EXTRATO DE: O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA

As evidências da evolução

Autor: Richard Dawkins

Ed.: Companhia das Letras 2009/2009

 

35

A idéia do reservatório gênico (gene pool) é central ao conjunto de conhecimentos e teoria que se designa pelo nome de “síntese neodarwiniana”.

 

36

Qualquer um dos nossos espermatozóides (ou óvulos, no caso das mulheres) contém uma versão de determinado gene que é a mesma versão do gene paterno ou a mesma do gene materno, e não uma mistura das duas versões. E esse gene especifico provem de um, e apenas um, dos quatro avós, e de apenas um dos oito bisavós.

Em NR ele esclarece que: Para todos os fins práticos podemos supor que seja verdade.

 

39

Só para burilar essa idéia dos reservatórios gênicos, quero dizer que cada animal individual que vemos numa população é uma amostra do reservatório gênico de seu tempo (ou melhor, do tempo de seus pais). (...) Quando ocorre um aumento ou diminuição sistemático na freqüência com que vemos determinado gene em um reservatório gênico, isso é justamente e precisamente o que significa evolução.

 

68

Os tarpões mais bem equipados para apanhar presas, por qualquer que seja a razão – músculos natatórios velozes, visão apurada etc. -, serão aqueles que sobreviverão e, portanto, os que se reproduzirão e transmitirão os genes que os tornam bem-sucedidos. Eles são “escolhidos” pelo próprio ato de se manter vivos, enquanto outro tarpão que, por qualquer que seja a razão, seja menos bem equipado não sobreviveria.

 

75

Uma vaca leiteira de raça pode produzir prodigiosas quantidades de leite, mas seu desajeitado úbere balouçante seria um estorvo horrível se ela tivesse de fugir de um leão. Os cavalos puros-sangues correm e saltam como nenhum outro, mas suas pernas são vulneráveis a lesões durante as corridas, especialmente ao saltar obstáculos, e isso sugere que a seleção artificial empurrou-os para uma zona que a seleção natural não teria tolerado.

 

76

A idéia é que a evolução do cão não foi apenas uma questão de seleção artificial. No mínimo, foi igualmente um caso de lobos que se adaptaram por seleção natural ao modo de vida do homem. Boa parte da domesticação inicial do cão foi uma autodomesticação mediada pela seleção natural, e não artificial.

 

Se você encontrar um animal comendo, pode medir sua “distância de fuga” vendo a que distância ele permite que você se aproxime antes de fugir. Para qualquer dada espécie em qualquer dada situação, haverá uma distância de fuga ótima, em algum ponto entre o arriscado ou temerário demais no extremo mais curto e o excessivamente arisco ou avesso ao risco no extremo mais longo.

 

77

A conclusão é que o animal tem uma distância de fuga ótima, bem situada entre a ousadia excessiva e a timidez excessiva. (...) Mas alguns indivíduos de uma espécie, por acaso genético, têm uma distância de fuga um pouco mais curta do que a média. Sua disposição para correr ligeiros riscos – são corajosos, digamos assim, mas não imprudentes – permite-lhes obter mais alimento do que seus rivais mais avessos ao risco. Com o passar das gerações, a seleção natural favorece uma distância de fuga cada vez mais curta até quase o ponto em que os lobos realmente ficassem em perigo na presença de humanos com pedras na mão. A distância de fuga ótima mudou em razão dessa recém-disponível fonte de alimento.

 

80

[De uma experiência realizada de domesticação de raposas feitas por Belyaiv e sua equipe]. Após meras 6 gerações de reprodução seletiva direcionada para a docilidade, as raposas haviam mudado tanto que os experimentadores viram-se obrigados a nomear uma nova categoria, a classe da “elite domesticada” (...) No início do experimento, nenhuma das raposas enquadrava-se na classe da elite. Depois de 10 gerações de reprodução voltada para a docilidade, 18% eram da “elite”; após vinte gerações, 35%; e depois de 30 a 35 gerações, os indivíduos da “elite domesticada” constituíam entre 70% e 80% da população experimental.

 

81

Presumivelmente, genes para orelhas caídas e pelagem malhada são pleiotropicamente vinculados a genes para docilidade, tanto nas raposas como nos cães. [ou seja] talvez a característica que escolhemos não seja a que importa. Ela pode ter “pegado carona”, sido arrastada junto na evolução por alguma outra característica à qual se liga pleiotropicamente.

 

[Esta questão se coaduna com a minha percepção de que determinados traços de personalidade são comuns em pessoas com mesmos traços físicos.]

 

83

Ver vídeo The ultraviolet garden na internet. Escolher o de 9 minutos.

 

89

A ordem de grandeza de um número é uma contagem do úmero de zeros antes ou depois do ponto decimal. Assim, uma variação de 8 ordens de grandeza é uma variação de 100 milhões de vezes.

 

90

Anéis de arvores, variações no clima, camadas geológicas são usados por dendrocronologistas para medir o tempo geológico.

 

94

O  modelo mais famoso para visualizar um átomo foi criado pelo grande fisco dinamarquês Niels Bohr.

 

Quando vemos um sólido pedaço de ferro ou rocha, na realidade estamos olhando para o que é um espaço quase inteiramente vazio. Ele parece sólido e dá ao tato a sensação de solidez porque nosso  sistema sensório e nosso cérebro por conveniência o tratam como se fosse sólido e opção. É conveniente para o cérebro representar uma rocha como algo sólido porque não podemos atravessá-la. “Sólido” é o nosso modo de perceber pelos sentidos as coisas que não podemos atravessar andando ou caindo devido às forças eletromagnéticas entre os átomos. “Opaco” é a experiência que temos quando a luz ricocheteia na superfície de um objeto sem atravessá-lo.

 

95

Não existe próton com sabor de outro, elétron com sabor de cobre ou nêutron com sabor de potássio. Um próton é um próton é um próton, e o que faz um átomo de cobre é o fato de ele possuir exatamente 29 prótons (e exatamente 29 elétrons). O que comumente concebemos como a natureza do cobre é uma questão de química. A química é uma dança de elétrons, e se define pelas interações dos átomos por meio de seus elétrons. Nas ligações químicas apenas elétrons são separados ou trocados. Já as forças de atração dos núcleos atômicos são muito mais difíceis de romper (...) mas pode ocorrer em reações nucleares em vez de químicas, e os relógios radioativos dependem disso.

 

97

Meia-vida de um isótopo radioativo é o tempo necessário para que metade dos seus átomos sés desintegre. A meia-vida é sempre a mesma, não importa quantos átomos já tenham se desintegrado – é isso que significa desintegração exponencial. (...) A meia-vida do carbono-14 situa-se entre 5 mil e 6 mil anos. Para espécimes mais antigos do que 50 mil-60 mil anos a datação por carbono é inútil, e precisamos recorrer a um relógio mais lento.

 

A meia-vida do rubídio-87 é 49 bilhões de anos. A do férmio-244 é 3,3 milissegundos. Esses impressionantes extremos servem para ilustrar o estupendo alcance dos relógios disponíveis. Embora a meia-vida de 2,4 segundos do carbono-15 seja curta demais para resolver questões evolucionárias, a meia-vida do carbono-14, 5730 anos, é perfeita para datar na escala de tempo arqueológica.

 

106

[Quanto ao Santo Sudário]  Quando a espectrometria de massa tornou possível datar uma amostra (...) o Vaticano autorizou o corte de uma pequena faixa. (...) Trabalhando em condições de escrupulosa independência – sem comparar notas -, três laboratórios (Oxford, Arizona e Zurique) entregaram seu veredicto sobre a data em que o linho do qual o tecido era feito havia morrido. Oxford disse 1200 d.C., Arizona, 1304 d.C, e Zurique, 1274 d.C. (...) datas compatíveis com a data dos anos 1350 d.C em que o sudário foi pela primeira vez mencionado na história.

 

115

Imagine se pudéssemos descongelar Lucy, o magnífico fóssil pré-humano descoberto por Don Johanson, trazê-la de volta à vida e pôr sua espécie novamente para evoluir!

 

128

O estudo de Lenski mostra, em microcosmo e no laboratório, altamente acelerados, de modo a ocorrer bem diante dos nossos olhos, muitos dos componentes essenciais da evolução pela seleção natural: mutação aleatória seguida por seleção natural não aleatória; adaptação ao mesmo meio por rotas separadas ocorrendo independentemente; o modo como sucessivas mutações beneficiam-se de suas predecessoras e produzem mudança evolucionaria; o modo como alguns genes dependem, para seus efeitos, da presença de outros genes. E no entanto tudo isso aconteceu em uma ínfima fração do tempo que a evolução normalmente demora.

 

131

Em algumas populações, os lebistes machos adultos tinham cores iridescentes quase tão vivas quanto as dos lebistes criados em aquário. Ele deduziu que seus ancestrais haviam sido selecionados pelas fêmeas por suas cores, do mesmo modo que os faisões machos são selecionados pelas faisoas.

 

194

Qualquer que seja a idade para votar, ninguém realmente acha que quando o relógio dá meia-noite no dia do décimo oitavo aniversário você verdadeiramente se torna uma pessoa diferente. (...) Os negadores da história agarram-se a essa convenção nomenclatural dos museus como se ela fosse evidência de uma ausência de intermediários no mundo real. Ora, assim também poderíamos dizer que não existem adolescentes, pois cada pessoa que olhamos ou é um adulto votante ou é uma criança não votante. Equivale a dizer que a necessidade legal de um limiar para a idade de votar prova que a adolescência não existe.

 

198

Seja como for, boa parte da mudança evolucionária consiste em mudanças na razão à qual certas partes crescem em relação a outras partes. Chamamos esse crescimento de heterocrônico (“em ritmos desiguais”). Aço que estou querendo dizer que a mudança evolucionária é fácil assim que aceitamos os fatos observados da mudança embriológica. Os embriões formam-se por crescimento diferencial – pedaços diferentes crescem a taxas diferentes. O crânio de um bebê chimpanzé transforma-se no crânio adulto através do crescimento relativamente rápido dos ossos dos maxilares e do focinho em relação a outros ossos cranianos.

 

201

Os preformacionistas acreditavam que o óvulo ou o esperma continham um bebê em miniatura, ou homúnculo.

 

203

O DNA tem um modo impressionantemente preciso de casar metade das informações paternas com exatamente a metade das informações maternas, mas como ele faria para casar metade da varredura do corpo da mãe com metade da varredura do corpo do pai:

 

221

Experimentos levaram o embriologista Roger Sperry, prêmio Nobel, a formular a hipótese da “quimioafinidade”, segundo a qual o sistema nervoso faz suas conexões não seguindo um gabarito geral, mas conforme um processo no qual cada axônio busca órgãos de destino com os quais tenha uma afinidade química particular.

 

234

Não existe um plano global de desenvolvimento, nenhum gabarito, nenhuma planta arquitetônica, nenhum arquiteto. O desenvolvimento do embrião e, em ultima analise, o do adulto, realiza-se graças a regras locais implementadas por células, que interagem com outras células em âmbito local. O que ocorre no interior das células, analogamente, é regido por regras locais que se aplicam a moléculas, em especial moléculas de proteína, dentro das células e nas membranas celulares, interagindo com outras moléculas afins.

 

236

O gene não sabe coisa alguma. A única coisa que ele está fazendo, em diferentes corpos e em sucessivas gerações, é reconstruir uma reentrância cuidadosamente esculpida numa molécula de proteína. O resto da história decorre espontaneamente, em cascatas ramificantes de conseqüências locais das quais por fim, emerge um corpo inteiro.

 

242

A maioria dos biólogos usa o termo “especiação” para se referir à divisão de uma espécie em duas espécies-filhas. A maioria dos biólogos dirá que o isolamento geográfico é o prelúdio normal para a especiação, embora alguns, principalmente os entomologistas, possam acrescentar que a “especiação simpatrica” também pode ser importante. A especiação simpátrica também requer algum tipo de separação acidental inicial para dar a partida no processo, mas essa separação é um pouco diferente da separação geográfica. Poderia ser uma mudança local no microclima.

 

247

O vice-governador das ilhas Galápagos assanhou a curiosidade de Darwin comentando que “Nunca sonhei que ilhas, separadas por cinqüenta ou sessenta milhas e a maioria delas à vista uma da outra, formadas precisamente das mesmas rochas, submetidas a clima muito semelhantes, elevadas a alturas quase iguais, fossem diferentemente ocupadas”.

 

[estou tendo a idéia de usar a tecnologia wiki para desenvolver uma trama sobre Deus x Darwin. Deusdarwin.wiki.br]

 

256

Darwin: “o naturalista que viaja, por exemplo, do norte para o sul nunca deixa de notar a maneira como sucessivos grupos de seres, especificamente distintos e no entanto claramente aparentados, dão lugar uns aos outros. Ele ouve de pássaros de tipos distintos, mas proximamente aparentados, notas muito semelhantes, e vê seus ninhos construídos de modos parecidos, porém não idênticos, com ovos coloridos quase da mesma maneira.

 

257

Na época de Darwin, todos pensavam que o mapa do mundo fosse praticamente uma constante. Alguns dos contemporâneos de Darwin, admitiam a possibilidade da existência de grandes pontes terrestres, agora submersas, para explicar as semelhanças entre as floras da América do Sul e da África.

 

A teoria da “deriva continental”, como antes era chamada, foi defendida pela primeira vez pelo climatologista alemão Alfred Wegener (1880-1930). (...) Não estou falando de pequenos exemplos localizados, como o encaixe perfeito da ilha de Wight na costa de Hampshire, quase como se não existisse o estreito de Solent. (...) E não apenas as formas encaixam-se aproximadamente: Wegener ressaltou também formações geológicas a norte e a sul do lado oriental da América do Sul que correspondem a partes do lado ocidental da África.

 

258

No decorrer de um imenso período do tempo geológico, Wegener conjecturou, a Pangeia gradualmente fragmentou-se, formando os continentes que hoje conhecemos, e estes, por sua vez, afastaram-se por uma lenta deriva até as posições que hoje ocupam – uma deriva que ainda não cessou.

 

Na teoria da tectônica de placas, toda a superfície da Terra, inclusive o fundo dos vários oceanos, consiste em uma série de placas rochosos sobrepostas, com numa armadura de cavaleiro medieval. Os continentes que vemos são espessamentos das placas que se erguem acima da superfície do mar. A maior parte da área de cada placa está submersa.

 

264

Atualmente o norte magnético situa-se próximo à ilha Ellesmere, no norte do Canadá, mas não permanecerá nesse local. Para determinar o verdadeiro norte usando uma bússola magnética, os navegantes têm de consultar um fator de correção, e esse fator muda de ano a ano, conforme varia o campo magnético do planeta.

 

273

Os esqueletos de todos os mamíferos são idênticos, mas seus ossos individuais diferem.

 

294

Cada animal individual tem sua história de desenvolvimento. Começa como embrião e cresce, um crescimento desproporcional nas diferentes partes do corpo, até tornar-se adulto.

 

295

Assim como o esqueleto dos vertebrados é invariável para todos os vertebrados enquanto os ossos individualmente considerados diferem, e assim como o exoesqueleto dos crustáceos é invariável para todos os crustáceos enquanto os “tubos” individualmente considerados variam, também o código do DNA é invariável para todos os seres vivos enquanto os genes individualmente considerados variam.

 

297

É a hibridização de DNA que geralmente está por trás de afirmações do tipo “Humanos e chimpanzés têm em comum 98% dos genes”. (...) Mas isto não significa coisa alguma, a menos que se especifique o tamanho da unidade que está sendo comparada. Estamos contando capítulos, palavras, letras ou o quê? O mesmo vale quando comparamos DNA de duas espécies. Se compararmos cromossomos inteiros, a porcentagem em comum será zero, pois é preciso apenas uma minúscula diferença em alguma parte dos cromossomos para defini-los como diferentes.

 

Quando aquecemos gradualmente o DNA, chega um ponto, por volta dos 85 graus, em que se rompe a ligação entre as duas fitas da dupla-hélice e as duas hélices separam-se. (...) Se permitirmos que se resfriem novamente, cada hélice isolada espontaneamente se reunirá a outra hélice isolada, ou a um fragmento de uma hélice isolada, sempre que encontrar uma com a qual possa emparelhar usando as regras usuais do pareamento de bases da dupla-hélice. (...) Fragmentos de DNA encontrarão outros fragmentos com os quais podem emparelhar e o mais das vezes não será exatamente o seu parceiro original. (...) DNA é apenas DNA. Ele não “se importa” se é DNA de humano, de chimpanzé ou de maçã. (...) Não obstante a força de ligação nem sempre é igual. Trechos de DNA em uma só hélice ligam-se mais fortemente a trechos de hélice solitária que são seus companheiros do que com trechos de hélices isoladas menos semelhantes.

 

Como se mede a força dessas ligações? Basta medir o “ponto de fusão” das ligações.  (...) Como regra prática, cada diminuição ode 1 grau Celsius no “ponto de fusão” equivale aproximadamente a uma diminuição de 1% no número de letras de DNA equivalentes (ou a um aumento de 1% no número de dentes faltantes no zíper).

 

300

O fundamental, aqui, é que a hibridização do DNA é a técnica que leva os cientistas a obter números como 98% para a semelhança genética entre humanos e chimpanzés, e ela fornece porcentagens previsivelmente menores conforme se comparam pares de animais que tenham parentesco mais distante.

 

O mais recente método de medir a semelhança entre um par de genes correspondentes de diferentes espécies é o mais direto e o mais caro: ler a seqüência de letras dos próprios genes, usando os mesmos métodos que foram empregados para o Projeto Genoma Humano.

 

305

Se a tecnologia da genética molecular continuar a expandir-se no atual ritmo exponencial, por volta do ano 2050 determinar a seqüência completa do genoma de um animal será barato e rápido, quase tão fácil quanto medir a temperatura ou a pressão sanguínea. (...) Uma versão da lei de Gordon Moore diz que o número de unidades que podem ser armazenadas em um circuito integrado de determinado tamanho duplica a cada período de 18 meses a 2 anos e pouco. É uma lei empírica, o que significa que, em vez de derivar de alguma teoria, ela simplesmente se revela verdadeira quando medimos os dados.

 

Ver árvore filogenética, de David Hillis e outros: http://www.zo.utexas.edu/faculty/antisense/DownloadfilesToL.html

 

311

Uma mudança genética neutra não tem efeito sobre a sobrevivência do animal, e essa é uma credencial útil para um relógio. Isso porque genes que afetam a sobrevivência, de modo positivo ou negativo, presumivelmente evoluem a uma taxa que é mutável porque reflete esses efeitos na sobrevivência.

 

312

Mutação neutra é aquela que, embora facilmente mensurável por técnicas da genética molecular, não é sujeita à seleção natural, nem de modo positivo, nem de modo negativo.

 

Os "pseudogenes" são neutros por um tipo de razão. São genes que em algum momento já fizeram algo útil, mas agora estão de lado, nunca sendo transcritos ou traduzidos.

 

Deixando de lado os pseudogenes, é um fato notável que a maior parte do genoma (95%, no caso dos humanos) poderia muito bem n ao existir, pela diferença que faz. A teoria neutra aplica-se até a muitos dos genes pertencentes aos outros 5% - aqueles que são lidos e usados. (...) O que estamos dizendo é que uma versão mutante do gene tem exatamente o mesmo efeito que a versão que não sofreu mutação. Por mais importante ou desimportante que o próprio gene possa ser, a versão mutada tem o mesmo efeito da versão não mutada.

 

313 – NR

"Degenerado" não é o mesmo que "redundante", outra palavra do jargão da teoria da informação (embora muitos confundam esses dois termos). Código redundante é aquele no qual a mesma mensagem é transmitida mais de uma vez (por exemplo, "ela é mulher fêmea" transmite a mensagem sobre o gênero 3 vezes). A redundância é usada pelos engenheiros para prevenir a transmissão de erros. Código degenerado é aquele no qual mais de uma "palavra" é usada para denotar a mesma coisa. No código genético, por exemplo, CUC e CUG indicam, ambos, "leucemia": uma mutação de CUC para CUG, portanto, não faz diferença. Isso é "degenerado".

 

314

Fixação. Uma nova mutação, se for genuinamente nova, terá baixa freqüência no reservatório gênico. Se reexaminarmos o reservatório gênico 1 milhão de anos depois, é possível que a mutação tenha aumentado de freqüência para 100% ou algo próximo disso. Quando isso ocorre, dizemos que a mutação foi “fixada”. Não mais pensamos nela como uma mutação. Ela agora é a regra.

 

315

Genes fixados são os genes que caracterizam uma espécie.

 

O turnover dos genes da histona caracteristicamente se dá à taxa de uma mutação a cada 1 bilhão de anos. Os genes de fibrinopeptídeo são mil vezes mais rápidos, com um turnover de uma nova mutação fixada a cada 1 milhão de anos. Os genes do citocromo-C e o conjunto dos genes da hemoglobina têm turnovers intermediários, com tempo de fixação medido em milhões a dezenas de milhões de anos.

 

318

Quando sentimos frio ou muito medo, ou quando nos fascinamos com a incomparável maestria de um sonete de Shaekespeare, ficamos arrepiados. Por quê? Porque nossos ancestrais foram mamíferos normais, com pelos no corpo todo, os quais subiam ou baixavam sob o comando de termostatos sensitivos. Se fizesse muito frio, os pelos se eriçavam para aumentar a camada de ar isolante capturada entre os pelos. Se esquentasse muito, a pelagem baixava para permitir que o calor corporal escapasse mais facilmente.

 

327

Quando as formigas rainhas iniciam sua nova vida no subsolo, a primeira coisa que fazem é perder as asas, em alguns casos arrancando-as a mordidas: uma dolorosa evidencia de que as asas são um estorvo no subsolo. Não admira, pois, que nas formigas operárias as asas nunca se desenvolvem.

 

 

330

"Como é que perder os olhos beneficiaria um espécime de salamandra das cavernas de modo a aumentar sua probabilidade de sobreviver e se reproduzir em comparação com outra salamandra que mantém um par de olhos perfeitos mesmo sem nunca os usar?”

 

Ora, olhos quase certamente não são isentos de custo. Além dos nada modestos custos de produzir um olho, uma cavidade ocular úmida que precisa ser aberta para o mundo a fim de acomodar o globo giratório com sua superfície transparente poderia ser vulnerável a infecções. Portanto, uma salamandra das cavernas que selasse os olhos sob uma pele dura poderia sobreviver melhor do que um indivíduo rival que mantivesse seus olhos.

 

A seleção natural penaliza prontamente as mutações ruins. Os indivíduos que as possuem têm probabilidade maior de morrer e menor de se reproduzir, e isso automaticamente remove essas mutações do reservatório gênico.

 

332

Uma razão pela qual o olho parece melhor do que o físico Helmholtz julgava é que o cérebro faz um trabalho impressionante de limpeza das imagens posteriormente, como uma espécie de ultrarrefinado Photoshop automático.

 

Assim, o que falta ao olho em óptica, o cérebro compensa com seu sofisticado software de simulação de imagem.

 

352

A energia solar captada pelos cloroplastos nas plantas está na base de complexas cadeias alimentares nas quais a energia passa sucessivamente de plantas a herbívoros (que podem ser insetos), carnívoros (que tanto podem ser insetos ou insetívoros como lobos e leopardos), comedores de carniça (como os abutres e besouros-do-esterco) e, por fim, agentes de decomposição como os fungos e as bactérias. A cada estagio dessas cadeias alimentares, parte da energia é perdida em forma de calor quando passa de um receptor a outro, e parte é usada para impelir processos biológicos, por exemplo, contrações musculares. Nenhuma nova energia é acrescentada depois da entrada inicial proveniente do sol. Com algumas interessantes mas ínfimas exceções, como os habitantes das "chaminés" nas profundezas oceânicas, cuja energia deriva fé fontes vulcânicas, toda a energia que move a vida provém, em última análise, da luz do sol, captada por plantas.

 

353

Um exemplo bem conhecido de acordo de restrição mútua é o acordo tácito de sentar-se para assistir a um espetáculo como uma corrida de cavalos. Se todos ficarem sentados, ainda assim uma pessoa alta verá melhor do que uma pessoa baixa, exatamente como ocorreria se todo mundo ficasse de pé. Mas a vantagem de sentar-se é o maior conforto para todos. Os problemas começam quando alguém de baixa estatura, sentado atrás de um sujeito alto, levanta-se para ver melhor.

 

357

Hugh Cott, biólogo britânico – Antes de afirmar que a aparência enganosa de um gafanhoto ou borboleta é desnecessariamente detalhada, primeiro devemos verificar quais são os poderes de percepção e discriminação dos inimigos naturais desses insetos. Não fazê-lo é como dizer que a blindagem de um cruzador é pesada demais ou que seu conjunto de canhões é demasiado grande, sem investigar a natureza e a eficácia do armamento do inimigo. O fato é que, na primeva luta da selva, assim como nos refinamentos da guerra civilizada, vemos em progresso uma grande corrida armamentista evolução – cujos resultados, para a defesa, manifestam-se em recursos como velocidade, estado de alerta, couraça, espincescência, hábitos subterrâneos, hábitos noturnos, secreções venenosas, gosto nauseante e coloração procríptica, aposemática e mimética; e, para o ataque, em atributos compensadores como velocidade, surpresa, emboscada, atração, acuidade visual, garras, dentes, ferroes, presas venenosas e coloração anticríptica e atrativa. Assim como a velocidade do perseguido desenvolveu-se em relação a um aumento na velocidade do perseguidor, ou uma couraça defensiva em relação a armas ofensivas, também a perfeição de recursos de disfarce evoluiu em resposta a poderes crescentes de percepção.

 

358

Quando um guepardo caça uma manada de gazelas, pode ser mais importante para uma gazela correr mais rápido do que o membro mais lento da manada do que ser mais veloz do que o guepardo.

 

O guepardo, se vamos falar em design, é esplendidamente projetado para matar gazelas. Mas o mesmíssimo designer também se desdobrou o quanto pôde para projetar uma gazela magnificamente equipada para escapar desses mesmos guepardos. Afinal de contas, do lado de quem esse designer está?

 

A seleção natural só se importa com a sobrevivência e reprodução de genes individuais.

 

360

A natureza nunca favorece uma reprodução que leve a um excesso. A natureza leva à compatibilizarão.

 

361

Nas gazelas, o trade-off entre a velocidade da corrida e outras demandas da economia corporal mudará o ponto ótimo dependendo da prevalência de carnívoros na área. É o mesmo caso dos lebistes. Havendo poucos predadores por perto, o comprimento ótimo da perna da gazela diminuirá; os indivíduos mais bem-sucedidos serão aqueles cujos genes os predispõem a desviar parte da energia e material das pernas para, digamos, produzir filhos ou acumular gordura para o inverno. 365

A natureza não é bondosa nem perversa. Não é contra nem a favor do sofrimento. A natureza não está interessada no sofrimento de um modo ou de outro a menos que ele afete a sobrevivência do DNA. É fácil imaginar, por exemplo, um gene que tranqüilizasse as gazelas quando elas estivessem prestes a receber uma mordida letal. Um gene assim seria favorecido pela seleção natural? Não, a menos que o ato de tranqüilizar uma gazela aumentasse as chances de esse gene propagar-se por gerações futuras. Não há uma razão concebível para que tal coisa deva ocorrer, portanto podemos supor que as gazelas sofrem dor e medo horríveis quando são perseguidas até a morte – e a maioria delas acaba sendo. A quantidade total de sofrimento por ano no mundo natural está além da nossa capacidade de imaginação. Durante o minuto que levo para compor esta frase, milhares de animais estão sendo devorados vivos, outros correm para salvar a vida, gemendo de pavor, outros são lentamente devorados por dentro por parasitas enervantes, milhares de todos os tipos estão sucumbindo de fome, sede e doença. Tem de ser assim. Se já houve uma época de abundância, esse mesmo fato automaticamente leva a um aumento na população até que o estado natural de fome e sofrimento seja restaurado.

 

368

Existem indivíduos que não são capazes de sentir dor. “Insensibilidade congênita à dor com anidrose” (CIPA, na sigla em inglês) é uma anomalia genética rara na qual o paciente não possui células receptoras na pele (e também não transpira – a “anidrose”).

 

371

Darwin, no último parágrafo de A origem das espécies:

 

Assim, da guerra da natureza, da fome e da morte surge diretamente o mais excelso objeto que somos capazes de conceber, a produção dos animais superiores. Há grandeza nessa visão da vida, com seus vários poderes, insuflada que foi originalmente em algumas formas ou em uma, e no fato de que, enquanto este planeta prossegue em seu giro de conformidade com a imutável lei da gravidade, de um começo tão simples evoluíram e continuam a evoluir infindáveis formas belíssimas e fascinantes.

 

Multiplicar, variar, deixar que vivam os mais fortes e morram os mais fracos.

 

374

“Ensine às crianças que elas são animais e elas se comportarão como animais”. Mesmo que fosse verdade que a evolução, ou o ensino da evolução, encoraja a imoralidade, isso não implicaria que a teoria da evolução é falsa.

 

Argumentum ad consequentiam: X é verdadeiro (ou falso) por causa do quanto eu gosto (ou desgosto) de suas conseqüências.

 

378

A sobrevivência não aleatória do DNA em corpos ancestrais é o modo obvio como as informações do passado são registradas para uso futuro, e essa é a rota pela qual o banco de dados primário de DNA é formado. Mas há três outras maneiras pelas quais as informações sobre o passado são arquivadas de modo a poder ser usadas para melhorar as chances futuras de sobrevivência: o sistema imune, o sistema nervoso e a cultura. Juntamente com asas, pulmões e outros mecanismos de sobrevivência, cada um dos 3 sistemas secundários de coleta de informações foi, em última análise, prefigurado pelo primário: a seleção natural do DNA. Poderíamos chamá-los conjuntamente de as 4 “memórias”.

 

380

As 4 memórias são, todas, partes ou manifestações da vasta superestrutura do conjunto dos recursos de sobrevivência que foi original e primariamente construído pelo processo darwiniano de sobrevivência não aleatória do DNA.

 

O dicionário de 64 palavras pelo qual palavras de três letras do DNA são traduzidas em vinte aminoácidos e um sinal de pontuação que indica “comece a ler aqui” ou “pare de ler aqui” é o mesmo dicionário de 64 palavras onde quer que examinemos nos reinos vivos.

 

382

Durante o inverno no hemisfério norte, os raios de sol, quando chegam até nós, fazem-no a um ângulo mais aberto. Os oblíquos raios de sol invernal difundem-se mais esparsamente por uma área maior do que esses mesmos raios de sol cobririam no verão. Na parte que recebe o número menor de fótons por centímetro, a sensação é de mais frio. Menos fotos por folha verde significa menos fotossíntese.

 

384

A segunda lei da termodinâmica diz que, embora a energia não possa ser criada nem destruída, ela pode – e assim tem de ser, em um sistema fechado – tornar-se mais impotente para fazer trabalho útil: é isso que significa dizer que a “entropia” aumenta.

 

389

Hoje sabemos que todo o oxigênio livre na atmosfera é produto da vida, especificamente das plantas, é claro, e não parte das condições prévias nas quais a vida surgiu. O oxigênio afluiu para a atmosfera como um poluente, e até um veneno, até que a seleção natural moldou seres vivos para prosperarem com essa substancia e até sufocar sem ela. A atmosfera “redutora” inspirou a mais celebre iniciativa experimental para resolver o problema da origem da vida, quando Stanlwy Miller encheu um frasco com ingredientes simples que borbulharam e faiscaram por apenas uma semana antes de produzir aminoácidos e outros arautos da vida.

 

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Hoje é possível estimas que existem mais de 1 bilhão de planetas em nossa galáxia, e cerca de 1 bilhão de galáxias. (...) No entanto, milhões de ilhas ainda assim podem estar tão distantes umas das outras que quase não têm chance de encontrar-se, mesmo por rádio. Infelizmente, no que diz respeito aos aspectos práticos, é o mesmo que estarmos sozinhos.

 

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Sem as corridas armamentistas em eterna escalada entre predadores e presas, parasitas e hospedeiros, sem a “guerra da natureza” de Darwin, sem sua “fome e morte”, não existiriam sistemas nervosos capazes de ver e muito menos de apreciar e compreender. Estamos cercados por infindáveis formas belíssimas e fascinantes, e não é por acidente, e sim uma conseqüência direta da evolução pela seleção natural não aleatória – única na vida, o maior espetáculo da Terra.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GLOSSÁRIO

 

Análogo – semelhança devida a uma função comum, e não à descendência.

 

Arquiadaptacionista – aquele que é alegadamente obcecado pela seleção natural como a principal e até única força propulsora da evolução.

 

Artrópodes – insetos, crustáceos, aranhas, centopéias etc.

 

Epigênese – teoria do desenvolvimento de um organismo pela diferenciação progressiva de um todo inicialmente indiferenciado.

 

Especiação – divisão de uma espécie em duas espécies-filhas.

 

Homologia – duas versões para uma mesma coisa. Ex: a mão humana e a mão do morcego. Semelhanças homólogas são aquelas herdadas do ancestral comum.

 

Isometricamente : Quando um animal cresce nas mesmas proporções em todas as partes de seu corpo e o adulto se torna uma réplica em maior escala do infante.

 

Litosfera – esfera de rocha.

 

Patógeno – organismo causador de doença

 

Pleiotropia – fenômeno pelo qual os genes têm mais de um efeito, todos aparentemente desvinculados.

 

Teodiceia – justiça de Deus

 

Trifosfato de adenosina – a moeda universal da energia do corpo.