EXTRATO
DE: OS PENSADORES VOL II
Ed. Abril Cultural – (.../1972/2021)
PLATÃO
DEFESA DE SÓCRATES
Esses [meus] acusadores são numerosos e vêm acusando há
muito tempo; mais ainda, falavam convosco na idade em que mais crédulos podíeis
ser, quando alguns de vós éreis crianças ou rapazes, e a acusação era feita a inteira revelia, sem
defensor algum.
Apurei que os poetas, por causa da poesia, supõem ser os
mais sbatios dos homens em outrops
campos, em que não o são. (...) Atenienses, achei que os bons artesãos têm o
mesmo defeito dos poetas; por praticar bem a sua arte, cada qual imaginava ser
sapientíssimo nos demais assuntos, os mais difíceis, e esse engano toldava-lhes
aquela sabedoria.
Quem se bate deveras pela justiça deve necessariamente, para
estar a salvo embora por pouco tempo, atuar em particular e não em público.
O
juiz não toma assento para dispensar o favor da justiça, mas para julgar; ele
não jurou favorecer a quem bem lhe pareça, mas julgar segundo as leis.
(...) vida sem exame não é vida digna de um ser humano (...)
[???]
Morrer é uma destas duas coisas: ou o morto é igual a nada,
e não sente nenhuma sensação de coisa nenhuma; ou, então, como se costuma
dizer, trata-se duma mudança, uma emigração da alma, do lugar deste mundo para
outro lugar. Se não há nenhuma sensação, se é como um sono em que o adormecido
nada vê nem sonha, que maravilhosa vantagem seria a morte!
XENOFONTE
DITOR E FEITOS MEMORÁVEIS DE SÓCRATES
LIVRO I
Ignora aquele que plantou um vergel quem lhe colherá os
frutos.
Por igualmente insensatos, porém, havia os que consultam os
oráculos sobre coisas que os deuses nos deram a faculdade de saber por nós
próprios.
Uns não respeitam nem templos nem altares, nem nada do que é
divino, outros reverenciam as pedras e as primeiras arvores e animais que lhes
aparecem pela frente.
Inatas na alma com o corpo, as paixões incitam a pôr de lado
a sabedoria e a satisfazer o mais presto os apetites sensuais.
Sem a esperança do sucesso nenhum prazer experimentamos.
LIVRO II
Disse algures Hesíodo: “O
vício é sedutor e fácil, seu caminho lhano e breve. Antes da virtude, porém,
colocaram os deuses o suor, e a vereda que leva ao cimo é áspera, fragosa e
árdua: ganhando-se o alto, todavia, aplaina-se o caminho”.
Qual o bem comparável a um amigo sincero? Qual o cavalo,
qual a parelha tão útil como um bom amigo? Qual o escravo tão devotado, tão
fiel? Qual o bem tão proveitoso? Um bom amigo está sempre pronto a
substituir-se ao amigo em tudo o que preciso for (...).
Os que desejam as honras e a autoridade em sua pátria, a fim
de pilhar livremente os fundos públicos, violentar os cidadãos e viver na
indolência, são corações injustos, perversos, incapazes de qualquer afeição.
Quais os mais justos, os que trabalham ou os que sem nada
fazerem, sonham com os meios de subsistir?
[Em defesa de Aristarco, acusado por suas parentas por ser o
único da casa que comia sem fazer nada, Sócrates recorre à fábula do cão,
quando as ovelhas dão razão ao dono descobrindo que quem as guarda é o cão. Diz
Sócrates então a Aristarco:] Vai pois, dizer também a tuas parentas que as
guardas e vigias qual o cão da fábula; que graças a ti de ninguém são
insultadas e podem trabalhar jocundas(*) e em
segurança.
(*) Expressando alegria.
LIVRO III
Aristipo:
Dizes, pois, poderem os mesmos objetos ser belos e feios!
Sócrates: Como não! E podem também ser bons e maus: muitas
vezes o é bom para a fome para a febre é mau, o que para a febre é bom é mau
para a fome; o que é belo para a corrida não o é para a luta, o que para a luta
é belo não o é para a corrida. Em suma, as coisas são belas e boas para o uso a
que se destinam. Feias e más para usos a que não convenham.
Muitos por fortes, salvam-se com honra dos azares da guerra,
sobrelevam todos os perigos, socorrem os amigos, prestam serviços à pátria e
por esses feitos tornam-se dignos de reconhecimento, ganham fama, alcançam as
primeiras honras e passa o resto da vida ditosos e considerados, herdando aos
filhos preciosos meios de existência.
LIVRO IV
Os que conhecem a si mesmos sbem o
que lhes é útil e distinguem o que podem do que não podem fazer. (...)
Abstendo-se do que vai além de suas forças não resvalam no erro e esquivam o
insucesso.
Já notaste, diz Sócrates a Eutidemo, que, embora com pouco,
indivíduos há que possuem o bastante e até fazem economias, ao passo que
outros, com muito, sequer têm o necessário?
Sócrates
considerava a realeza e a tirania duas autoridades, com esta diferença: realeza
chamava um poder aceito pelos homens e conforme as leis do Estado; tirania, um
poder imposto e sem outras lleis que os caprichos do chege. Aristocracia cahamava a
república dirigida por cidadãos amigos das leis. Plutocracia, aquela onde
dominam os ricos. Democracia, aquela onde todo o povo é soberano.
Se vivesse mais, seria forçosamente obrrigado
a pagar meu tributo à velhica. Veria e ouviria menos,
a inteligência se me turbaria, mais custoso ser-me-ia aprender, mais fácil
esquecer e assistiria ao definhamento de todas as minhas prerrogativas. Se não
tivesse o sentimento de todas essas perdas, viver já não seria viver.
APOLOGIA DE SÓCRATDES
Acompanhava Sócrates um certo Apolodoro, alma simples e
extremamente afeiçoada a Sócrates, que lhe disse:
- Não posso suportar ver-te morrer injustamente.
Sócrates lhe responde:
- Como! Meu caro Apolodoro então preferías
ver-me morrer justamente?
[Xenofonte encerra sua apologia assim:]
Quando reflito na sabedoria e grandeza de alma deste homem,
não posso deixar de acordar-lhe a memória e a esta lembrança j
untar meus elogios. E se dentre os enamorados da virtude alguém houver
que haja privado com homem mais prestante que Sócrates, reputo-o o mais
venturoso dos mortais.