai são
espalhados pelas várias regiões e seções da empresa. Mas a irmandade se mantêm
unida, reunindo-se socialmente, bebendo cerveja e saquê e, o mais importante,
trocando informações de muitos cubículos diferentes fora dos canais
hierárquicos formais. É no dokikai que homens lubrificados pelo álcool, falam
uns com os outros com honto - expressando seus verdadeiros sentimentos - e não
com tatemae - comentando o que se espera que digam. (....) O hipermeio torna
possível uma projetista que estiver criando um novo produto deixar a sua mente
vagar natural e imaginativamente por entre o conhecimento armazenado. (Eu
observo: como criador, no sentido publicitário, sei que, longe de ser fruto de
alguma genialidade, o processo de criação é apenas um processo de busca de um
novo interrelacionamento para dados já armazenados. Neste contexto, o hjpermeio
virá "socializar" e potencializar ainda mais o processo criativo. O
resultado final, será uma extraordinária aceleração da criação de novas
"coisas" - no sentido mais genérico possível.)
A maneira de organizarmos o
conhecimento determina, freqüentemente, a maneira de organizarmos as pessoas -
e vice-versa. Quando o conhecimento era considerado especializado e
hierárquico, as empresas eram projetadas para serem especializadas e
hierárquicas. É por isso que estamos à beira do maior deslocamento de poder
na história da atividade econômica. E os
primeiros sinais disso já estão evidentes nas organizações de novo estilo que
surgem rapidamente à nossa volta. Podemos chamá-las de as "firmas
flexíveis" do futuro.,
16. - A FIRMA
FLEXÍVEL
Um estudo da
Business Week revela que as maiores companhias são as mais lucrativas (com base
no retorno do capital) em apenas 4 de 67 setores analisados. Em mais da metade
das vezes, a maior empresa não atinge nem mesmo o retorno médio do setor sobre
o capital investido. (....) As companhias estão se dividindo em inúmeros
"centros de lucro", cada um dos quais, é o que se espera, irá agir
como uma empresa pequena, atuando segundo o mercado, devendo financiar a si
mesmas, vendendo seus serviços internos. Mas que adianta uma miniburocracia
aninhada numa megaburocracia? (....)
Para entender o
conceito de "firma flexível", vale lembrar que burocracia é apenas
uma de um imenso repertório de formas organizacionais para se usar - de
conjuntos de jazz a redes de espionagem, de tribos e clãs a mosteiros e times
de futebol. Cada qual é bom em certas coisas e ruim em outras. (....) Podemos
esperar ver casais contratados por conpanhias - como casais. Uma dupla formada
por marido e mulher encarregada de um centro de lucro e com permissão para
dirigi-lo como se fosse uma empresa familiar. (Eu observo: na verdade isto já
se vê em algumas franquias. Mais do que isso, duvi-d-o-dó.) (....) Na firma
flexível é teoricamente possível ter um centro de lucro que é totalmente
paternalista e outros que decididamente não o são, uma unidade que seja
dirigida como um acampamento de recrutas dos fuzileiros navais, e outra como se
fosse uma comuna.
17. - CHEFES
TRIBAIS E COMISSÁRIOS EMPRESSARIAIS
Uma equipe de
projeto adquire um caráter de auto-organização à medida que é levado para um
estado de informação zero - no qual o conhecimento anterior não se aplica. ( Eu
observo: é este o príncipio básico da tão falada "reengenharia".)
18. - O EMPREGADO
AUTÔNOMO
Na Era das
chaminés, todos os dias, os operários das fábricas de fundição, a partir do
momento em que a sineta dava início ao turno, corriam para fazer suas tarefas
repetitivas enquanto tentavam desesperadamente acompanhar o ritmo das
carrocerias que passavam por eles na esteira barulhenta que seguia às
sacudidelas. A companhia estava sempre tentando acelerar a linha. A raiva
reprimida tomava tanto conta da fábrica, que com muita freqüência, um lamento
lúgubre, sem expressar qualquer palavra,
saía da garganta de centenas de operários, assumia as proporções de um som
penetrante, de arrebentar os tímpanos à medida que era captado e passado de
departamento a departamento, e depois morria no estrondo e no rugir das
máquinas. Afora exortações para trabalhar mais, quase não recebiam informações
vindas da companhia. Eram os últimos a saber se uma seção ou fábrica ia ser
fechada. Não recebiam informações sobre o mercado ou sobre os concorrentes.
Nada lhes diziam sobre novos produtos ou sobre novas máquinas. (....) O que
está acontecendo é que a carga de conhecimento e, mais importante, a carga de
decisões estão sendo redistribuídas.
A democracia no
local de trabalho, como a democracia política, não vigora quando a popoulação é
ignorante. Por outro lado, quanto mais instruída uma população, maior a democracia que ela parece
exigir. Na verdade, fazer perguntas e rebater pressupostos estão se tornando
parte do trabalho de todos. (....) Quando um trabalhador vai embora, torna-se
mais difícil (e mais dispendioso) encontrar substituto à medida que aumenta a
variedade das aptidões necessárias. (....) Diz o chefe de uma equipe gigante de
projetos na indústria de defesa: "Há muitos anos, era possível ter todo
mundo fazendo a mesma coisa (...). Hoje é diferente. Agora, se perdemos alguém,
levamos seis meses para treinar um indivíduo a entender o nosso sistema. Além
do mais, por ser o trabalho baseado em equipe, quando tiramos um indivíduo, a equipe toda se torna
disfuncional". O resultado dessas alterações é que as companhjias tendem a
usar um número menor de funcionários, porém mais bem pagos do que antigamente.
(Eu observo: isto nem sempre é verdade. Na medida em que o nível de
conhecimento geral sobe, os salários tendem a baixar porque mais gente
capacitada passa a existir. Somente num Estado que tenham um programa de renda
mínima constantemente reavaliado é que o ganho da produtividade é efetivamente
repassado para o trabalhador.)
Quando você fica
observando alguém que está observando o seu desempenho, você não cria grande
coisa. Daí a necessidade de inovar estimula a autonomia do trabalhador. (Eu
observo: mas isto pode até criar uma tensão maior mas não é um empecilho ao bom
desempenho. Se não fosse assim, como entender o desempenho dos jogadores de futebol só para citar um
exemplo?)
O erro inteligente
precisa ser tolerado. Uma profusão de idéias ruins precisa ser lançada e
discutida livremente, a fim de colher-se uma única boa. E isso implica uma nova
e liberadora perda do medo. O medo é o principal assassino de idéias. O medo do
ridículo, do castigo ou da perda do emprego destrói a inovação.
É evidente que nem todos os
trabalhadores se encaixam bem em empregos que exigem iniciativa, plena
participação e divisão de responsabilidade. (Eu observo: acho que esta teoria da
capacidade inerente deve ser revista à luz da análise dos mecanismos que fazem
uma equipe de futebol funcionar com sucesso. Que outro esporte exige tanta
iniciativa, plena participação e divisão
de responsabilidade?)
Essa idéia vai
muito além dos pressupostos do modelo humanitarista, onde se fazia com que os
empregados se sentissem importantes. Agora, eles são reconhecidos como
realmente importantes. (....) Se os
sindicatos, com a sua tradicional ênfase em "solidariedade" e
"unidade", estão perdendo associados e poder em virtualmente todas as
nações de tecnologia avançada, é proque os trabalhadores já não são tão
intercambiáveis como no passado.
19. - O MOSAICO DO
PODER
Manias de fusões
anteriores foram seguidas poucos anos depois, por ondas de desmembramentos.
(....) Precisamos olhar para as relações, e não apenas para as estruturas. E
quando olhamos, descobrimos um surpreendente paradoxo. Ao mesmo tempo em que
algumas firmas estão aumentando de tamanho (ou inchando), também vemos um
poderoso movimento contrário que está dividindo grandes empresas em unidades
cada vez menores e simultaneamente estimulando a disseminação de pequenas
empresas. Esta é uma nova estrutura do poder: o mosaico do poder.
Descobriram de
repente as deseconomias de escala.
Quando as operações
se aceleraram e tornaram-se mais complexas, no entanto, sobrecarregando os
cubículos e canais, todo o sistema de informação começou a vir abaixo. (....)
Quando criamos centros de lucro, achatamos a hierarquia e passamos para
computadores de mesa em rede, tonamos o poder menos monolítico e mais
"mosaical". (....) Na França os esquemas de apoio às grandes empresas
foram abandonados em troca de programas que têm mais probalidades de ajudar as
pequenas empresas. (....) A posição competitiva, diz Lamborghini,
vice-presidente da Olivetti, já não irá depender unicamente de recursos
internos mas do padrão de relações com unidades externas. Tal como os bancos de
dados, o sucesso é cada vez mais
"relacional". (....) Como o próprio conhecimento é organizado
relacionalmente ou na forma de hipermeios - significando que pode ser
constantemente reconfigurado - a organização também tem de se tornar
hiperflexível. É por isso que uma economia de firmas pequenas, que interagem,
reunindo-se em mosaicos temporários, é mais adaptável e, em última análise,
mais produtiva do que uma outra construída em torno de uns poucos monolitos
rígidos. E uma coisa é certa: a idéia de que reduzido número de companhias irá dominar a economia é uma caricatura da
realidade ao estilo das histórias em quadrinhos.
CODA: O NOVO
SISTEMA PARA A CRIAÇÃO DE RIQUEZA
A WENDY'S adotou um
"Express Pak" para clientes que são atendidos sem sair do carro.
Consiste de um hamburguer, batatas fritas e uma coca-cola. O freguês precisa
dizer apenas as plavras "Express Pak". A idéia foi acelerar o
serviço. A reduçãoa de tempo individual pode ser pouca, mas o efeito cumulativo
pode ser importante. (Eu observo: este exemplo demonstra claramente, o processo
de tensão a que o homem comum vem sendo submetido pela valorização exponencial
da variável tempo.) (....) Quando o rtimo da atividade econômica se acelera,
cada unidade de tempo passa a valer mais dinheiro. (....) Os negociantes agora falam da
"janela de lançamento" - o intervalo muitíssimo curto depois do qual
um novo produto deve fracassar devido à concorrência de modelos mais avançados.
(Eu exclamo: isto é uma loucura!) (....) Uma das maneiras de se deslocar mais
depressa é fazer simultaneamente aquilo que se costumava fazer seqüencialmente.
Daí o aparecimento recente do termo engenharia simultânea. (....) Um banco
reduziu o tempo necessário para tomar uma decisão quanto a um empréstimo, de
vários dias para trinta minutos, mediante a apresentação simultânea a um grupo
de especialistas em empréstimos, das informações necessárias, em vez de
fazê-las circular de um especialista a outro.
Os 12 elementos da
economia acelerativa que definem o revolucionário novo sistema de criação de
riqueza de alta tecnologia:
1 - O novo sistema
acelerado de criação de riqueza é "supersimbólico". Sem troca de
conhecimento, não se cria nova riqueza.
2 - O novo sistema
segue para a produção flexível, sob encomenda, ou "desmassificada".
3 - terra,
trabalho, matérias-primas e capital são substituídos pelo conhecimento
simbólico.
4 - A informação
eletrônica torna-se o verdadeiro meio de troca.
5 - Bens e serviços
requererão uma multiplicação e uma constante revisão de padrões.
6 - Burocracias são
substituídas por pequenas unidades de trabalho, equipes temporárias ou
"ad-hocráticas", alianças e consórcios comerciais cada vez mais
complexos. A hierarquia é achatada ou eliminada para acelerar a tomada de
decisões.
7 - O número e a
variedade das unidadeds organizacionais multiplicam-se.
8 - Os
trabalhadores tornam-se cada vez menos intercambiáveis.
9 - O novo herói é
o inovador (dentro ou fora de uma grande organização) que combine conhecimento
imaginativo com ação.
10 - A criação de
riqueza é reconhecida cada vez mais como um
processo circular, com os desperdícios recilcados para se transformarem
em insumos para o ciclo de produção seguinte.
11 - O produtor e o
consumidor são unidos no ciclo de criação de riqueza, com o cliente
contribuindo não apenas com dinheiro, mas com informações de mercado e de
projeto que são vitais para o processo de
produção.
12 - O novo sistema
de criação de riqueza é tanto local como global.
QUINTA PARTE - A
POLÍTICA DA POWERSHIFT
20. - AS DÉCADAS
DECISIVAS
Em qualquer
sistema, democrático ou não, precisa haver certa congruência entre a maneira
pela qual as pessoas fazem riqueza e a maneira pela qual elas se governam. Se
os sistemas político e econômico forem extremamente dissimilares, um deles vai
acabar destruindo o outro. (....) A disseminação da agricultura eliminou os
grupamentos tribais, os bandos de caçadores e outras combinações sociais e
políticas, substituindo-os por cidades-estados, reinos dinásticos e impérios
feudais. A revolução industrial, por sua vez, eliminou muitos deles. Com a produção em massa, o consumo em massa e os
meios de comunicação em massa, surgiu, em muitos países, um sistema
correspondente: "a democracia em massa". (....) Todas as sociedcades industriais já enfrentam
crises nos seus sistemas urbanos, de saúde, de previdência social, de
transportes, ecológicos. Os políticos da era das chaminés continuam a responder
a essas crises uma de cada vez. Além do mais, a economia nascente nos atira
problemas e crises totalmente novos, que esfacelam os pressupostos e as
alianças convencionais da era da democracia em massa. (....) O mercado único,
diz o chefe do órgão de desenvolvimento econômico para a área em torno de lyon,
nos oferece uma grande oportunidade para romper a centralização de Paris. (....)
À medida que a economia
supersimbólica se espalhar, irá criar eleitorados em favor de transferências
radicais de poder entre níveis municipais, regionais, nacionais e globais. A
"política dos níveis" deverá dividir os eleitores em 4 grupos distintos:
os "globalistas", os "nacionalistas", os
"regionalistas" e os "municipalistas". (....) O presidente
do International Leadership Center afirma que os EUA estão caminhando para se
tornarem uma nação de cidades-estados.
(....) À medida que as regiões e municipalidades assumem suas
características culturais, tecnológicas e políticas, ficará mais difícil, para
os governos, administrar economias com as ferramentas tradicionais de
regulamentações por parte do banco central, tributação e controles financeiros.
(....) O declínio da era das chaminés irá liberar ressentimentos de uma
profundidade que toca os ossos, enormes e violentas ondas emocionais, à medida
que o local do poder é transferido. Em muitas partes do mundo, ele irá
multiplicar os grupos extremistas para os quais a democracia é um obstáculo
incômodo, que deverá ser destruído se ficar no caminho de suas paixões
fanáticas. (....) Durante o período da democracia em masssa, pessoas, partidos
e diretrizes eram categorizados como de esquerda ou de direita. Catástrofes
ecológicas não são nem de direita nem de esquerda. (....) Será que economias
avançadas irão acabar fazendo pagamentos de "pensões ecológicas" aos
Brasis e Índias do mundo para evitar que eles destruam florestas tropicais,
selvas ou outros recursos ambientais? Isso é um problema de esquerda ou de
direita? A tentativa de lidar politicamente com problemas assiim irá não só
fragmentar velhas alianças, mas criar mais fanáticos. (....) À proporção que a
economia supersimbólica se desenvolve, ela é acompanhada por deslocamentos e
migrações populacionais. (....) Na afluente Great Neck, em Long Island, perto
da cidade de Nova Iorque, aumentam as tensões entre judeus americanos de
nascença e imigrantes judeus iranianos, que se recusam a abrir mão de suas antigas
maneiras de viver. (....) Os
governos terão de agir como mediadores nesses conflitos que, cada dia mais,
irão proliferar no mundo. Isso se tornará progressivamente mais difícil de
fazer, porque o ideal da homogeneidade está sendo substituído pelo da
"saladeira" - prato em que ingredientes diversos mantêm sua
identidade. (....) À medida que nos
deslocamos para uma economia baseada em mão-de-obra-não-intercambiável, em que
sentido podemos continuar a falar em "massas"? Se a tecnologia
permite a individualização de produtos, se os mercados estão sendo divididos em
nichos, se os meios de comunicação se multiplicam e servem a audiências que
continuamente diminuem de tamanho, se até mesmo a estrutura familiar e a
cultura estão se tornando cada vez mais heterogêneas, por que deveria a
política presumir a existência de massas homogêneas? O consenso de massa se
torna mais difícil de ser obtido.
Em 1932, Roosevelt pôde fazer uma
coalizão de meia dúzia de grupos. Com ela, os seu Partido Democrático conseguiu
exercer o poder em Washington durante um terço de século. Hoje um candidato tem
de montar uma coalizão composta não por quatro ou seis blocos de vulto, mas por
centenas de grupos, cada qual com a sua agenda, cada qual se alterando
constantemente, muitos sobrevivendo apenas uma questão de meses ou semanas.
(Isso, e não apenas o custo da propaganda pela televisão, ajuda a explicar o
crescente custo das eleições.) (....) A
democracia de massa não sabe como lidar com mosaicos. Isso as deixa duplamente
vulneráveis a ataques pelo que poderíamos chamar de "minorias
provocantes". (....) Pressione qualquer sistema em demasia que ele violará
suas regras tradicionais e agirá de forma bizarra. (....) Estamos entrando numa nova etapa de
política que poderia ser chamada de ": era da oportunidade" para as
minorias provocantes. (....) Os lídres estão vendo os eleitorados
esfacelarem-se em inúmeros grupinhos que defendem um só problema, que
continuamente formam, desfazem e tornam a forma alianças - tudo em alta velocidade.
Um exemplo do efeito bola de neve, é
dado pelos meios de comunicação de massa. Ao focalizar com uma câmera portátil,
um repórter pode projetar instantâneamente o mais pequenino grupo de
excêntricos ou teroristas políticos na consciência do mundo e dar a ele uma
importância muito maior do que aquela que ele poderia conseguir sozinho. Uma
vez acontecido isso, o grupo se torna "notícia", e outros meios de
comunicação cobrem suas atividades, o que, por sua vez se transforma em uma
notícia ainda mais importante. Cria-se o "circuito da realimentação
positiva".
Os grupos de ódio irão proliferar à
medida que a insatisfação social aumentar. Esses grupos irão tentar
infiltrar-se nos órgãos policiais a fim de facilitar atos de terrorismo
interno. "Se eu fosse racista, que melhor lugar para iniciar meu
cronograma secreto do que por trás da proteção de um distintivo?",
pergunta um especialista do FBI.
Enquanto estamos ocupados celebrando o
suposto fim da ideologia, da história e da Guerra Fria, podemos nos ver cara a
cara com o fim da democracia tal como a conhecemos - a democracia de massa. A
economia avançada, baseada em computadores, informações, conhecimento e
intensas comunicações, põe em dúvida todas as tradicionais defesas da
tecnocracia, desafiando-nos a redefini-las em termos do século XXI.
21. - O PARTIDO
INVISÍVEL
Burocratas, e não
autoridades eleitas democraticamente, dirigem essencialmente todos os governos
numa base diária, e tomam a esmagadora maioria das decisões publicamente
creditadas a presidentes e primeiros-ministros.
Não importa quantos
partidos concorram uns com os outros nas eleições, e não importa quem recebe a
maioria dos votos, porque um único partido vence sempre: é o Partido Invisível
da Burocracia. (....) A oposição à privatização e a medidas semelhantes não é
"progressista". É uma defesa do Partido Invisível não eleito.
O governo do Japão
decidiu que não precisava estar no ramo da exploração de ferrovias. Quando
anunciou os planos de vender a Ferrovias Nacionais do Japão, os empregados
entraram em greve. (Eu observo: realmente o nosso Alvim precisava passar uma
temporada por aqui.) (....) A privatização não é a única maneira pela qual os
governos estão, conscientemente ou não, tentando enfrentar as novas realidades.
Os governos estão se aproximando do princípio de que sua tarefa é garantir a
prestação de serviços, não de prestá-los. (....) Grande parte do trabalho dos
chefes de estado tem sido:
• fazer escolhas entre opções (preparadas
com antecedência pelas burocracias);
• a respeito de problemas sobre os quais
eles só têm uma noção superficial;
• mas só quando as diferentes partes de
sua burocracia não conseguem chegar a um
acordo.
O abuso de drogas
requer uma ação integrada por muitas burocracias ao mesmo tempo: polícia,
autoridades do setor de saúde, escolas, o ministério das relações exteriores,
etc. Mas, conseguir que todas elas ajam efetivamente em conjunto é quase
impossível. (....) Levados pela frustração, alguns líderes políticos passam a
desprezar seus funcionários públicos briguentos e se apóiam cada vez mais
fortemente em amigos íntimos, ações secretas, ordens informais e acordos que
contornem e cheguem mesmo a subverter a burocracia. Mas sempre que um líder
contorna a burocracia dessa maneira, surgem dela avisos terríveis de que vai
haver um desastre. (Eu lembro: Collor.)
O que podemos
esperar ver, portanto, é uma luta mais acentuada entre políticos e burocracias
pelo controle do sistema, enquanto fazemos a perigosa passagem de uma
democracia de massa para uma democracia de mosaicos.
22. - INFOTÁTICAS
Quanto mais dados,
informações e conhecimento são usados na tarefa de governar, mais difícil
poderá ficar para alguém saber realmente o que está acontecendo.
Falar em
"governo aberto", "cidadãos informados" ou "o direito
que o público tem de saber" continua sendo retórica. Porque essas
infotáticas põem em questão alguns de nossos mais básicos pressupostos
democráticos. (....) Em 1967, Lindon Johnson declarou: "A liberdade de
informação é tão vital, que só a segurança nacional, não o desejo de
autoridades ou cidadãos privados, deve determinar quando ela deverá ser
restringida". Um repórter perguntou se podia obter uma cópia daquelas
observações. Johnson recusou-se terminantemente. (....) A "Tática do
Segredo" é a primeira, provavelmente a mais velha e mais penetrante
infotática. Alguns governos são verdadeiramente paranóicos. Praticamente tudo
que fazem é segredo, a menos que declarado especifricamente em contrário.
Chegam até mesmo a manter a informação secreta até mesmo de quem dela precisa,
só por medo de vazamento. (....) Diz um ex-diretor da Casa Branca: "As
pessoas aprenderam logo que nunca deveriam escrever coisa alguma numa folha de
papel que não quisessem ver na primeira página do The Washington Post".
Qualquer dado,
informação ou conhecimento comunicado requer: (1) uma fonte ou remetente; (2)
um conjunto de canais ou meios de comunicação por onde a mensagem passa; (3) um
receptor; e, naturalmente, (4) uma mensagem. Os jogadores do poder intervêm em
cada um desses pontos. (....) Um exemplo de "Tática da Fonte
Mascarada": O KGB e a CIA canalizam fundos para publicações, sindicatos
trabalhistas e outras instituições em
países-alvo e ajudam a instalar organizações amistosas. Esta tática é a
base para grupos de fachadas de todas as cores políticas. (....) Outro exemplo:
uma assassina descreveu assim, o modo como exerceu pressão sobre um carcereiro
que a importunava: "Felizmente, as prisões estão cheias de idealistas. E
assim, eu pude conseguir que uma outra interna escrevesse ao político para
mim", ocultando a verdadeira fonte da mensagem. (....) "Tática do
Canal Duplo": envio de mensagens altenativas ou contraditórias por dois
canais diferentes, para testar reações ou semear confusão e conflito entre os
destinatários. (....) "Tática do Acesso": significa a tentativa de
controlar o acesso ao superior e, com isso, controlar a informação que ele, ou
ela, recebe. Os executivos e as secretárias conhecem bem esse jogo. (....)
"Tática do Não Precisa Saber" - um ex-secretário da Casa Branca
exemplifica: "Será que eu, como alto funcionário, devo saber de alguma
coisa? Saber de alguma coisa significa que tenho de tomar providências? Será
que uma pessoa que me contou se dirige a uma outra e diz: "Já discuti isso
com a Casa Branca?" Isso poderia me colocar numa violenta disputa entre
dois outros jogadores sobre os quais eu nada sei e com os quais nada tenho a
ver. Havia muita coisa que eu não queria saber." (....) "Tática do Obrigado a Saber" ou
"Tire o Seu da Reta": o participante do jogo do poder providencia
para que outro jogador seja avisado de alguma coisa, de modo que , se houver um
fracasso, o receptor possa partilhar da culpa. (....) "Tática da Escolha
do Momento": sabe-se que redatores de discurso entregam seus rascunhos de
um discuroso presidencial no último momento possível, dando a outros
funcionários um tempo mínimo para alterar o texto. (....) "Tática da
Grande Mentira": Josef Goebbels dizia que se uma mentira for
suficientemente grande, será aceita mais depressa como verdade do que qualquer
quantidade de simples mentirinhas.
Winston Churchill se recusava a ler
análises dos serviços de informações "peneiradas e condensadas",
insistindo em ler os documentos autênticos. Mas é obviamente impossível a qualquer pessoa que
tome decisões ler todos os dados brutos, todas as informações, e se envolver
com todo o conhecimento necessário à decisão. (Eu observo: agora imagine-se o
pobre coitado do Lula. É ele com seus rudimentares conhecimentos que irá
governar o país? Se não, e é nisso o que eu acredito, o que esperar da
manipulação da informação que será feita pela cúpula do PT no poder?)
Políticos e burocratas espertos sabem,
no íntimo, que dados, informações e conhecimento são armas contra os
adversários nas lutas pelo poder que constituem a vida política. (....) Agora,
a luta pelo poder se altera quando o
conhecimento sobre o conhecimento se torna a principal fonte de poder. Estamos prestes a entrar na era das
"metatáticas" nas usinas de trabalho mental que chamamos de governo,
deslocando todo o jogo do podedr para um nível ainda mais alto.
23. - METATÁTICAS
As contas de
lucros, tal como as lingüiças, são mais apreciadas por queles que menos sabem o
que há dentro delas. (....) Quando a GM pode acrescentar legalmente quase US$2
bilhões aos seus lucros (declarados) em um ano, mediante a alteração do prazo
em que deprecia suas fábricas, modificando a forma de prestar informações sobre
seu plano de pensões, mexendo no valor atribuído a seus estoques, e mudando o
suposto valor dos carros que ela aluga pensem no que os governos ou seus órgãos
podem fazer com a contabilidade desles. Apesar de que eles vêem fazendo isso
desde invenção dos livros razão, no
século XIV. (....) Mas a política diz respeito ao poder, não à verdade. As
decisões não são baseadas em descobertas "objetivas" ou num
entendimento profundo mas no conflito de forças, cada qual perseguindo seu
interesse próprio percebido.
O departamento de Justiça do EUA definiu
uma dúzia de diferentes métodos usados na atividade criminal baseada em
computadores. Eles vão da troca ou da alteração de dados, à medida que entram
no computador, a colocar instruções autodissimulantes no programa, a ligar um
ramal nos computadores. Já é possível a um advogado inescrupuloso adversário de outro, recolher informações
comprometedoras mediante o acesso ilegal ao computador dele, e isso pode ser
feito com um equipamento comprado na Radio Shack da estquina.
O advento da contagem de votos
computadorizados nas últimas duas décadas criou o potencial para fraude e erro
nas eleições numa escala nunca dantes imaginada. O resultado de uma eleição
pode ser alterado com a adição ou a subtração de um pequenino - e despercebido
- número de votos em cada seção. (Eu observo: é aí que a justiça eleitoral erra
ao proibir a divulgação de pesquisas eleitorais. Ela é a única maneira de se
levantar a suspeita de que houve fraude na apuração.) (....) A maioria dos que
tomam decisões raramente questionam os números que foram mastigados para eles.
(Eu acrescento: e assim, cada vez mais e mais porque mais dependentes do
conhecimento de outros eles estarão.)
Dados, informações
e conhecimento não precisam ser "exatos" ou "verdadeiros"
para fazer um oponente subir pelos ares. (....) Os metatáticos atacam o banco
de dados não pelo controle de acesso a ele, mas determinando aquilo que pode ou
não ser incluído nele. (....) Companhias
em todos os setores pressionam o Censo para fazer, ou evitar fazer, certas
perguntas. Por exemplo, ele já foi solicitado a incluir uma pergunta sobre
casas móveis no seu levantamento da área habitacional, a fim de fornecer dados
de que uma companhia daquele setor precisava.
(Eu observo: as metatáticas são
possíveis porque os dados são manipuláveis de acordo com o objetivo que se
deseja atingir. Senão, vejamos o que o
Alvin diz:) Pra obter um retrato verdadeiro das necessidades da população
quanto à saúde, deveríamos contar pacientes? Curas? Expectativa de vida?
Mortalidade infantil? A escolha de um indicador ou grupo de indicadores irá
afetar fortemente o resultado. Os metatáticos conhecem o Princípio do WYMIWYG -
What you Measures Is What You Get (O que Você Mede É o que Você Obtém).
Antes os problemas
estavam ligados, em sua maiora, a entender os dados. Agora, eles estão mais em
filtrá-los e interpretá-los. (....) Em todo o mundo, durante todo o tempo, quem
esteve no poder sempre manipulou a verdade para atender a suas necessidades. O
que está mudando de maneira dramática é o nível no qual esses jogos mentais são
jogados. (....) Qual o grau de precisão que as decisões podem atingir, quando
todos os dados e informações sobre os quais elas se baseiam são vulneráveis a
uma repetida e invisível "metamassagem". Por trás de quase todos os principais temas políticos
encontramos equipes de modeladores e contramodeladores fornecendo a
matéria-prima para esse tipo de controvérsia política. Em suma, está surgindo
um novo estágio de conflito político - uma batalha a respeito das suposições
que estão por trás de suposições que estão por trás de outras suposições mais,
muitas vezes inseridas em complexos programas de computador.
Apesar da
transparência, apesar da legislação, apesar dos vazamentos e da dificuldade que
os governos atuais enfrentam para manter as coisas em segredo - apesar de tudo
isso e mais alguma coisa -, as operações verdadeiras daqueles que de detém o
poder podem muito bem estar ficando mais opacas, e não menos. Esse é o
"meta-segredo" do poder.
24. - UM MERCADO
PARA OS ESPIÕES
Entre as atividades
em grande expansão nas décadas futuras, a espionagem será uma das maiores. Os
espiões não só vieram para ficar, mas estamos prestes a ver todo o setor
revolucionado. Encontrar a informação certa, analisá-la de forma correta e
levá-la ao cliente certo e a tempo, estão se revelando problemas maiores do que
coletá-la. (....) O espião do futuro é o engenheiro que mora tranqüilamente no
mesmo quarteirão que nós e que nunca faz coisa alguma mais violenta do que
virar uma página de um manual ou ligar o seu microcomputador. (....) Um diia,
países poderão soltar insetos geneticamente alterados contra um adversário, ou
tentar modificar as condições climáticas. (Eu exclamo: um dia! O nosso Alvin
ainda tem dúvida de que, por exemplo, produtores de laranja dos EUA não estão
contratando gente para semear pragas em plantações de países competidores?)
Países como o
Brasil estão trabalhando com afinco no desenvolvimento de satélites. A Inscom,
uma operação conjunta entre o Brasil e a China, visa combinar os conhecimentos
técnicos brasileiros sobre satélites com a capacidade chinesa de lançamento de
foguetes.
Os atos mais
abertos do homem, escreveu Joseph Conrad, têm um lado secreto. As democracias,
também, por mais abertas que sejam, têm um lado secreto. A maneira de
controlarmos esses segredos - e, na verdade, o conhecimento em geral - se torna
o principal problema político da Era da Powershift.
25. - A INFOAGENDA
O escândalo
Irangate foi um duelo decisiivo entre a Casa Branca e um ultrajado Congresso
americano pelo controle da política externa norte-americana. Essa batalha pelo
poder girava em torno da recusa da Casa Branca de informar o Congresso de suas
atividades secretas. Irangate tornou-se uma info-guerra. (....) O poder do
Estado sempre se apoiou no controle que ele exerce sobre a força, a riqueza e o
conhecimento. O que é profundamente diferente hoje é a relação entre os três.
Um público cujo
meio de vida provém cada vez mais da manipulação de símbolos fica também cada
vez mais sensível ao poder neles contidos. Uma das coisas que ele já está
fazendo é reivindicar um "direito de saber" cada vez mais amplo. (Eu
observo: o exemplo mais claro de como este conceito está entrando na vida
prática dos cidadãos é o que ocorre no mundo da micro-informática, toda baseada
na manipulação de símbolos e do poder neles contido.) (....) Entre 1957 e 1985,
pelo menos 30 vezes - mais de uma por ano - a fábrica de armas nucleares às
margens do rio Savannah, perto de Aiken, Carolina do Sul, sofreu o que um
cientista posteriormente classificou de "incidentes de reatores da maior
importância". Nem um só deles foi comunicado aos residentes do local.
Em Osaka, no Japão,
cidadãos formaram uma "Rede Kansai do Direito de Saber", que tem
organizado, desde a sua criação, o que eles chamam de
"excursões" a governos
municipais e provinciais, com a finalidade de exigir acesso a informações até
então restritas. As autoridades não se recusam a responder. Simplesmente nunca
respondem.
O futurista e
ex-diplomata Harlan Cleveland escreveu sobre "a loucura de se recusar a
dividir algo que não pode ser possuído: "O que constrói uma grande
companhia ou uma grande nação não é a proteção daquilo que ela já sabe, mas a
aquisição e a adpatação de novos conhecimentos de outras companhias ou nações.
Como pode a propriedade intelectual ser protegida? A pergunta contém as
sementes da sua própria confusão: trata-se de o verbo errado sobre o
substantivo errado." Este pensamento é o sonho das nações mais pobres da
Terra para que recebam a ciência e a tecnologia necessáias para que se libertem
do subdesenvolvimento econômico. (....) O controle de intangíveis - idéias,
cultura, imagens, teorias, fórmulas científicas, programas de computadores -
irá consumir uma atenção política cada vez maior em todos os países, na medida
em que a pirataria, a falsificação, o roubo e a espionagem tecnológica
ameaçarem interesses privados e nacionais cada vez mais vitais.
A desigualdade, há
muito associada primordialmente com a renda, está passando a ser associada a
fatores tecnológicos e ao controle político e econômico do conhecimento. (....)
Qual o papel que irão representar os meios de comunicação nas guerras e
revoluções do futuro?
26. - OS CRIADORES DE IMAGENS
As economias
avançadas requerem uma força de trabalho com altos níveis de sofisticação
simbólica. Ela precisa de trabalhadores que possam se adaptar rapidamente a
repetidas mudanças nos métodos de trabalho, na organização e na vida diária, e
que até mesmo possam prevê-las. (....) O que a teoria da venda global tem
errado é que ela faz pouca distinção entre regiões e mercados do mundo. Não se
pode esperar que o mesmo marketing ou a mesma propaganda funcione em todos as
culturas.
A teoria de Levitt
(da globalização de mercados) também subestiima drasticamente o impacto
econômico de preferências e pressupostos culturais numa época em que a cultura
está ficando mais importante, e não menos. Nem mesmo uma Europa unificada pode
ser considerada como uniforme. Segundo esse relatório, as donas de casa
francess preferem máquinas de lavar roupas que são carregadas por cima,
enquanto as inglesas gostam mais das que são carregadas pela frente. Na
prática, a simplista teoria da venda global foi desastrosa para as firmas que a
aplicaram. (Eu acrescento: no Brasil, um dos éxemplos mais recentes é o da
Benetton que não consegue sair do vermelho mas insiste - por obrigações
contratuais, com certeza - em se utilizar de uma "linguagem" de
comunicação que não sensibiliza o brasileiro.) (....) Em vez de uma aldeia
global, deveremos ver uma multiplicidade de aldeias globais inteiramente
diferentes - todas ligadas ao novo sistema de meios de comunicação, mas todos
lutando para reter ou ampliar sua individualidade cultural, étnica, nacional ou
política. (....) O deslocamento de um ambiente de meios de comunicação de baixa
escolha para um outro de alta escolha tem implicações não apenas culturais mas
políticas. Os governos de alta tecnologia enfrentam um futuro no qual o povo
será bombardeado por mensagens comerciais, culturais e políticas múltiplas,
conflitantes e dirigidas a públicos específicos, e não por uma única mensagem
repetida em uníssono por poucas agências gigantes de comunicação. A velha
"política da mobilização em massa" e a "engenharia da
aquiescência" se tornam muitíssimo mais difíceis no novo ambiente dos
meios de comuncicação. (....) O sistema global dos meios de comunicação não
fará com que nações se comportem como escoteiros. Mas eleva o custo de desafiar
a opinião mundial. (....) Quando jesuítas são mortos por um esquadrão da morte
em El Salvador, o mundo inteiro fica sabendo. Quando um sindicalista é preso na
África do Sul, a notícia se espalha. Os novos meios globais de comunicação
estão basicamente funcionando para obter lucro. Mas estão inadvertidamente
elevando o nível da aação política além-fronteiras por parte de um estonteante
diversidade de gurpos ativistas. (....) O novo sistema global de meios de
comunicação tornou-se, de fato, a principal ferramenta da revolução no mundo de
hoje que se altera com rapidez.
27. - MEIOS DE COMUNICAÇÃO SUBVERSIVOS
"O que
aconteceu nas Filipinas foi um passo épico para um novo tipo de revolução - uma
revolução via meios de comunicação e via símbolos". No início, o
presidente Reagan apoiou Marcos. Mas à medida que a cobertura pela televisão
continuava, os americanos viam simpáticos manifestantes pacíficos da classe
média sendo agredidos pelos asseclas de Marcos, e a posição de Reagan começou a
mudar. O critico de televisão de The Washington Post escreveu o seguinte:
"Não ficaba bem ser aliado desse homemzinho mau da tevê".O meio que
George Orwell via como instrumento da escravização (a televisão) mostrou ser o
libertador. (....) A multidão foi, de fato, o primeiro meio de comunicação em
massa. Mas não foi o único meio de comunicação pré-tecnológico. No Ocidente,
durante a era medieval, a Igreja Católica, devido à sua extensa organização,
foi o que mais se aproximou de um meio de comunicação em massa - e o único
capaz de transmitir a mesma mensagem a grandes populações além das fronteiras
políticas. (Eu observo: a crise da Igreja católica, principalmente, está
exatamente no fato de que, por ela, a informação chega 1 vez por semana na
missa das 6, enquanto pela televisão, ela chega todos os dias no telejornal das
8.) (....) Um programa de rádio na base de telefonemas, que une ouvintes e
comunicadores através das linhas telefônicas, torna-se tema de um filme em
1988, Talk Show, que por sua vez é exibido na televisão por cabo e comentado na
imprensa e depois - quem sabe? - discutido em programas de rádio que recebem
telefonemas dos ouvintes. (....) Muitos corespondentes europeus em Washington
vêem a cobertura ao vivo da CNN e escrevem suas reportagens baseados no que a
televisão lhes mostra. De meio de comunicação, a tevê passa a ser a fonte. (....) O que está funcionando, portanto, não
é a "videocracia", mas a "fusão dos meios". À fusão devemos
acrescentar a "difusão", pois nenhuma parte do mundo está, agora,
completamente isolada do resto. As mensagens atravessam as fronteiras mais
rigorosamente vigiadas. (....) A Igreja
exerce o poder no mundo de hoje em parte devido à sua influência moral e aos
seus recursos econômicos, mas também porque continua servindo de meio de
comunicação em massa.
28. - A GERAÇÃO DOS
TELEMANÍACOS
A infra-estrutura
eletrônica das economias avançadas terá seis características distintas, algumas
das quais já foram prenunciadas. Essa meia dúzia de chaves para o futuro é
constituída das seguintes: interatividade, mobilidade, conversibilidade,
conectividade, ubiqüidade e globalização.
A interatividade é
a possibilidade de o usuário interagir com o meio de comunicação.
A mobilidade é a
capacidade de comunicação de qualquer parte para qualquer parte.
A conversibilidade
é a capacidade de transferiir informação de um meio para outro.
A conectividade é a
capacidade de ligar os aparelhos não importando quais tenham sido o fabricante
e o país de origem dos equipamentos.
A ubiqüidade é a
disseminação sistemaática do novo sistema de meios de comunicação pelo mundo e
por todas as camadas econômicas da sociedade. Um pesadelo potencial enfrentado
pelos governos de alta tecnologia origina-se da divisão da população em
inforrica e infopobre. Qualquer governo que não tome providências concretas
para evitar essa divisão procura uma crise polítcia no futuro. Diz essa lei que
irão surgir grandes incentivos tanto comerciais como políticos para tornar a
nova infra-estrutura eletrônica inclusiva, e não exclusiva. Com as máquinas de
fax começando a substituir os correios da era industrial, pressões semelhantes
estão acelerando a disseminação da nova tecnologia. Como aconteceu com os telefones e com os gravadores de vídeo, as
máquinas de fax vão começar a aparecer até mesmo nas mais humildes das casas,
levadas pela Lei da Ubiqüidade.
A globalização é o
que se chama em publicidade de "cobertura", ou seja, a capacidade de
alcançar qualquer parte do globo, independente de fronteiras nacionais. As
fronteiras mentais do Estsado se tornam tão permeáveis quanto suas fronteiras
financeiras. (....) A combinação desses
6 princípios produz um revolucionário sistema nervoso para o planeta, capaz de
processar quantidades muitíssimo maiores de dados, informações e conhecimento a
taxas de transmissão e processamento muito mais altas.
É uma atitude
simplista presumir que todos os que estão na subclasse sejam
"vítimas" da sociedade ou do desemprego. Muitos estão lá por outras
razões. (....) Para ter realmente condições de ser contratado, um trabalhador
deve partilhar certas compreensões culturais implícitas sobre coisas como
tempo, traje, cortesia, dinheiro, causalidade e liguagem. Acima de tudo, terá
de ser capaz de obter e trocar informações. Essas qualificações pressupõem uma
familiaridade com a maneira pela qual o mundo além da rua em que se mora
funciona. (....) A justiça social e a
liberdade dependem, agora, cada vez mais da maneira pela qual a sociedade trate
3 problemas: educação, tecnologia da informação e liberdade de expressão.
(....) Tal como as redes de tevê da
Segunda Onda, nossos sistemas de educação em massa estão, em sua grande parte,
obsoletos. Um sistema de alta opção terá de substituir um sitema de baixa opção
se as escolas quiserem preparar as pessoas para uma vida decente na nova
sociedade da Terceira Onda. (....) Nenhuma nação pode fazer funcionar uma
economia do século XXI sem uma infra-estrutura eletrônica do século XXI. Isso
requer uma população tão familiariczada com essa infra-estrutura informacional
quanto com carros, estradas, trens e etc. do período das chamiinés.
Nem todo mundo, é
claro, precisa ser engenheiro de telecomunicaões ou perito em computadores,
assim como nem todos precisam ser mecânicos de automóveis. Mas o acesso ao
sistema deve ser tão fácil quanto o acesso, hoje, ao sistema de transportes. A
lei da uniqüidade deve ser acelerada - ou seja, fazer com que todos os cidadão,
pobres e ricos, tenham garantido o acesso à maior gama possível de meios de
comunicação. (....) Assim como o Estado inventou novas formas de controle da
mente quando a revoluçvão industrial criou os meios de comunicação em massa,
ele irá procurar novos intrumentos e novas técnicas para reter pelo menos um
certo controle sobre as imagens, idéias, símbolos e ideologias que atingem o
seu povo através da nova infra-estrutura eletrônica. (....) Nenhuma sociedade
pode tolerar uma total liberdade de expressão. Liberdade total de informação
iria significar uma falta total de privacidade individual. (....) Com a
ascensão da ciência e com a revolução industrial, passou a existir uma nova
teoria radical: a de que para que houvesse "progresso" era necessário
haver mentes livres dos grilhões do Estado ou da religião. Mas a população à
qual isso se aplicava era uma fração do total.
(....) A luta pela livre expressão, outrora no âmbito dos intelectuais,
se torna, assim, um assunto que preocupa todos os que sejam a favor do avanço
econômico. A liberdade de expressão já não é uma sutileza política, mas uma
precondição para a competitividade econômica.
CODA: A ÂNSIA POR
UMA NOVA IDADE DAS TREVAS
Nada irá evitar que
o Estado canalize riqueza para suas mão e disponha dela para aumentar ainda
mais o seu poder. O que deverá mudar é a capacidade de o Estado cotrolar o
conhecimento. (....) Pensem nas consequêncisas de outra ecocatástrofe, como a
de Bhopal, em Seattle, por exemplo, seguida por confusão e uma monstruosa
corrupção na campanha de auxílio às vítimas, em meio de gritos fundamentalistas
de que o desastre foi aplicado por Deus como castigo pela permissividade e pela
imoralidade. Imaginem tudo isso acontecendo num momento de profundas
dificuldades econômicas. Imaginem um atraente e bem articulado
"Eco-Adolf" que prometa não apenas resolver a crise imediata, mas
"purificar" a sociedade material, moral e politicamente... (....) A
única maneira de os humanos viverem em harmonia com a natureza é viver a um
nível de subsistência. (....) É um erro achar que os ecológicos são um fenômeno
isolado ou trivial. Como outros, os movimentos verdes produzem ultras que
ficariam felizes em acabar com a democracia. Nos seus extremos, esses dois
movimentos podem estar convergindo para impor novas restrições ao comportamento
pessoal e político em nome do Verdor.
(....) Mas a xenofobia, o chauvinismo, o ódio ao que é marginal, ao
estranho, ao estrangeiro, continuarão a ser um instrumento do poder do
Estado. (....) Os Europeus estão
nervosos com relação aos planos de uma rede marroquina para iniciar
transmissões em árabe, via satélite, para os 11 milhões ou mais de imigrantes,
principalmente muçulmanos, do norte da África que estão na Europa. A
preocupação aumentou quando os fundamentalistas muçulmanos obtiveram secessos
eleitorais na Argélia secular. (....) Alimentados por um temor de que os EUA
estejam num declínio econômico e militar, cansados de ouvir dizer que são
demasiado imperialistas, materialistas, violentos, sem cultura etc. até
norte-americanos normalmente apolíticos estão respondendo à demagogia
nacionalista. O sentimento contra a imigração é violento. (....) Em vez de
levantes democráticos, as sublevações na Europa oriental poderiam ser descritas
igualmente como levantes nacionalistas entre nações curvadas durante quase meio
século diante da vontade soviética. (....) Reformular
o conceito de "nação" é uma das tarefas mais emocionantes e
importantes a enfrentar o mundo nas décadas decisivas que estão à nossa frente.
O tribalismo e o nacionalismo cegos são perigosos e regressivos. E quando
ligados à idéia de superioridade racial ou concedida por Deus, provocam
violência ou repressão. (....) (As coisas vão tão longe que) o Pamyat,
organização anti-semita, antiestrangeiros, na URSS, exige um retorno maciço à
terra e um renascimento da "secular instituição do lavrador". (....)
Mas enquanto a velha sociedade industrial entra no seu desmaio final, são
criadas forças contrárias que poderiam destruiir tanto a democracia como a
opção de progresso econômico.
SEXTA PARTE: A
POWERSHIFT PLANETÁRIA
29. - O "FATOR
C" GLOBAL
Ao invés de
lidarmos com grandes quantidades de matéria, agora podemos criar uma camada de
matéria tão incrivelmente fina, que, nas palavras da revista Science, "os
elétrons ficam efetivamente movendo-se em apenas duas dimensões. Em breve
poderemos montar coisas um átomo de cada vez. Isso não é "progresso",
mas revolução. (....) Enquanto a Europa, o Japão e os EUA passsavam para formas
de fazer riqueza da Terceira Onda, eles passavam as velhas tarefas da Segunda
Onda para outra faixa de nações. Isso acelerou a sua industrialização e elas
deiixaram os outros PMD para trás.
30. - OS RÁPIDOS E OS LENTOS
O efeito
aceleração, ao fazer com que cada unidade de tempo poupado fique mais valiosa
do que a anterior, cria um arco de reestimulação positiva que acelera a
aceleração. Esta é a economia "rápida" do amanhã. Como tal, ela
também é a fonte de um grande poder. Ser desligado dela é ser excluído do
futuro. No entanto, é este o destino que enfrentam muitos dos PMD, ou países
menos desenvolvidos, de hoje. (....) Variações em impostos, tarifas e taxas de
câmbio e outros fatores ainda influenciam as empresas quando são tomadas as
decisões quanto a investimentos ou compras no exterior.
A aggar Apparel de
Dallas, reabastece seus 2.500 clientes com calças compidas de 3 em 3 dias, em
vez das 7 semanas que precisava antes. Ao contrário, na China, em 1988 quando
sofreu uma terrível escassez de aço, 40% da produção total anual do país
permanecia trancafiada nos armazéns da Storage and Tnasportation General
Corporation. Por quê? Por incrível que possa parecer, ela só fazia entregas
duas vezes ao ano. A organização simplesmente não estava preparada para fazer
entregas mais freqüentes. (....) Muitos negócios entram em colapso quando um
fornecedor de um país lento não cumpre os prazos prometidos. O ritmo diferente
da vida econômica nos dois mundos resulta numa paralisia intercultural. (....) Uma das maneiras de pensar no poder
econômico ou na falta dele por parte dos PMD é perguntar o que eles têm para
vender ao resto do mundo. Podemos começar por um recurso escasso que só poucos
países, num dado momento, podem oferecer ao resto do mundo: localização
estratégica. Para Cuba, a concessão aos soviéticos de uma cabeça-de-ponte a
A má distribuição das telecomunicações
no mundo de hoje é ainda mais dramática do que a má distribuição de alimentos.
Há 600 milhões de telefones no mundo - com 450 milhões em apenas nove países.
Para se ligarem na nova economia mundial, países como o Brasil, devem encontrar
os recursos necessários para instalar suas infra-estruturas eletrônicas. Estas
deverão ir muito além de meros serviços telefônicos, para incluir sistemas de
dados modernos, de alta velocidade, capazes de serem ligados às redes globas de
última geração. (....) O sistema Irídio, por exemplo, anunciado pela Motorola,
Inc., irá colocar 77 pequeninos satélites em órbita baixa, permitindo que
milhões de pessoas em regiões remotas ou esparsamente provoadas como o Ártico
soviético, o deserto chinês ou o interioir da África enviem e recebam voz,
dados e imagens digitalizados através de telefones portáteis. (....) A produção
em larga escala e a hiperconcorrência entre fornecedores americanos, europeus e
japoneses também irão reduzir os custos. (....) O hiato que deve ser fechado é
informacional e eletrônico. É um hiato não entre o Norte e o Sul, mas entre os
lentos e os rápidos.
31. - A COLISÃO DO SOCIALISMO COM O FUTURO
Os governos
comunistas europeus orientais caíram como peças de um jogo de dominó tão logo
Moscou enviou o recado de que já não usaria mais tropas para protegê-los contra
o povo. Mas a crise do socialismo, como um sistema, na URSS, na China e outros
países tinha uma base muito mais profunda. O aparecimento do computador e dos
novos meios de comunicação em emados do século XX derrubou o controle da mente
por Moscou nos países que ela governava ou mantinha cativos. Gorbachev
declarou: "Fomos quase os últimos a perceber que na era da ciência da
informação o bem mais caro é o conhecimento". (....) No Brasil (...) ainda
existem os crentes sinceros que, apesar de todas as provas em contrário, ainda
consideram a "propriedade pública" "progressista" e
resistem a todos os esforços no sentido de desnacionalizar ou privatizar a
economia. Através das últimas décadas, grande número de homens e mulheres deram
a vida por esse problema. O que nenhum
dos lados imaginava era que um novo sistema de criação de riqueza iria tornar
obsoletos praticamente todos os seus argumentos. A mais importante forma de
propriedade é, agora, intangível. É supersimbólica. É o conhecimento. É ele que
impulsiona a economia, e não a economia que impulsiona o conhecimento.
32. - O PODER DO EQUILÍBRIO
Enquanto 2
ex-superpotências reduzem seu armameto, outras nações estão correndo para
preencher o vácuo. (....) A Índia tem
sido o maior comprador de armas do mundo desde 1986, comprando em 87 mais armas
do que o Irã e o Iraque, que estavam em guerra juntos. Egito, Iraque e
Argentina são sócios num projeto de
fabricação de mísseis. (....) Uma alta autoridade soviética, falando em
"off" disse: "Eu era contra a SDI (o Guerra nas Estrelas), mas
agora sou a favor. Se a URSS se dividir, o mundo poderá se ver de repente
diante de mais 10 países que contam com armas nucleares. (Eu lembro: a URSS,
efetivamente, se dividiu.)
Na longa guerra
fria, foram os EUA com equilíbrio de poder (força, riqueza e conhecimento), e
não a URSS de uma perna só, que ganharam a corrida de resistência. Essa
percepção ajuda a explicar grande parte do que a Europa, o EUA e o Japão estão
fazendo enquanto correm em direção à colisão, que está próxima.
33. - TRÍADES:
TÓQUIO - BERLIM - WASHINGTON
Até pouco tempo
atrás o Japão era uma nação de uma perna só. A perna do dinheiro. O orçamento
militar japonês é, agora, o terceiro do mundo em tamanho, depois dos EUA e da
URSS. Ele está visando a
auto-suficiência militar, uma preliminar para a insinuação, nos mais corteses
termos, de que as forças norte-americnas já não são mais necessárias no Japão -
ou na região. O Japão precisa de um poderio militar que esteja à altura de sua
enorme e nova influência econômica. O Japão está correndo para equilibrar a sua
tríade. (....) Quanto à segunda perna do poder japonês, em 1986, o Japão se
tornou a maior nação credora do mundo. Em 87, o valor de todas as ações na
Bolsa de Tóquio ultrapassou "de longe" o de todas as ações na Bolsa
de N. Y. (....) As próximas décadas irão encontar um Japão muito menos estável
do que no presente, pois a era do crescimento linear está acabada. (....) Em 65, o número de engenheiros e
cientistas por 10 mil membros da força de
trabalho era, aproximadamente, a terça parte dos números dos Estados
Unidos. Em
34. - OS
GLADIADORES GLOBAIS
Quando um aiatolá
coloca seus seguidores à caça de um escritor inglês com a tarefa de matá-lo, o
que ele estava realmente dizendo era que os estados "soberanos" nada
têm de soberanos, mas estão sujeitos a uma soberania xiita mais alta, ou seja,
que uma religião ou uma igreja tem direitos que se sobrepõem aos de simples
nações-estados. (....) O mundo pré-chaminés era composto de cidades-estados,
portos controlados por piratas, principados feudais, movimentos religiosos, e
outras entidades, todas engalfinhando-se para conseguir o poder e assegurar
direitos que nós, hoje, presumimos pertencerem só aos governos. O que hoje
chamamos de nações eram poucas e se achavam muito distantes umas das outras.
Era um sistema heterogêneo. (....) Em seu extenso exame das atividades globais
relativas ao tráfico de narcóticos, James Mills escreve o seguinte: "(...)
o Império Subterrâneo tem, hoje, mais poder, riqueza e status do que muitas
nações. Ele não tem bandeira alguma hasteada no terraço das Nações Unidas, mas
conta com exércitos maiores, serviços de informações mais capazes, serviços
diplomáticos mais influentes do que muitos países. Exemplo é o dos cartéis de
droga da Colombia. (....) Os governos são demasiado burocráticos. Suas reações
são muito demoradas. (....) O termo multinacional é obsoleto. As megafirmas são
essencialmente nã0-nacionais. (....) A IBM Japão é, sob muitos aspectos, uma
firma japonesa. A Ford é dona de 25% da Mazda. A Honda constrói carros nos EUA
e os depacha para o Japão. A GM é a maior aconista da Isuzu. Elas hasteiam a bandeira
de seus clientes, não a de seu país. Qual é a nacionalidade da VISA
International se ela pertence a 21 mil instituições financeiras em 187 países e
territórios? (....) Mudanças como essa
irão nos obrigar a repensar conceitos emocionalmente carregados como
nacionalismo, neocolonialismo e imperialismo econômicos. (....)Se as forças
estatais ou intergovernamentais não
podem impor a ordem, poderá chegar o dia em que empresas transnacionais
perfeitamente comuns decidam que é necessário colocar suas próprias brigadas em
campo. A companhia age por conta própria porque não consegue que o seu
governo-sede proteja seus interesses. (....) É evidente que estaremos seguindo
em direção ao caos se novas leis internacionais não forem redigidas e novos
órgãos não forem criados para fazê-las cumprir.
Não é difícil imaginar um Conselho Global de Empresas Globais surgindo
para falar em nome dessas firmas de um novo estilo e para proporcionar um
contrapeso coletivo ao poder da nação-estado. Ao contrário do tradicional modelo
vertical, o novo achata a hierarquia em vez de estendê-la para cima. Ele será
baseado em redes de alianças, consórcios, órgãos reguladores especializados,
para atingir objetivos grandes demais para qualquer estado isolado. O Japão e
os EUA, por exemplo, estão tão entrelaçados econômica, política e militarmente,
que decisões em um deles têm imediatas consequências de alto impacto no outro.
(....) À medida que o mundo poassa a ter um caráter global vão espocar
exigências de participação política inter-nacional - e até mesmo de votação
inter-nacional - das vastas populações que agora se vêem escluídas das decisões
que moldam suas vidas. (....) De Charles Maurras, no século XIX: "de todas
as liberdades humanas, a mais preciosa é a independência do país de cada
um". Mas soberania e independência sempre foram um mito. (....) Um novo
conhecimento revirou o mundo que conhecíamos e abalou os pilares do poder que o
mantinham no lugar. Examinando os escombros, estamos todos juntos no Ponto
Zero.
CODA: LIBERDADE, ORDEM
E ACASO
O poder depende de
rachaduras na cadeia causal, acontecimentos que nem todos são pré-programados.
Em outras palavras, ele depende da existência do acaso no universo e no
comportamento humano. No entanto, o poder também não é capaz de funcionar num
universo inteiramente acidental. O poder implica, assim, um mundo que combine
acaso e necessidade, caos e ordem. (....) Todos nós partilhamos uma ânsia
irreprimível, biologicamente enraizada, por um pouco de ordem em nossa vida
diária, juntamente com uma fome pela novidade. É a necessidade de ordem que
oferece a principal justificativa para a existência mesma do governo. Perguntem
aos moradores da outrora bela Beirute o que significa viver num lugar onde nenhum governo tem poder suficiente para
governar. (....) Quando é que a ordem proporciona a necessária estabilidade à
economia (ou seja, "ordem socialmente necessária") e quando é que ela
estrangula o desenvolvimento necessário (ou seja, a mais-ordem)? (....)
Mais-ordem é o excesso de ordem imposta não para o bem da sociedade, mas
exclusivamente para o bem daqueles que controlam o Estado. O controle excessivo
é tão perigoso quanto o controle insuficiente.