EXTRATO DE: Uma declaração da independência do espaço cibernético

 

            John Perry Barlow

 

John Perry Barlow é um fazendeiro de rebanho aposentado, um

            lírico do Grateful Dead e co-fundador da Eletronic Frontier Foundation

            (Fundação da Fronteira Eletrônica).

 

            Governos do Mundo Industrial, vocês gigantes aborrecidos de carne e aço, eu

            venho do espaço cibernético, o novo lar da Mente. Em nome do futuro, eu peço

            a vocês do passado que nos deixem em paz. Vocês não são benvindos entre

            nós. Vocês não têm a independência que nos une.

 

(...) O espaço cibernético não se limita a suas fronteiras.

 

(...) Vocês alegam que existem problemas entre nós que somente vocês podem

            solucionar. Vocês usam essa alegação como uma desculpa para invadir nossos

            distritos.

 

(...)

         Em nosso mundo,

            todos os sentimentos e expressões de humanidade, desde os mais humilhantes

            até os mais angelicais, são parte de um todo descosturado; a conversa global de

            bits. Não podemos separar o ar que sufoca daquele no qual as asas batem.

 

            Na China, Alemanha, França, Rússia, Singapura, Itália e Estados Unidos, vocês

            estão tentando repelir o vírus da liberdade, erguendo postos de guarda nas

            fronteiras do espaço cibernético. Isso pode manter afastado o contágio por um

            curto espaço de tempo, mas não irá funcionar num mundo que brevemente será

            coberto pela mídia baseada em bits.

(...)

 

         Precisamos nos declarar virtualmente imunes de sua soberania, mesmo se continuarmos a consentir suas regras sobre nós. Nos espalharemos pelo mundo         para que ninguém consiga aprisionar nossos pensamentos.

 

            Davos, Suíça

            8 de fevereiro de 1996

 

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Aqui vêm todos

 

            Stewart Brand

Stewart Brand é co-fundador de Global Bussiness Network, The

                WELL e Hackers’ Conference. É também autor de “The Media

            Lab” (“O Laboratório da Mídia”) e “How Buildings Learn” (“Como as

            Construções aprendem”).

 

 

            Nos anos 90 a revolução do computador pessoal tornou-se uma revolução

            social. (...) Há um computador mundial cujo tamanho está ao alcance de todos.

 

            Agora que qualquer pessoa pode publicar seus próprios interesses a uma

         audiência mundial através da Rede, (...) nossa compreensão do mundo foi alterada e, curiosamente, para uma direção otimista.

 

(...) com um serviço de pesquisa como Alta Visa, em minutos você se encontra na home page de alguém que fez daquele assunto sua obsessão de vida. O que ele ou ela tem a

dizer, provoca perguntas que você nunca pensou em questionar.

(...)

         No jargão, já se mudou desde o um para um (telefone) e o um para muitos

            (meios de comunicação) até o muitos para muitos (a Rede). O poder é tirado

            dos editores e distribuidores em grandes corporações altamente precavidas e

            entregues para uma multidão radical e não mais passiva.

(...)

            A Rede é uma espécie de antídoto para as notícias dos meios de comunicação.

            As notícias descrevem um terremoto chocante e você se deprime. A Rede

            mostra a você as pessoas que ajudaram as vítimas do terremoto e fornece

            reportagens de primeira mão: “eu estava no jardim quando (o chão) tremeu,

            então, notei que subitamente o chão estava coberto de minhocas”.

 

     (...)

            Alguns chamam a Rede de democrática. Ela certamente é poderosa e política,

            mas em um novo senso. As pessoas não a usam para votar em temas (o que em

           breve poderão fazer) ou para eleger representantes em uma estrutura hierárquica

            de poder. Elas usam a Rede para fazer as coisas acontecerem diretamente,

            pessoalmente e imediatamente.

 

            “Agora vêm todos” (Here comes everybody), James Joyce escreveu em

            Finnegan’s Wake” para resumir o que o século XX traria. O visionário da mídia

            Marschall McLuhan cantou sua declaração como um mantra. A Rede fez isso

            real. Em uma cascata, “agora vêm todos”.

 

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Apenas a conexão não é suficiente

 

            Esther Dyson

Esther Dyson é diretora do Eletronic Frontier Foundation

 

(...)   Uma vez na Rede, ninguém saberá se

            você é húngaro ou africano, se usa sandálias ou sapatos de marca, se dirige um

            Porsche ou monta um camelo.

(...)   A Rede reflete a cultura local e é construída na participação ativa das pessoas      em todo lugar; (...)

            Ela oferece o mesmo a todos, em qualquer lugar — desde que se encontrem

            conectados nela.

(...)   Crianças de metrópoles americanas que entram na  Rede, saem de seus guetos     e a utilizam para tornar as coisas melhores.

(...)   Não se pode simplesmente dar às pessoas acesso à informação(...) Seria o           mesmo que a era da

            indústria distribuísse maquinário sem fonte de energia. A educação é o

            ingrediente crucial para o uso efetivo do livre conteúdo e da redistribuição de

            conhecimento da Rede. E a expansão do ensino é muito mais difícil — sem

            mencionar dispendiosa — do que a simples ligação e conexão de escolas,

            especialmente onde há pobres e pouco instruídos

 

 

 (...)  Lembro-me quando um homem chamado Leo Tomberg na Estônia

            estabeleceu a primeira conexão entre a rede de notícia russa — então UUCP —

            e a Internet, via Finlândia. Era como uma fenda numa barragem, onde a

            informação fluía... nas duas direções.

 

 (...)  A Internet é uma escada que pode levá-los ao topo — mas somente

            aqueles que possam descobrir como escalá-la.

 

 

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Vigilância da Terra

 

            Al Gore

Al Gore é vice-presidente dos Estados Unidos

 

(...)   O espaço cibernético, por exemplo, está aumentando o entendimento dos

            cidadãos em relação ao meio ambiente global. Por meio de programas como

            GLOBE, que o presidente Bill Clinton e eu lançamos há dois anos, estudantes de

            todas as partes do mundo estão auxiliando a comunidade científica tirando

         medidas ambientais em suas próprias comunidades e relatando suas descobertas pela Internet.

 

 (...)  Por exemplo, visitantes do Homepage da Pesquisa Geológica do

            Estados Unidos podem monitorar o desmatamento na Amazônia e no Sudeste   da Ásia com a visão atual de imagens coloridas irradiadas de satélites.

 

 

 

Alguns estudantes participam regularmente de discussões em grupo para debater questões globais problemáticas. Usando esta abordagem de baixo custo e produtiva, pesquisadores podem gastar mais tempo e recursos procurando fatos e menos tempo trocando dados e viajando de um lugar para o outro.

 

(...)   Ao mesmo tempo, o espaço cibernético está em primeiro lugar ajudando a evitar

            problemas ambientais. Enquanto mais e mais pessoas estão usando seus

            computadores para trabalhar em casa, menos carros ocupam nossas estradas e

            poluem nosso ar. No curso dessas 24 horas, por exemplo, mais de um milhão de

            galões de gasolina terão sido salvos, porque as pessoas escolheram se

            telecomunicar em vez de dirigir. O mesmo é verdade para a video-conferência,

         que também diminui os custos de companhias e reduz a poluição da           comunidade.

            E os próprios escritórios estão reduzindo quantidade de papel que usavam, já

            que o e-mail substitui o papel de carta e os correios via computador internos

            substituem os memorandos usados dentro dos escritórios. No fim desse dia, em

            torno de 16 milhões de mensagens através de e-mail terão cruzado o mundo e,

            como sempre, eu estarei contribuindo para esta soma.

 

 

 

            Nada mal para um dia de trabalho — mesmo para 24 horas no espaço

            cibernético.

 

 

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Contribuição para o debate sobre o futuro do nosso habitat

 

(...) Que civilização vai nascer dessa comunhão da cidade de pedra

     com a cidade virtual?

(...)William J. Mitchell, reitor da Escola de Arquitetura do

     Massachusetts Institute of Technology (MIT), de Cambridge, Estados Unidos.

     Para Mitchell, os operários que hoje estendem cabos de fibra óptica no

     subterrâneo das cidades são reminiscência dos que cravaram trilhos de trem.

(...) Ocorre que a tecnologia da informação digital rompe com o

     modelo tradicional de comunicação baseado em sincronicidade e presença física.

     Num mundo assíncrono, como o chamado "ciberespaço", qualquer coisa pode

     acontecer a qualquer momento,

(...)

     Stephen Graham, professor da Universidade de Newcastle, Inglaterra, A cidade é a concentração física que ajuda na superação das restrições de tempo pela minimização das limitações de espaço. As telecomunicações, por

     sua vez, superam as restrições de espaço pela minimização de tempo, interligando

     pontos distantes à velocidade da luz. (...)

         Em função dessas mudanças, Graham

     considera que as grandes áreas urbanas são, fundamentalmente, "centros de troca

     de informação".

 

     Leo Bogart, sociólogo e consultor da imprensa norte-americana, As cidades não podem existir sem alguma forma de

     comunicação pública. Os meios de comunicação, ao atenderem a diversos grupos

     de interesses específicos e distintos, servem para estabelecer as conexões

     necessárias entre os diferentes setores que compõem uma comunidade,

     compartilhando informações e idéias, ao mesmo tempo em que servem também

     como instrumento de divisão social. A mídia tem, pois, uma influência social

     ambivalente, o que é saudável.

 

(...)a Internet éa própria

     metáfora da democracia, como lembra o jornalista Júlio Moreno em Netrópolis,

     a Cidade Invisível. O tradicional percurso entre a informação primária,

     mediadores e consumidores finais não é mais tão rígido na medida em que os

     consumidores de informação tornam-se também seus produtores.

(...)

 Velhos e novos

     meios de comunicação não podem perder seu compromisso de coesão social para

     sociedades instruídas, da mesma forma como devem evitar cair nas armadilhas da

     elitização. A tarefa é maior – lembra ainda Leo Bogart – em países, como o Brasil,

     em que a distância entre aqueles que têm acesso às novas tecnologias e os que não

     têm, aumenta ainda mais as grandes disparidades sociais.

 

                                             Agência Estado

                                             São Paulo, 1996

 

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Um lugar melhor

 

            Howard Rheingold

Howard Rheingold é autor de “Realidade Virtual e Comunidade

            Virtual” (“Virtual Reality and Virtual Community”). Sua coluna

            “Amanhã”(“Tomorrow”) é sindicalizada por King Features.

 

            Aqui se apresentam algumas pessoas para se conversar a respeito da ameaça do

            espaço cibernético: os portadores do mal de Alzheimer com medo de sair de

            casa, que telefonam à noite para um grupo de suporte; o estudante brilhante

            numa casa de um cômodo da Escola Saskatchewan pesquisando um documento

            a quatro horas da biblioteca mais próxima; o adolescente homossexual

            depressivo com tendências suicidas; um paciente de AIDS compartilhando as

            informações mais atuais sobre tratamentos; ativistas políticos usando a Rede para

            informar, noticiar e persuadir; e os deficientes, doentes e velhos, cujas mentes

            estão vivas, mas não podem deixar seus leitos. Para eles e potencialmente

            milhões de pessoas perecidas com eles, o espaço cibernético não é apenas um

            salva-vidas, ele pode ser melhor do que o mundo fora da “linha”, ou seja,

            desligado.

 

            Pessoas que nunca estiveram on-line têm uma visão do que acontece por lá que

            está quase certamente errada. A isso culpe a cobertura sensacionalista da mídia

            de massa. As pessoas enganam, roubam, bisbilhotam e influenciam on-line? Sim,

            é claro. Pronografia e pedofilia? Estou certo. Mas há pornografia e pedofilia em

            alguma cidade americana? É claro que há. E isto é tudo? Claro que não, há a

            totalidade da existência humana, alta e baixa. O mesmo é verdadeiro para o

            espaço cibernético.

 

            Durante os meus dez anos on-line, dancei em três casamentos de pessoas que se

            conhecem on-line. Discursei em três funerais de pessoas que lá encontrei. A

            princípio, o espaço cibernético diz respeito a pessoas, não a máquinas e

            instrumentos. O que as pessoas que o usam fazem depois de se encontrarem é

            um fenômeno humano, não uma engenharia eletrônica.

 

            Não é necessário conhecimentos de engenharia para entender o poder das redes

            de computadores: plugue seu aparelho em uma linha telefônica e você terá um

            meio radicalmente novo. Até aonde isso poderá nos levar é apenas conjectura.

            “Com a rede de computadores”, escreve o professor do MIT (Instituto

            Tecnológico de Massachussets) Sherry Turkle em “Vida na Tela: A Identidade

            na Era da Internet”, “as pessoas estão criando identidades alternativas, formando

            relacionamentos desencarnados e construindo lugares imaginários que começam

            a nos interessar e envolver tanto quanto aqueles lugares do mundo físico”.

 

            Não é por acidente que a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos

            protege os direitos dos cidadãos de se comunicarem. Temos agora um meio de

            comunicação que pode vir a substituir alguns dos poderes de informação e

            persuasão desde a mídia de massa àquelas mais populares. Não vamos nos

            perder pela ignorância e falta de informação. Caso isso aconteça, o espaço

            cibernético poderia se tornar de fato aquele lugar frio proclamado pelos

            alarmistas. A tecnologia on-line é uma ferramenta que pode construir e exercitar

            o poder dos cidadãos. Mas depende de nós usarmos as ferramentas antes de

            perdê-las.

 

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Ciberespaço: o fim das fronteiras

 

            Entrevista de Nicholas Negroponte à Agência Estado

            Apresentação: Rodrigo Lara Mesquita

Nicholas Negroponte é co-fundador e diretor do Media

            Lab, do Massachussetts Institute of Technology

 

            Em 1968, auge da Guerra Fria, os Estados Unidos

            desenvolvem uma nova tecnologia de comunicação baseada

            na infra-estrutura de telefonia existente e sua interação com o

            computador. O objetivo era evitar que o governo ficasse sem

            comunicação com suas Forças Armadas no caso de uma guerra

            atômica. Sucesso total. O sistema faz com que a informação se

            divida em pacotes e procure, pela rede mundial, o caminho ou

            caminhos possíveis.Você chama aqui, ela se divide lá e chega

            sempre com segurança para quem chamou.

 

         De 1968 até dois anos atrás, cerca de 25 milhões de

            pessoas desse universo acadêmico passaram a usar este sistema de

            comunicaçao.

 

(...)Há dois anos, surge a Internet como a conhecemos hoje. Um novo

            meio ambiente onde você pode muito mais do que trocar

            mensagens e documentos em todo o mundo a custos de uma

            ligação telefônica local. Em linguagem gráfica, qualquer indivíduo,

            empresa, entidade não governamental, o diabo, podem deixar o seu

            recado, sobre um produto ou sobre sua angústia perante a vida, se

            for o caso. E tudo isso poder ser encontrado com facilidade através

            dos diversos diretórios que já foram ou estão sendo criados.

 

         De dois anos para cá, com o advento da WWW

            (teia mundial de comunicação), 400 milhões de pessoas, entre

            indivíduos, empresas, instituições e todos os tipos de organizações

            da sociedade, ligaram-se ao sistema. Daqui a dois anos, serão mais

            de 1 bilhão e até o ano 2000, 2 bilhões. E tem mais: em cerca de

            seis meses estará criada a moeda virtual da rede com toda a

            segurança; nos próximos anos, o preço do computador despencará

            vertiginosamente e ele será muito mais amigável.

 

(...)   *Participaram da entrevista Eduardo Castor, Flávia Sampaio e

            Júlio Moreno.

 

 (...)Temos hoje dois meio ambientes: o meio ambiente físico e o meio ambiente

            cibernético. No físico, existe a velha economia, a economia

            industrial. No cibernético está surgindo uma nova economia, a

            economia do conhecimento. Este novo meio ambiente está em

            construção. No futuro, os dois interagirão e a nova economia irá

            dominar a antiga. Que tipo de conseqüências o Sr. acha que

            veremos então?

 

            Negroponte

            Provavelmente a maior conseqüência deve ser uma grande

            mudança naquilo que nos acostumamos a pensar como nações,

            países, fronteiras. O mundo digital se tornará menor e maior, ao

            mesmo tempo. As coisas se tornarão globais porque o ciberespaço

            o é, por definição, nada mais . E as coisas se tornarão mais locais,

            porque as pessoas farão mais negócios em pequena escala – com o

            apelo do mercado global. Os governos nacionais vão se tornar cada

            vez mais locais. Tão logo o dinheiro digital e outras formas de

            transações comerciais digitais emergirem, os governos passarão a

            desempenhar um papel menos significativo. Assim, eu penso que a

            maior mudança isolada será a redefinição do conceito de país. Será

            uma mudança e tanto. Os países têm o tamanho errado hoje: são

            grandes demais para serem locais e não são grandes o bastante para

            serem globais.

 

           A base monetária internacional fluirá

            numa velocidade nunca antes vista. Isso também é riqueza. Como

            o Sr. vê essas coisas?

 

           Há atualmente a criação

            de empregos no comércio eletrônico, ao mesmo tempo em que há

            perda de empregos nas áreas de “colarinho azul” e no comércio

            convencional. Mas esta é a primeira vez em que se cria algo novo:

            o meio ambiente cibernético.E um novo valor surge com a

            mudança do nível de emprego, num ambiente eletrônico.

 

            Parece-me que não é possivel “se proteger” da Internet e, tão logo

            começar a circular o dinheiro eletrônico, se formará a distinção

            fundamental entre fornecedores e consumidores, se estabelecerão

            normas entre os fornecedores e os consumidores no mundo todo.

            Não se poderá proteger o comércio tradicional do comércio

            eletrônico. Em países como a Malásia, o volume de comércio sendo

            praticado na Internet é imenso, e aumenta cada vez mais. Não é

            possível parar isso. Se eu estivesse governando o Brasil, eu me

            asseguraria de que as crianças tivessem acesso ao computador nas

            escolas. Este é o tipo de ação que eu tomaria imediatamente.

 

            O Sr. pode dizer alguma coisa sobre o surgimento de pequenas

            empresas com alcance global?

 

            Trata-se de um fenômeno completamente novo, o surgimento de

            minúsculas companhias globais. Isso não era possível antes, quando

            grandes empresas e multinacionais podiam ter acesso aos mercados

            globais. Hoje, eu e você podemos criar uma empresa e atingir um

            mercado global com comércio eletrônico, especialmente se

            estivermos vendendo bits em vez de átomos.

 

(...)   os  franceses se preocupam com o “conteúdo em francês” da Internet

            – um tópico politicamente quente – assim, todos esses ridículos

            ministros falam sobre esse assunto ridículo, enquanto todos

            milhares de jovens franceses que se conectam à Internet não dão à

            mínima sobre a origem dos conteúdos. Então se discute o

            nacionalismo de algo à prova de nacionalismo.

 

            O ciberespaço não tem qualquer nacionalidade. Segundo, os

            europeus estão buscando há anos a criação de um sistema

    monetário unificado. (...) O ciberespaço provavelmente vai atropelar essas negociações políticas, porque o ambiente eletrônico tem grande chance de tornar

            essas questões irrelevantes. Os Estados têm coisas sérias para se

            preocupar, como crescimento populacional, sistemas de saúde,

            educação etc.

 

            O ciberespaço também contém o fim das fronteiras entre os países.

            Para que precisamos de fronteiras?

 

            Serão estabelecidas comunidades internacionais de interesses,

            não importando a localização geográfica.

 

            Acho que será exatamente isso. Até hoje, as comunidades estão

            baseadas na proximidade geográfica, física. Comunidades

            intelectuais, unidas por interesses profissionais irão emergir. Novos

            tipos de comunidades irão surgir, bastante fortes, autônomas.

            Algumas pessoas nessas comunidades serão conhecidas, outras

            desconhecidas. Isso será muito mais interessante que ser francês,

            ou suíço.

 

            Uma cidade como São Paulo é conseqüência do desenvolvimento

            industrial. Este tipo de cidade fez sentido enquanto o trabalho

            estava organizado no processo de produção industrial. Nos

            últimos anos, este tipo de aglomeração humana tem criado

            apenas violência. Amizade, solidariedade e ética estão mortos em

            tal ambiente. É impossível fornecer infraestrutura, educação,

            segurança, etc., neste ambiente. O ciberespaço traz um fim para a

            questão do tempo e do espaço. E trouxe a possibilidade de uma

            nova economia. Quando isso se tornar realidade, o Sr. acredita

            que o mundo atravessará um processo de reurbanização e que nós

            trabalharemos para reconstruir um ambiente físico que foi

            destruído por uma economia baseada no uso exaustivo de

            recursos naturais?

 

            Veja, o único modo de mudar o meio ambiente (no ciberespaço ou

            fora dele) é através da educação. Se um país não estiver pronto

            para educar seus jovens, então nada vai mudar. Uma vez que se dê

            atenção especial às crianças, com a educação de forma que elas

            possam “por as mãos”, por assim dizer, no ciberespaço, acho que

            encontraremos um meio ambiente completamente diferente. Muitos

            dos problemas de cidades como São Paulo – poluição e outros –

            podem ser reduzidos, à medida em que as crianças tiverem acesso à

            educação. Eu acho que minha resposta otimista demorará um longo

            tempo para se concretizar, mas é só através de muita educação que

            as coisas vão acontecer. Eu não conheço nenhuma ferramenta

            melhor. De outra forma, nossos ambientes vivos vão se degenerar.

 

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A Alfândega só registra os átomos

 

           Ao voltar do exterior para os EUA, o viajante deve preencher um

           formulário de declaração alfandegária. Mas você alguma declarou

           os bits que adquiriu na sua viagem? Algum funcionário do

           aeroporto já perguntou se você está trazendo um disquete que vale

           centenas ou milhares de dólares? (...) Recentemente, eu

           visitei o escritório central de uma das cinco maiores fabricantes de

           circuitos integrados dos EUA. Durante a visita, me perguntaram se

           eu trazia um computador "laptop" comigo. Claro que sim. A

           recepcionista então me perguntou o modelo, número de série e o

           valor do computador. "Entre US$ 1 milhão e US$ 2 milhões", eu

           respondi. "Oh, isso não é possível, senhor". Deixe-me ver o

           equipamento". Eu mostrei a ela o meu velho PowerBook (quatro

           polegadas de espessura!), e ela avaliou-o em US$ 200.

(...)

          Quando o juiz Harold Greene (da Comissão Federal de

           Comunicações) fragmentou a AT&T em 1983, ele determinou

           que as novas companhias telefônicas Bell não poderiam entrar no

           negócio de informações. Quem o juiz pensava estar enganando.?

           As sete empresas Bell já estavam no "negócio de informações" e

           se dando muito bem, obrigado. As maiores margens vinham (e

           ainda vêm) das Páginas Amarelas, que as companhias vendem

           com ótimos lucros. (...)Haveria alguém pensando em "vida digital"

           na época que a AT&T estava sendo desmembrada? Eu temo que

           não.

 

           "Pay-per-View"

 

a mudança de uma

           empresa rumo ao futuro digital se dá na velocidade proporcional

           da conversão dos átomos da empresa em bits.

Eu usei o aluguel de

           fitas de vídeo como exemplo, já que esses átomos podem ser

           facilmente convertidos em bits. Ocorreu que o palestrante seguinte

           foi Wayne Huizenga, então presidente da Blockbuster. Ele

           defendeu seu negócio dizendo que "o professor Negroponte está

           errado". Seu argumento se baseava largamente no fato de que a

           TV "pay-per-view" (paga-se apenas pelos programas escolhidos)

           não deu certo porque ela comanda uma fatia muito pequena do

           mercado. Por outro lado, a Blockbuster pode por Hollywood no

           bolso, uma vez que as locadoras de vídeo geram 50% dos

           rendimentos e 60% dos lucros dos estúdios. Pensei sobre o

           comentário de Huizenga e percebi que o grande empresário não

           entendia a diferença entre bits e átomos. Seus átomos – fitas de

           vídeo – são a prova que o vídeo "on-demand" vai dar certo. O

           videocassete já é a TV "pay-per-view". A única diferença é que

           quase um terço dos lucros das locadoras vem do atraso na

           devolução das fitas.

 

 

           Biblioteca do Futuro

 

           Thomas Jefferson, o fundador

           da república, não podia imaginar é que qualquer cidadão pode

           entrar em qualquer biblioteca e "retirar" todos os volumes

           simultaneamente, com um toque de botão. (...)Isso não

           foi imaginado por Jefferson. Isso não é o que os autores

           imaginaram. E, o que é pior, isso não é o que as editoras

           imaginaram. O problema é simples. Quando as informações estão

           encerradas em átomos, são necessários grandes sistemas

           industriais e imensas corporações para entregá-las. Mas

           subitamente, quando o foco muda para os bits, os figurões

           tradicionais deixam de ser necessários. A publicação independente

           faz sentido na Internet. Não faz sentido em papel.

 

 

           John Markoff

 

           Foi através do New York Times que eu vim a conhecer e apreciar

           o trabalho de John Markoff, (...)Porém, hoje seria muito

           mais fácil reunir seus artigos automaticamente e arquivá-los em

           meu jornal eletrônico pessoal. Eu aceitaria pagar 5 centavos por

           cada novo artigo de Markoff. Se um quinto dos usuários da

           Internet em 1995 concordassem com isso, e Markoff escrevesse

           20 artigos por ano, ele ganharia US$ 1 milhão anualmente – posso

           crer que isso é mais do que o New York Times paga a ele. Se

           você acha que um quinto é uma fatia muito grande da Internet,

           então aguarde. Uma vez que alguém se estabelece, o valor

           adicionado de um distribuidor se torna cada vez menor no mundo

           digital. Distribuir bits é muito mais fácil que movimentar átomos.

           Mas a distribuição é apenas uma parte da história. Uma empresa

           de mídia é, entre outras coisas, um captador de talentos e seus

           canais de distribuição, bits ou átomos, são uma área de testes para

           a opinião pública. Mas depois de um certo ponto, um autor pode

           não mais precisar dessa área. Na era digital, os autores podem

           vender suas histórias e artigos diretamente e ganhar mais dinheiro,

           uma vez que se tornem conhecidos. Ainda não funciona assim

           hoje, mas funcionará muito bem, em breve – quando a "vida

           digital" se tornar a norma.

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Horário nobre é o meu horário

John Markoff

 

           O mito da Blockbuster

 

           A maioria dos provedores de acesso e de equipamentos acreditam

           que o entretenimento vai financiar a "information superhighway" e

           que o vídeo transmitido sob encomenda, ou "video on-demand"

           (VOD) será a grande tacada no futuro digital. Eu não discordo

           dessa visão, mas me espanto com a conclusão estreita e

           incompleta que se tem tirado dela. O caso do VOD é o seguinte:

           digamos que uma locadora de vídeo tenha um catálogo de 2.000

           fitas. Imaginemos que eles descubram que 5% dessas fitas são

           responsáveis por 90% das locações. Muito possivelmente, uma

           boa parte desses 5% são lançamentos e representariam uma

           porcentagem ainda maior das locações caso estivessem disponíveis

           em um número maior de cópias.

 

           Locadoras de vídeo vão sair do mercado dentro de uma década

           (não faz sentido transportar átomos quando você pode transportar

           bits). A conclusão fácil é que o caminho para se criar uma

           Blockbuster eletrônica é oferecer apenas aqueles 5%, basicamente

           lançamentos. Não apenas conveniente, isso também representaria

           prova tangível e evidente de algo que alguns ainda consideram um

           experimento tecnológico. Custaria muito tempo e dinheiro

           digitalizar todos os 29.000 filmes feitos nos EUA até 1990.

           Custaria ainda mais para digitalizar os 30.000 programas de TV

           arquivados no Museum of Television & Radio, em New York – e

           eu nem estou considerando os filmes europeus, as dezenas de

           milhares de filmes indianos, ou as 12.000 horas de telenovelas

           produzidas anualmente pela Televisa no México.

 

           A pergunta é: a maioria de nós realmente quer ver apenas aqueles

           5%? Ou este fenômeno de manada é causado pelas velhas

           tecnologias de distribuição?

 

           AAATV

 

           Alguns executivos graúdos da telefonia celular recitam o jingle:

           "anything, anywhere, anytime" ("qualquer coisa, em qualquer

           lugar, a qualquer hora"). Esses três As são um sinal de

           modernidade, de ser digital (e sem fio). Quando ouço esse mantra,

           tento não engasgar, já que o que eu realmente quero é "nothing,

           nowhere, never" (nada, em lugar algum, nunca), a não ser que

           seja necessário, importante, interessante, relevante ou capaz de

           despertar minha imaginação. Os AAA são o paradigma

           malcheiroso das comunicações humanas – agentes são muito

           melhores. Mas esses AAA são um belo modo de se pensar a TV.

 

           Ouve-se falar muito sobre a TV com 1.000 canais. Permita-me

           observar que, mesmo sem o satélite, mais de 1.000 programas são

           transmitidos para os lares americanos todos os dias, em todas as

           horas. Os mais de 150 canais listados na revista Satellite TV Week

           contribuem com outros 2.700 (ou mais) programas disponíveis

           diariamente. Se seu televisor pudesse gravar cada programa

           transmitido, você já teria 5 vezes mais seletividade que aquela

           anunciada pela "superhighway", em sua grandiosidade peculiar.

           Mas em vez de arquivar todos os programas, sua TV-agente

           poderia gravar um ou dois, para você ver no lugar que quiser, na

           hora que quiser.

 

           Vamos expandir a AAATV para a infraestrutura global, que é

           quando as mudanças quantitativas e qualitativas se tornam

           interessantes. Alguns podem querer emissoras francesas para

           melhorar seus conhecimentos de francês, outros podem preferir

           ligar no canal 11 da Suíça para ver nudez alemã sem cortes (às 5

           da tarde, horário de New York) e os 2 milhões de descendentes de

           gregos nos EUA poderiam querer algum dos canais da Grécia, três

           nacionais e sete regionais. Os ingleses dedicam 75 horas de TV

           anualmente para a cobertura de campeonatos de xadrez e os

           franceses reservam 80 horas para o Tour de France. É óbvio que

           fãs americanos de xadrez ou ciclismo gostariam de ter acesso a

           esses eventos – a qualquer hora, em qualquer lugar.

 

           Meu ponto é simples: a transmissão aberta, "broadcast", é que está

           fracassando. "On-demand" é um conceito muito mais amplo que

           "não-querer-sair-na-chuva" ou

           "não-esquecer-uma-fita-alugada-sob-o-sofá-por-semanas". É um

           cabo-de-guerra entre os consumidores e a mídia, o jogo de puxa e

           empurra entre o tempo do espectador e o tempo da emissora.

 

           TV de retalhos

 

           Mais do que assistir qualquer programa na televisão de hoje (ou de

           ontem) ao redor do globo (cerca de 15 mil emissoras

           concorrentes), o VOD poderia dar vida nova aos filmes

           documentários, mesmo aos terríveis "infomerciais" (uma

           combinação de anúncio com informações). Os documentaristas

           que estão lendo isso devem estar de cabelos em pé. Mas é

           possível fazer as Tvs-agentes editarem filmes ao vivo, como um

           professor montando uma apostila a partir de capítulos de livros

           diferentes.

 

           Se eu estivesse considerando uma viagem ao litoral sul da

           Turquia, posso não encontrar um documentário sobre Bodrum,

           mas posso achar fragmentos de filmes sobre a construção de

           barcos de madeira, pesca noturna, ruínas submersas e tapetes

           orientais. Esses trechos poderiam ser reunidos de modo a

           satisfazer minhas necessidades. O resultado não seria um "10" em

           Introdução à Cinematografia. Mas ninguém espera que uma

           apostila seja Shakespeare. Na verdade, os valores da produção

           seriam ser julgados pelos olhos do produtor. Ajudaria muito se os

           trechos originais fossem produzidos por grandes organizações

           como a National Geographic, PBS ou BBC, mas o resultado teria

           significado apenas para mim.

 

           Televisão de quintal

 

           Por fim, não podemos ignorar as 3,1 milhões de camcorders

           vendidas ano passado nos EUA. Se o modelo de broadcast está

           colidindo com o modelo da Internet, como eu acredito firmemente

           que esteja, então cada pessoa pode ser uma emissora

           não-licenciada de TV. Sim, Sr. Vice-Presidente, foi isso que o

           senhor disse em Los Angeles. Mesmo antes de entendermos de

           que modo a Internet vai funcionar como empreendimento

           comercial, podemos considerar incontáveis horas de vídeo.

 

           Eu não estou sugerindo considerar qualquer "home video" como

           um programa para o horário nobre. Estou dizendo que podemos

           agora pensar a TV como algo bem além de um meio de massa

           com altos valores de produção, uma vez que o conteúdo chegou

           aos lares, por assim dizer. A maioria dos executivos do setor de

           telecomunicações entende a necessidade de bandas amplas para a

           transmissão comercial (banda ampla, "broadband", é para mim

           entre 1,5 e 6 megabits – e não gigabits – para cada morador da

           casa). O que os executivos não enxergaram é a necessidade de um

           canal de retorno com uma banda igualmente ampla.

 

           O canal de retorno (que transmite) em vídeo já é aceito em

           teleconferências, e é até um meio esnobe de comunicação, usado

           por pessoas divorciadas que não têm a guarda dos filhos. Isso é

           vídeo ao vivo. Considerem o vídeo "morto". No futuro próximo,

           as pessoas poderão manter um servidor de vídeo do mesmo modo

           que 57 mil americanos mantêm hoje seus BBSs. Esse é um

           cenário da televisão do futuro que se parece com a Internet.

           "Ponto a multiponto" pode mudar dramaticamente para

           "multiponto a multiponto", no meu horário.

 

 

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O futuro do livro

 

           O que pesa menos de um milionésimo de quilo, ocupa menos de

           um milionésimo de uma polegada cúbica, tem 4 milhões de bits, e

           custa menos de US$ 2? O que pesa mais de meio quilo, tem mais

           de 50 polegadas cúbicas, contém menos de 4 milhões de bits e

           custa mais de US$ 20? A mesma coisa: Vida Digital arquivado

           em um circuito integrado e Vida Digital impresso em capa dura.

 

(...)Na verdade, o

           consumo de papel impresso nos EUA cresceu de 71 quilos per

           capita em 1980 para 107 quilos em 1993.

 

           A palavra não está indo embora. Na verdade, ela é e tem sido uma

           das mais poderosas forças alteradoras da humanidade, para o bem

           e para o mal. São Tomás disse algumas palavras no sul da Índia

           há quase 2 mil anos, e hoje a província de Kerala tem 25% de

           cristãos, em um país onde estes são menos de 1% da população.

 

(...)A arte de produzir livros não é perfeita, mas provavelmente será

           tão relevante em 2020 como a arte do ferreiro é hoje.

 

Ainda assim, os livros ganham facilmente como "medium", uma

           interface confortável onde bits e pessoas se encontram. Eles tem

           excelente aparência, manuseio fácil, são geralmente leves (mais

           leves que a maioria dos laptops), seu custo é relativamente baixo,

           possuem um bom acesso aleatório e estão amplamente

           disponíveis.

 

(...)Podemos folhear livros, dobrar e fazer anotações nas páginas – até

           sentar ou ficar em cima deles, se quisermos ficar um pouco mais

           altos. Eu fiquei em pé uma vez em sobre meu laptop e o resultado

           foi desastroso.

 

     (...)chamados PDAs (assistentes

           pessoais digitais, um termos criado por John Sculley há cinco

           anos, e um dos acrônimos mais estranhos). De modo geral, essas

           tentativas não conseguem atingir o "livrismo", já que o ato de

           folhear é um elemento indisputável da experiência de ler um livro.

           Em 1978, no MIT, animamos o virar de páginas em uma tela, e

           até geramos o barulho do papel. Bonitinho, mas só.

 

           Quando meus colegas e eu argumentamos que os meios de

           comunicação de massa do futuro serão de um tipo que você

           "puxa" em vez de algo "empurrado" para você, as pessoas dizem:

           "Bobagem!" (ou pior). Tais negativistas argumentam que o

           modelo de "puxar" não será apoiado porque ele eclipsaria a

           publicidade. Enquanto eu não estou certo se até isso seria verdade,

           vamos fazer de conta que é e nos perguntarmos: que meio de

           massa é maior que as indústrias da TV e do cinema combinadas,

           não tem anúncios e é realmente, como disse George Gilder, um

           meio de escolha? A resposta: livros.

 

           Mais de 50 mil títulos são publicados nos EUA todos os anos.

           Adivinhe o número médio de exemplares impressos por título.

           Uma grande editora consideraria 5.000 cópias a mais baixa tiragem

           economicamente viável, enquanto algumas editoras pequenas

           considerariam 2.000 exemplares uma grande tiragem. Sim, mais

           de 12 milhões de cópias da novela A firma, de John Grisham

           foram impressos, e a primeira tiragem do livro de Bill Gates foi de

           800 mil cópias.

 

           Assim, na próxima vez que você se perguntar sobre a World Wide

           Web (que dobra de tamanho a cada 50 dias ou menos) e imaginar

           o que suportará tantos sites economicamente (em fevereiro deste

           ano, uma nova homepage era adicionada a cada 4 segundos),

           pense nos livros. Você pode dizer para si que a maioria desses

           sites na Web desaparecerá – nada disso. Haverá mais e mais,

           como publicações especializadas, e haverá públicos para todos

           eles. Em vez de se preocupar com o futuro dos livros no padrão

           papel-jornal, pense em bits para todos: bits best-sellers, bits

           especializados para poucos, e bits invendáveis, de avós para netos.

 

           Enquanto isso, alguns de nós pesquisadores estamos trabalhando

           para tornar os bits agradáveis para leitura – algo que você possa

           enrolar e levar para ler no banheiro.

 

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A balança comercial das idéias

 

O incrementalismo é o pior inimigo da inovação. Novos

           conceitos e grandes passos são, de fato, resultado de uma mistura

           de pessoas, idéias, origens e culturas que normalmente não estão

           misturadas.

 

No mundo dos bits, você pode ser pequeno e global ao

           mesmo tempo.

 

           Hoje, um PC Pentium de 100 MHz que custa US$ 2.000 é mais

           poderoso que o computador central do MIT no tempo que eu era

           estudante.

(...)Ser grande

           não mais importa. Por esses motivos, mais do que nunca,

           devemos trocar idéias, e não embargá-las.

 

A Net torna o isolacionismo científico algo impossível, mesmo que

           os governos queiram tal política. Não temos escolha, senão

           exercer o livre comércio de idéias.

 

           Hoje eu vejo o problema de forma diferente. A Rede tem forçado

           essa troca aberta, com ou sem aval dos governos, de modo que o

           ônus de mudar a atitude recai sobre os outros governos,

           especialmente aqueles de países em desenvolvimento. Por

           exemplo, nações recentemente industrializadas não podem mais

           fingir que são pobres demais para agir com reciprocidade , com

           idéias novas, básicas, fortes.

 

Agora que as idéias são partilhadas quase instantaneamente na

           Net, é ainda mais importante que as nações do Terceiro Mundo

           não sejam devedoras de idéias – elas devem contribuir com o

           conjunto científico do conhecimento humano. É fácil demais se

           desculpar por não ser um credor de idéias por não ter um parque

           industrial. Eu tenho ouvido muitas pessoas fora dos EUA me

           dizerem que são muito pequenas, muito novas, ou muito pobres

           para realizar pesquisa "verdadeira", de longo-prazo. Em vez disso,

           me dizem, uma nação em desenvolvimento pode apenas sacar do

           depósito de idéias que vem dos países ricos. Bobagem. No mundo

           digital, não deveriam existir nações devedoras. Pensar que você

           não tem coisa alguma a oferecer é rejeitar a economia das idéias

           que se aproxima.

 

           Na nova balança comercial das idéias, participantes bem pequenos

           podem contribuir com idéias bem grandes.

 

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Melhor, mais rápido e barato

 

            Paul Saffo

Paul Saffo é diretor do Instituto para o Futuro (Institute for the

            Future) em Menlo Park, Califórnia.

 

inovadores não começam a mudar o mundo. Só o que eles querem é fazer algo melhor, mais rápido e barato.

            Inovações reais, no entanto, disparam a lei de consequências desintencionadas.

 

Exatamente como Schumpeter previu, existe um

            modelo: a transformação constrói vagarosamente, invisivelmente e depois rompe

            aberta e literalmente da noite para o dia.

 

            Aí os grandes jogadores começaram a se acumular. Joe Boxer e o Bank of

            América (Banco da América) acrescentaram o endereço de Web a seus

            quadros. Jornais ansiosos começaram uma publicação de duas mãos. Bancos e

            corretores de valores começaram a construir canais para dinheiro eletrônico. E

            companhias de produtos de consumo desde Adidas até Zima se arranjaram às

            pressas on-line (ou talvez interativamente), comercializando unidades,

            trabalhando suas cabeças coletivas a fim de descobrir como se usa meios

            interpessoais únicos para o combate massa-mercado.

 

            Existe a tentação de equiparar “melhor, mais rápido e barato” com a eliminação

            do revendedor; vemos consumidores e produtores negociando entre si. Mas não

            conte com isso. A meta no comércio não é eficiente por si só, mas sim sem

            efeito. E intermediários podem ser ferramentas poderosas, especialmente com

            novas tecnologias inexoravelmente abaixando os custos. Dê uma olhada no

            grupo de companhias de “dinheiro eletrônico” construindo negócios segundo a

            possibilidade de coletar com lucro “micro dinheiro” em transações tão pequenas

            para serem efetivadas por um banco tradicional e canais de cartão de crédito.

            Pode custar cinco centavos para se ler um artigo ou dez centavos para olhar uma

            foto. Poderia custar 25 centavos para ouvir a música número um mais recente

            nas padas de Tóquio.

 

(...)   muito da revolução

            ainda terá metade do caminho no próximo século ou mais para se desdobrar.

            Mas as mudanças já estão a caminho. E se você prestar atenção cuidadosamente

            ao sussurro da Rede, poderá ouvir o tumulto da destruição criativa que se

            aproxima no horizonte.