EXTRATO DE: Uma declaração da independência do
espaço cibernético
John Perry Barlow
John Perry Barlow é um fazendeiro de rebanho aposentado, um
lírico do Grateful
Dead e co-fundador da Eletronic
Frontier Foundation
(Fundação da Fronteira Eletrônica).
Governos do Mundo Industrial, vocês
gigantes aborrecidos de carne e aço, eu
venho do espaço cibernético, o novo
lar da Mente. Em nome do futuro, eu peço
a vocês do passado que nos deixem
em paz. Vocês não são benvindos entre
nós. Vocês não têm a independência
que nos une.
(...) O espaço
cibernético não se limita a suas fronteiras.
(...) Vocês alegam
que existem problemas entre nós que somente vocês podem
solucionar. Vocês usam essa
alegação como uma desculpa para invadir nossos
distritos.
(...)
Em nosso mundo,
todos os sentimentos e expressões
de humanidade, desde os mais humilhantes
até os mais angelicais, são parte
de um todo descosturado; a conversa global de
bits. Não podemos separar o ar que
sufoca daquele no qual as asas batem.
Na China, Alemanha, França, Rússia,
Singapura, Itália e Estados Unidos, vocês
estão tentando repelir o vírus da
liberdade, erguendo postos de guarda nas
fronteiras do espaço cibernético.
Isso pode manter afastado o contágio por um
curto espaço de tempo, mas não irá
funcionar num mundo que brevemente será
coberto pela mídia baseada em bits.
(...)
Precisamos nos declarar virtualmente
imunes de sua soberania, mesmo se continuarmos
a consentir suas regras sobre nós. Nos espalharemos pelo mundo para que ninguém consiga aprisionar
nossos pensamentos.
Davos, Suíça
8 de fevereiro de 1996
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Aqui vêm todos
Stewart Brand
Stewart Brand é co-fundador de Global Bussiness
Network, The
WELL e Hackers’ Conference. É também autor de “The
Media
Lab” (“O
Laboratório da Mídia”) e “How Buildings
Learn” (“Como as
Construções aprendem”).
Nos anos
social. (...) Há um computador
mundial cujo tamanho está ao alcance de todos.
Agora que qualquer pessoa pode
publicar seus próprios interesses a uma
audiência mundial através da Rede,
(...) nossa compreensão do mundo foi alterada
e, curiosamente, para uma direção otimista.
(...) com um
serviço de pesquisa como Alta Visa, em minutos você se encontra na home page de alguém que fez daquele assunto sua obsessão de
vida. O que ele ou ela tem a
dizer, provoca
perguntas que você nunca pensou em questionar.
(...)
No jargão, já se mudou desde o um para
um (telefone) e o um para muitos
(meios de comunicação) até o muitos
para muitos (a Rede). O poder é tirado
dos editores e distribuidores em
grandes corporações altamente precavidas e
entregues para uma multidão radical
e não mais passiva.
(...)
A Rede é uma espécie de antídoto
para as notícias dos meios de comunicação.
As notícias descrevem um terremoto
chocante e você se deprime. A Rede
mostra a você as pessoas que
ajudaram as vítimas do terremoto e fornece
reportagens de primeira mão: “eu
estava no jardim quando (o chão) tremeu,
então, notei que subitamente o chão
estava coberto de minhocas”.
(...)
Alguns chamam a Rede de
democrática. Ela certamente é poderosa e política,
mas em um novo senso. As pessoas
não a usam para votar em temas (o que em
breve poderão fazer) ou para eleger
representantes em uma estrutura hierárquica
de poder. Elas usam a Rede para
fazer as coisas acontecerem diretamente,
pessoalmente e imediatamente.
“Agora vêm todos” (Here comes everybody), James
Joyce escreveu em
“Finnegan’s
Wake” para resumir o que o século XX traria. O
visionário da mídia
Marschall
McLuhan cantou sua declaração como um mantra. A Rede
fez isso
real. Em uma cascata, “agora vêm
todos”.
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Apenas a conexão
não é suficiente
Esther Dyson
Esther Dyson é diretora do Eletronic Frontier Foundation
(...) Uma vez na Rede, ninguém saberá se
você é húngaro ou africano, se usa
sandálias ou sapatos de marca, se dirige um
Porsche
ou monta um camelo.
(...) A Rede reflete a cultura local e é construída
na participação ativa das pessoas em
todo lugar; (...)
Ela oferece o mesmo a todos, em
qualquer lugar — desde que se encontrem
conectados nela.
(...) Crianças de metrópoles americanas que entram
na Rede, saem de seus guetos e a utilizam para tornar as coisas melhores.
(...) Não se pode simplesmente dar às pessoas
acesso à informação(...) Seria o mesmo
que a era da
indústria distribuísse maquinário
sem fonte de energia. A educação é o
ingrediente crucial para o uso
efetivo do livre conteúdo e da redistribuição de
conhecimento da Rede. E a expansão
do ensino é muito mais difícil — sem
mencionar dispendiosa — do que a
simples ligação e conexão de escolas,
especialmente onde há pobres e
pouco instruídos
(...) Lembro-me quando um homem chamado Leo Tomberg na Estônia
estabeleceu a primeira conexão
entre a rede de notícia russa — então UUCP —
e a Internet, via Finlândia. Era
como uma fenda numa barragem, onde a
informação fluía... nas duas
direções.
(...) A
Internet é uma escada que pode levá-los ao topo — mas somente
aqueles que possam descobrir como
escalá-la.
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Vigilância da Terra
Al Gore
Al Gore é
vice-presidente dos Estados Unidos
(...) O espaço cibernético, por exemplo, está
aumentando o entendimento dos
cidadãos em relação ao meio
ambiente global. Por meio de programas como
GLOBE, que o presidente Bill
Clinton e eu lançamos há dois anos, estudantes de
todas as partes do mundo estão
auxiliando a comunidade científica tirando
medidas
ambientais em suas próprias comunidades e relatando suas descobertas pela Internet.
(...) Por
exemplo, visitantes do Homepage da Pesquisa Geológica
do
Estados Unidos podem monitorar o
desmatamento na Amazônia e no Sudeste da
Ásia com a visão atual de imagens coloridas irradiadas de satélites.
Alguns estudantes
participam regularmente de discussões em grupo para debater questões globais
problemáticas. Usando esta abordagem de baixo custo e produtiva, pesquisadores
podem gastar mais tempo e recursos procurando fatos e menos tempo trocando
dados e viajando de um lugar para o outro.
(...) Ao mesmo tempo, o espaço cibernético está em
primeiro lugar ajudando a evitar
problemas ambientais. Enquanto mais e mais
pessoas estão usando seus
computadores para trabalhar em
casa, menos carros ocupam nossas estradas e
poluem nosso ar. No curso dessas 24
horas, por exemplo, mais de um milhão de
galões de gasolina terão sido
salvos, porque as pessoas escolheram se
telecomunicar
em vez de dirigir. O mesmo é verdade para a video-conferência,
que
também diminui os custos de companhias e reduz a poluição da comunidade.
E os próprios escritórios estão
reduzindo quantidade de papel que usavam, já
que o e-mail substitui o papel de
carta e os correios via computador internos
substituem os memorandos usados
dentro dos escritórios. No fim desse dia, em
torno de 16 milhões de mensagens
através de e-mail terão cruzado o mundo e,
como sempre, eu estarei
contribuindo para esta soma.
Nada mal para um dia de trabalho —
mesmo para 24 horas no espaço
cibernético.
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Contribuição para o
debate sobre o futuro do nosso habitat
(...) Que
civilização vai nascer dessa comunhão da cidade de pedra
com a cidade virtual?
(...)William J.
Mitchell, reitor da Escola de Arquitetura do
Massachusetts Institute
of Technology (MIT), de
Cambridge, Estados Unidos.
Para Mitchell, os operários que hoje
estendem cabos de fibra óptica no
subterrâneo das cidades são reminiscência
dos que cravaram trilhos de trem.
(...) Ocorre que a
tecnologia da informação digital rompe com o
modelo tradicional de comunicação baseado
em sincronicidade e presença física.
Num mundo assíncrono, como o chamado
"ciberespaço", qualquer coisa pode
acontecer a qualquer momento,
(...)
Stephen Graham, professor da Universidade
de Newcastle, Inglaterra, A cidade é a concentração
física que ajuda na superação das restrições de tempo pela minimização das
limitações de espaço. As telecomunicações, por
sua vez, superam as restrições de espaço
pela minimização de tempo, interligando
pontos distantes à velocidade da luz.
(...)
Em função dessas mudanças, Graham
considera que as grandes áreas urbanas
são, fundamentalmente, "centros de troca
de informação".
Leo Bogart,
sociólogo e consultor da imprensa norte-americana, As cidades não podem existir
sem alguma forma de
comunicação pública. Os meios de
comunicação, ao atenderem a diversos grupos
de interesses específicos e distintos,
servem para estabelecer as conexões
necessárias entre os diferentes setores
que compõem uma comunidade,
compartilhando informações e idéias, ao
mesmo tempo em que servem também
como instrumento de divisão social. A
mídia tem, pois, uma influência social
ambivalente, o que é saudável.
(...)a Internet éa própria
metáfora da democracia, como lembra o
jornalista Júlio Moreno em Netrópolis,
a Cidade Invisível. O tradicional percurso
entre a informação primária,
mediadores e consumidores finais não é
mais tão rígido na medida em que os
consumidores de informação tornam-se
também seus produtores.
(...)
Velhos e novos
meios de comunicação não podem perder seu
compromisso de coesão social para
sociedades instruídas, da mesma forma como
devem evitar cair nas armadilhas da
elitização. A tarefa é maior – lembra
ainda Leo Bogart – em países, como o Brasil,
em que a distância entre aqueles que têm
acesso às novas tecnologias e os que não
têm, aumenta ainda mais as grandes disparidades
sociais.
Agência Estado
São Paulo, 1996
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Um lugar melhor
Howard Rheingold
Howard Rheingold é autor de “Realidade Virtual e Comunidade
Virtual” (“Virtual Reality and Virtual Community”). Sua
coluna
“Amanhã”(“Tomorrow”)
é sindicalizada por King Features.
Aqui se apresentam algumas pessoas
para se conversar a respeito da ameaça do
espaço cibernético: os portadores
do mal de Alzheimer com medo de sair de
casa, que telefonam à noite para um
grupo de suporte; o estudante brilhante
numa casa de um cômodo da Escola Saskatchewan
pesquisando um documento
a quatro horas da biblioteca mais
próxima; o adolescente homossexual
depressivo com tendências suicidas;
um paciente de AIDS compartilhando as
informações mais atuais sobre
tratamentos; ativistas políticos usando a Rede para
informar, noticiar e persuadir; e
os deficientes, doentes e velhos, cujas mentes
estão vivas, mas não podem deixar
seus leitos. Para eles e potencialmente
milhões de pessoas perecidas com
eles, o espaço cibernético não é apenas um
salva-vidas, ele pode ser melhor do
que o mundo fora da “linha”, ou seja,
desligado.
Pessoas que nunca estiveram on-line
têm uma visão do que acontece por lá que
está quase certamente errada. A isso
culpe a cobertura sensacionalista da mídia
de massa. As pessoas enganam,
roubam, bisbilhotam e influenciam on-line? Sim,
é claro. Pronografia
e pedofilia? Estou certo. Mas há pornografia e pedofilia em
alguma cidade americana? É claro
que há. E isto é tudo? Claro que não, há a
totalidade da existência humana,
alta e baixa. O mesmo é verdadeiro para o
espaço cibernético.
Durante os meus dez anos on-line,
dancei em três casamentos de pessoas que se
conhecem on-line. Discursei em três
funerais de pessoas que lá encontrei. A
princípio, o espaço cibernético diz
respeito a pessoas, não a máquinas e
instrumentos. O que as pessoas que
o usam fazem depois de se encontrarem é
um fenômeno humano, não uma
engenharia eletrônica.
Não é necessário conhecimentos de
engenharia para entender o poder das redes
de computadores: plugue seu aparelho em uma
linha telefônica e você terá um
meio radicalmente novo. Até aonde
isso poderá nos levar é apenas conjectura.
“Com a rede de computadores”,
escreve o professor do MIT (Instituto
Tecnológico de Massachussets)
Sherry Turkle em “Vida na
Tela: A Identidade
na Era da Internet”, “as pessoas
estão criando identidades alternativas, formando
relacionamentos desencarnados e
construindo lugares imaginários que começam
a nos interessar e envolver tanto
quanto aqueles lugares do mundo físico”.
Não é por acidente que a Primeira
Emenda da Constituição dos Estados Unidos
protege os direitos dos cidadãos de
se comunicarem. Temos agora um meio de
comunicação que pode vir a
substituir alguns dos poderes de informação e
persuasão desde a mídia de massa
àquelas mais populares. Não vamos nos
perder pela ignorância e falta de
informação. Caso isso aconteça, o espaço
cibernético poderia se tornar de
fato aquele lugar frio proclamado pelos
alarmistas. A tecnologia on-line é
uma ferramenta que pode construir e exercitar
o poder dos cidadãos. Mas depende
de nós usarmos as ferramentas antes de
perdê-las.
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Ciberespaço: o fim
das fronteiras
Entrevista de Nicholas Negroponte à Agência Estado
Apresentação: Rodrigo Lara Mesquita
Nicholas Negroponte é co-fundador e diretor do Media
Lab, do Massachussetts Institute of Technology
Em 1968, auge da Guerra Fria, os
Estados Unidos
desenvolvem uma nova tecnologia de
comunicação baseada
na infra-estrutura de telefonia
existente e sua interação com o
computador. O objetivo era evitar
que o governo ficasse sem
comunicação com suas Forças Armadas
no caso de uma guerra
atômica. Sucesso total. O sistema
faz com que a informação se
divida em pacotes e procure, pela
rede mundial, o caminho ou
caminhos possíveis.Você chama aqui,
ela se divide lá e chega
sempre com segurança para quem
chamou.
De 1968 até dois anos atrás, cerca de
25 milhões de
pessoas desse universo acadêmico
passaram a usar este sistema de
comunicaçao.
(...)Há dois anos,
surge a Internet como a conhecemos hoje. Um novo
meio ambiente onde você pode muito
mais do que trocar
mensagens e documentos em todo o
mundo a custos de uma
ligação telefônica local. Em
linguagem gráfica, qualquer indivíduo,
empresa, entidade não
governamental, o diabo, podem deixar o seu
recado, sobre um produto ou sobre
sua angústia perante a vida, se
for o caso. E tudo isso poder ser
encontrado com facilidade através
dos diversos diretórios que já
foram ou estão sendo criados.
De dois anos para cá, com o advento da
WWW
(teia mundial de comunicação), 400
milhões de pessoas, entre
indivíduos, empresas, instituições
e todos os tipos de organizações
da sociedade, ligaram-se ao
sistema. Daqui a dois anos, serão mais
de 1 bilhão e até o ano 2000, 2
bilhões. E tem mais: em cerca de
seis meses estará criada a moeda
virtual da rede com toda a
segurança; nos próximos anos, o
preço do computador despencará
vertiginosamente e ele será muito
mais amigável.
(...) *Participaram da entrevista Eduardo Castor,
Flávia Sampaio e
Júlio Moreno.
(...)Temos hoje dois meio ambientes: o meio
ambiente físico e o meio ambiente
cibernético. No físico, existe a
velha economia, a economia
industrial. No cibernético está
surgindo uma nova economia, a
economia do conhecimento. Este novo
meio ambiente está em
construção. No futuro, os dois
interagirão e a nova economia irá
dominar a antiga. Que tipo de
conseqüências o Sr. acha que
veremos então?
Negroponte
–
Provavelmente a maior conseqüência
deve ser uma grande
mudança naquilo que nos acostumamos
a pensar como nações,
países, fronteiras. O mundo digital
se tornará menor e maior, ao
mesmo tempo. As coisas se tornarão
globais porque o ciberespaço
o é, por definição, nada mais . E
as coisas se tornarão mais locais,
porque as pessoas farão mais
negócios em pequena escala – com o
apelo do mercado global. Os
governos nacionais vão se tornar cada
vez mais locais. Tão logo o
dinheiro digital e outras formas de
transações comerciais digitais
emergirem, os governos passarão a
desempenhar um papel menos
significativo. Assim, eu penso que a
maior mudança isolada será a
redefinição do conceito de país. Será
uma mudança e tanto. Os países têm
o tamanho errado hoje: são
grandes demais para serem locais e
não são grandes o bastante para
serem globais.
A base monetária internacional
fluirá
numa velocidade nunca antes vista.
Isso também é riqueza. Como
o Sr. vê essas coisas?
Há atualmente a criação
de empregos no comércio eletrônico,
ao mesmo tempo em que há
perda de empregos nas áreas de
“colarinho azul” e no comércio
convencional. Mas esta é a primeira
vez em que se cria algo novo:
o meio ambiente cibernético.E um novo valor
surge com a
mudança do nível de emprego, num
ambiente eletrônico.
Parece-me que não é possivel “se proteger” da Internet e, tão logo
começar a circular o dinheiro
eletrônico, se formará a distinção
fundamental entre fornecedores e
consumidores, se estabelecerão
normas entre os fornecedores e os
consumidores no mundo todo.
Não se poderá proteger o comércio
tradicional do comércio
eletrônico. Em países como a Malásia, o
volume de comércio sendo
praticado na Internet é imenso, e
aumenta cada vez mais. Não é
possível parar isso. Se eu
estivesse governando o Brasil, eu me
asseguraria de que as crianças
tivessem acesso ao computador nas
escolas. Este é o tipo de ação que
eu tomaria imediatamente.
O Sr. pode dizer alguma coisa sobre
o surgimento de pequenas
empresas com alcance global?
Trata-se de um fenômeno
completamente novo, o surgimento de
minúsculas companhias globais. Isso
não era possível antes, quando
grandes empresas e multinacionais
podiam ter acesso aos mercados
globais. Hoje, eu e você podemos
criar uma empresa e atingir um
mercado global com comércio
eletrônico, especialmente se
estivermos vendendo bits em vez de
átomos.
(...) os
franceses se preocupam com o “conteúdo em francês” da Internet
– um tópico politicamente quente – assim,
todos esses ridículos
ministros falam sobre esse assunto
ridículo, enquanto todos
milhares de jovens franceses que se
conectam à Internet não dão à
mínima sobre a origem dos conteúdos.
Então se discute o
nacionalismo de algo à prova de
nacionalismo.
O ciberespaço não tem qualquer
nacionalidade. Segundo, os
europeus estão buscando há anos a
criação de um sistema
monetário unificado. (...) O ciberespaço
provavelmente vai atropelar essas negociações políticas, porque o ambiente
eletrônico tem grande chance de tornar
essas questões irrelevantes. Os
Estados têm coisas sérias para se
preocupar, como crescimento
populacional, sistemas de saúde,
educação etc.
O ciberespaço também contém o fim
das fronteiras entre os países.
Para que precisamos de fronteiras?
Serão estabelecidas comunidades
internacionais de interesses,
não importando a localização
geográfica.
Acho que será exatamente isso. Até
hoje, as comunidades estão
baseadas na proximidade geográfica,
física. Comunidades
intelectuais, unidas por interesses
profissionais irão emergir. Novos
tipos de comunidades irão surgir,
bastante fortes, autônomas.
Algumas pessoas nessas comunidades
serão conhecidas, outras
desconhecidas. Isso será muito mais
interessante que ser francês,
ou suíço.
Uma cidade como São Paulo é
conseqüência do desenvolvimento
industrial. Este tipo de cidade fez
sentido enquanto o trabalho
estava organizado no processo de
produção industrial. Nos
últimos anos, este tipo de
aglomeração humana tem criado
apenas violência. Amizade,
solidariedade e ética estão mortos em
tal ambiente. É impossível fornecer
infraestrutura, educação,
segurança, etc., neste ambiente. O
ciberespaço traz um fim para a
questão do tempo e do espaço. E
trouxe a possibilidade de uma
nova economia. Quando isso se
tornar realidade, o Sr. acredita
que o mundo atravessará um processo
de reurbanização e que nós
trabalharemos para reconstruir um
ambiente físico que foi
destruído por uma economia baseada
no uso exaustivo de
recursos naturais?
Veja, o único modo de mudar o meio
ambiente (no ciberespaço ou
fora dele) é através da educação.
Se um país não estiver pronto
para educar seus jovens, então nada
vai mudar. Uma vez que se dê
atenção especial às crianças, com a
educação de forma que elas
possam “por as mãos”, por assim
dizer, no ciberespaço, acho que
encontraremos um meio ambiente
completamente diferente. Muitos
dos problemas de cidades como São
Paulo – poluição e outros –
podem ser reduzidos, à medida em
que as crianças tiverem acesso à
educação. Eu acho que minha
resposta otimista demorará um longo
tempo para se concretizar, mas é só
através de muita educação que
as coisas vão acontecer. Eu não
conheço nenhuma ferramenta
melhor. De outra forma, nossos
ambientes vivos vão se degenerar.
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A Alfândega só
registra os átomos
Ao voltar do exterior para os EUA, o
viajante deve preencher um
formulário de declaração
alfandegária. Mas você alguma declarou
os bits que adquiriu na sua viagem?
Algum funcionário do
aeroporto já perguntou se você está
trazendo um disquete que vale
centenas ou milhares de dólares?
(...) Recentemente, eu
visitei o escritório central de uma
das cinco maiores fabricantes de
circuitos integrados dos EUA.
Durante a visita, me perguntaram se
eu trazia um computador
"laptop" comigo. Claro que sim. A
recepcionista então me perguntou o
modelo, número de série e o
valor do computador. "Entre US$
1 milhão e US$ 2 milhões", eu
respondi. "Oh, isso não é
possível, senhor". Deixe-me ver o
equipamento". Eu mostrei a ela
o meu velho PowerBook (quatro
polegadas de espessura!), e ela
avaliou-o em US$ 200.
(...)
Quando o juiz Harold Greene (da
Comissão Federal de
Comunicações) fragmentou a AT&T
em 1983, ele determinou
que as novas companhias telefônicas
Bell não poderiam entrar no
negócio de informações. Quem o juiz
pensava estar enganando.?
As sete empresas Bell já estavam no
"negócio de informações" e
se dando muito bem, obrigado. As
maiores margens vinham (e
ainda vêm) das Páginas Amarelas, que
as companhias vendem
com ótimos lucros. (...)Haveria
alguém pensando em "vida digital"
na época que a AT&T estava sendo
desmembrada? Eu temo que
não.
"Pay-per-View"
a mudança de uma
empresa rumo ao futuro digital se dá
na velocidade proporcional
da conversão dos átomos da empresa
em bits.
Eu usei o aluguel
de
fitas de vídeo como exemplo, já que esses
átomos podem ser
facilmente convertidos em bits.
Ocorreu que o palestrante seguinte
foi Wayne Huizenga,
então presidente da Blockbuster. Ele
defendeu seu negócio dizendo que
"o professor Negroponte está
errado". Seu argumento se
baseava largamente no fato de que a
TV "pay-per-view" (paga-se
apenas pelos programas escolhidos)
não deu certo porque ela comanda uma
fatia muito pequena do
mercado. Por outro lado, a Blockbuster pode por Hollywood no
bolso, uma vez que as locadoras de
vídeo geram 50% dos
rendimentos e 60% dos lucros dos
estúdios. Pensei sobre o
comentário de Huizenga
e percebi que o grande empresário não
entendia a diferença entre bits e
átomos. Seus átomos – fitas de
vídeo – são a prova que o vídeo
"on-demand" vai dar certo. O
videocassete já é a TV
"pay-per-view". A única diferença é que
quase um terço dos lucros das
locadoras vem do atraso na
devolução das fitas.
Biblioteca do Futuro
Thomas Jefferson, o fundador
da república, não podia imaginar é
que qualquer cidadão pode
entrar em qualquer biblioteca e
"retirar" todos os volumes
simultaneamente, com um toque de
botão. (...)Isso não
foi imaginado por Jefferson. Isso
não é o que os autores
imaginaram. E, o que é pior, isso
não é o que as editoras
imaginaram. O problema é simples.
Quando as informações estão
encerradas em átomos, são
necessários grandes sistemas
industriais e imensas corporações
para entregá-las. Mas
subitamente, quando o foco muda para
os bits, os figurões
tradicionais deixam de ser
necessários. A publicação independente
faz sentido na Internet. Não faz
sentido em papel.
John Markoff
Foi através do New
York Times que eu vim a conhecer e apreciar
o trabalho de John Markoff, (...)Porém, hoje seria muito
mais fácil reunir seus artigos
automaticamente e arquivá-los em
meu jornal eletrônico pessoal. Eu
aceitaria pagar 5 centavos por
cada novo artigo de Markoff. Se um quinto dos usuários da
Internet em 1995 concordassem com
isso, e Markoff escrevesse
20 artigos por ano, ele ganharia US$
1 milhão anualmente – posso
crer que isso é mais do que o New York Times paga a ele. Se
você acha que um quinto é uma fatia
muito grande da Internet,
então aguarde. Uma vez que alguém se
estabelece, o valor
adicionado de um distribuidor se torna
cada vez menor no mundo
digital. Distribuir bits é muito
mais fácil que movimentar átomos.
Mas a distribuição é apenas uma
parte da história. Uma empresa
de mídia é, entre outras coisas, um
captador de talentos e seus
canais de distribuição, bits ou
átomos, são uma área de testes para
a opinião pública. Mas depois de um
certo ponto, um autor pode
não mais precisar dessa área. Na era
digital, os autores podem
vender suas histórias e artigos
diretamente e ganhar mais dinheiro,
uma vez que se tornem conhecidos.
Ainda não funciona assim
hoje, mas funcionará muito bem, em
breve – quando a "vida
digital" se tornar a norma.
*****************
Horário nobre é o
meu horário
John Markoff
O mito da Blockbuster
A maioria dos provedores de acesso e
de equipamentos acreditam
que o entretenimento vai financiar a
"information superhighway"
e
que o vídeo transmitido sob
encomenda, ou "video on-demand"
(VOD) será a grande tacada no futuro
digital. Eu não discordo
dessa visão, mas me espanto com a
conclusão estreita e
incompleta que se tem tirado dela. O
caso do VOD é o seguinte:
digamos que uma locadora de vídeo tenha
um catálogo de 2.000
fitas. Imaginemos que eles descubram
que 5% dessas fitas são
responsáveis por 90% das locações.
Muito possivelmente, uma
boa parte desses 5% são lançamentos
e representariam uma
porcentagem ainda maior das locações
caso estivessem disponíveis
em um número maior de cópias.
Locadoras de vídeo vão sair do
mercado dentro de uma década
(não faz sentido transportar átomos
quando você pode transportar
bits). A conclusão fácil é que o
caminho para se criar uma
Blockbuster
eletrônica é oferecer apenas aqueles 5%, basicamente
lançamentos. Não apenas conveniente,
isso também representaria
prova tangível e evidente de algo
que alguns ainda consideram um
experimento tecnológico. Custaria
muito tempo e dinheiro
digitalizar todos os 29.000 filmes
feitos nos EUA até 1990.
Custaria ainda mais para digitalizar
os 30.000 programas de TV
arquivados no Museum
of Television & Radio,
em New York – e
eu nem estou considerando os filmes
europeus, as dezenas de
milhares de filmes indianos, ou as
12.000 horas de telenovelas
produzidas anualmente pela Televisa
no México.
A pergunta é: a maioria de nós
realmente quer ver apenas aqueles
5%? Ou este fenômeno de manada é
causado pelas velhas
tecnologias de distribuição?
AAATV
Alguns executivos graúdos da
telefonia celular recitam o jingle:
"anything,
anywhere, anytime"
("qualquer coisa, em qualquer
lugar, a qualquer hora"). Esses
três As são um sinal de
modernidade, de ser digital (e sem fio). Quando ouço esse mantra,
tento não engasgar, já que o que eu
realmente quero é "nothing,
nowhere, never" (nada, em lugar algum, nunca), a não ser que
seja necessário, importante,
interessante, relevante ou capaz de
despertar minha imaginação. Os AAA
são o paradigma
malcheiroso das comunicações humanas
– agentes são muito
melhores. Mas esses AAA são um belo
modo de se pensar a TV.
Ouve-se falar muito sobre a TV com
1.000 canais. Permita-me
observar que, mesmo sem o satélite,
mais de 1.000 programas são
transmitidos para os lares
americanos todos os dias, em todas as
horas. Os mais de 150 canais
listados na revista Satellite TV Week
contribuem com outros 2.700 (ou
mais) programas disponíveis
diariamente. Se seu televisor
pudesse gravar cada programa
transmitido, você já teria 5 vezes
mais seletividade que aquela
anunciada pela "superhighway", em sua grandiosidade peculiar.
Mas em vez de arquivar todos os
programas, sua TV-agente
poderia gravar um ou dois, para você
ver no lugar que quiser, na
hora que quiser.
Vamos expandir a AAATV para a infraestrutura global, que é
quando as mudanças quantitativas e
qualitativas se tornam
interessantes. Alguns podem querer
emissoras francesas para
melhorar seus conhecimentos de
francês, outros podem preferir
ligar no canal 11 da Suíça para ver
nudez alemã sem cortes (às 5
da tarde, horário de New York) e os 2 milhões de descendentes de
gregos nos EUA poderiam querer algum
dos canais da Grécia, três
nacionais e sete regionais. Os
ingleses dedicam 75 horas de TV
anualmente para a cobertura de
campeonatos de xadrez e os
franceses reservam 80 horas para o
Tour de France. É óbvio que
fãs americanos de xadrez ou ciclismo
gostariam de ter acesso a
esses eventos – a qualquer hora, em
qualquer lugar.
Meu ponto é simples: a transmissão
aberta, "broadcast", é que está
fracassando. "On-demand" é um conceito muito mais amplo que
"não-querer-sair-na-chuva"
ou
"não-esquecer-uma-fita-alugada-sob-o-sofá-por-semanas".
É um
cabo-de-guerra entre os consumidores
e a mídia, o jogo de puxa e
empurra entre o tempo do espectador
e o tempo da emissora.
TV de retalhos
Mais do que assistir qualquer
programa na televisão de hoje (ou de
ontem) ao redor do globo (cerca de
15 mil emissoras
concorrentes), o VOD poderia dar
vida nova aos filmes
documentários, mesmo aos terríveis
"infomerciais" (uma
combinação de anúncio com
informações). Os documentaristas
que estão lendo isso devem estar de
cabelos em pé. Mas é
possível fazer as Tvs-agentes editarem filmes ao vivo, como um
professor montando uma apostila a
partir de capítulos de livros
diferentes.
Se eu estivesse considerando uma
viagem ao litoral sul da
Turquia, posso não encontrar um
documentário sobre Bodrum,
mas posso achar fragmentos de filmes
sobre a construção de
barcos de madeira, pesca noturna,
ruínas submersas e tapetes
orientais. Esses trechos poderiam
ser reunidos de modo a
satisfazer minhas necessidades. O
resultado não seria um "10" em
Introdução à Cinematografia. Mas
ninguém espera que uma
apostila seja Shakespeare. Na
verdade, os valores da produção
seriam ser julgados pelos olhos do
produtor. Ajudaria muito se os
trechos originais fossem produzidos
por grandes organizações
como a National
Geographic, PBS ou BBC, mas o resultado teria
significado apenas para mim.
Televisão de quintal
Por fim, não podemos ignorar as 3,1
milhões de camcorders
vendidas ano passado nos EUA. Se o
modelo de broadcast está
colidindo com o modelo da Internet,
como eu acredito firmemente
que esteja, então cada pessoa pode
ser uma emissora
não-licenciada de TV. Sim, Sr.
Vice-Presidente, foi isso que o
senhor disse em Los
Angeles. Mesmo antes de entendermos de
que modo a Internet vai funcionar
como empreendimento
comercial, podemos considerar
incontáveis horas de vídeo.
Eu não estou sugerindo considerar
qualquer "home video" como
um programa para o horário nobre.
Estou dizendo que podemos
agora pensar a TV como algo bem além
de um meio de massa
com altos valores de produção, uma
vez que o conteúdo chegou
aos lares, por assim dizer. A
maioria dos executivos do setor de
telecomunicações entende a
necessidade de bandas amplas para a
transmissão comercial (banda ampla,
"broadband", é para mim
entre 1,5 e 6 megabits
– e não gigabits – para cada morador da
casa). O que os executivos não
enxergaram é a necessidade de um
canal de retorno com uma banda
igualmente ampla.
O canal de retorno (que transmite)
em vídeo já é aceito em
teleconferências, e é até um meio
esnobe de comunicação, usado
por pessoas divorciadas que não têm
a guarda dos filhos. Isso é
vídeo ao vivo. Considerem o vídeo
"morto". No futuro próximo,
as pessoas poderão manter um
servidor de vídeo do mesmo modo
que 57 mil americanos mantêm hoje
seus BBSs. Esse é um
cenário da televisão do futuro que
se parece com a Internet.
"Ponto a multiponto" pode
mudar dramaticamente para
"multiponto a multiponto",
no meu horário.
*******
O futuro do livro
O que pesa menos de um milionésimo
de quilo, ocupa menos de
um milionésimo de uma polegada cúbica, tem 4
milhões de bits, e
custa menos de US$ 2? O que pesa
mais de meio quilo, tem mais
de
custa mais de US$ 20? A mesma coisa:
Vida Digital arquivado
em um circuito integrado e Vida
Digital impresso em capa dura.
(...)Na verdade, o
consumo de papel impresso nos EUA
cresceu de 71 quilos per
capita em 1980 para 107 quilos em
1993.
A palavra não está indo embora. Na
verdade, ela é e tem sido uma
das mais poderosas forças
alteradoras da humanidade, para o bem
e para o mal. São Tomás disse
algumas palavras no sul da Índia
há quase 2 mil anos, e hoje a província
de Kerala tem 25% de
cristãos, em um país onde estes são
menos de 1% da população.
(...)A arte de
produzir livros não é perfeita, mas provavelmente será
tão relevante em 2020 como a arte do
ferreiro é hoje.
Ainda assim, os
livros ganham facilmente como "medium", uma
interface confortável onde bits e
pessoas se encontram. Eles tem
excelente aparência, manuseio fácil,
são geralmente leves (mais
leves que a maioria dos laptops), seu
custo é relativamente baixo,
possuem um bom acesso aleatório e
estão amplamente
disponíveis.
(...)Podemos
folhear livros, dobrar e fazer anotações nas páginas – até
sentar ou ficar em cima deles, se
quisermos ficar um pouco mais
altos. Eu fiquei em pé uma vez em
sobre meu laptop e o resultado
foi desastroso.
(...)chamados PDAs
(assistentes
pessoais digitais, um termos criado
por John Sculley há cinco
anos, e um dos acrônimos mais
estranhos). De modo geral, essas
tentativas não conseguem atingir o
"livrismo", já que o ato de
folhear é um elemento indisputável
da experiência de ler um livro.
Em 1978, no MIT, animamos o virar de
páginas em uma tela, e
até geramos o barulho do papel.
Bonitinho, mas só.
Quando meus colegas e eu
argumentamos que os meios de
comunicação de massa do futuro serão
de um tipo que você
"puxa" em vez de algo
"empurrado" para você, as pessoas dizem:
"Bobagem!" (ou pior). Tais
negativistas argumentam que o
modelo de "puxar" não será
apoiado porque ele eclipsaria a
publicidade. Enquanto eu não estou
certo se até isso seria verdade,
vamos fazer de conta que é e nos
perguntarmos: que meio de
massa é maior que as indústrias da
TV e do cinema combinadas,
não tem anúncios e é realmente, como
disse George Gilder, um
meio de escolha? A resposta: livros.
Mais de 50 mil títulos são
publicados nos EUA todos os anos.
Adivinhe o número médio de
exemplares impressos por título.
Uma grande editora consideraria
5.000 cópias a mais baixa tiragem
economicamente viável, enquanto
algumas editoras pequenas
considerariam 2.000 exemplares uma
grande tiragem. Sim, mais
de 12 milhões de cópias da novela A
firma, de John Grisham
foram impressos, e a primeira
tiragem do livro de Bill Gates foi de
800 mil cópias.
Assim, na próxima vez que você se
perguntar sobre a World Wide
Web (que dobra de tamanho a cada 50
dias ou menos) e imaginar
o que suportará tantos sites
economicamente (em fevereiro deste
ano, uma nova homepage
era adicionada a cada 4 segundos),
pense nos livros. Você pode dizer
para si que a maioria desses
sites na Web desaparecerá – nada
disso. Haverá mais e mais,
como publicações especializadas, e
haverá públicos para todos
eles. Em vez de se preocupar com o
futuro dos livros no padrão
papel-jornal, pense em bits para
todos: bits best-sellers, bits
especializados para poucos, e bits
invendáveis, de avós para netos.
Enquanto isso, alguns de nós
pesquisadores estamos trabalhando
para tornar os bits agradáveis para
leitura – algo que você possa
enrolar e levar para ler no
banheiro.
*********************
A balança comercial
das idéias
O incrementalismo é o pior inimigo da inovação. Novos
conceitos e grandes passos são, de
fato, resultado de uma mistura
de pessoas, idéias, origens e
culturas que normalmente não estão
misturadas.
No mundo dos bits,
você pode ser pequeno e global ao
mesmo tempo.
Hoje, um PC Pentium de 100 MHz que
custa US$ 2.000 é mais
poderoso que o computador central do
MIT no tempo que eu era
estudante.
(...)Ser grande
não mais importa. Por esses motivos,
mais do que nunca,
devemos trocar idéias, e não
embargá-las.
A Net torna o isolacionismo científico algo impossível, mesmo que
os governos queiram tal política.
Não temos escolha, senão
exercer o livre comércio de idéias.
Hoje eu vejo o problema de forma
diferente. A Rede tem forçado
essa troca aberta, com ou sem aval
dos governos, de modo que o
ônus de mudar a atitude recai sobre os
outros governos,
especialmente aqueles de países em
desenvolvimento. Por
exemplo, nações recentemente
industrializadas não podem mais
fingir que são pobres demais para
agir com reciprocidade , com
idéias novas, básicas, fortes.
Agora que as idéias
são partilhadas quase instantaneamente na
Net, é ainda mais importante que as
nações do Terceiro Mundo
não sejam devedoras de idéias – elas
devem contribuir com o
conjunto científico do conhecimento humano.
É fácil demais se
desculpar por não ser um credor de
idéias por não ter um parque
industrial. Eu tenho ouvido muitas
pessoas fora dos EUA me
dizerem que são muito pequenas, muito
novas, ou muito pobres
para realizar pesquisa
"verdadeira", de longo-prazo. Em vez disso,
me dizem, uma nação em
desenvolvimento pode apenas sacar do
depósito de idéias que vem dos
países ricos. Bobagem. No mundo
digital, não deveriam existir nações
devedoras. Pensar que você
não tem coisa alguma a oferecer é
rejeitar a economia das idéias
que se aproxima.
Na nova balança comercial das
idéias, participantes bem pequenos
podem contribuir com idéias bem grandes.
*************
Melhor, mais rápido
e barato
Paul Saffo
Paul Saffo é diretor do Instituto para o Futuro (Institute for the
Future) em Menlo
Park, Califórnia.
inovadores não
começam a mudar o mundo. Só o que eles querem é fazer algo melhor, mais rápido
e barato.
Inovações reais, no entanto,
disparam a lei de consequências desintencionadas.
Exatamente como Schumpeter previu, existe um
modelo: a transformação constrói
vagarosamente, invisivelmente e depois rompe
aberta e literalmente da noite para
o dia.
Aí os grandes jogadores começaram a
se acumular. Joe Boxer e o Bank
of
América (Banco da América)
acrescentaram o endereço de Web a seus
quadros. Jornais ansiosos começaram
uma publicação de duas mãos. Bancos e
corretores de valores começaram a
construir canais para dinheiro eletrônico. E
companhias de produtos de consumo
desde Adidas até Zima se arranjaram às
pressas on-line (ou talvez
interativamente), comercializando unidades,
trabalhando suas cabeças coletivas
a fim de descobrir como se usa meios
interpessoais únicos para o combate
massa-mercado.
Existe a tentação de equiparar
“melhor, mais rápido e barato” com a eliminação
do revendedor; vemos consumidores e
produtores negociando entre si. Mas não
conte com isso. A meta no comércio
não é eficiente por si só, mas sim sem
efeito. E intermediários podem ser
ferramentas poderosas, especialmente com
novas tecnologias inexoravelmente
abaixando os custos. Dê uma olhada no
grupo de companhias de “dinheiro
eletrônico” construindo negócios segundo a
possibilidade de coletar com lucro
“micro dinheiro” em transações tão pequenas
para serem efetivadas por um banco
tradicional e canais de cartão de crédito.
Pode custar cinco centavos para se
ler um artigo ou dez centavos para olhar uma
foto. Poderia custar 25 centavos
para ouvir a música número um mais recente
nas padas
de Tóquio.
(...) muito da revolução
ainda terá metade do caminho no próximo
século ou mais para se desdobrar.
Mas as mudanças já estão a caminho.
E se você prestar atenção cuidadosamente
ao sussurro da Rede, poderá ouvir o
tumulto da destruição criativa que se
aproxima no horizonte.