EXTRATO DE: A NOVA ERA E A REVOLUÇÃO CULTURAL
Autor: Olavo de Carvalho
Ed. Vide Editorial – (De
1993 a 2012/2021)
O livro é uma coletânea
de textos, a maioria publicados no Jornal Zero Hora,
ao longo de quase 20 anos e se constitui basicamente de críticas a Fritjof
Capra e Antonio Gramsci, e ao pensamento de esquerda em geral.
Em cada classe, em cada
região, em cada sindicato, em cada empresa, em cada família, em cada alma, o
que se nota é um sentimento agudo e exasperado dos próprios direitos e o
completo amortecimento do senso do dever. É o predomínio desastroso do
reivindicar e protestar sobre o criar e oferecer.
A geração que derrotada
pela ditadura militar (...) reviu sua estratégia à luz dos ensinamentos de
Gramsci (...) renunciou à pureza dos esquemas ideológicos aparentes para ganhar
eficiência na arte de aliciar e comprometer; foi recuar do combate político
direto para a zona mais profunda da sabotagem psicológica. (...) é mais
importante solapar as bases morais e culturais do adversário do que ganhar
votos.
[O PT] produz o mal para
no ventre dele gerar o ódio, e no ventre do ódio o discurso de acusação.
O fim da festa é, para o
catador de lixo, o sinal de que a sua festa está para começar.
Segundo Capra, uma das
principais mudanças em pauta é a de que o patriarcado vai acabar.
Desde o Renascimento
(...) a história das ideias ocidentais tem sido marcada por uma oscilação
pendular entre as ideologias de dominação e as ideologias da submissão.
Nos séculos vindouros (...)
o fenômeno da Nova Era será considerado um escândalo que depõe contra a
inteligência humana.
Se Lenin foi o teórico
do golpe de Estado, Gramsci foi o estrategista da revolução psicológica que
deve preceder e aplainar o caminho para o golpe de Estado. (...) A revolução
gramsciana está para a revolução leninista assim como a sedução está para o
estupro.
O gramscismo espera
chegar ao poder quando já não houver mais ideias adversas no repertório mental
do povo.
[Na ação das massas] o
sangue-frio dos homens fica mais frio na medida em que eles se sentem apoiados
por uma coletividade.
Nas fileiras de
militantes há sempre uma imensa reserva de talentos teóricos que podem ser
convocados para produzir justificações do que quer que seja.
[O gramscismo] está mais
interessado (...) na ênfase na educação primária.
A mentira, a fraude ou mesmo o homicídio podem se tornar louváveis,
quando cometidos em defesa da “nossa” classe, ao passo que a decência, a
honestidade, a compaixão podem ter algo de criminoso caso favoreçam a classe
adversária.
Ao socializar a
economia, socializa-se a corrupção.
Jornalistas, cineastas,
músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros familiares representam
uma tropa de elite do exército gramsciano.
Quanto menos um homem é
apto a enxergar o mundo, mais assanhado fica de transformá-lo – de
transformá-lo à imagem e semelhança da sua própria escuridão interior.
Quando a autoconfiança e
a auto-estima parecem inatingíveis, o indivíduo em formação torna-se uma
entidade altamente explosiva.
O objetivo do gramscismo
é (...) mudar os sentimentos morais, as reações de base e o senso das
proporções, sem o confronto ideológico direto que só faria exercitar
prematuramente antagonismos indesejáveis.
Histrionismo brasileiro:
dar por pressuposto que o ouvinte sabe do que estamos falando é um modo de
induzi-lo a crer que sabemos do que falamos.
[Para o PT] a simples
ausência de reação hostil, para não dizer de rebelião, será interpretada como
aprovação popular: quem cala consente, em suma.
[Tanto para Gramsci
quanto para Capra] defendem uma corrente radicalmente “historicista”, ou seja,
toda “verdade” é apenas a expressão do sentimento coletivo de um determinado
momento histórico.
Para Gramsci, o sujeito
coletivo é o “proletariado”, ou, mais propriamente, o conjunto dos intelectuais
orgânicos que o representam, isto é, o Partido.
(...) o anseio coletivo
dos ambiciosos insatisfeitos.
O mito mais comum da ilusão
moderna: o mito da Revolução, do “apocalipse terreno”, que, num giro súbito de
todas as aparências, transfigurará o mundo, inaugurando um Céu na Terra.
As ideias de Capra e
Gramsci são ideias que só podem prosperar sob a proteção de uma nevoa de antiguidades,
e só encontram terreno fértil nas almas que anseiam por ilusões lisonjeiras, em
cujo colo macio possam esquecer sua própria miséria, a
miséria de toda vaidade.
(...) não há verdade
senão para a consciência reflexiva, que só existe no indivíduo. As correntes de
pensamento coletivas apenas manifestam desejos, anseios, temores, e jamais se
levantam ao nível de autoconsciência crítica no qual a distinção entre verdade
e falsidade pode ter algum sentido.
No campo das técnicas
psicológicas, nunca se investiu tanto na busca de meios para subjugar a
consciência individual, quebrar sua autonomia, forçá-la a repetir mecanicamente
o discurso coletivo.
Todo sacerdócio
converte-se, mais cedo ou mais tarde, num culto de si mesmo: tendo outrora
servido à verdade, eles hoje tomam o lugar dela no altar de um culto
degenerado.
Não se pense que os
comunistas ficam tristes com a súbita prosperidade dos seus desafetos. Ao
contrário: acenando com a promessa de ganhos rápidos, o governo comunista faz
trabalhar em favor da revolução a cobiça imediatista dos burgueses, cumprindo a
profecia de Lenin: “A burguesia tece a corda com que será enforcada”.
(...) todos os regimes
comunistas se intitulavam “democracias populares”.
Quanto mais assoberbado
de males se encontra um povo, mais ansioso fica de crer em alguma coisa e menos
disposto a encarar com realismo a iminência de males ainda maiores. Nessas
horas, a maneira mais segura de ocultar uma intenção maligna é proclamá-la
cinicamente, para que, tomada como inverossímil em seu sentido literal, seja
interpretada metaforicamente e aceita por todos com aquela benevolência
compulsiva que nasce do medo de ter medo. Quando Hitler prometeu dar um fim aos
judeus, também foi interpretado em sentido metafórico.
A política é apenas uma
superfície da vida social, e de nada adianta divergir na superfície se, no
fundo – nas convicções morais, nos sentimentos básicos, nas atitudes vitais
elementares – copiamos servilmente o figurino mental do adversário.
Nietzsche: O
ressentimento move montanhas.
Bertold Brecht: Para um
comunista a verdade e a mentira são apenas instrumentos, ambos igualmente úteis
à prática da única virtude que conta, que é a de lutar
pelo comunismo.
A organização do PT não
é de um partido político eleitoral, mas sim a de um partido revolucionário,
construído para tomar o poder, [quando] então os dissidentes serão banidos e se
instalará a unidade monolítica.
A corrupção petista não
é [só] financeira: é uma corrupção política, moral e psicológica. Ela consiste
em perverter até o fundo os meios de atuação política e mesmo cultural, os
critérios de julgamento e a consciência moral dos indivíduos e das massas.
[Mesmo em Graciliano
Ramos encontramos que] O homicídio, em si, é justo: mau
foi cometê-lo em pequena escala.
Que é um assalto, um
estupro, um homicídio, perto da maldade satânica que se oculta no coração de um
pai de família que, educando seus filhos no respeito à lei e à ordem, ajuda a
manter o status quo?
A perda do senso de
conexão entre intenção e culpa é um grave sintoma de patologia da
personalidade.
Uma sociedade, qualquer
sociedade, pode permitir-se atos que num indivíduo seriam considerados imorais
ou criminosos.
Contrariando as lições
da História, da ciência e do bom senso, nossos intelectuais continuam presos à
lenda que faz do criminoso o cobrador de uma divida social.
A ética consiste
basicamente em cada um responsabilizar-se por seus próprios atos.
Os intelectuais imbuídos
da convicção dogmática de que a culpa é sempre dos outros, estão puros de
coração e prontos para o cumprimento do dever. Qual dever? Denunciar os outros.
(...) Com a consciência mais limpa deste mundo, eles continuam a culpar os
outros: o capitalismo, a política econômica do governo, a polícia, e a verberar
como “reacionários” e “fascistas” os cidadãos, ricos e pobres, que querem ver
os assassinos e traficantes na cadeia.
A decadência da policia
federal coincide com a sua infiltração maciça por agentes do PT e da CUT.
Não é de hoje que a
esquerda recorre ao expediente de provocar a desordem para em seguida acusar o
governo de não manter a ordem.
Para nossa esquerda,
decididamente, assassinos, ladrões, traficantes e estupradores estão alinhados
com as “forças progressistas” e destinados a ser redimidos pela História pela
sua colaboração à causa do socialismo.
O motivo pelo qual não
há nem pode haver debate filosófico neste país já se tornou claro: um grupo de
ativistas sem escrúpulos apropriou-se dos meios de difusão cultural para fazer
deles o trampolim de suas ambições políticas, fechando os canais por onde
pudessem fazer-se ouvir as vozes adversárias e impondo a todo o País a farsa
gramsciana da “hegemonia”.
A Justiça Eleitoral existe, como próprio nome o diz, para que as eleições sejam
justas. Mas ela se compõe de funcionários públicos e, (...) essa classe vem se
tornando cada vez mais suspeita de estar interessada em tudo, menos em eleições
justas.
Nenhuma revolução
socialista se fez até hoje sem genocídio, que chegou, no caso chinês, à
extinção de dez por cento da população local.
Cuba apresentava em 2001
uma taxa de um espião do governo para cada 28 habitantes.
Em “Os demônios” de
Dostoievski, publicado em 1872, um revolucionário diz a outro: “Você sabia que
já somos tremendamente poderosos? Preste atenção. Já fiz a soma de todos eles.
Um professor que, com as crianças, Revolução Industrial do Deus delas, alguém
que está do nosso lado. (...) O promotor que, num julgamento, treme de medo de
não parecer progressista o bastante, é nosso, nosso... Você sabe quantos deles
vamos conquistar aos pouquinhos, por meio de pequenas ideias prontas?”
(...) é sempre o inimigo
da classe dominante que é cortejado por ela, enquanto o intelectual que
desejaria preservar o sistema, por descrer da bondade e utilidade das revoluções,
é estigmatizado, no mínimo, como excêntrico e marginal.
(...) nem mesmo os
próprios colaboradores mais ativos da “revolução cultural” precisam ter plena
consciência da finalidade a que seus atos, aparentemente, inócuos ou então
rodeados de uma aura de piedoso idealismo, concorrem quando somados a milhões
de outros atos semelhantes, praticados nesse mesmo instante por uma legião
dispersa de militantes, colaboradores e simpatizantes que se ignoram uns aos
outros.
Um público que está
contaminado de doutrinação marxista até a medula não tem, por isso mesmo, a
menor ideia de que está sendo doutrinado.
Os discursos ideológicos
quase nunca coincidem com os interesses objetivos das classes sociais
envolvidas.
Eric Voegelin
Intelectuais iluminados
não são curiosidades inofensivas. São maníacos perigosos.
O sujeito trafica,
assalta, mata e estupra porque é um excluído um miserável, um favelado, mas se
ele for também evangélico, ele não trafica, nem assalta, nem mata, nem estupra.
A experiência de milhares
de evangelizadores e evangelizados, inclusive dentro dos presídios, comprova
que, na produção como na supressão da criminalidade, o peso dos fatores morais
e culturais é infinitamente mais decisivo do que a situação material em si.
São culpados todos os
que, sabendo que doses letais de ódio revolucionário são diariamente infetadas
nas cabeças de milhões de crianças brasileiras, nada fazem para desmascarar
essa pedagogia do abismo.
Um cérebro marxista
nunca é normal.
Marcuse:
"Toda tolerância
para com a esquerda, nenhuma para com a direita.”
Aí aqueles que vetam e
boicotam a difusão de ideias que os desagradam não sentem estar praticando
censura: acham-se primores de tolerância democrática. [2002]
Antes, ser de direita
era ser contra a revolução; agora é não ser revolucionário o bastante.
[Para os
“progressistas”] as coisas devem acontecer como se não estivesses acontecendo.
A completa liquidação da
direita corresponde, quase instantaneamente, à institucionalização de uma das
facções de esquerda no papel de “direita” – uma direita fabricada ad hoc [por encomenda] para as
necessidades da esquerda. [quadro que demonstra a] natureza intrinsecamente
nebulosa do processo.
Comparada aos horrores físicos do “socialismo real”, a
opressão meramente psicológica parece um alivio. De bom grado qualquer um de
nós, entre o pelotão de fuzilamento e a manipulação gramsciana, escolheria esta
última e até a celebraria como uma forma de “liberdade”.
A nova objetividade do
“intelectual orgânico” já não consiste em ver o mundo como é, mas em
transformá-lo em outra coisa para poder dizer, depois, que ele é exatamente
isso.
(...) frustrados sexuais
do mundo tornaram-se militantes esquerdistas em potencial.
(...) o marxismo
continua, politicamente, a única força organizada em escala planetária.
(...) a esquerda se faz
de vítima de adversários inexistentes para prevenir o nascimento de adversários
futuros.
Quem domina o centro,
domina o conjunto.
Ninguém mata o porco
antes de engordá-lo.
Nunca uma tirania
comunista foi oferecida com embalagem tão vistosa, com aparência tão
inofensiva. E o empresariado, com típica auto-ilusão nouveau riche, compra tudo. Compra e paga.
(...) o melhor controle
é a perfeita confusão.
Não é que o gramscismo
seja pacifista. Apenas, ele não admite violência antes do momento certo. (...)
Ele é como a aranha que anestesia a vítima antes de matá-la.
Sem a consciência do que
está verdadeiramente em jogo, nossas indignações correm
o risco de se esfarelar numa poeira de protestos vãos.
A perseguição policial
sem policia, a Gestapo terceirizada, já está funcionando com pleno sucesso no
Brasil.
Por que o brasileiro
vota na esquerda?
[Porque não há
candidatos conservadores, portanto, não há como votar em candidatos
inexistentes.]
Se nada está na política
que não esteja antes na literatura, é pela simples razão de que a imaginação
vem antes da ação.
A esquerda brasileira é um
bando de patifes ambiciosos, amorais, maquiavélicos, mentirosos e absolutamente
incapazes de responder por seus atos ante o tribunal de uma consciência que não
têm.
Noto com satisfação
algumas iniciativas novas destinadas a formar uma intelectualidade conservadora
e liberal apta a oferecer uma resistência séria à “revolução cultural”. É delas
que dependerá o futuro do país, se algum houver.
Em educação infantil, a
longa hegemonia das doutrinas “construtivistas” (...) consagrou a estupidificação geral da meninada como uma grande
realização pedagógica.
O marxismo-pragmatismo é uma técnica de preencher o
vazio com o vácuo.
Revolução social é uma
mudança radical de alcançar riqueza, prestigio e poder. Quem manda pode
continuar mandando, mas por outras vias.
[no processo gramsciano]
empresários podem ganhar dinheiro a rodo, mas toda a sua influência no poder
consiste em tentar ser úteis ao Esquema, que os tolera como um mal provisório.
A revolução social já veio, já está aí, e a única reação do povo e das elites é
procurar desesperadamente um lugarzinho à sombra dela, a abençoada proteção do
Esquema.
Nenhum movimento poderia
se apossar do Estado se primeiro não se tornasse mais poderoso que ele (...).
Repito o conselho de
Georg Jellinek: no estudo da sociedade, da política e da História, a precaução
número um é distinguir entre os processos que nascem de uma ação consciente e
os que resultam da confluência impremeditada de fatores diversos.
Orteg y Gasset
La vida es lo que hacemos... y lo que nos pasa.
Gramsci ensinou a seus
companheiros que a mentira e o fingimento não eram apenas um instrumento
tático, por obrigatório e consagrado que fosse, mas sim a própria natureza
íntima, a essência e a chave do processo revolucionário como um todo. (...) o
gramscismo não é nada mais, nada menos, que a mais completa, abrangente e
meticulosa sistematização do engodo como método essencial da ação política.
Depois que se toma o
poder, as ações precisam ser mais explicitas. Então, de certo modo, a Revolução
Cultural perde força a partir do momento em que o Partido domina o Estado.
Gramsci define o
intelectual como qualquer sujeito que trabalhe para a propaganda do Partido.
Não existe hoje um único intelectual marxista com apacidade de sustentar uma discussão por cinco minutos. O
que eles fazem é fechar o debate em torno deles mesmos, mas não se expõem ao
adversário.
Etapas para criar um
movimento político em oposição à esquerda:
1 – criar um movimento
de intelectuais que discutam intensamente a situação;
2 – coletar dinheiro
para formar uma militância;
3 – formar a militância
propriamente dita;
4 – penetrar na
sociedade.
O Brasil é um moribundo
(a esquerda) se agitando contra um fantasma (a
direita). (...) O Brasil está se decompondo e a única coisa que a esquerda pode
fazer é aprofundar essa decomposição.