EXTRATO DE: MEUS DEMÔNIOS

 

TÍTULO DO ORIGINAL: MES DÉMONS

AUTOR: EDGAR MORIN

EDITORA: BRETRAN BRASIL - 1997

 

O CHAMADO DOS DEMÔNIOS

 

Princípio de Tarsky = nenhum sistema pode dar de si mesmo uma explicação exaustiva (porque há em nós uma parte de inexplicável)

 

Sei não paenas q a percepção de um acontecimento pode incluir seleção do q parece principal, ocultação ou esquecimento do q incomoda, mas tb q a lembrança pode alterar seriamente o q ela rememora.

 

Às vezes, sinto a presença muito próxima de meu duplo, estranho a mim mesmo e que, no entanto, soueu mesmo.

 

(...) minha preocupação (...) é o problema da islusao e do erro, a começar pela ilusão e pelo erro sobre si mesmo.

 

1 - UM ONÍVORO CULTURAL

 

(...) as conseqüências da ação escapam das intencoes de seus iniciadores (...)

 

(...) me perguntava se o q há de mais enigmático no mundo n era analogo ao que de mais enigmático existe no homem.

 

[a descoberta do ADN mostrou ] q a matéria viva n era senão a matéria físico-quimica e q n existia, portanto, substancia viva (...)

 

As 3 teorias: a cibernética, a teoria dos sitemas e a teoria da info

 

)...) fui levado aa convicção de q o sentido verdadeiro q era preciso extrair da revolução biológica era organizacional. (...) mas não se pode excluir desta concepção a desordem

 

(...) a leitura de von Neumann me mostrava q a organização viva tinha a propriedade de se manter e de se desenvolver n somente apesar da desordem, mas com ela, utilizando as degradações moleculares ou celulares para se auto-regenerar.  (...) Uma certa [!!!] desordem, em certas condições, podia produzir organização.

 

(...) cultura é a junção do q está separado (...). A cultura é, em suma, o q ajuda o espírito a contextualizar, globalizar e antecipar.

 

(...)Tornar-se culto é uma aventura perigosa.

 

 

2 – O TRABALHO DAS CONTRADIÇÕES

 

Tenho, ao mesmo tempo, o sentimento da irredutibilidade da contradição e o sentimento da complementaridade dos contrários.

 

São as faces contraditórias de minha pessoa ou, antes, as pessoas contraditórias de minha face q se combatem, se alternam, se misturam...

 

Hegel me revelava u visão da verdade q respondia a minha necessidade: era falsa toda idéia fechada, cristallizada, abstrata, separada da totalidade de q faz parte; mas toda idéia falsa era verdadeira, na medida em q exprimia u parcela da totalidade.

 

Se é o fireito, é tb a força; se é a democracia, é tb a opressão; se é a espiritualidade, é tb a materialidade; se é a medida, é tb a ultrapassagem da medida; se é a razão, é tb o mito, inclusive no interior da idéia de razão.

 

O cosmo é o caosmo. O mundo físico é o produto de u desentegracao organizadora; não se pode concebe-lo sem se referir a um tetragrama incompreensível ordem-desordem-interacoes-organizacao: estes quatro termos são, ao mesmo tempo, complementares, concorrentes e antagônicos. Introduzo a contradição na idéia de organização, já q esta é, ao mesmo tempo, mais e menos q a soma das partes q a constituem e comporta um antagonismo interno.

 

“A fonte de todas as heresias é não conceber o acordo de duas verdades opostas.” Pascal

 

“Na lógica formal, u contradição é o indicio de u derrota, mas , na evolução do sagber, ela marca o primeiro passo do progresso em direção aa vitória.” Whitehead.

 

A civilização contem tb a barbárie; a razão, o contra-senso; um contém tb o outro; o perfeito é monstruoso; a ordem contém tb a desordem; os intelectuais criticam os mitos e os produzem; o progresso do conhecimento faz progedir o mistério etc.

 

Sei q é preciso tanto conservar quanto revolucionar.

 

É quase instintivamente que, diante de qq idéia, procuro seu contrário.

 

Certamente, cada ser humano abriga, ao mesmo tempo, uma racionalidade, uma mística, uma fé e uma duvida, mas, em geral, são compartimentados, não se comunicam, ou então cada um rechaça violentamente seu antagonista.

 

Viver no duelo dos contrários, isto é, nem na duplicidade sem consciência nem no “justo-meio”, mas na medida e na desmedida; não numa resignação morna, mas na esperança e no desespero, não num vago tédio ou num vago interesse diante da vida, mas no horror e no maravilhamento.

 

3 – AUTO-ÉTICA

 

Moral é aquilo q serve aa revolução, imoral o q não serve a ela.

 

O contrário de uma idéia profunda é uma outra idéia profunda.

 

Aqueles q não querem compreender condenam a compreensão por suas conseqüências, isto é, pq ela impediria a condenação. A compreensão tende, de fato, a impedir o castigo físico, mas não impede a condenação moral, já q favorece o julgamento intelectual.

 

A pátria é o mito q ampliou ao conjunto de uma nação os caracteres intrínsecos da solidariedade familiar.

 

O emprego do princiipio de complexidade esclarece as virtudes da solidariedade. Quanto mais u sociedade é complexa, menos rígidas ou duras são as obrigações q pesam sobre os indivíduos e os grupos, de modo q o conjunto social pode se beneficiar das estratégias, iniciativas, invenções ou criações individuais.

 

(...) a impossibilidade de ser totalmente consciente do q se passa na maquinaria de nosso espírito, que sempre comportará alguma coisa de fundamentalmente inconsciente.

 

A ecologia da ação ensina-nos q toda ação escapa cada vez mais aa vontade de seu autor, entrando no jogo das inter-retro-acoes do meio onde ela intervém. Assim, a ação arrisca-se não paenas aa derrota, mas tb ao desvio ou a perversão de seu sentido inicial e pode até se voltar contra seus iniciadores.

 

Assim, não se pode ter plena segurança de q uma ação vai contribuir no sentido de sua intenção.

Conseqüentemente, todo ser consciente é cem por cento responsável pelo que faz, diz e escreve, e cem por cento irresponsável pelas conseqüências do q faz, diz e escreve, inclusive das interpretações de suas palavras ou das leituras de seus escritos. Nosso destino é o da responsabilidade irresponsável.

 

O bem geral corre o risco de permanecer abstrato e, sobreturdo, podemos nos enganar sobre o bem geral como o fizeram tantos militantes dedicados q acreditavam lutar para emancipar a humanidade contribuindo na realidade para sua servidão.

 

(...) até onde pode-se ir na audácia, arriscando perder tudo, ou na prudência, arriscando não ganhar nada?

 

Num futuro próximo, haverá o antagonismo entre a liberdade de escolha do sexo, dos traços morfológicos e das patidoes da cianca e o risco de normalização biológica do ser humano....