EXTRATO
DE: A LÓGICA DA VIDA
AUTOR: TIM
HARFORD
ED.: RECORD
– 2008/2009
98
[a propósito do speed date justificando escolhas que não condiziam com o perfil dito como o desejado]: As pessoas respondem a opções precárias reduzindo seus padrões.
O que isso demonstra é que somos mais exigentes quando podemos sê-lo e menos exigentes quando não podemos: cruelmente falando, em relação ao mercado de namoros, nós nos contentamos com o que conseguimos obter.
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A redução de apenas um homem dá a todos os outros um grande poder proveniente da escassez. A percepção, entretanto, é óbvia. Uma só mulher “desacompanhada” pode oferecer a cada homem solteiro uma opção extrema e enfraquecer a posição de negociação de todas as outras mulheres.
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No Novo México, por exemplo, 30% dos jovens negros, com idade entre 20 e 35 anos, estão na prisão (ou, em menor numero, em uma prisão psiquiátrica).
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Hoje em dia, nos EUA, quatro mulheres se formam em universidades para cada três homens, e não se trata de um fenômeno exclusivamente americano: em 15 de 17 países ricos em que há dados disponíveis, há mais mulheres se graduando do que homens.
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Simplesmente, é muito difícil para os gerentes pensar em todos os detalhes do que deve ser feito e avaliar se o que deve ser feito está sendo feito. As frustrações da vida profissional são conseqüência direta desse conflito. Às vezes, o problema é que não há maneira clara de diferenciar o funcionário brilhante daquele impostor preguiçoso, e, diante disso, não h a nada a fazer senão atirar as mãos para o alto e esperar que algo de bom aconteça.
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Uma vez que você comece a oferecer grandes somas de dinheiro às pessoas para que superem seus colegas, elas perceberão que há duas maneiras de ganhar esse jogo: fazer um excelente trabalho ou garantir que os colegas não o façam. (...) Frequentemente, isso é tido como parte do jogo.
Um estudo comparou 23 empresas na Austrália e constatou que oferecer grandes incentivos financeiros aos melhores funcionários fazia com que todos os funcionários se esforçassem mais em suas tarefas, por exemplo, tirando menos dias de folga. Isso era o que se esperaria. Todavia, o estudo também observou que os funcionários dessas firmas se recusavam a emprestar equipamentos e ferramentas aos colegas, o que também é uma resposta racional aos incentivos que o torneio lhes oferecia.
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Para cada milhão de dólares extra na fortuna de um acionista, um CEO recebia somente vinte dólares como bônus do ano ou como aumento salarial para o próximo ano. Como o CEO recebia uma parcela tão pequena dos lucros, ele usaria alegremente o dinheiro da empresa em proveito próprio, como alternativa. Custaria ao CEO apenas vinte dólares de remuneração perdida para colocar um quadro de um milhão de dólares na parede de sua sala usando dinheiro dos acionistas; por meros duzentos dólares, ele poderia ostentar um jatinho de 10 milhões de dólares. Isso era o equivalente a dividir a conta com 50 mil pessoas. Mais champanhe, por favor!
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Em muitas empresas, com freqüência, as opções são redefinidas quando cai o preço da ação: o que antes era uma opção para adquirir ações a cem dólares por ação torna-se uma opção para comprar a cinquenta dólares enquanto a empresa estiver indo mal. A oferta para os CEOs é: “Se o preço das ações da companhia subir, suas opções vão deixá-lo podre de rico. Se o preço cair, não se preocupe: faremos o que for necessário para deixá-lo pode de rico do mesmo modo.”
[Sobre o golpe do backdated option, retroagir a opção a uma data anterior a uma subida de valor significativa da ação.] Quando a prática foi descoberta, seis CEOs perderam seus empregos em apenas uma semana, em outubro de 2006. (um dos exemplos mais conhecidos foi com Steve Jobs !!!.
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[E dando a explicação porque coisas como o backdated são
possíveis.] Não me importaria com a
negociação de remuneração de um CEO, pois, se eu tivesse
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O que um economista vê por trás da multidão de crianças se acotovelando tem o nome capcioso de “externalidade positiva”. Quando apareço no parquinho com minha filha, estou concedendo uma externalidade positiva ao local: outras pessoas se beneficiam do fato de estamos ali, ainda que nós não nos beneficiemos dessa vantagem. É o oposto da poluição ou do engarrafamento, em que os agressores afetam as outras pessoas sem perceberem os prejuízos que causam.
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No Reino Unido, cuja população tem 92% de brancos, a segregação racial é vertical: os brancos são minoria entre aqueles que moram acima do quinto andar de um edifício. Os guetos britânicos estão em grande altura.
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Para os gays, a vida noturna era um beneficio em particular, e as escolas ruins e as ruas perigosas representavam custos baixos. A questão não era que eles não temessem o crime que devastava as áreas pobres ou que não se importassem com isso. Era só uma troca que tinha de ser feita, e eles se preocupavam menos com esses custos que os casais com filhos.
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O modelo do tabuleiro de Schelling sugere que transformações como as da Fifteenth Street seriam impossíveis: as coisas sempre se separam, as pessoas sempre se rendem a seus preconceitos e as pequenas ansiedades levam a grandes divisões.
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O que isso tudo mostra? Que a vizinhança faz uma grande diferença para sua saúde e sua felicidade, mas não influenciará suas notas na escola, não o levará ao crime e não impedirá que você consiga um emprego. Sua vizinhança influencia, mas não é um decreto do destino.
Os jovens adultos que se “mudaram para a oportunidade” mudaram-se para longe das gangues, dos crimes e das drogas e, consequentemente, ficaram mais contentes, menos medrosos e até mais sensatos. Porem, suas perspectivas de empregabilidade não aumentaram, e seus resultados acadêmicos não melhoraram – pelo menos, não nos primeiros anos após a mudança.
187
O experi9mento dividia os estudantes em funções – “empresários” e “trabalhadores”. A cada trabalhador era atribuída aleatoriamente uma de duas cores, verde ou púrpura.
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Parece bizarro que jovens estudantes idealistas estivessem tão rapidamente inclinados a criar seu próprio estereotipo de cor para púrpura preguiçosos e verdes esforçados, apesar de não terem nenhuma informação anterior, qualquer que fosse, que embasasse sua discriminação. Ainda mais bizarro é o fato de que a maneira como eles acabaram se comportando era racional. Embora a disparidade inicial fosse puramente uma questão de acaso, e embora não houvesse diferença fundamental entre os verdes e os púrpura, os estudantes no papel de empresários estavam absolutamente corretos quanto à sua perspectiva de que os trabalhadores verdes provavelmente tinham feito o treinamento.
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Tudo isso aconteceu em um jogo em que todos partiram de uma posição de igualdade. O quanto pior podemos esperar que sema as coisas no mundo real, onde começamos a vida em situação muito longe da igualdade?
Transgressor racional – aquele que comete o delito somente quando este vale a pena.
Racista racional – só é racista quando há alguma vantagem nisso.
196
Ainda que em geral consideremos inaceitáveis o sexismo e a discriminação por idade, de algum modo aceitamos que os motoristas cuidadosos e os imprudentes sejam amontoados em grupos afrontosos, porque não é prático para uma companhia de seguros acompanhar cada garoto de 18 anos por aí e julgar sua competência individual e seu senso de responsabilidade na direção de um automóvel.
201
Uma razão mais convincente é a de que as crianças são racionais: sabendo que enfrentarão um mercado de trabalho hostil, do mesmo modo como os trabalhadores púrpura sabiam que estavam enfrentando um mercado de trabalho adversos, elas passam a não se importar com os estudos.
“Agir como branco” refere-se à polêmica idéia de que as crianças negras estudiosos são consideradas traidoras da raça e sistematicamente ridicularizadas pelos colegas ou até por seus pais ou outras referências pessoais.
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Um estudante negro que se dedique bastante aos estudos estará conquistando a capacidade de escapar da pobreza, do crime e da privação e das pessoas em torno dele. Isso pode não ser bem aceito. As pessoas não gostam de ver seus amigos desenvolvendo planos de fuga; até a possibilidade de escapar deixa-nos nervoso.
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As crianças da Catalunha devem aprender catalão, um idioma falado e valorizado somente pelos habitantes locais, e assim mostrar que elas serão membros da comunidade pelo resto da vida? Ou devem aprender programação de computadores, que é útil tanto na Catalunha como em qualquer lugar do mundo? A segunda opção representa uma via de fuga, e ainda que ela nunca seja concretizada, o fato de existir indica que um gênio da computação na Catalunha não merece muita confiança.
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Em geral, considera-se que os programas de ação afirmativa (ou discriminação positiva) reduzem a motivação dos grupos minoritários para que se esforcem. Se você conseguirá um emprego de qualquer modo por meio de um programa de ação afirmativa, por que se esforçar para isso?
Roland Fryer, que recentemente foi nomeado “coordenador de
igualdades”
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“Baixo capital social” significa simplesmente que os afro-americanos estavam encerrados em vizinhanças pobres, com escolas ruins, alta criminalidade e companheiros que repudiavam o sucesso acadêmico.
Quando enviaram currículos com nomes de brancos e de negros, os currículos com nomes de negros sofreram menos discriminação dos empresários que eram baseados nas áreas de Chicago com predominância de população negra.
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Então, qual é a resposta? Uma vizinhança com alguma predominância étnica oferece apoio ou apenas isolamento? (...) concluíram que viver em tais guetos prejudica a qualidade de vida de várias maneiras, desde as chances de conseguir u7m emprego até as perspectivas de se sair bem na escola.
Mas eles também descobriram que os guetos geram tanto vencedores como perdedores: há certo tipo de pessoa que prospera apesar da segregação. Tais pessoas moram próximo aos guetos, mas não neles. Elas são conectores, pontes, membros dos grupos minoritários que vivem fora do gueto e fazem sua ligação com o mundo exterior.
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Assim como as forças do mercado podem finalmente reduzir a discriminação baseada em preferências, o ímpeto do crescimento econômico em cidades dinâmicas está proporcionando uma solução inesperada para o antigo problema da segregação. Portanto, a questão é como gerar mais desse dinamismo e em ais lugares. Como podemos ajudar para que a economia da cidade prospere?
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Os salários
Uma vez que algumas pessoas racionais preferem a cara Nova York à barata Rock Island, Nova York deve lhes oferecer alguma coisa que o dinheiro não compra – ou,mais precisamente, alguma coisa que o dinheiro pode comprar apenas indiretamente.
Via de regra, dobrar o tamanho de uma cidade faz com que os salários aumentem em 10%; porém, eleva os preços em 16%.
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A noção de que uma cidade próspera é um tipo de “universidade da vida”, um lugar para se aprender com os outros, tem implicações bem além do fato de que Manhattan seja cara, e Rock Island, não.
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Os excedentes de conhecimento parecem ótimos, mas, como aprendemos com o Hackney Doewn no Capítulo Cinco, eles só são ótimos quando acontecem.
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Certamente, as externalidades da vida nas cidades são uma mixórdia. Como avaliar as negativas diante das positivas? É fácil: pergunte a um corretor de imóveis.
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As casas em volta perderam valor quando o pub se instalou, entretanto, as casas na rua seguinte eram mais caras, e não menos, em razão da conveniente proximidade ao pub.
O mote dos corretores de imóvel – “localização, localização e localização” – resume a simples realidade de que o que está à volta de uma casa determina o seu preço (e o valor de aluguel) mais do que o tamanho e a qualidade da casa em si.
As externalidades, em uma cidade, são praticamente tudo; e do mesmo modo que um spray aerossol pode revelar um raio laser, os preços dos imóveis e dos alugueis podem tornar visíveis as externalidades invisíveis.
Robert Lucas, em 1985, queria saber por que alguns paises se desenvolvem, enquanto outros permanecem pobres. E enfatizou uma idéia de seu colega de Chicago, Gary Becker: “capital humano” – educação, treinamento e competências – é importante.
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Os paises que de algum modo criassem um ambiente em que pessoas inteligentes e instruídas pudessem aprender umas com as outras teriam uma tendência a se desenvolver. Mas qual seria esse ambiente de aprendizado? As cidades, é claro.
Qual a proporção dos alugueis das grandes cidades podemos realmente atribuir como pagamento por lições na universidade da vida?
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Outra razão para se questionar a idéia de que os altos alugueis das cidades representam acesso a amenidades culturais é que a maioria dessas amenidades tem sua própria etiqueta de preço. De fato, ninguém, exceto seu senhorio, pode lhe cobrar pelo prazer de ver a linha do horizonte de Manhattan ou pelo burburinho de caminhar pela calçada; mas você realmente pagaria 150 dólares por esse burburinho? Quanto aos donos de restaurantes e teatros, eles estão bem conscientes de que se oferecerem um produto de excelente qualidade nas cidades poderão cobrar um preço alto por isso e acima do aluguel que você paga ao seu proprietário.
As cidades podem ser bem divertidas, mas isso não explica os altos salários que nelas encontramos. A única explicação racional é que os trabalhadores nas grandes cidades são, de algum modo, mais produtivos.
É possível que os dois contadores sejam diferentes em aspectos que a estatística não pode captar, mas seria de se esperar que a comparação de semelhantes apresentasse uma grande diferença. Não apresenta
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Quando as pessoas estão nas cidades, elas se tornam mais inteligentes rapidamente, porque estão aprendendo umas com as outras. Lucas e Marshall estavam certos: de modo invisível, o conhecimento está realmente suspenso “no ar” das cidades.
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Estariam as novas tecnologias de comunicação, poderosas, baratas e onipresentes, reduzindo as vantagens especiais das cidades?
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As economias avançadas das cidades empregam pouco esforço na produção de itens “sem importância”, que serão consumidos em todo o planeta, e um bocado de esforço na prestação de serviços umas para as outras. Tornamo-nos tão bons na produção industrial que ela se tornou um fator marginal de geração de emprego e renda, ainda que tenha se tornado um fator primordial para a nossa qualidade de vida. Longe de ser o marco da decadência, o boom da economia de serviços é um sintoma da sofisticação econômica.
321
Eu sei que Seamus costuma colocar suas idéias em prática e,
se eu estivesse em Londres, poderia me encontrar com ele, configurando o
serviço para que eu recebesse uma mensagem de texto sempre que ele aparecesse
em um raio de
As cidades sempre foram excelentes lugares para se conhecer gente interessante, mas a tecnologia moderna faz com que a serendipidade seja quase garantida: graças à internet e ao telefone celular, você não precisa esperar para encontrar pessoas interessantes na cidade; dificilmente você conseguirá evitá-las!
Em relação ao e-mail, um estudo recente de seu uso e produtividade concluiu que os funcionários mais produtivos não eram os que enviavam e recebiam muitas mensagens externas, mas aqueles com mais troca de e-mails dentro a empresa.
233
E mesmo essas colaborações distantes reforçam a importância das cidades. Desde 1980, as viagens aéreas de negócios – que se supunha seriam eliminadas pelos fax, tarifas telefônicas baratas, e-mails e videoconferência – cresceram 50% mais rápido que a economia americana como um todo.
237
Porter e Marshall parecem ter errado por acreditar que a força da inovação provem da especialização. Entretanto, Glaeser e seus colegas encontraram apoio para a crença de Porter e Jaconbs na concorrência. Eles acreditavam que as pequenas empresas, na luta por sua sobrevivência, seriam mais propensas à inovação. De fato, as indústrias que cresceram mais rapidamente também estavam naquelas cidades onde havia mais empresas concorrentes.
A cadeia casual parece funcionar da diversidade para a produtividade, e não o contrário, e a explicação mais razoável é que a diversidade cultural, de um modo ou de outro, torna as cidades mais produtivas.
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Em 2004, pesquisadores acadêmicos convenceram a policia de Nova Orleans a efetuar setecentos disparos de festim para o ar no meio da cidade. Não houve nenhuma chamada telefônica para denunciar o tiroteio. [A cidade é uma das que vem agonizando como tal.]
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Não é difícil saber quem é racionalmente atraído para uma cidade com casas baratas e empregos pouco qualificados: aposentados, pessoas com poucas competências ou cujas competências, antes procuradas, agora são desprezadas em função de mudanças tecnológicas ou da competição global. (...) Investidores em fundos de hedge não se mudam para Detroit para economizar no aluguel.
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O jornalista David Owen confessou que, quando se mudou de Nova York para uma pequena cidade, sua conte de energia elétrica aumentou quase dez vezes – mesmo sem usar ar condicionado – e que teve de comprara três carros (antes não precisava de nenhum). Sua conclusão memorável: Manhattan é “uma comunidade ambientalista utópica”.
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Digamos que você vivesse na Flórida e quisesse que Al Gore ganhasse. Seu voto teria feito a diferença? (...) Na época, havia chance azero de que você emitisse o voto decisivo, já que se você tivesse participado das eleições e votado em Gore, ele teria perdido por 536 votos em vez de 537.
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O economista Steve Landsburg vai mais longe ainda ao sugerir que, se você quiser mudar a política, é melhor comprar um bilhete de loteria com a intenção de gastar o premio fazendo lobby.
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Claro, muitas pessoas votam. Isso quer dizer que os eleitores não votam com a expectativa de que influenciarão o resultado da eleição.
Votamos porque o processos eleitoral em si nos faz sentir bem. Talvez desejemos a satisfação de poder decorar o carro com um adesivo que diga “Não me culpe; eu votei no Gore”.
Aqui está a implicação
surpreendente: como são mínimas as chances de o voto de um individuo fazer
diferença para o resultado, os benefícios de se converter um voto desinformado
em um voto informado também são mínimos. Falando racionalmente, para que se importar?
251
A visão sobre a política, baseada no conceito de escolha racional, nos diz que os eleitores típicos serão ignorantes – racionalmente ignorantes.
Ele pode procurar se informar porque considera os temas inerentemente interessantes ou porque quer parecer inteligente em mesas de bar, mas certamente não para se instrumentalizar para votar de uma maneira que lhe trará as políticas desejadas. (...) A triste realidade da política é que as necessidades da minoria sobrepujam as necessidades da maioria.
253
Milhões de eleitores são prejudicados pelas taxas de proteção da indústria açucareira, mas nenhum deles racionalmente fará algum esforço para mudar a situação.
Por outro lado, se você fosse um dos 50 mil trabalhadores da indústria açucareira cujo sustento depende das taxas sobre o açúcar, certamente se importaria. [Meu pai perdia o sono cada vez que via no jornal uma notícia sobre a intenção de algum político de mudar o terminal rodoviário de lugar.]
255
O que você escolhe
para si próprio não é o mesmo que escolhe para dividir com os outros –
especialmente quando a decisão é tomada no anonimato.
256
Para substituir o subsidio aos produtores, poderíamos pensar em organizar uma campanha em prol dos consumidores de açúcar e coletar doações de um centavo. Mas isso não resolveria o problema: simplesmente mudaria a questão de quem pagará pela refeição ou pelo lobby a favor do comercio livre de açúcar para a questão de quem organizará as pessoas. Os benefícios totais de se organizar são enormes, mas os benefícios para cada membro do grupo são bem pequenos. Isto é, “se organizar” não resolve nada.
A curiosa lógica da
política racional, portanto, é a exploração da maioria pela minoria, porque
poucos cidadãos com muito a ganhar lutarão e farão campanhas e lobby muito mais
intensamente do que milhões de cidadãos com muito pouco a perder.
[Por que as 1 milhão de pessoas não me mandar R$ 1,00 para me ajudar na pesquisa para o volume 2 de Desavisado & Sabichão? ]
Duas coisas faltam: a exploração deve ser facilmente disfarçável; e os beneficiários aparentes devem defender genuinamente os seus benefícios. A primeira condição não é, em geral, difícil de ser satisfeita; mas a segunda condição é surpreendentemente restrita.
259
Por que, nos paises ricos, as áreas rurais são subsidiadas pelas áreas urbanas?
A primeira razão é que muitos subsídios rurais oferecem um claro beneficio para os habitantes rurais, porem um custo dissimulado para os habitantes urbanos. As tarifas de serviços básicos são subsidiadas. Estes serviços custam muito mais para serem disponibilizados em zonas rurais.
260
O segundo motivo é que o subsidio não estimula muita gente a se mudar para recebê-lo.
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Em Gana, os camponeses explorados formaram um partido de oposição; o governo respondeu oferecendo empréstimos subsidiados aos camponeses que pertencessem ao partido do governo. Espancamentos e assassinatos também parecem ter sido prática corrente. Do mesmo modo, outros governos africanos também faziam tudo o que podiam para dificultar a organização políticas das massas exploradas.
265
A revolução, portanto, tem forte semelhança com o dilema do seqüestrador. O refém foi tomado; os seqüestradores têm um poder temporário. .Mas como receber o dinheiro – como trocar o refém pelo resgate ou pelo salvo-conduto?
267
Sejam democráticas ou ditatoriais, as instituições tendem a perdurar.
E nos dois regimes, as instituições políticas são o que importa: as pessoas racionalmente investem nelas se há a expectativa de que elas permanecerão, e não investem se não há essa expectativa.
273
Imagine se comprimíssemos o último milhão de anos da historia humana em somente um ano. Três mil anos passariam a cada dia, ou dois anos por minuto. Nessa escala de tempo, nossos ancestrais teriam descoberto o fogo em algum momento da primavera. Os humanos biologicamente semelhantes a nós, Homo sapiens, apareceriam em meados de novembro. Não antes de 27 de dezembro, haveria evidências de agulhas para costura, de lanças ou do arco e flecha.
274
Olhando para trás encontraremos um ponto em comum na história da humanidade: nem o progresso, nem a estagnação são um acidente. Tanto as economias de rápido crescimento como aquelas oscilantes são constituídas de indivíduos que respondem racionalmente às motivações com que deparam.
278
A velocidade de crescimento populacional no primeiro milênio depois de Cristo foi de somente 2% por SÉCULO. [Isto é a prova da altíssima taxa de mortalidade antes de adquirir a capacidade de procriar.]
285
Economistas renomadas argumentam que foi a história, mais que a geografia, que moldou a riqueza das nações, em virtude dos diferentes legados institucionais do colonialismo. Nova Zelândia, Canadá, Estados Unidos e Austrália tornaram-se independentes com um conjunto apropriado de instituições políticas, pensadas para fazer respeitar a propriedade privada e defender a lei. As economias baseadas nas plantations tornaram-se independentes com um sistema político pensado para extrair cada centavo em lucros de curto prazo e enviá-los para quem estivesse no poder.
293
Adam Smith viu “a propensão a cambiar, permutar e trocar uma coisa por outro” como parte da natureza humana e, efetivamente, uma qualidade que separa os homens dos outros animais: “Ninguém jamais viu um cão realizar com outro cão uma troca leal e deliberada de um osso por outro”.
295
Depois que Fred Flintstone inventasse alguma coisa, essa invenção estaria disponível para todos. Talvez a invenção levasse algum tempo para se propagar, mas com um milhão de anos de história à disposição, quem se importaria com o tempo?