EXTRATO DE: NERVOS DE AÇO – Depoimento de Roberto Jefferson a Luciano Trigo
Ed. Topbooks – 2006
21 – O OUTRO LADO DA PRAÇA
Se Jesus Cristo estivesse vivo, diria àqueles parlamentares que estão no Conselho de Ética para apedrejar Maria Madalena: “Quem não tiver pecado, que atire a primeira pedra”. Ali não tem um santo sequer, e ficam atirando pedras como se nunca tivessem recebido financiamento por fora.
Desde que assumiu o governo federal, o PT promoveu a montagem da maior estrutura de corrupção já vista na história do Brasil, com o respaldo dos mais altos dirigentes da República.
Mas Lula fingia que não via. Esta é uma técnica clássica entre políticos brasileiros: dizer que não enxerga o que está acontecendo à sua volta. Daí a resistência do presidente a dar entrevistas coletivas: ele sabe que, se for apertado por jornalistas sérios, cairá em contradições.
Empresas privadas que trabalham em torno das estatais sempre ajudaram os partidos com doações.
O então ministro (...) Luiz Gushiken, tinha sob a sua esfera de poder os principais fundos de pensão do país.
Gushiken somou a este poder sobre os fundos o poder absoluto sobre as verbas de publicidade do governo federal.
Gushiken controlava as verbas publicitárias de todos os ministérios, empresas estatais e bancos federais: era ele quem indicava a agência a ser contratada e escolhia os veículos onde seriam aplicadas as verbas de anúncios e campanhas.
O governo do PT quis colocar o Estado para resolver os problemas mais comezinhos da população, o que tem causado um gigantismo burocrático nunca visto, com o conseqüente aumento da carga tributária para sustentá-lo. A cada dias são criadas mais delegacias especializadas, mais conselhos, mais mecanismos para controlar e fiscalizar as ações dos cidadãos livres.
80% dos quase 25 mil cargos de confiança do governo federal foram para militantes petistas. Seguramente, uma das tarefas mais trabalhosas do próximo presidente será desaparelhar o Estado, pois foi montado um sistema gigantesco que concilia ineficiência e corrupção, protegido pelo discurso de combate às desigualdades e busca da justiça social.
Esse aparelhamento do Estado também alimentou os cofres do PT porque, além do fundo partidário, o partido conta com aquele famoso desconto de 10% a 30% na folha salarial dos seus filiados que ocupam funções no governo.
Antes, todos os partidos da base, que ajudavam a montar a estrutura do poder, tinham autonomia para fazer seu caixa, por meio das relações que se estabeleciam entre as empresas publicas e as empresas privadas. Sempre foi assim. Já com o PT, os partidos nomeavam o presidente de uma estatal, mas a estrutura embaixo era toda deles. Davam a cabeça e ficavam com corpo.
[sobre José Genoíno] O guerrilheiro idealista virou um batedor de carteira.
O presidente Lula é uma espécie de Genoíno na presidência da Republica: não sabe o que lê, não sabe o que assina, não sabe o que fez.
65 – UM NOVO MODELO DE CORRUPÇÃO: SAEM AS EMPREITEIRAS, ENTRAM AS AGÊNCIAS DE PUBLICIDADE
[Aqui um erro retórico do RJ: as agências SEMPRE fizeram parte do modelo de corrupção.]
É impossível ganhar uma eleição sem caixa 2. (...) No poder,
o partido vitorioso passa a fazer seu caixa, com recursos que chegam por três caminhos:
obras publicas, publicidade e, mais recentemente, contratos de informática. (...)
Quando o sistema inteiro é corrompido, é
como um tubo de esgoto: não passa um só filete de água limpa, todos se sujam. Até
mesmo se fossem eleitas as carmelitas descalças, elas se corromperiam nesse
sistema.
O máximo que se pode almejar é dificultar a corrupção e desestimulá-la. Só o fortalecimento das instituições será capaz de coibir essas práticas.
No governo FH, corria o boato de que uma operação muito lucrativa era a compra e venda de ações de estatais. Por exemplo, agentes ligados ao governo compravam lá fora ações da Petrobras, dias antes de se avisar ao mercado que a estatal começaria a exploração de mais um campo de petróleo. O anuncio oficial da descoberta triplicava o valor das ações, e os papeis eram vendidos com altíssima margem de lucro.
O banco, quando não recebe
o que emprestou, lança o valor como perda no balanço, e abate no Imposto de
Renda. (...) É assim que se lava dinheiro nessas instituições financeiras.
Os empreiteiros eram os principais beneficiários, mas também as maiores vitimas da corrupção. Porque, para eles, não existia a possibilidade de ficar à margem da corrupção. Mesmo os mais honestos dificilmente conseguiam evitar participar dos mecanismo desonestos de apropriação da coisa pública.
Sem falar que falta entrosamento entre a Receita Federal, o Banco Central, a Polícia Federal e o próprio Tribunal de Contas na troca de informações. Existe uma certa ciumeira, uma disputa de poder entre os órgãos de ficalizacao.
“Meu neto, atrás de toda manchete escandalosa tem um interesse maior e mais escandaloso.” [advertência do avô de RJ]
“O jornal que vive de manchetes escandalosas, de libelos, quer acertar sempre com o governo.” [idem]
Não foi o Brasil que inventou esse caminho. Pouco tempo atrás, descobriram no Canadá que, numa operação parecida com a do Marcos Valério, 81 milhões de dólares de publicidade oficial foram desviados para a conta do Partido Liberal.
87 – OS MOEDEIROS FALSO DA POLÍTICA
“Todo homem que se
vende recebe muito mais do que vale”.
Para mim, hoje o PT e o PSDB são uva da mesma videira (...) São como irmãos que brigaram na infância e não conversam até hoje. A feiúra moral de ambos é equivalente. A diferença é que um é intelectual, o outro é tosco.
A relação entre o PT e o PSDB é pautada pela alternância entre amor platônico e ódio visceral: um quer ser hoje o que o outro foi ontem.
109 – A METAMORFOSE DO PT: DE PARTIDO DE ESQUERDA A PARTIDO DOS BANQUEIROS
Muitos [filiados do PT] passaram a ter um nível de vida que não conheciam e viveram isso muito alegremente.
125 – DE BISPO RODRIGUES E WALDOMIRO DINIZ A CELSO DANIEL E TONINHO DO PT: SINAIS DA CRISE
141 – DO APOIO A FERNANDO HENRIQUE À ALIANCA COM CIRO GOMES EM 2002: O PTB ANTES DE Lula
Esse episódio serve para ilustrar como, na política brasileira, questões pessoais muitas vezes prevalecem sobre interesses mais amplos.
Já naquela época [1989] Brizola dava a entender que Lula tinha problemas com o álcool. Na campanha de 1998, quando Brizola era candidato a vice, ele voltou a comentar que Lula bebia demais, só chegava nas reuniões embriagado, era um problema danado.
Em 1989, Brizola ficou fora do segundo turno por menos de 0,5% do eleitorado, sem direito a recontagem. Recebeu 11.166.228 votos, contra 11.622.673 de Lula.
[Em discurso na câmara em 1994] “Bem feito para você! Eu te avisei que essa gente não se recebe em casa! Você não pode botar um Genoíno no convívio da tua família! (...) achou que ia gostar de você? Não gosta, porque o PT não gosta do ser humano. Eles gostam de uma abstração que só existe na cabeça deles, que é o Estado perfeito.”
161 – A VITÓRIA DE Lula: APESAR DA ALIANÇA, UM DESASTRE PARA O PTB
177 – A VERDADE SOBRE O FINANCAMENTE DE CAMPANHAS E O CAIXA 2
[Em artigo publicado em 18 de julho de 2005, na Folha] Por que a mentira? Os empresários sérios não sentem proteção à sua imagem para doar legalmente. Os contribuintes por fora estão protegidos nos silêncios e cumplicidades. Os corretos, ficando expostos, temem a perseguição da imprensa, geralmente pautada por interesses dos grupos rivais ou vencedores.
Ainda não vi uma legislação que realmente acabe com o caixa 2 [sugestão: o estado contribui com 1 para cada 1 doado legalmente]. Não é punindo que se resolverá o problema, e sim preservando quem doa. O curioso é que sempre se propõe investir em mais fiscalização. Mas se pensarmos que os aparelhos ficais são os maiores focos de corrupção, isso é um contra-senso. É muito mais eficaz criar sistemas e métodos auto-reguláveis, pouco dependentes de controle externo.
A afinidade de interesses é que determina a doação, não o contrário.
Não vendi minha opinião, sempre tive o mesmo alinhamento ideológico. Para mim, desarmamento é demagogia. Os homicídios no ;Brasil são praticados por guerras de quadrilhas ou por justiçamento, isto é, o assassinato de suspeitos por policiais. Todo mundo sabe disso. Não é o chefe de família que mata.
A minha prestação de contas da campanha de 2002, disponível na página do Tribunal Superior Eleitoral, soma apenas 144.900,00. Menti, como todos mentiram. Esse processo começa na mentira e deságua no PC Farias, em Delúbio Soares e Marcos Valério.
É preciso acabar com a hipocrisia eabrir um debate às claras. No governo tucano, as empresas ideologicamente afinadas com o PSDB ganharam a amioria dos bontratos públicos. E é natural que, no governo do PT, outras empresas fosssem beneficiadas. Isso faz parte da democracia: a alternância de grupos no poder. O que é escuso é a fraude ao Fisco.
[Em discurso na CPMI sobre proposta de financiamento público de campanha] Eu não quero vestir amanhã uma camiseta “Roberto Jefferson, deputado federal”, sabendo que a camiseta que coloco no meu corpo tira do velho no hospital o remédio de que ele precisa. Eu não quero botar uma corneta de som no meu carro sabendo que vou tomar de uma criança a vaga na escola.
201 – A SEDUÇÃO DAS FABRIQUINHAS: POR QUE OS PARTIDOS POLITICOS DISPUTAM CARGOS NAS ESTATAIS?
No Brasil, as nomeações políticas para diretorias de estatais sempre tiveram o objetivo de fazer caixa para o partido. Por isso os políticos disputam com unhas e dentes a ocupação de cargos em todos os níveis de governo.
Desde que ingressei na política é assim, em todos os partidos.
Aqueles que são designados para ocupar cargos de relevância têm essa missão: arrecadar contribuições dos prestadores de sérvio privados para o partido que o indicou. Sempre assumi isso de publico.
223 – ELEICOES DE 2004: R$ 20 MILHÕES E UM CHEQUE EM BRANCO DE Lula
[Resposta de José Dirceu a RJ] “Roberto, a Polícia Federal é meio tucana. Botou em cana 62 doleiros agora, véspera de eleição. A turma que ajuda não está podendo internar dinheiro no Brasil.”
237 – DO MENSALAO AO CAREGUINHA: OS ANTECEDENTES DO ESCÂNDALO
Segundo o COAF, entre agosto e outubro de 2003, quando estava sendo votada a reforma da Previdência, Valério sacou R$ 6,4 milhões.
[Assim, CQD e venho afirmando sempre, a Receita Federal sabe tudinho, mas, controlada pelo executivo, fica caladinha e só se manifesta quando precisa ser usada para denegrir um desafeto.]
Também falei sobre o casão da Patrícia Seixas Rodrigues, companheira [leia-se “amante”] nossa de partido que tinha uma ligação afetiva [!!!] com o Martinez [então presidente do PTB] e ficou desamparada após a morte dele, numa situação delicada. A bancada do PTB tinha ficado de se cotizar para ajudá-la, e não o fez. Isso ia acabar dando um problema enorme, com repercussões na família do Martinez. Por isso Delúblio liberou R$ 200 mil para a Patrícia. E foi só. Uma questão pessoal isolada, que não pode ser confundida com repasse político. [!!!]
263 – CONTO A Lula O QUE É O MENSALÃO, E COMEÇA O INFERNO
285 – ROBERTO, VAMOS RESOLVER ESSE NEGÓCIO POR CIMA, DEIXA O DIMAS LÁ: FURNAS
Quero deixar claro aqui que esses recursos não saíam do caixa da estatal. Eram contribuições das empresas que forneciam serviços – como funciona em todas as estatais: daí os partidos se digladiarem por nomeações em diretorias importantes, como expliquei anteriormente. [!!!]
293 – O DIA EM QUE A CASA CIVIL E A ABIN PAUTARAM A IMPRENSA.
E a ABIN não foi capaz de descobrir que o Marcos Valério sacava R$ 1 milhão por dia nas agencias do Banco Rural, em Minas Gerais, e no prédio do Brasília Shopping, no nono andar, onde muitos assessores de deputados sacavam o Mensalão. De um serviço de inteligência assim a sociedade brasileira não precisa.
[Sobre os arapongas da ABIN] Basta pagar que eles fazem. Como verdadeiros mercenários, ora servem a um lado, ora servem ao outro. Serviram a FH, agora servem a Lula.
319 – EU ACUSO: AS ENTREVISTAS NA FOLHA DE SÃO PAULO
335 – NERVOS DE AÇO: QUE FIM LEVARAM OS R$ 4 MILHÕES
[Neste capítulo basicamente ele procura comprovar que o PT lhe deu 4 milhões mas se recusa a identificar a quem repassou por um dever ético.]
351 – “NUNCA NA HISTÓRIA DESTE PAÍS...”: O BRSIL DO GOVERNO Lula
Os políticos têm o dever de defender os interesses do empresariado, porque é o setor que gera emprego e receita para os estados. Defender o interesse do capital, nesses termos, não é crime. Nesse sentido, é justo que um empresário que faz doações para a campanha eleitoral de um político espere ser beneficiado, se este político for eleito. Não por meio de decisões ilegais ou falcatruas, nem mesmo por meio de contratos diretos com sua empresa, mas porque aquele político irá defender os seus interesses, e os interesses do seu município junto ao governo federal.