EXTRATO
DE:
PARA
ALÉM DO BEM E DO MAL – Prelúdio a uma Filosofia do Futuro
Autor: Friedrich Wilhelm Nietzsche
Editora
Martin Claret
Nasceu na Prússia, em 15 de outubro de 1844 e morreu em Weimar, ao meio-dia de 25 de agosto de 1900
Com 24 anos foi nomeado professor de filologia clássica na Universidade da Basiléia
Certa tarde foi atravessado pela visão do eterno retorno. Tudo retorna sem cessar. Não existe um Deus com desígnios insondáveis. Todos os dados são conhecidos; finitos são os elementos que constituem o universo, finito é o numero de combinações entre eles; só o tempo é eterno.
Livros: Humano, Demasiado humano – Aurora, Pensamentos sobre
Preconceitos Morais – Assim falou Zaratustra (o anunciador do além-do-homem, é
o arauto do eterno retorno, é “aquele que sempre se afirma”) – O Caso Wagner –
Crepúsculo dos Ídolos ou Como Filosofar com o Martelo – Ecce Homo – A Vontade
de Potência é um livro que nunca existiu, é apenas o conjunto dos fragmentos
póstumos escritos de
Quem julgou compreendê-lo, equivocou-se a seu respeito; quem não o compreendeu, julgou-o equivocado.
11 – Introdução – Mauro Araujo de Sousa – Doutro em Filosofia
O filósofo que cunhou a expressão “O Evangelho morreu na cruz” e que denunciou Paulo como fundador do cristianismo, depondo contra esse apóstolo na sua obra principal contra essa doutrina religiosa, O Anticristo, fez a acusação de que a crença metafísica, valorizando a vida no além em detrimento da vitalidade do existir terreno, corroeu a humanidade com o ressentimento, com sentimento de culpa, e propôs à mesma o ascetismo como via de purificação da “má-consciência”.
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Nietzsche abalara a fé cristã de muitos. (...) [sobre democracia] Como em todo rebanho há manipulação, o “poder do povo”, observa Nietzsche, não existe. O que há são relações de forças em que ou se domina ou se é dominado. Sobre o socialismo não faltarão análises desse tipo, pois é outro sistema movido pelo “espírito de rebanho”.
O bom egoísta, (...) quer simplesmente “afundar” o seu ego. (...) Ele enfrenta abismos até superar-se, pois: “Existem alturas da alma, de onde mesmo a tragédia deixa de ser trágica” e “o que serve de alimento ou de bálsamo para o tipo superior de homem deve ser quase veneno para um tipo bem diverso e menor”.
(...) o ego mesmo é apenas uma convenção, pois em cada um há “muitas almas”.
O eu é essa ilusão do sujeito impregnada nas pessoas, as quais a ela se apegam. Há muito, o antropocentrismo tem cometido o seu erro, porque não existe natureza humana, existe o homem como natureza.
Afinal, “o cristianismo é um platonismo para o povo.”
Platão criou o outro mundo, o das idéias, contra este mundo, e o cristianismo elaborou o “Reino dos Céus” como o outro mundo.
O que importa é a vida como impulso; assim, mau seria tudo o que é fraco e não consegue ser um afirmador da vida, e o bom é o nobre, o guerreiro, que ama a vida enquanto relações de forças. (...) O escravo é aquele que é fraco perante a existência e a nega. O seu antípoda é o nobre.
Os filósofos do futuro seriam eles próprios os seus criadores, estando, por isso, além do bem e do mal, esse vício dualístico da “moral cristã”. (...) O infinito é a medida deles, porque infinitas são as perspectivas.
O sentido de estar
além do bem e do mal é nada temer, porque “o temor é o pai da moral”.
(...) aquilo que existe são as interpretações.
Apolo representa a harmonia e Dionísio, a embriaguez.
(...) o experimentalismo é a filosofia de Nietzsche, que faz experiências com o pensar, que experimenta a si mesmo, que se arrisca e não teme os abismos porque não vê obstáculos nisso e sim estímulos.
A realidade é que ele, mesmo que ainda extemporâneo, é um provocador. O pensamento de Nietzsche é dinâmico, apesar de muitas tentativas hermenêuticas de domesticação do seu pensar.
(...) o que é viver? É querer ir sempre além, num vir-a-ser-eterno, portanto sem pensar em preservar-se. Viver é superar-se constantemente.
A sociedade banaliza a vida. É nesse contexto que toda moral é criticada, porque o peso da tradição quer esmagar aqueles que são experimentadores.
O caráter experimental de sua filosofia é contra as convicções, essa “vontade de verdade”, é contra os preconceitos. (...) Ele não se importa com o não-ser e nem co0m o ser, essa velha dicotomia que, muitas vezes, volta aos pensamentos dos próprios filósofos. (...) Nietzsche resolve-se com o vir-a-ser (...)
Nietzsche prefere a intuição à crença. (...) Pare ele, filósofos não devem ser submissos ou servis a nada que exalte o “espírito de rebanho”. (...) [daí] chega até a comparar Kant a um ressentido, a um medíocre, a um fraco, por submeter-se.
Para Nietzsche, os chineses são submissos. [Daí ele usar “chinês” como sinônimo de submisso]
“Filisteu”, desde o século XVIII até o XIX, no qual Nietzsche viveu, era a denominação dada àqueles que viviam para o legal, para os deveres, uma crítica dos estudantes universitários aos legalistas, aos moralistas, no sentido pejorativo da palavra.
Nietzsche não se posiciona nem favorável ao socialismo e nem ao capitalismo. (...) considerava o conflito como algo indispensável para o crescimento e a liberdade do espírito.
A vida no além não existe a não ser como projeção de uma dada perspectiva de negação da vida enquanto tal.
Aquele que deseja a liberdade não somente deve desgarrar-se dos outros, como também de si mesmo. (...) Ser autêntico é saber raciocinar em favor da vida no eterno vir-a-ser, pois se há uma repetição que retorna sem cessar, é a repetição das diferenças e, dessa maneira, é possível levantar também a questão do “tornar-se o que se é”.
A moral é o instinto gregário no indivíduo.
A autenticidade não é para todos, porque é sua acompanhante a solidão. (...) Não é questão de equilíbrio, outrossim é combate entre forças.
Como se faz a moral dos nobres? Não é uma coletividade porque um senhor não se faz escravo e, se realmente é senhor, não vive em função do grupo. Nietzsche considera duas morais: a dos nobres ou senhores e a dos escravos.
“Uma criatura viva quer antes de tudo dar vazão à sua força – a própria vida é vontade de potência. “ (...) No escravo há vontade de potência por querer se conservar. No nobre, há vontade de potência por buscar ir além do que já é, ser mais forte.
Ocorre que a moral do nobre do nobre não visa o rebanho. Ser nobre é arriscar-se sempre, não temer suas próprias criações, é não assentar-se nos outros, é seguir a si mesmo. Porém, como se justifica que há vontades de potência tanto no fraco como no forte? Porque nas relações de forças, efetivadas como vontades de potência, algumas se constituem em dominar e outra sem obedecer, o que no devir cosmológico nietzscheano, pode sofrer mudança hierárquica. Por isso em tudo há vontade de domínio: também o que obedece quer dominar.
Como falar de
verdade, onde tudo é interpretação?
A obra toda [de
Nietzsche] é uma recusa à metafísica, a qual, por mais paradoxal que pareça,
também percorre a ciência em sua crença da “verdade”.
Para Além do Bem e do Mal coloca ao ser humano que ele sempre será desafiado pelo devir e que, por si mesmo, deve ser capaz de dizer sim à vida mesmo diante dos seus abismos.
“Não existem
fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos...”
PREFÁCIO
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Creio que há sérios motivos para esperar que todo dogmatismo em filosofia, por mais solene e definitivo que se tenha apresentado, talvez não tenha sido mais do que uma nobre criancice e um balbuciar.
Esperamos que a
filosofia dos dogmáticos apenas tenha sido uma promessa a ser ultrapassada após
milhares de anos. (...) foi um erro dos dogmáticos, ou seja a invenção do
espírito puro e do bem em si, feita por Platão.
(...) o cristianismo é platonismo para o “povo”.
CAPÍTULO I – DOS PRECONCEITOS DOS FILÓSOFOS
Quantos problemas nos
tem levantado essa vontade de verdade!
Considerando que queremos a verdade: por que não havíamos de preferir a não-verdade? Talvez a incerteza? Quem sabe a ignorância?
Partindo deste seu “crer”, esforçam-se pelo seu “saber”, algo que, no fim, é solenemente batizado de “verdade”.
Quase todo o pensamento consciente num filósofo é dirigido secretamente pelos seus instintos e forçado a seguir determinado caminho.
O que nos provoca a olhar metade dos filósofos com desconfiança e a outra metade com ironia não é darmo-nos permanentemente conta de como são ingênuos, como erram e se desnorteiam com facilidade.
O vosso orgulho quer impor e tornar inerente à própria natureza a vossa moral.
Que é estoicismo senão autotirania?
A filosofia é esse instinto tirânico que é a vontade mais intelectual de potencia, de criar o mundo, de ser causa primeira.
Kant, em Crítica da Razão Pura, afirma ser a metafísica uma “disposição natural inevitável e necessária” no ser humano.
Os fisiólogos deveriam refletir mais ao considerar o instinto de autoconservação como instinto fundamental de todo ser orgânico. Uma criatura viva quer antes de tudo dar razão à sua força – a própria vida é vontade de potência -: a autoconservação é apenas uma das indiretas, mas freqüentes conseqüências disso.
(...) a física também não passa de interpretação e adaptação subjetivas do mundo e de modo algum é uma explicação.
Aquele que quer imagina com uma certa dose de certeza que vontade e ação são de certa forma idênticas. Então, ele atribui ainda à própria vontade o êxito, a realização do querer, e gozas dum acréscimo daquela sensação de poder que todo êxito traz consigo.
Filosofar é um supremo atavismo.
Nós é que inventamos as causas (...) Na vida real apenas se trata de vontade forte e de vontade fraca.
Peço que me perdoem
por não poder renunciar ao malicioso prazer de apontar as interpretações
errôneas.
CAPÍTULO II – O ESPÍRITO LIVRE
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Ó sancta simplicitas! Ah! Como o homem vive numa simplificação e falsificação singulares!
Para um filósofo, as virtudes do homem vulgar seriam talvez vícios e fraquezas. (...) Não se deve ir à igreja quando se pretende respirar ar puro.
Não importa qual seja o ponto de vista filosófico que se adote hoje; de qualquer ângulo, o caráter errado do mundo em que julgamos viver é o que de mais seguro e solido os nossos olhos podem ainda fixar.
Não passa de um preconceito moral o julgar-se que a verdade vale mais que a aparência. (...) não haveria vida senão à base de apreciações e aparências de perspectivas.
Ó Voltaire! Ó humanidade! Ó disparate! Isso da “verdade”, da procura da verdade, obriga-me dizer: se o homem procede por demais humano, aposto que nada encontrará.
(...) todos os filósofos amaram, até agora, as suas verdades.
Aquilo a que aspiram com todas as forças é a verde felicidade geral dos rebanhos no pasto, com a segurança, ausência de perigos, o bem-estar e a vida fácil para toda a gente. A suas cantilenas e doutrinas mais estafadas chamam-se “igualdade de direitos” e “piedade para com os que sofrem”. O próprio sofrimento é considerado por eles como algo que se deve suprimir.
CAPÍTULO III – A ESSÊNCIA DO RELIGIOSO
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O medo profundo e desconfiado de um pessimismo incurável é que obriga milênios inteiros a agarrarem-se com unhas e dentes a uma interpretação religiosa da existência. O medo desse instinto que pressente que poderia vir a conhecer-se a verdade cedo demais, antes que o homem se tenha tornado suficientemente forte, suficientemente duro, suficientemente artista...
Os homens fortes e independentes, preparados e predestinados para o comando, nos quais se encarna a razão e a arte de uma raça dominante, vêem na religião um meio de vencer obstáculos para poder dominar.
Enfim, aos homens vulgares, aos mais numerosos, aqueles que existem para servir, para serem úteis ao bem comum, e que só assim têm direito à existência, a religião proporciona um conformismo inestimável em face da sua situação e existência, uma múltipla paz do coração, um enobrecimento da sua obediência, além de uma felicidade e uma dor mais iguais às dos seus, e uma espécie de transfiguração e de embelezamento, uma espécie de justificação de toda a vida quotidiana, de toda a baixeza, de toda a pobreza quase animal da sua alma.
[A religião e a significação religiosa] Atuam qual uma filosofia epicurista costuma agir nos sofredores de classe mais elevada, reconfortando, refinando, utilizando, por assim dizer, o sofrimento, chegando mesmo a santificá-lo e a justificá-lo.
CAPÍTULO IV – MÁXIMAS E INTERLÚDIOS.
O mestre por excelência toma a sério somente aquilo que se relaciona com os seus discípulos, incluindo a si mesmo.
O amor destinado a um só é uma barbárie, porque se exerce à custa de todos os outros. O mesmo quanto ao amor por Deus.
O sábio como astrônomo. Enquanto sentires as estrelas sempre “por cima de ti”, é porque não possuis ainda o olhar do homem que sabe.
A intensidade dos sentimentos elevados não é o que faz os homens superiores, mas a sua duração.
Torna-se insuportável um homem de gênio se, além disso, não possuir pelo menos duas outras qualidades: gratidão e asseio.
Em época de paz o homem belicoso briga consigo mesmo.
Os princípios tendem a tiranizar, justificar, honrar, injuriar ou esconder os hábitos. Dois homens com princípios iguais querem, verdadeiramente, atingir algo de fundamentalmente diferente, com base nestes princípios.
“Compaixão para com todos”, seria dureza e tirania para contigo, senhor meu vizinho!
O instinto. Quando a casa está queimando, esquecemo-nos até do almoço. É verdade, mas em seguida comemo-lo sobre as cinzas.
Desabafo de um desiludido: “Eu ansiava por um eco e só ouvi elogios.”
Decidir-se tenazmente
e não dar ouvidos mesmo aos melhores contra-argumentos. Isso é sinal do caráter
forte. Conquanto uma ocasional vontade de ser estúpido.
Não existem fenômenos
morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.
Pelas próprias virtudes é que se é castigado mais convenientemente.
A loucura é quase nula nos indivíduos – mas é regra nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas.
Talvez ainda ninguém
tenha sido suficientemente verídico a respeito do seja a “veracidade”.
As gentilezas de um homem superior irritam por não poderem ser retribuídas.
“Fiquei magoado, não por me teres mentido, mas por que eu não posso mais acreditar em ti.”
“Tal pessoa desagrada-me.” – Por quê? – “Não estou à sua altura.” – Alguma vez alguém respondeu assim?
CAPÍTULO V – CONTRIBUIÇÃO PARA UMA HISTÓRIA NATURAL DA MORAL
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(...) em suma, as morais também não passam de uma linguagem simbólica dos afetos.
Qualquer moral, opostamente ao laisser aller, é uma espécie de tirania contra a “natureza” e também contra a “razão”.
Fato singular, todavia, é que o que há e o que houve na terra da liberdade, de perspicácia, de arrojo, de ligeireza e de segurança magistral, (...) só se desenvolveu graças à “tirania de tais leis arbitrarias”.
[Para Sócrates]
“Ninguém pretende prejudicar a si mesmo e, por isso, todo mal praticado é
involuntário. E o individuo mau prejudica-se a si próprio. Claro que não o
faria se soubesse que o mal é mau. Consequentemente, o homem mau só é mau por
engano. Esclarecendo-lhe o engano, necessariamente se tornará bom.
(...) não vemos uma árvore exata e completamente, detalhando as suas folhas, ramos, cor e forma. Muito mais fácil nos é fantasiar algo mais ou menos parecido com uma árvore. Mesmo no meio das vivências mais estranhas procedemos da mesma maneira. Inventamos a maior parte da vivência, e dificilmente somos levados a não contemplar, como “inventores”, qualquer acontecimento. Isto tudo significa que nós somos, ate a medula e desde o começo – habituados a mentir. Ou, para exprimir em termos mais virtuosos e hipócritas, enfim, mais agradáveis: somos muito mais artistas do que nós mesmos o julgamos.
O que freqüentes vezes nós vivemos em sonhos acaba por fazer parte da economia global da nossa alma da mesma forma como algo “realmente” vivido.
A propósito de uma mulher, por exemplo, o mais modesto considera como indicio suficiente e satisfatório de propriedade e posse o fato de dispor do seu corpo e de o gozar sexualmente.
“É preciso, portanto, que me deixe conhecer e, antes de mais, que me conheça a mim mesmo!”
Os pais fazem involuntariamente do seu filho algo de semelhante a si mesmos. A isso denominam “educação”. Não há mãe que, no fundo do seu coração, duvide de ter parido com o seu filho uma propriedade, nem pai que se negue o direito de o poder sujeitar aos seus conceitos e juizos de valor.
Entendo que, desde que há homens tem havido também rebanhos humanos (clãs, comunidades, tribos, povos, Estados, Igrejas) sempre muitos obedientes relativamente ao reduzido número dos mandatários – entendo, portanto, que a obediência foi até agora mais bem e mais longamente praticada e cultivada entre os homens, é natural admitir-se que, de modo geral, cada um possui presentemente a necessidade inata de obedecer, como uma consciência formal que ordena: “tu deves absolutamente fazer tal coisa, deves absolutamente deixar de fazer tal outra coisa”, enfim, “tu deves”. Nesse sentido (...) aceitará tudo o que lhe gritam aos ouvidos qualquer dos que comandam, sejam eles pais, professores, leis, preconceitos de classe, opiniões publicas.
(...) hipocrisia moral dos governantes. Não sabem proteger-se da sua má consciência senão fingindo serem os executores de ordens mais antigas ou superiores – dos antepassados, da constituição, do direito, das leis ou até mesmo de Deus. (...).
(...) o homem de rebanho (...) apresenta-se como a única espécie de homem autorizada, glorificando as suas qualidades, graças às quais é domesticado, tratável e útil ao rebanho, como sendo as únicas virtudes autenticamente humanas, tais como a sociabilidade, benevolência, consideração pelos outros, aplicação, moderação, indulgencia, compaixão.
Em última análise, o “amor ao próximo” é sempre algo secundário, parcialmente convencional e aparentemente arbitrário em relação ao medo do próximo.
(...) o temo é o pai da moral.
Tudo aquilo que faça o individuo elevar-se acima do rebanho e amedronte o próximo passa a ser considerado, a partir de agora, mau. A mentalidade tolerante, modesta, submissa, igualitária, a mediocridade dos desejos recebem nome e honras morais.
Fundada [no medo], a moral de rebanho, a moral do receio vai até às suas últimas conseqüências. A partir do momento em que se pudesse abolir completamente o perigo, o motivo para se ter medo, ter-se-ia também abolido esta moral. Ela já não teria utilidade, ela própria já não se consideraria necessária!
Esta moral [a de animal de rebanho] diz teimosa e implacavelmente “eu sou a própria moral, e não há moral fora de mim!” Tudo isso, com o auxilio de uma religião que se sujeitava aos mais sublimes desejos do animal de rebanho lisonjeando-os, chegou a ponto de encontrar, mesmo nas instituições políticas e sociais, uma expressão cada vez mais visível desta moral: o movimento democrático é o herdeiro do movimento cristão.
Lutero: “Aqui me afirmo! Não posso proceder de outro modo.”
(...) filósofos cretinos e patetas e aos entusiastas da fraternidade que se intitulam socialistas e querem a “sociedade livre”, mas que estão na realidade profunda e instintivamente contra toda forma de sociedade que não seja a do rebanho autônomo (indo até à negação dos conceitos de “senhor” e “servo” (...)
Nós (...) para quem o movimento democrático não é apenas uma forma de decadência da organização política, mas uma forma de decadência, quer dizer, uma diminuição do homem, a sua mediocrização e desvalorização, para onde devemos dirigir nossas esperanças? Só pode ser para os novos filósofos, não há outra saída.
Aquele que tem a rara capacidade de saber discernir o perigo global da degenerescência do “próprio homem”, aquele que, como nós, reconheceu a monstruosa casualidade que até agora desempenhou o seu papel quanto ao futuro do homem – papel esse em que não interveio nem uma mão, nem mesmo um dedo de “Deus”! -, aquele que adivinha a fatalidade oculta na estúpida inocência e credulidade das “idéias modernas” e, mais ainda, em toda a moral cristã-européia, esse sofre de uma angústia a nenhuma outra comparável (...)
A degenerescência global do homem até àquilo que é considerado pelos cretinos e boçais socialistas como o seu “homem do futuro” – seu ideal! –, essa degenerescência e amesquinhamento do homem até ao perfeito animal de rebanho – ou, como eles diriam, até ao homem da “sociedade livre” -, essa bestialização do homem até converter-se em animúnculo dos direitos iguais e reivindicações igualitárias é possível, não haja dúvida!
CAPÍTULO VI – NÓS, OS ERUDITOS
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A declaração de independência do homem cientifico, sua emancipação da filosofia, é um dos efeitos mais sensíveis da ordem e desordem democráticas.
A ciência, depois de se ter defendido com pleno sucesso da teologia, a quem fora submissa durante muito tempo, prepara-se agora com toda a arrogância e incompreensão para ditar leis à filosofia e fazer, por seu turno, o papel de (...) filósofo.
Daltonismo utilitarista, aquele que nada vê senão uma serie de sistemas refutados e um dissipante gasto de energia do qual ninguém “aproveita”.
Filosofia reduzida a “teoria do conhecimento” nada mais é, realmente, do que uma tímida epoquística e doutrina de abstinência.
Durante muito tempo a multidão não compreendeu o filósofo e confundiu-o, quer com o homem de ciência e o erudito ideal, quer com o entusiasta e ébrio de Deus, religiosamente inspirado, dessensualizado, “desmundanizado”.
[Nietzsche já antevia a união européia quando diz] (...) um tal aumento da ameaça representada pela Rússia que a Europa tivesse de resolver tornar-se igualmente ameaçadora, isto é, ganhar uma única vontade, por meio de uma nova casta que dominasse a Europa, uma longa e formidável vontade própria que se impusesse objetivos para milênios. Creio que dessa forma terminaria finalmente a longa comédia da sua divisão em pequenos Estados e, igualmente, as suas múltiplas ambições tanto dinásticas como democráticas. A época da política miúda chegou ao fim O século que se anuncia já traz consigo a luta pelo domínio da terra, a obrigatoriedade de praticar uma política de respeito.
Esses vindouros [os novos filósofos] serão os que menos poderão dispensar aquelas qualidades severas e despreocupadas que distinguem o crítico do cético (...) Serão mais duros (e provavelmente nem sempre só para consigo mesmos) do que o poderiam desejar as pessoas humanitárias, não lidarão com a “verdade” para que ela lhes “agrade” ou os “eleve” e “entusiasme”. Ao contrário, dificilmente acreditarão que será exatamente a verdade que proporciona tais prazeres ao sentimento. Estes espíritos rigorosos sorrirão quando alguém disser à frente deles: “Este pensamento eleva-me: como não há de ser verdadeiro?” Ou: “Aquela obra encanta-me: como não há de ser bela?” Ou: “Aquele artista engrandece-me: como há de ser grande?”
Nossos novos filósofos dirão, apesar disso: os críticos são instrumentos do filósofo e, exatamente por isso, por serem instrumentos, estão longe de ser filósofos! Também o grande chinês de Königsber era apenas um grande crítico...
O seu “conhecer” é criação, a sua criação é legislação, a sua vontade de verdade é – vontade de potência. – Existirão hoje tais filósofos? Já alguma vez os houve? Terão de existir tais filósofos?...
No ideal do filósofo terão de fazer parte do conceito “grandeza” precisamente a força de vontade, a dureza e a capacidade para amplas resoluções.
(...) na Europa só o animal de rebanho recebe e dispensa honrarias, enquanto a “igualdade de direitos” se poderia transformar muito facilmente em igualdade na injustiça (...)
É condição imprescindível ter nascido para esse mundo superior. Diria com mais exatidão, é preciso ter sido criado para ele. O direito à filosofia – tomada a palavra no sentido maior – possui-se apenas graças à própria ascendência, são os antepassados, o “sangue” quem, também aqui, decide.
Muitas gerações devem ter trabalhado na gênese do filósofo. Cada uma das suas virtudes deve ter sido, uma por uma adquirida, cultivada, herdada, incorporada, e não só o caminhar audacioso, ligeiro, elegante dos seus pensamentos, mas acima de tudo a disposição para grandes responsabilidades, a soberania de olhares dominadores, dos olhares para baixo, o sentir-se separado da multidão (...)
CAPÍTULO VII – AS NOSSAS VIRTUDES
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Bem-aventurados os que esquecem facilmente, pois conseguirão “digerir” também os próprios disparates.
Aquele que de fato fez sacrifícios sabe que pretendia e recebeu algo em troca – talvez algo de si em troca de algo em si – sabe que deu aqui, para ter mais ali, talvez para ser mais ou, pelo menos, para se sentir como “mais”. [O Gene Egoísta, de Richard Dawkins, recebeu inúmeras críticas das pessoas superficiais que não entenderam nada. Nietzsche, quase 100 anos antes de Dawkins, já percebera a mesma coisa, qual seja que o altruísmo é algo extremamente egoísta.]
No caso de alguém, por exemplo, que estivesse predestinado e feito para mandar, a autonegação e a humilde retirada não seriam virtudes, mas o desperdício de uma virtude (...).
Não convém ter-se muita razão quando se quer ter do nosso lado os que riem. É mesmo um índice de bom gosto um grãozinho de não-razão.
Conquanto do presente
nada tenha futuro, é possível que pelo menos o nosso riso tenha ainda algum
futuro!
Nossa honestidade, ó espíritos livres – cuidemos para que ela não venha a ser a nossa vaidade, adorno e pompa, a nossa limitação, a nossa estupidez! Toda virtude tende para a estupidez, toda estupidez para virtude. “Estúpido até à santidade”, diz-se na Rússia.
Perdoem-me a descoberta de que, até agora, toda filosofia da moral foi enfadonha e fez parte dos soporíferos – e que, a meu ver, a “virtude” por nada foi tão prejudicada como pelo enfado provocado pelos seus apologistas.
Quase tudo a que chamamos “cultura superior” se baseia na espiritualização e no aprofundamento da crueldade. (...) Aquele “animal selvagem” nem chegou a ser morto, vive, floresce, apenas foi divinizado. O que constitui a volúpia dolorosa da tragédia é a crueldade.
[Nietzsche já no final do século XIX observava] A mulher quer emancipar-se. (...) Há tanto pedantismo na mulher, tanta superficialidade, doutrinarismo, presunção mesquinha, pequenez desenfreada e imodesta. (...) Até agora, só o medo ao homem refreou e reprimiu essas fraquezas. Ai de nós no dia em que o “eternamente- aborrecido na mulher – e ela é rica nisso – ouse aparecer!
Desde a origem, nada é mais estranho, mais avesso, mais odioso à mulher do a verdade. A sua grande arte é a mentira, o que mais lhe interessa é a aparência e a beleza.
Devido às más cozinheiras, pela falta total de bom senso na cozinha é que foi mais retardada, mais prejudicada a evolução do homem.
Os homens trataram
até agora as mulheres como pássaros (...) algo que se deve engaiolar, para que
não fuja.
A mulher que “desaprende o temor” abandona os seus instintos mais femininos.
Ressalta evidente que há muitos amigos idiotas e corruptores da mulher, entre os burros eruditos do sexo masculino, que aconselham a mulher a desfeminizar-se (...) e a imitar todas as parvoíces de que sofre o “homem” na Europa (...)
Por quase toda a parte (...) as mulheres se tornam mais histéricas e mais incapazes para a sua primeira e ultima profissão, a de dar à luz crianças saudáveis [sic].
CAPÍTULO VIII – POVOS E PÁTRIAS.
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[Reproduzindo uma conversa que Nietzsche afirma ter testemunhado] “Um estadista que fizesse tudo isso, pelo qual o seu povo deveria penitenciar-se por todo o futuro, no caso de ter futuro, tal estadista seria grande?” “Sem dúvida nenhuma!”, respondeu-lhe violentamente o outro velho patriota. “Senão não teria sido capaz de o fazer. Talvez fosse uma loucura pretender uma coisa dessas! Talvez tudo o que é grande não tenha sido no seu início mais do que uma loucura!” (...) eu ponderei que, em breve, dominará o forte outro mais forte.
Mas quem duvidaria de que, mais cedo ainda, acabará a compreensão e o gosto por Beethoven! Que não era senão o acorde final de uma transição e quebra e não, como Mozart, o acorde final de um grande e secular gosto europeu. Beethoven é o acontecimento intermediário entre uma alma velha e demasiado madura que constantemente se quebra e uma alma futura, demasiado jovem, que está constantemente a emergir.
Quantos alemães sabem e exigem d3e si saberem que em cada frase boa há arte, arte que quer ser adivinhada na medida em que a frase quer ser compreendida! Qualquer mal-entendido sobre o seu ritmo, por exemplo, e a própria frase estará mal-entendida! Que não deva haver dúvidas quanto às silabas decisivas para o ritmo, que se sinta como intencional e como encanto a quebra da simetria demasiado rigorosa, que se preste um ouvido apurado e paciente a cada staccato, a cada rubato, que se adivinhe o sentido na sequência das vogais e dos ditongos e quanto terna e ricamente elas tomam cor e podem mudar de cor na sua sequência.
[E prevendo o que aconteceria na II guerra] Eu ainda não encontrei um só alemão que goste dos judeus. (...) Não nos iludamos a esse respeito. Que a Alemanha tem quantidade suficiente de judeus, que o estômago alemão, o sangue alemão têm dificuldade (e a terão por muito tempo) em digerir esse quantum de “judeu” – como fez o italiano, o Francês, o inglês, graças a uma digestão mais completa – é a nítida expressão e a linguagem de um instinto geral que se deve escutar e de acordo com o qual se deve agir. (...) isso é o que ordena o instinto de um povo cuja índole é ainda fraca e indefinida, de forma que facilmente poderia esbater-se, ser apagada por uma raça mais forte.
O inglês, mais melancólico, mais sensual, mais forte de vontade e mais brutal que o alemão, é, precisamente por ser o mais vulgar dos dois, também mais religioso do que o alemão.
[Nietzsche parece não gostar de Darwin, apesar de acreditar na teoria da evolução] (...) há verdades que possuem encantos e forças sedutoras apenas para espíritos medíocres. ] Esta afirmação talvez desagradável impõe-se-nos precisamente hoje em dia, desde que o espírito de uns ingleses respeitáveis, mas medíocres – cito Darwin, John Stuart Mill e Herbert Spencer – começa a preponderar na região média do gosto europeu. (...) [mas] Aquele que pode realizar algo em grande estilo, o criador, terá de ser possivelmente um ignorante, ao passo que, por outro lado, para descobertas científicas à maneira de Darwin uma certa estreiteza, secura e cuidado aplicado, enfim, um caráter inglês, seguramente que não disporá mal.
A noblesse européia – do sentimento, do gosto, dos costumes, enfim, tomada a palavra em todo sentido elevado – é obra e invenção da França, a vulgaridade européia, o plebeísmo das idéias modernas – é obra da Inglaterra.
[A grande política
segue tal como] uma medicina perigosa que me ensina a esperar e esperar, mas
até agora ainda não me ensinou a ter esperança.
[Nietzsche novamente premonitório] Mercê do alienamento doentio que a loucura do nacionalismo provocou, e ainda provoca, entre os povos da Europa, (...) mercê (...) de muitas outras coisas que ainda hoje não se podem dizer, passam-se por alto ou interpretam-se arbitrária e mentirosamente os sintomas mais inequívocos que indicam que a Europa quer unir-se.
CAPÍTULO IX – QUE É ARISTOCRÁTICO
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A corrupção, indicadora de uma ameaça de anarquia nos instintos e de abalo na base dos afetos estruturais da “vida”, a corrupção varia basicamente de acordo com a forma de vida em que se manifesta.
O essencial numa aristocracia boa e sã, porém, é que não se sinta como função (quer da realeza, quer da comunidade), mas como seu sentido e suprema justificativa – que portanto aceite com boa consciência o sacrifício de inúmeros homens que, por sua causa, devem ser oprimidos e reduzidos a seres incompletos, escravos, instrumentos. Sua fé básica deve, precisamente, ser a de que a sociedade não devia existir por amor da sociedade, mas apenas como alicerce e andaime sobre os quais um tipo de seres de elite se consiga erguer até a sua missão superior e, geralmente, a um ser superior , comparável àquela plantas trepadeiras de Java, ávidas de sol.
É preciso pensar bem profundamente e defender-se de toda fraqueza sentimentalista. Eis que a própria vida é essencialmente apropriação, ofensa, sujeição daquilo que é estranho e mais fraco, opressão, dureza, imposição de formas próprias, incorporação e pelo menos, na melhor das hipóteses, exploração.
(...) porque a vida é cabalmente vontade de potência.
Existem dois tipos básicos de moral. De um lado a moral de senhores e de outro a moral de escravos.
(...) “bom” e “mau” significa o mesmo que “nobre” e “desprezível”.
Os aristocratas têm como crença básica que o povo vulgar é mentiroso.
Por certo que o homem nobre ajuda o infeliz, mas não, ou quase nunca, por compaixão, e sim por um impulso gerado pelo excesso de poder.
O olhar do escravo é desfavorável às virtudes do poderoso. É impregnado de ceticismo e desconfiança, tem uma leve desconfiança contra tudo o que aquele honra como “bom”.
A moral de escravos é
em essência uma moral de utilidade.
A questão para o homem aristocrático consiste em imaginar seres que procuram criar nos outros, a seu respeito, uma boa opinião que eles não têm de si mesmos – e obviamente, também não “merecem” -, boa opinião na qual, apesar disso, eles mesmos posteriormente crêem.
[Nietzsche se manifesta darwinista] A variação, quer seja como derivação das espécies (para o mais alto, mais sutil, mais raro), quer como degenerescência e monstruosidade, surge de repente na maior plenitude e esplendor, ousando o individuo isolar-se e destacar-se.
Palavras são sinais sonoros para conceitos. Porem, os conceitos são sinais-imagens mais ou menos bem-definidos para sensações, grupos de sensações que se repetem e se juntam frequentemente.
[p/círculos inclusivos] (...) quando as pessoas viveram juntas durante muito tempo em condições semelhantes (de clima, de solo, perigo, necessidades, trabalho), nasce daí algo que “se entende”, um povo.
[p/círculos inclusivos] Quanto maior for o perigo, maior será a necessidade de se chegar a acordo com rapidez e facilidade quanto ao que é preciso fazer.
As pessoas mais semelhantes, mais vulgares estavam e estão sempre em vantagem. Os mais seletos, mais delicados, mais raros, mais difíceis de compreender, esses facilmente ficam sozinhos; no seu isolamento, sucumbem aos acidentes e raras vezes se reproduzem.
O êxito foi sempre o
maior mentiroso.
O asseio, em sentido e grau diferentes, é o que separa mais profundamente duas pessoas. De que serve toda honestidade e utilidade mutua, de que serve toda boa vontade de uns para os outros; no frigi dos ovos é sempre a mesma coisa – “ele não se podem cheirar!”
Que coisa ruim! Sempre a mesma história! Quando se acaba de construiu a casa nota-se que ao construí-la, sem perceber, se aprendeu algo que simplesmente se devia sabem bem antes de começar a construir. O eterno e maçante “tarde demais!”
Viver com uma calma orgulhosa e impassível, sempre para além. (...) Conservar os seus trezentos primeiros planos. Igualmente os óculos escuros, pois há casos em que ninguém nos deve olhar nos olhos e muito menos ainda nas nossas “razoes”. E escolher, para companhia, aquele vicio matreiro e sereno, a cortesia. E ficar senhor das suas quatro virtudes: a coragem, a perspicácia, a simpatia, a solidão. (...) Qualquer comunidade nos torna de qualquer modo, em qualquer parte, em qualquer altura, demasiado “vulgares”.
Toda opinião é também um esconderijo, toda palavra também uma máscara.
Os deuses gostam de brincar. Parece que até nas cerimônias sagradas não podem deixar de rir.
Conquanto seja apenas
para pintar a vossa tarde, vós, pensamentos meus, (...) vós, centelhas e
maravilhas repentinas da minha solidão, vós, meus velhos e amados pensamentos
perversos!
DAS ALTAS MONTANHAS
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Espero os amigos, noite e dia disposto,
Onde estais vós, amigos? Vinde! É tempo! É tempo!
Vós ireis? – Ó coração, tu suportaste bem,
Forte ficou a tua esperança:
Mantém tuas portas abertas a novos amigos!
Deixa os velhos! Deixa a recordação!
Se já foste jovem, agora – és jovem de um modo melhor!
GLOSSÁRIO
Asceta - Pessoa que possui um modo de vida austero e/ou dedica-se à perfeição espiritual.
Ascetismo ou asceticismo -
é uma filosofia de vida na qual são refreados os prazeres mundanos, onde
se propõem a austeridade. (Wikipédia)
Atavismo - Culturalmente,
usa-se o termo para fazer referência à recuperação de atitudes ou tradições
ancestrais que teriam permanecido latentes durante longo período.
Chinês – O que aqui pode significar chinês fica esclarecido
em pel’A Gaia Ciência, onde Chinesice – equivale a mediocridade [mas em outras citações vai significar submissão]
Epoquística – termo criado por Nietzsche a partir do grego.
Consiste num estado de repouso mental no qual não afirmamos nem negamos.
Estoicismo - Segundo a doutrina originada por Zenão de Cício, o homem sábio cujos princípios são caracterizados pela ética em que a tranquilidade imperturbável, a cessação das paixões e a adequação submissa ao destino, possibilitam o conhecimento experiencial de uma felicidade verdadeira, e somente possível, ao indivíduo que possui estas características.
Epicurista – que se
entrega aos prazeres mundanos.
Fisiologia - Ciência que
trata das funções orgânicas pelas quais a vida se manifesta
Hedonismo – doutrina moral
onde a busca pelo prazer é o único propósito da vida.
Hodiernamente –
atualmente, presentemente
Platonismo - a crença
na existência de uma verdade suprema
Tântalo – mitologia grega, Tântalo foi condenado à eterna insatisfação da fome e da sede, por ter roubado e ofendido os deuses.