EXTRATO DE: GUERRA E ANTI-GUERRA:
SOBREVIVÊNCIA NA AURORA DO SÉCULO XXI
TÍTULO DO ORIGINAL:
WAR AND ANTI-WAR: SURVIVAL AT THE DAWN OF THE TWENTY-FIRST CENTURY
AUTOR: ALVIN &
HEIDI TOFFLER
EDITADO EM: 93 POR:
RECORD
"Você pode não
estar interessado na guerra mas a guerra está
interessada em você."
Trotsky
PRIMEIRA PARTE -
CONFLITO
1. ENCONTRO
INESPERADO
2. O FIM DO ÊXTASE
7,2 milhões de
soldados foram abatidos em guerras e conflitos civis desde 1945. Este é o
número apenas das mortes, não dos feridos, torturados ou mutilados. Tampouco
inclui número muito maior de civis sacrificados. Ou daqueles que morreram em
conseqüência dos combates. Ironicamente, em toda a Primeira Guerra Mundial, o
número de soldados mortos foi apenas moderadamente maior: aproximadamente 8,4
milhões. Isso significa, de modo impressionante, que em termos de mortes em
combate, mesmo descontando-se ampla margem de erro, o mundo tornou a matar
quase que o equivalente à Primeira Guerra Mundial desde 1945. Quando são
acrescentados os civis, a soma chega ao total astronômico de 33 q 40 milhões. (....) Em anos recentes, quase um trilhão de dólares tem sido
gasto todos os anos para fins militares, principalmente pelas superpotências e
seus aliados. Essas quantias imensas podem ser consideradas como "prêmios
de seguro" pagos pelas principais potências para evitar que grassem
guerras quentes dentro de suas fronteiras. (....) Já
em 86, em A Ascensão do Estado Mercantil, Richard Rosecrance,
do Centro de Relações Internacionais da Universidade da Califórnia, afirmava
que as nações estavam se tornando tão interdependentes do ponto de vista
econômico que reduziam a tendência de lutarem umas com as outras. O comércio, e não o poderio
militar, era agora o caminho para o poder mundial. Em
1987, Paul Kennedy contrapôs similarmente a força econômica e a força militar
em Ascensão e Queda das Grandes Potências. Kennedy salientou os perigos do
"exagero da distensão militar".
(....)
3. UM CHOQUE DE
CIVILIZAÇÕES
Como as mudanças
amplas na sociedade não podem ocorrer sem conflito, acreditamos que a metáfora
da história "ondas" de mudança é mais dinâmica e reveladora do que
falar-se sobre uma transição para o "pós-modernismo". As ondas são
dinâmicas. (....) As orientações da civilização da
Segunda Onda estão sendo discutidas. Alguns historiadores traçam suas raízes
até o Renascimento, ou ainda para trás. Mas a vida só mudou fundamentalmente
para grande número de pessoas, grosso modo, há trezentos anos. Foi quando
surgiu a ciência newtoniana. Foi quando usou-se o
motor a vapor, pela primeira vez, com fins econômicos e as primeiras fábricas
começaram a proliferar na Inglaterra, na França e na Itália. Camponeses
começaram a mudar-se para as cidades. Ousadas idéias novas começaram a
circular, a idéia de progresso; a estranha doutrina dos direitos individuais; a
noção rousseauniana de contrato social; o secularismo; a
separação entre a Igreja e o Estado; e a nova idéia de que os líderes deveriam
ser escolhidos pela vontade popular, não pelo direito divino. (....) Nas economias
de Terceira Onda a produção desmassificada é a lâmina de corte da manufatura.
Ativos intangíveis como a informação tornam-se o recurso chave. Trabalhadores
sem instrução ficam desempregados. Os sindicatos de trabalhadores do setor de
produção em massa encolhem. Os meios de comunicação são desmassificados,
acompanhando a produção, e as gigantescas redes de TV se atrofiam, à medida que
proliferam novos canais. O sistema familiar, também, torna-se uma forma
minoritária, enquanto que famílias de pais ou mães solteiras, casais que se recusaram, famílias sem filhos e pessoas que vivem sozinhas
proliferam. (....) Ao mesmo tempo, o ritmo da mudança
tecnológica, das transações e da vida diária se acelera. Na verdade, as
economias da Terceira Onda funcionam a velocidades tão aceleradas que seus
fornecedores pré-modernos mal acompanham o seu ritmo. (....)
SEGUNDA PARTE -
TRAJETÓRIA
Uma verdadeira
revolução muda o próprio jogo, inclusive suas regras, seu equipamento, o
tamanho e a organização das "equipes", seu treinamento, sua doutrina,
suas táticas, e praticamente tudo o mais. Não faz isso numa única
"equipe", mas em muitas ao mesmo tempo. O que é ainda mais
importante, ela muda o relacionamento entre o jogo e a própria sociedade. (....)
O grande senhor
feudal Shang, escrevendo na China antiga, preparou um manual dirigido
aos estadistas, extremamente parecido com o que Maquiavel fez 1.800 anos
depois. Nele, Shang declara: "O país depende da
agricultura e da guerra para ficar em paz." Shang
serviu ao Estado de Ch'in de
A receita de Shang para manter a disciplina militar dá idéia de sua
maneira de pensar: "Em combate, cinco homens são organizados para formar
um esquadrão; se um deles for morto, os outros quatro serão decapitados."
Por outro lado, os oficiais vitoriosos deverão ser recompensados com grão, escravos ou até mesmo com "uma cidade pagadora de
impostos de 300 famílias".
Depois de 1792,
escreve o historiador de Yale, R. R. Palmer, uma onda
de inovações "revolucionou a guerra, substituindo a guerra 'limitada' do
Velho Regime pela guerra 'ilimitada' dos
tempos subseqüentes. (...) A guerra antes da Revolução Francesa era essencialmente
um choque entre governantes. A partir daquele evento, ela tem-se tornado cada
vez mais um choque entre povos". Foi-se tornando também, cada vez mais, um
choque de exércitos conscritos. (....) Por toda parte, a racionalização ao estilo industrial
tornou-se a ordem do dia. Assim escrevem Meirion e Susie Harries em
Soldados do Sol, sua impressionante história do exército imperial japonês:
"A década de 1880 foi o período em que o exército evoluiu e arraigou uma
organização profissional, capaz de reunir informações secretas, formular
políticas, planejar e dirigir operações; recrutar, treinar, equipar,
transportar e administrar uma moderna força armada. " (....) Ao contrário
de Sun-tzu, que afirmava que o general mais
bem-sucedido era aquele que atingia seus objetivos sem que houvesse combate ou
com um mínimo de baixas, Carl von Clausewitz
(1780-1831), o pai da estratégia moderna, ensinava uma lição diferente. Embora
em trabalhos posteriores ele fizesse muitas alegações sutis e mesmo
contraditórias, a sua máxima que dizia que "a guerra é um ato de violência
levado ao seu limite máximo" reverberou pelas guerras da era industrial. (....) No seu sentido amplo, a guerra total deveria ser
travada politicamente, culturalmente e propagandisticamente, e a sociedade
inteira convertida numa só "máquina bélica". Era a racionalização ao
estilo industrial levada ao máximo.
"Não faz
diferença quem está em vantagem ou desvantagem numérica". A outra inconfundível lição foi que quem
tomar a iniciativa, "quer esteja em desvantagem ou em vantagem numérica,
quer esteja atacando, quer defendendo", vai ganhar.
"Percebi que
tínhamos de retardar e desintegrar, bem lá dentro da área de batalha do
inimigo. O avanço ordenado de seus escalões que vêm em seguida teria de ser
detido. Não precisaríamos destruí-los. Seria ótimo se pudéssemos. Mas tudo o
que realmente teríamos a fazer seria evitar que eles chegassem à batalha, a fim
de que não dominassem os defensores." (....) Tão
aceleradas são as mudanças na cena mundial, que agora as revisões doutrinárias que costumavam acontecer a cada 40 ou 50
anos são necessárias de ano em ano ou de 2 em dois
anos. Assim, no dia 14 de junho de 1993, apareceu a mais recente revisão do
Regulamento de Serviço (RS) 100-5. "Experiências recentes nos deram
exemplo rápido de novos métodos de conflito armado", declara o resumo
executivo da mais recente doutrina. "Esses métodos eram o fim da guerra da
era industrial e o começo da guerra na era da informação." (....) Essa versão mais nova dá grande ênfase à
versatilidade, a capacidade de o exército passar de um tipo de conflito para
outro, de forma rápida e precisa. Ela muda do enfoque europeu ao enfoque global
e da idéia do desenvolvimento avançado para a idéia e uma força baseada nos
Estados Unidos que possa deslocar-se
depressa para qualquer lugar do mundo. Desvia-se da preocupação com a ameaça da
guerra global com os soviéticos para a ênfase em contingências regionais. Além domais, a nova doutrina dedica atenção ao que chama de
operações outras que não a guerra" que, em seus próprios termos,
abrangem auxílio por ocasião de calamidades, distúrbios civis, manutenção da
paz e atividades de combate às drogas. (....) Ela explica cuidadosamente que o
exército dos EUA é responsável perante o público americano que "espera
vitória rápida e abomina baixas desnecessárias" e que "reserva-se o
direito de reexaminar o seu apoio se qualquer uma dessas condições não for
atendida". (....)
Em
O relatório
esboçava as maneiras pelas quais uma gigantesca burocracia da Segunda Onda, ao
estilo industrial, poderia transformar-se numa organização que avançasse com
rapidez. Mas a AT&T abafou o relatório durante 3
anos, antes de deixar que ele circulasse pela alta administração. A maioria das
principais companhias norte-americanas ainda não tinha começado a pensar além
da reorganização incremental. A idéia de que seria necessária uma cirurgia
radical para que elas sobrevivessem na emergente economia baseada no
conhecimento parecia exagerada. No entanto, a to lançou, em pouco tempo, muitas
das maiores organizações do mundo na mais dolorosa restruturação
de sua história. (....)
O conhecimento, usado de forma adequada, torna-se o substituto máximo de outros
insumos. Economistas e contabilistas convencionais anda têm
problemas com essa idéia, porque ela é difícil de quantificar, mas o
conhecimento é, agora, o mais versátil e mais importante de todos os fatores de
produção, possa ele ser medido ou não. (....) O que
faz a economia da to verdadeiramente revolucionária é o fato de que enquanto a
terra, o trabalho, as matérias-primas e talvez até mesmo o capital podem ser
considerados como recursos finitos, o conhecimento é, para todos os efeitos,
inexaurível. Ao contrário de um único alto-forno ou de uma linha de montagem, o
conhecimento pode ser usado por duas companhias ao mesmo tempo. E elas podem
usá-lo para gerar ainda mais conhecimento. (....) O
valor real de companhias como a Compaq ou a Kodak, a Hitachi ou a Siemens,
depende mais das idéias, percepções e informações que estão na cabeça de seus
empregados e nos bancos de dados e patentes que essas companhias controlam do
que nos caminhões, linhas de montagem e outros ativos físicos que possam ter.
Assim, o próprio capital se apoia, agora, cada vez
mais, em bens intangíveis. (....) O deslocamento para
as "flex-techs" (tecnologias flexíveis)
promove a diversidade e alimenta a escolha do consumidor a ponto de uma loja da
cadeia Wal-Mart poder oferecer ao comprador quase 110.000 produtos de vários
tipos, tamanhos, modelos e cores à sua escolha. (....)
Mas a Wal-Mart é um vendedor em massa. Cada vez mais, o próprio mercado de
massa está se dividindo em nichos diferenciados à medida que as necessidades do
consumidor divergem e melhores informações possibilitam às empresas identificar
e servir a micromercados. (....)
Enquanto isso, a propaganda é dirigida para segmentos cada vez menores do
mercado, alcançados através de meios de comunicação cada vez mais desmassificados. (....) A força muscular é essencialmente fungível. Assim, um
trabalhador de baixa qualificação, que peça demissão, pode ser substituído com rapidez e a custo baixo. Em contraposição,
os crescentes níveis de especialização exigidos pela economia da to tornam mais
difícil e mais dispendioso encontrar a pessoa certa
com a habilitação certa. (...) A crescente especialização e mudanças rápidas
nas exigências de aptidões reduzem a intercambialidade
da mão-de-obra.
Em termos
tradicionais, trabalhadores diretos, ou "produtivos", são aqueles
que, na fábrica, realmente fazem o produto. Produzem valor agregado. Todos os
demais trabalhadores são descritos como "não-produtivos" ou
proporcionando apenas uma contribuição "indireta". Hoje, essas distinções ficam indefinidas à
medida que a relação entre trabalhadores fabris e burocratas, técnicos e
profissionais diminui, mesmo na fábrica. Pelo menos a mão-de-obra
"indireta" produz um valor igual ao da mão-de-obra
"direta", senão maior. (....) Algo da ordem
de 1.000 novos produtos são colocados nos supermercados dos EUA todos os meses.
(....) Lutando para se adaptar às mudanças em alta
velocidade, as companhias estão correndo para desmontar suas estruturas
burocráticas da Segunda Onda. (....) (...) estão sendo
despejados bilhões de dólares em redes eletrônicas que unem computadores,
bancos de dados e outras tecnologias da informação. Essa vasta estrutura de
informações eletrônicas, freqüentemente com base em satélites, une companhias
inteiras, muitas vezes ligando-as aos computadores e redes tanto de
fornecedores como de clientes. Outras redes unem redes. O Japão destinou 250
bilhões de dólares para desenvolver redes melhores, mais rápidas, ao longo dos
próximos 25 anos. O vice-presidente Gore, quando ainda estava no Senado, apoiou
uma legislação que oferece 1 bilhão de dólares em 5
anos para ajudar a pôr em funcionamento uma "Rede Nacional de Pesquisa e
Educação", com a finalidade de fazer pela informação o que as superauto-estradas fizeram pelos automóveis. Essas estradas
eletrônicas formam a infra-estrutura essencial da economia da terceira onda. (....) concorrência é
tão intensa e as velocidades exigidas tão altas que a velha regra que diz que
"tempo é dinheiro" vai ficando cada vez mais atualizada para
"cada intervalo de tempo vale mais do que o anterior". (....) Expressando a nova urgência, DuWayne
Peterson, alto executivo da Merrrill Lynch, diz:
"O dinheiro se desloca à velocidade da luz. A informação tem de se
deslocar mais depressa." Assim, a aceleração empurra a empresa da tercera onda cada vez mais para perto do tempo real.
A essência do novo
pensamento é, talvez, expressa da melhor maneira por Fátima Mernissi,
socióloga e feminista marroquina muitíssimo inteligente e ardente crítica
muçulmana do papel norte-americano na Guerra do Golfo. "A supremacia do
ocidente não deve tanto ao seu equipamento militar quanto ao fato de que suas
bases militares são laboratórios e seus soldados são cérebros, exércitos de
pesquisadores e engenheiros". (....) Pode muito
bem chegar o dia em que o número de
soldados portando computadores será maior do que o de soldados que portam
armas. O Dep. De Defessa dos EUA deu um
passo nessa direção em 93, quando a Força Aérea dos EUA fez um contrato
para a compra de até 300.000 Pcs. (....)
Hoje um só F-117 voando uma única surtida e largando uma só bomba, pode
realizar o que exigia bombardeiros B-17 voando 4.500 surtidas e largando 9.000
bombas para ser feito, na Segundas Guerra Mundial, ou 95 surtidas e 190 bombas
no Vietnã. (....) A esta altura, todos compreendem que
a nova economia "inteligente" requer também, trabalhadores
inteligentes. À medida que o trabalho braçal diminui,
grandes quantidades de trabalhadores não qualificados são substituídas, cada
vez mais, por menor número de trabalhadores altamente treinados e máquinas
inteligentes. (....) A idéia de que a Guerra do Golfo
foi uma guerra de alta tecnologia em que o elemento humano em combate foi
eliminado é uma fantasia. A verdade é que as forças enviadas pelos aliados ao
Golfo formavam o
exército mais instruído e tecnicamente capacitado jamais enviado para um
combate. O TRADOC de Starry, de fato, treinou muitos deles. Foram preciso quase
10 asno para preparar as forças armadas norte-americanas para o novo tipo de
guerra baseado na batalha ar-terra. (....) "O lema da década de 60, 'questionem a autoridade',
fincou raízes nos lugares mais improváveis", escreveu Steven D. Stark no Los Angeles Times,
descrevendo o ethos modificado das forças armadas
norte-americanas. A disposição de perguntar e pensar pode bem prevalecer mais
nas forças armadas dos EUA do que em muitas empresas. (....)
Entre os pilotos, os níveis de treinamento são, agora, muito mais elevados do
que em qualquer período anterior. Na Segunda Guerra Mundial, jovens pilotos
podiam ser postos em ação depois de algumas horas na cabina. Hoje, por trás de
cada piloto de F-15 está um treinamento que custou milhões de dólares. E são
precisos vários anos, e não dias ou meses, de preparação. (....)
O combate da terceira onda envolve muito
mais do que puxar um gatilho. A força de trabalho e a força de guerra mudam
juntas. Guerreiros irracionais são para a guerra da Terceira Onda o que os
trabalhadores manuais não-qualificados são para a economia da to uma
espécie ameaçada de extinção. (....) Como na economia
civil, menor número de pessoas com tecnologia inteligente pode realizar mais do
que muitas pessoas com as ferramentas da força bruta do passado. (....) Nas forças armadas da terceira onda , exatamente como
na empresa da Terceira Onda , a autoridade decisória está sendo empurrada para
o nível mais baixo possível. (....) A Forbes, a revista especializada na área empresarial, estava
certa quando escreveu: "Os EUA venceram a guerra militar (...) da mesma
maneira que os japoneses estão vencendo a guerra de comércio e manufatura de
alta tecnologia contra nós: usando uma estratégia de ciclos rápidos, baseada no
tempo." (....)
10. CHOQUE DE
FORMAS DE GUERRA
TERCEIRA PARTE:
EXPLORAÇÃO
11. NICHOS DE
GUERRA
Aparecem os nichos
de mercados, seguidos por nichos de produtos, nichos de financiamentos e nichos
de jogadores nas bolsas de valores. Os nichos de propaganda enchem nichos de
meios de comunicação, como a televisão por cabo. (....)
Haverá mais casos como o da Somália ou do Zaire, onde os governos terão
desmoronado por completo e reina a anarquia. Outros países irão intervir para
se proteger, para cortar o tráfico de drogas, para evitar que imensas ondas de
refugiados atravessem uma fronteira, ou para deter a disseminação da violência
racial através de suas fronteiras. (....)
Hoje diz Andy Messing temos a capacidade de levar uma equipe, fazê-la pular de
12. GUERRAS
ESPACIAIS
Diz o general da
força aérea Donald J Kutyna: "Num futuro de
forças reduzidas em número e despesas, iremos nos valer ainda mais do espaço.
Os sistemas espaciais serão sempre os primeiros a chegar." Essa crescente
ênfase no espaço altera todo o equilíbrio do poder militar global. (....) Quase sem ter
sido percebido pelo público e pela imprensa, está se ampliando, hoje, uma
divisão entre "potências espaciais" e "potências
não-espaciais". (....) (...) tratados visando
evitar a guerra ecológica no futuro dependem da verificação de seu
cumprimento. Mas só vale a pena ter um tratado se o comportamento de seus
signatários puder ser monitorizado. E a principal forma de monitoramento e
verificação é a observação via satélite.
• Quem governar o espaço circuntererrestre mandará no planeta Terra.
• Quem governar a Lua mandará no espaço circunterrestre.
• Quem governar L4 e L5 mandará no sistema
Terr-Lua.
L4 e L5 são pontos
de libração lunar, locais, no espaço, em que a
atração gravitacional da lua e da terra são exatamente iguais.
Em teoria, bases militares ali instaladas poderiam ficar em posição por períodos muito longos, sem
precisar de muito combustível. Elas podem ser o equivalente ao "terreno
elevado" para os guerreiros espaciais de amanhã.
13. GUERRAS DE
ROBÔS
Num trabalho
interno escrito pouco depois que a Guerra no Golfo terminou,
o engenheiro eletrônico Henry C. Yuen, alegava que
"um dos principais objetivos no desenvolvimento de novos armamentos
deveria ser a redução ou a total eliminação do risco humano." (....)
Simplesmente falando, as armas e os equipamentos que pudessem causar danos a
quem os usava não deviam, na medida do possível, ser tripulados", isto é,
deviam ser robóticos. Yuen esboçou planos para
tanques sem motorista que operariam em equipes sob o controle de uma estação de
combate remota. (....) (...) A pergunta que agita os roboteiros
militares, não é como tornar inteligentes as armas-robôs, mas quão inteligentes
podem vir a ser. (....) Está acontecendo entre esses engenheiros um debate sem
alarde que levanta algumas das mais importantes questões que a raça humana tem
pela frente. A questão diz respeito não apenas `guerra e à paz, mas também à
possível subordinação de nossa espécie a robôs assassinos superinteligentes,
cada vez mais cônscios de sua personalidade.
(....) Projetados por Israel e construídos por uma firma
norte-americana, os aviões de controle remoto Pioneer passaram quase
despercebidos pelos meios de comunicação, sem falar nos iraquianos. Alguns
foram lançados do convés do couraçado USS Wisconsin,
outros por unidades terrestres do exército e do corpo de fuzileiros navais dos
EUA. Segundo Edward E. Davis, subgerente de programa da marinha para
"veículos aéreos não-tripulados", os Pioneer voaram 330 surtidas e
passaram mais de 1.000 horas no ar tão logo a Tempestade no Deserto começou. Um
deles ficou voando 24 horas por dia ao longo de todo o período de combate.
(....) A marinha dos EUA está gastando mais de meio bilhão de dólares num
programa secreto chamado Retract Maple,
que vai permitir que o comandante do navio 1 receba sinais de radar e outras
informações instantâneas do navio 2 e dispare mísseis automaticamente dos
navios 3, 4 ou, mesmo, 10 ou 20. O Retract Maple também pode enviar iscas e
bloquear o sistema de orientação de mísseis inimigos que se aproximam. Isso dá
ao comandante de uma força-tarefa o controle remoto de toda a força-tarefa que
consista num grande número de navios, de cruzadores e contratorpedeiros para
baixo. (....) A Universidade de Kyoto e dois órgão
governamentais estão construindo um pequeno avião robô com potencial de funções
meteorológicas, ambientais e de transmissões de rádio. Ele está projetado para
ficar no ar indefinidamente, com energia fornecida por microondas enviadas do
chão. A komatsu Ltd. enquanto isso,
criou um artefato robótico de várias pernas para uso em construções
debaixo d'água. (....)
Se o trabalho nos pontos extremos da robótica militar um dia chegasse a
convergir para as pesquisas que estão sendo realizadas no campo da biologia e
evolução computacionais, todas as apostas atuais estariam realmente canceladas.
NO T-13 Complex Systems Group
do Los Alamos National Laboratory, pesquisadores de Vida-A
estudam sistemas feitos pelo ser humano que imitam sistemas vivos que evoluem e
desenvolvem a capacidade de um comportamento independente. Os cientistas que
atuam nesse campo estão permanentemente preocupados com as implicações morais e
militares. Doyne Farmer, um
físico do Los Alamos, especulou num ensaio escrito em
conjunto com Alletta D'A. Belin,
que "uma vez colocadas em ação máquinas de guerra que se auto-reproduzem,
mesmo que mudássemos de idéia (...) pode tornar-se difícil desmontá-las; elas
podem estar literalmente fora do nosso controle." (....)
14. SONHOS DE DA
VINCI
Outros planejadores
imaginam um campo de batalha todo elétrico, significando o fim da Era da
Pólvora para a da artilharia. Nesse cenário, a eletricidade impulsiona o
projétil e a eletrônica o guia até o alto. Todos os veículos são elétricos,
recarregados, talvez, por aeronaves que os sobrevoam e disparam energia
elétrica para eles. (....) (...)Essas e outras
faculdades seriam, todas, integradas numa roupa que acabou de sair do
departamento de efeitos especiais de Hollywood, uma roupa inteligente, exosquelética, que aprende a realizar as repetitivas
tarefas do soldado, para que ele possa marchar dezesseis quilômetros e tirar
uma soneca enquanto marcha... uma roupa que multiplica
por várias vezes a força de quem a usa. Como dia o general Harrison, "Eu
quero esse sujeito numa espécie de roupa exosquelética
que lhe permita saltar sobre prédios altos com um único impulso." A alusão
ao Superman está clara. (....)
Parecendo, ou não, ficção científica, Forster
observa, "O exosqueleto ou exo-homem
está sendo amplamente discutido, e muito embora esteja muito longe do
convencional, todas essas cosas se encontram dentro das leis de física
conhecidas. Não é preciso alterar as leis para fazê-las. A verdadeira chave
está em fazê-las de forma econômica e confiável. (....)
Imagina o
que você poderia fazer com uma formiga se pudesse controlá-la diz Smits, engenheiro eletricista da Univ. De Boston, que detém
a patente de um motor elétrico de menos de
Não é preciso de
muita imaginação para avaliar o que uma infestação de formigas robóticas
poderia fazer às instalações de radar de um inimigo, ou a motores de aviões ou
a um centro de computadores. (....) O trabalho sobre nanotecnologia está sendo efetuado
nos EUA e no Japão, onde os pesquisadores Uotaro Hatamura e Hiroshi Miroshita
prepararam um estudo sobre o Acoplamento
Direto Entre o Mundo Nanométrico e o Mundo Humano.
Segundo um levantamento de 25 cientistas trabalhando na
nanotecnologia, dentro dos próximos
O aviso sobre armas
específicas para raças adquire nova urgência à luz de recentes avanços
científicos ligados à Human Genome
Iniciative, que visa descobrir os segredos do ADN.
Levado um passo mais adiante ela evoca o uso da bioengenharia ou da engenharia
genética para alterar soldados ou gerar "para-humanos"para
o combate. Fantástico, sem dúvida, porém não fora dos extremos da
possibilidade. (....)
(...) Esses atos são primitivos quando comparados com algumas das imagináveis
(e imaginadas) possibilidades de armas ecológicas sofisticadas. Por exemplo,
provocar terremotos ou erupções de vulcões à distância, ao gerar certas ondas
eletromagnéticas, desviando correntes de ventos; enviar um vetor de insetos
geneticamente alterados para devastar uma plantação selecionada; usar raios
laser para cortar um buraco sob medida na camada de ozônio sobre a terra de um
adversário; e até modificar as condições meteorológicas. (....) Lester Brown,
salientou já em 1977 que "tentativas deliberadas de alterar o clima
estão-se tornando cada vez mais comuns", aumentando a perspectiva de
"uma guerra meteorológica quando os países que estiverem precisando com
urgência expandir seus estoques de alimentos começarem a competir pela chuva
existente". (....) Discussões sobre o aquecimento
global estão invocando imagens horríveis de linhas costeiras subindo no mundo
inteiro à medida que as calotas polares se derretem. Mas pouca gente se lembra,
hoje, do impressionante plano de derreter o oceano Ártico que, segundo dizem,
foi apresentado por Lênin pouco depois da Revolução
Russa. (....)
Um acordo internacional proíbe "o uso hostil, militar ou de outra
natureza, de técnicas de modificação ambiental que tenham graves efeitos amplos
e duradouros". Mas não é provável que Saddam Hussein tenha ficado acordado
lendo aquela cláusula da Conferência de Desarmamento de Genebra, na noite
anterior ao dia em que despejou petróleo no Golfo Pérsico ou quando escureceu o
céu do Kuwait com uma nuvem de petróleo. (....) O
mundo deve começar a se preocupar com as armas que irão surgir daqui a 30 anos.
15. GUERRA SEM
SANGUE?
Janet e Chris
Morris decidiram se dedicar a tirar o derramamento de sangue das batalhas. A missão
dos dois tem sido criar uma estratégia e uma doutrina para a guerra não-mortal.
Definem como "não-letais" as tecnologias "que possam prever,
detectar, frustrar ou negar o uso de mios letais, m inimizando, com isso, a matança de
pessoas". (....)
Perry Smith, analista militar da CNN, diz: "Os planejadores militares têm
que olhar além do uso de bombas e mísseis para um ataque preciso dos alvos. A
tecnologia poderá, em breve, permitir a destruição de elementos chave de um
alvo militar sem matar soldados ou destruir totalmente o alvo. Se é possível
tornar impotente um tanque inimigo ao evitar que o motor funcione ou ao
arruinar os computadores que disparam o canhão, poderá ser possível ganhar
guerras por meios que em grande parte sejam não-letais". (....) Para avaliar
as possibilidades das armas não-letais, uma vez desenvolvidas sistematicamente,
precisamos imaginar algumas das situações em que elas poderiam ser utilizadas.
Quando milhares de agitadores se aproximam do conjunto norte-americano cercado
por muros, seus líderes caem ao chão vomitando e defecando. Centenas de protestadores se dobram para a
frente e parecem desorientados. Nenhum deles chega mais perto do muro do que a
uma distância de meio quarteirão da cidade. À medida que o número de protestadores enjoados e inutilizados pela diarréia
aumenta, a turba se desfaz e aos poucos se afasta, com alguns de seus membros
gritando que Alá os está castigando.
Num mundo em que
grassam hostilidades religiosas, raciais e regionais, nas quais as armas letais
podem muito bem ser contraproducentes, intensificando
ódios e violência, em vez de sufocá-las, as armas não-letais deverão ter
aceitação cada vez maior. (....) Veja, por exemplo, o conceito de "antitração". Como um dos documentos do CEG explica,
"a antitração torna as superfícies escorregadias.
Usando sistemas de ataque ou agentes humanos de pára-quedas, podemos espalhar
ou pulverizar lubrificantes do tipo Teflon, ambientalmente neutros, em trilhos
de ferrovias, ladeiras, rampas, pistas de pouso e até escadas e equipamentos,
impedindo o seu uso por um período considerável". Como alternativa, é
também possível colar as coisas de modo a que elas não possam se mexer.
"Adesivos polímeros, levados pelo ar ou de forma seletiva, no chão, podem
"colar" um equipamento no lugar e evitar que ele funcione."
É muito bom falar
em imobilizar tanques com antitração. Mas o que
poderiam as guerrilhas urbanas fazer com os carros da polícia parados do lado
de fora da delegacia local? E se os piratas sociopatas
de computadores infectarem computadores com vírus, o que é que eles, ou outros,
poderiam fazer um dia com armas que usam microondas? (....) Muitas dessas armas podem ser usadas por estados
repressivos contra seus próprios cidadãos que protestem pacificamente. Algumas
das tecnologias são tão indicadas para uso no controle de multidões ou na
dispersão de protestos, que as democracias poderão ter de redigir novas regras
de combate para suas polícias. (....) Poderia a adoção
de métodos de guerra não-letais levar a uma nova rivalidade uma
corrida por parte dos países para espalharem armas não-letais por toda parte?
Poderia isso acabar redundando em menos matança e também menos
democracia se os Estados puderem cegar,
tontear, desorientar e derrotar de outras maneiras não-letais os seus
críticos? (....)
QUARTA PARTE:
CONHECIMENTO
16. OS GUERREIROS
DO CONHECIMENTO
À medida que a
forma de guerra da Terceira Onda se configura começa a aparecer uma nova
estirpe de "guerreiros do conhecimento", intelectuais com e sem uniforme dedicados à idéia de que o conhecimento pode
vencer, ou evitar, guerras. (....) "A história da
guerra é a história da doutrina", diz Paul Strassmann
chefe dos serviços de informação da Xerox Corporation.
"Temos uma doutrina para desembarques em praias, uma doutrina para
bombardeios, uma doutrina para a batalha ar-terra. (...) O que está faltando...
'e uma doutrina para a informação".
(....) Duane Andrews
é o antigo chefe de Strassmann no Pentágono. Andrews,
que serviu como secretário-assistente de defesa para o C3I (Comando, Controle,
Comunicações e Inteligência), assinalou a diferença quando chamou a informação
de "ativo estratégico". Isso significa que não é apenas uma simples
questão de informações secretas no campo de batalha ou ataques táticos contra
as redes de radar e telefone do outro lado, mas uma poderosa alavanca capaz de
alterar decisões de alto nível por parte do oponente. (....)
O "Memorandum of Policy No. 30" define "comando e controle"
como o sistema pelo qual a autoridade e a direção são exercidas por comandantes
legítimos. (...) O memorando alarga os parâmetros oficiais em torno do conceito
de guerra de informações e ao estender a gama para incluir operações
psicológicas que visem influenciar as "emoções, os motivos, o raciocínio
objetivo e, por fim, o comportamento" dos outros. (....)
Para os estudiosos da RAND Corporation, "ciberguerra" implica "tentar saber tudo sobre um
adversário enquanto evita que ele saiba muito sobre você. Significa virar
"o saldo da informação e do conhecimento" a seu favor, em especial se
o saldo das forças não estiver a seu favor". E, exatamente como na economia civil,
significa "usar o conhecimento de modo que se possa gastar menos capital e
menos mão-de-obra". (....) Certas coisas estão
claras. Qualquer força armada como qualquer companhia ou empresa tem de realizar pelo
menos quatro funções chave no que diz respeito ao conhecimento. Tem de
adquirir, processar, distribuir e proteger informações, enquanto as nega ou
distribui seletivamente a seus adversários e/ou aliados. SE, portanto, dividirmos
cada um desses passos em seus componentes, começaremos a
construir um arcabouço abrangente para a estratégia do conhecimento, uma
chave para muitas, se não para a maioria, das vitórias militares de amanhã. (....) "Um dos grandes segredos do Vale do Silício é
roubar capital humano do Terceiro Mundo. Talvez os nativos [do vale] estejam
indo embora. Isso é compensado, com sobras, pelos indianos e taiwaneses que
chegam." (....) Bombas estúpidas podem ter o se Q. I. aumentado
pela adição de componentes que não possuíam originalmente e que dependam de
programas para sua manufatura ou seu funcionamento. (....) Políticas que
orientem o desenvolvimento e o uso da tecnologia da informação em geral, e dos
programas em particular, são um componente vital da estratégia do conhecimento.
(....) Como as redes avançadas permitem que os
usuários se comuniquem entre si em todos os níveis da hierarquia, isso
significa que capitães podem falar com outros capitães, coronéis com outros
coronéis, sem que as mensagens passem , primeiro, pelo topo da pirâmide. Mas
isso é precisamente o que presidentes e primeiros-ministros totalitários podem
não querer.
"É por
isso", acredita Stuart Slade, um cientista de
informações e analista militar, "que as novas redes de comunicações favorecem
as nações democráticas". (....) "O
terrorista de amanhã poderá ter condições de causar mais dano com um teclado do
que com uma bomba." (Computers in Crisis, relatório do
Conselho Nacional Ce Pesquisas) (....) (..) o soldado
e o civil estão informacionalmente interligados. O
grau de competência com que o mundo civil empresas, governo,
associações não lucrativas adquire, processa,
distribui e protege seus ativos de conhecimento afeta profundamente o grau de
competência com que as forças armadas irão cumprir suas tarefas.
17. O FUTURO DO
ESPIÃO
Assemelhando-se a
um especialista
em marketing empresarial, Andrew Shepard, analista da CIA, insiste para e que
os peritos em informações desmassifiquem sua
produção: "Para adaptar o serviço rotineiro de informações aos interesses
particulares dos clientes, precisamos da capacidade para produzir diferentes
apresentações para cada consumidor chave. Prevemos uma montagem final de
entrega de informações rotineiras acabadas no "ponto de venda". (....) Numa era de crescente intangibilidade
na guerra, pode ser igualmente importante monitorar "fatores de
conhecimento", como as opiniões religiosas dos soldados inimigos, sua
cultura, perspectiva do tempo, nível de instrução e treinamento, fontes de
informações, os meios de comunicação a que assistem nas horas de folga, e
outros elementos relacionados com o poder do conhecimento. Em suma, conhecer o
terreno do conhecimento será tão importante para os exércitos da Terceira Onda
quanto foi, no passado, o conhecimento da geografia e da topologia do campo de
batalha. (....) O que a Terceira Onda
tem feito é expandir explosivamente a quantidade de informações (inclusive de
informações erradas) que se desloca pelo mundo.
(....) Preocupar-se com a guerra ou a antiguerra
no futuro sem repensar o serviço de informações e ver como ele se encaixa no
conceito de estratégia do conhecimento é um exercício em futilidade. A
reestrutura e a reconceituação do serviço de
informações e o serviço militar de informações como parte dele
é um passo em direção à formulação de estratégias do conhecimento
necessárias a combater ou impedir as guerras do amanhã.
18. ENGENDRAR
Durante a Primeira
Guerra Mundial, tanto a Alemanha como a Grã-Bretanha tentaram
atrair o apoio norte-americano. Os guerreiros do conhecimento britânicos eram
muito mais (....) sofisticados do que os alemães e
aproveitavam-se de todo evento simbólico para pintar os alemães como antinorte-americanos. Quando um submarino alemão torpedeou
o navio norte-americano Lusitania, que agora sabemos
que podia estar transportando munições para os britânicas,
a opinião norte-americana sentiu-se ultrajada. Mas o verdadeiro ultraje foi
orquestrado um ano depois pelos ingleses. Ao descobrirem que um artista alemão
fizera uma medalha de bronze para celebrar o afundamento do navio, os ingleses
cunharam réplicas da medalha, colocaram-nas em caixas e enviaram centenas de
milhares aos norte-americanos, juntamente com um folheto de propaganda antigermânica. No fim, é claro, os EUA entraram na guerra ao
lado dos ingleses, condenando os alemães.
(....) Uma das "ferramentas" mais
comuns para torcer a mente é a acusação de atrocidades. Quando uma jovem kuwaitiana de 15 anos depôs perante o congresso durante a
Guerra do Golfo, dizendo que soldados iraquianos no Kuwait estavam matando
bebês prematuros e roubando as incubadoras para levá-las para o Iraque, ela
tocou muitos corações. O mundo não foi informado de que ela era filha do
embaixador do Kuwait em Washington e membro da família real, ou que seu comparecimento
tinha sido dirigido pela firma de relações públicas Hill & Knowlton, em nome dos kuwaitianos.
(....) Uma outra "chave de grifa" mental na
caixa de ferramentas do militar, doutro em efeitos, é o endemoninhamento
e/ou a desumanização do adversário. Para Saddam, assim como para seus inimigos
no vizinho Irã, os EUA eram "o Grande Satã", Bush era "o Demônio
da Casa Branca". Por sua vez, para Bush, Saddam era um "Hitler".
A rádio Bagdá se referia ao pilotos norte-americanos
como "ratos" e "animais predadores". Um coronel
norte-americano descreveu um ataque aéreo como "quase como você acender a
luz na cozinha à noite e as baratas começarem a correr de um lado para o outro,
e nós as matarmos". (....) Uma quarta ferramenta é a polarização. "Quem não
está do nosso lado está contra nós". (....)
Talvez a mais poderosa de todas as chaves de grifa seja a metapropaganda
a propaganda que desacredita a propaganda do outro lado. Porta-vozes da coalizão no Golfo repetida e acuradamente salientavam que Saddam tinha um controle total
da imprensa iraquiana e que, portanto, a verdade era negada ao povo do Iraque e
as ondas de transmissão de rádio e televisão estavam cheias de mentiras. A metapropaganda é especialmente potente porque, em vez de
contestar a veracidade de uma única história, põe em dúvida tudo o que vem do
inimigo. Seu objetivo é produzir uma descrença no atacado, não no varejo. (....) O aparelho de TV acabará por ser substituído por uma
unidade (sem fio) que irá combinar um computador, um scanner, um fax, um
telefone e um aparelho de mesa para criar mensagens de multimídia, todos
formando uma unidade e ligados uns aos outros. E, em vez de teclados, esses
"telecomputadores" podem vir a ser operados
por ordens orais, em linguagem natural.
(....) (...) na maioria dos assuntos a
influência da imprensa escrita está declinando. "Com a Guerra do
Golfo", escreve Ignacio Ramonet
em Le Monde Diplomatique, a televisão "assumiu o
poder", dando forma ao estilo e, acima de tudo, ao ritmo e ao andar do
jornalismo impresso. A TV conseguiu impor-se aos outros meios de comunicação,
salienta Ramonet, "não apenas porque apresenta um espetáculo, mas
porque tornou-se mais rápida do que os outros".
Em 1815, 2.000
soldados norte-americanos e ingleses mataram-se uns aos outros na Batalha de
Nova Orlelans porque a notícia de um tratado de paz,
assinado duas semanas antes, em Bruxelas, não os alcançou a tempo. As notícias
se deslocavam a um passo glacial. Hoje, batalhas e tratados de paz tornam-se
notícia antes de serem concluídos. Quando as forças norte-americanas chegaram à
Somália, um exército de câmeras de TV estava na praia para saudá-las.
Presidentes e primeiros-ministros sabem do que está acontecendo pela TV, antes
que os diplomatas possam informá-los. O coronel Alan Campel
alega que os cidadãos de uma democracia podem ter tanto o direito quanto a
necessidade de saber o que está acontecendo. Mas será que precisam saber disso
em tempo real? (....)
Antes da revolução industrial, as populações camponesas eram analfabetas e
provincianas, baseando-se em histórias contadas por viajantes, dogmas da
Igreja, ou mitos e lendas para suas imagens de eventos distantes em tempo ou
lugar. Em contraste, os meios de comunicação da Terceira Onda estão
começando a criar uma sensação de irrealidade quanto a eventos reais. Essa
crescente ficcionalização da realidade é encontrada
não apenas onde ela fica bem, nas comédias de situações e nos dramas, mas
também na programação de noticiosos, onde pode provocar a mais mortal das
conseqüências. (....) Novas tecnologias de simulação
tornam possível montar falsos eventos de propaganda com os quais os indivíduos
interagem, eventos que são intensamente vívidos e "reais". Os novos
meios de comunicação tornarão possível retratar batalhas inteiras que não
aconteceram ou uma reunião de cúpula mostrando (falsamente) um líder rejeitando
uma negociação de paz. Antigamente, governos agressivos montavam, às vezes,
provocações para justificar a ação militar; no futuro, eles talvez possam
apenas simulá-las. No futuro que vem chegando com rapidez, não apenas a
verdade, mas a própria realidade pode ser uma das baixas da guerra. (....) O lado bom de
tudo isso é que um público acostumado a usar a simulação para muitas outras
finalidades, em casa, no trabalho e nas horas de lazer, pode aprender que
"ver" ou mesmo "sentir" não é acreditar. O público deverá
ficar cada vez mais sofisticado em matéria de meios de comunicação com o passar
do tempo e, é de se esperar, também mais cético. [ a
pergunta que fica é: em que (ou quem) o indivíduo poderá acreditar?] (....)
Pequeninas antenas parabólicas em lares do mundo inteiro irão captar, um dia, o
jornal da noite de todas as partes e em todas as partes Nigéria ou
Holanda, ilhas Fiji ou Finlândia. A tradução automática vai acabar significando
que uma família alemã poderá ver um programa de jogos transmitido pela Turquia
traduzido automaticamente para o alemão. Católicos ortodoxos na Ucrânia poderão
ser bombardeados por mensagens de um satélite do Vaticano conclamando-os a
abandonarem sua igreja e tornarem-se católicos romanos. Aiatolás em Qum poderão estar pregando a lares do Quirguistão ao Congo,
ou, mesmo, à Califórnia.
QUINTA PARTE:
PERIGO
19. TRANSFORMANDO
RELHAS DE ARADO EM ESPADAS
Palavras do decreto
de 23/AGO/1793 do governo Francês: "A partir deste momento (...) todos os
franceses estão em requisição permanente a serviço dos exércitos. Os jovens
irão lutar; os homens casados irão forjar armas e transportar suprimentos; as
mulheres irão fazer barracas e roupas e servir em hospitais; as crianças irão
transformar velhas peças de linho em bandagens; os idosos irão comparecer a
lugares públicos para despertar a coragem dos soldados(...)"
Essa convocação introduziu a guerra em massa na história moderna e foi, em
breve, combinada com inovações na artilharia, nas táticas, nas comunicações e
na organização, fazendo, assim, surgir uma poderosa nova maneira de fazer a
guerra. (....) Como certa vez nos disse o
ex-secretário de Defesa do EUA, Dick Cheney, no mundo
real "o orçamento guia a estratégia, a estratégia não guia o
orçamento". O que é ainda pior, os orçamentos que "guiam"
tampouco são determinados de maneira remotamente
racional. Em todos os países, armas e exércitos são o máximo de fundos
aplicados com fins
políticos, proporcionando empregos, lucros e subornos. O poder político interno
e as rivalidades entre os serviços, não a lógica, impulsionam o processo do
orçamento. (....)
Nos EUA, manchetes diárias informam a dispensa de cientistas, engenheiros,
técnicos e trabalhadores menos especializados da área de defesa. A General Dynamics, por exemplo, fabricante de aviões de
combate e submarinos, despediu 17.000 trabalhadores em 20 meses. Nos EUA, como
um todo, com muitas fábricas militares vazias, cerca de 300.000 empregos na
área de defessa desapareceram em menos de 2 anos depois das queda do Muro de Berlim, e muitos mais se
seguiram desde então. (....) Por "civilitarização"
queremos dizer a transferência de trabalho militarmente relevante, que
antigamente era realizado por indústrias bélicas específicas, para indústrias
de orientação civil. (....) Mas, mesmo quando
políticos e os meios de comunicação de várias nações louvam as bênçãos da
conversão, um contraprocesso muito mais extensivo
está convertendo indústrias civis à potencialidade de uso militar. Isso é civilitarização. Isso é que é a verdadeira
"conversão". O que ela faz é exatamente o oposto do que se pretendia
inicialmente: transforma relhas de arados em espadas. (....) O espaço
também forneceu aos aliados informações
antecipadas durante a Guerra do Golfo. Mas a Motorola, hoje, está planejando
colocar um anel de satélites em trono da Terra. Esse sistema comercial, chamado
Iridium, poderia fornecer a usuários em qualquer
parte comunicações que essencialmente não podem sofrer interferências. Além do
mais, à medida que as redes eletrônicas proliferam na superfície da Terra, em
breve será impossível negar a um futuro adversário o acesso a informações
confidenciais baseadas em satélites. (....) É verdade
que os EUA e outras nações militarmente avançadas detêm certas vantagens
soldados mais instruídos, capacidades mais desenvolvidas e melhor integração de
sistemas. Mas a assimetria da Guerra do Golfo não deverá ser repetida no
futuro, na medida em que alguns elementos, pelo menos, do armamento da Terceira
Onda estão difundidos pelo mundo todo, impulsionados pelo processo de civilitarização. (....) A
pesquisadora Carol D. Campbell, ao procurar mercados comerciais para Hughes,
chegou à conclusão de que a sua tecnologia, baseada na inteligência artificial
para reconhecimento de padrões, inicialmente projetada para determinar o alvo
de mísseis, também poderia ser usada para reconhecer caligrafias, uma coisa
útil para o serviço postal norte-americano. "Se o nosso sistema pode
distinguir um B-1 de um F-
20. O GÊNIO
LIBERADO
Segundo o jornal russo Izvestia, as instalações e a manutenção dos silos de mísseis
ucranianos são tão pobres que existe a ameaça de uma outra Chernobyl. Os
trabalhadores estão expostos ao dobro dos níveis de radiação permitidos e os
sistemas de segurança foram rompidos em 20 locais em que existem armas. (....) Na
supostamente "segura" Rússia, essas "pequenas" armas estão
armazenadas em instalações totalmente inadequadas. Diz o membro do parlamento e
ex-cosmonauta soviético Vitaly Sevastyanov:
"Os depósitos existentes estão lotados de ogivas e algumas são até
guardadas em vagões de estrada de ferro." Aos russos faltam
pessoal técnico, estrutura e, acima de tudo, dinheiro necessário para a
salvaguarda dessas armas. (....) Governos, sindicatos
do crime e grupos terroristas do mundo inteiro estão ansiosos para pôr as mão
em algumas dessas armas. As forças armadas russas, por sua vez, inclusive
unidades que se presume as estejam vigiando, são muito
mal pagas, mal abrigadas, e não estão acima da corrupção. Oficiais russos já
ofereceram outras armas a compradores ilegais em transações por baixo da mesa.
(....) Antes da Guerra do Golfo, a AIEA utilizava o
equivalente a apenas 42 inspetores de tempo integral para inspecionarem 1.000
usinas atômicas no mundo inteiro. Em comparação, os EUA em mantém em ação 7.200
inspetores em tempo integral para verificar a existência de salmonela ou psitacose na carne de vaca e de aves domésticas, 171 para
cada inspetor enviado pela comunidade mundial para investigar a disseminação da
doença nuclear mundial. Gastam 2 vezes e meia mais, todos os anos, para certificar-se
de que suas carnes de aves e de vaca estão sadias do que a AIEA gasta para
garantir a segurança nuclear no globo. (....) A
situação radicalmente nova na década de 90 confirmou o aviso do estrategista
nuclear Thomas Schelling, em 1975, de que "em
Um dos duradouros
efeitos posteriores do êxtase coletivo que tomou conta do Mundo depois que o
Muro de Berlim caiu é uma convicção de que mesmo que as guerras proliferem nos
anos vindouros, elas praticamente não irão atingir as democracias de alta
tecnologia. O transtorno ficará confinado a conflitos locais ou regionais,
principalmente entre povos pobres, de pele escura, em lugares remotos
[premonição da Somália?]. (....) O sistema financeiro
de hoje é, na verdade, extremamente vulnerável porque está em processo de
reestruturação para servir a uma economia da Terceira Onda que se globaliza com
rapidez. Ao liberalizar fluxos de capital além das divisões nacionais,
políticos e líderes financeiros míopes desmantelaram muitos dos dispositivos de
segurança e freios que outrora poderiam ter limitado os efeitos de um sério
colapso a uma só nação. Eles pouco têm feito para substituir essas
salvaguardas. (....) Duas outras forças estão
desafiando as fronteiras nacionais. A emergente economia da Terceira Onda,
baseada na manufatura e em serviços de uso intensivo do conhecimento, ignora
cada vez mais as fronteiras nacionais existentes. Conforme já sabemos, grandes
companhias formam alianças que ultrapassam as fronteiras. Mercados, fluxos de
capital, pesquisa, manufatura todos estão se estendendo além dos limites
nacionais. Mas essa "globalização" altamente divulgada é apenas um
lado da história. Novas tecnologias estão simultaneamente reduzindo o custo de
certos produtos e serviços ao ponto em que já não precisam mais dos mercados
nacionais para sustentá-los. (....) Continuar democrática, por sua vez, tem como ponto
pacífico certo grau de estabilidade política ou mudança ordeira. No entanto,
muitas das nações da presumida zona de paz estão avançando rapidamente para um
período turbulento de perestroika política ou
reestruturação. (....)
Perot, foi uma criação da CNN, tendo lançado sua
campanha em frente às câmaras daquela rede e tendo aparecido com freqüência em
seus canais dali por diante. Buchanan, imediatamente antes de sua campanha
política, foi, na verdade, o co-apresentador, diante das câmeras, do programa
diário da CNN, Crossfire. Em nenhuma campanha
política anterior, nos EUA, os meios de comunicação, quanto menos um só canal, tiveram um papel tão essencial. (....)
Mas os novos meios de comunicação fazem mais do que alterar resultados de
eleições. Ao focalizarem a câmera primeiro sobre uma
crise, depois quase que da noite para o dia sobre outra, os meios de
comunicação armam a agenda pública e obrigam os políticos a lidar com constante
fluxo de crises e controvérsias. Hoje, o aborto. Amanhã, a corrupção. Depois,
impostos. Depois, assédio sexual...déficits do
governo... violência racial... ajuda a estados de
calamidade... crime... O efeito é acelerar a vida
política, obrigando os governos a tomar decisões sobre assuntos cada vez mais
complexos num ritmo cada vez mais rápido. Eles se tornam vítimas, por assim
dizer, do choque do futuro. (....) Os congressos, parlamentos e tribunais lentos de hoje
são produtos da Primeira Onda. As gigantescas burocracias dos ministérios e
governamentais são, em sua maior parte, produtos da Segunda Onda. Os meios de
comunicação de amanhã da televisão por cabo ao satélite de transmissão
direta às redes de computadores e outros sistemas são produtos da
Terceira Onda . As pessoas que os dirigem estão
prestes a desafiar as elites políticas preexistentes e, com isso, transformar a
luta política. (....) Em todas as democracias
modernas, incessante guerra política tem sido travada, até hoje, entre
políticos e burocratas. Essa luta oculta pelo poder é, com freqüência, mais
importante do que a batalha às claras entre partidos da esquerda ou da direita.
Com raras exceções, esta é a verdadeira natureza da luta política, de Paris e Bonn a Tóquio e Washington. (....)
Como as ameaças e as crises militares podem materializar-se mais depressa do
que o consenso pode ser organizado, os militares poderão ficar paralisados
quando houver necessidade de ação. Ou poderão, ao contrário, mergulhar numa
guerra sem apoio
democrático. (....) Muita bobagem tem sido escrita
sobre uma ONU renovada e mais forte. A menos que seja dramaticamente
reestruturada, a ONU bem poderá representar um papel menos eficiente e menor,
não maior, nos assuntos mundiais nas décadas futuras. (....)
As organizações internacionais que forem incapazes de incorporar, cooptar, enfraquecer
ou destruir as novas fontes não nacionais de poder irão despencar na
irrelevância. (....) Um último mito reconfortante
embutido na teoria da zona de paz precisa de correção, o mito da
interdependência pacífica. (....) Quando a Alemanha e
a Inglaterra começaram a guerrear em 1914, cada qual era o maior parceiro
comercial da outra. Os livros de história também dão inúmeros outros exemplos.
(....) Interdependência significa que o país A não
pode tomar uma atitude sem provocar conseqüências e reações nos países B, C, D,
e assim por diante. A mudança para fibra óptica nos EUA pode
, em princípio, fazer cair os preços do cobre no Chile e provocar
instabilidade política no Zâmbia, cujas receitas do governo dependem das
exportações de cobre. (....) A interdependência não
torna necessariamente o mundo mais seguro. Às vezes, faz o oposto.
22 UM MUNDO
TRISSECADO
A Terceira Onda é
acompanhada por um impressionante fato novo, o crescente risco de revolta por
parte dos ricos. (....) As elites chinesas já estão desagradando
o governo central em Beijing. Quanto tempo vai demorar para que decidam que não mais tolerarão a
interferência política de Beijing e se recusem a
contribuir com os recursos de que o governo central precisa para melhorar as
condições rurais ou acabar com a agitação agrária? (....) A população
do Brasil, 155 milhões de habitantes, também está fervilhando. Aproximadamente
40% da força de trabalho ainda são agrícolas grande parte dos quais
mal subsistindo nas mais abomináveis condições. Um grande setor industrial e um
pequenino mas progressista setor da Terceira Onda
formam o resto do Brasil. (....) Mesmo enquanto massas de camponeses da
Primeira Onda passam fome no Nordeste e migrações descontroladas soterram as
cidades da Segunda Onda de São Paulo e Rio de Janeiro, o Brasil já enfrenta um
organizado movimento separatista no Rio Grande do Sul, uma região rica do Sul
com uma taxa de alfabetização de 89% e telefone em quatro de cada cinco casas.
(....) O Sul produz 76% do PIB do país e, de forma rotineira,
tem sua representação no governo ultrapassada numericamente pelo Norte e
Nordeste, cuja contribuição econômica, medida naqueles termos, é de apenas 18%.
Além do mais, o sul alega que está subsidiando o Norte. Dizendo, a título de
piada, que o Brasil seria rico se acabasse logo ao norte do Rio de Janeiro, os
sulistas já não estão rindo. Eles alegam que enviam 15% de seu PIB para
Brasília e recebem de volta apenas 9%. (....) "O
separatismo", diz o líder de um partido que pretende dividir o Brasil,
"é a única maneira de o Brasil desfazer-se de seu atraso". Pode,
também, ser um caminho para o conflito civil. (....)
Por todo o mundo, os ricos querem pular fora. (....)
Diante dessa poderosa onda de concorrência, as forças empresariais dos EUA, com
apoio dos sindicatos de classe, orquestraram uma campanha de propaganda maciça
pedindo ao Tio Sam que proteja ou subsidie sua
produção nacional. Uma campanha paralela, ainda mais intensa, contra
importações asiáticas, está acontecendo na Europa. (....) Em escala
mundial, a guinada de volta à religião reflete a desesperada busca de algo para
substituir as fés da Segunda Onda que desmoronaram, o
marxismo ou o nacionalismo ou, mesmo, o cientificismo. No mundo da Primeira
Onda, ela é alimentada por lembranças da espoliação da Segunda Onda. Assim, é o
ressaibo do colonialismo que torna as populações islâmicas da Primeira Onda tão
violentas contra o Ocidente. (....) Estamos entrando
aceleradamente num estranho e novo período da história do futuro. Aqueles que
quiserem evitar ou limitar a guerra têm de levar em conta esses novos fatos,
ver as invisíveis conexões entre eles e reconhecer as ondas de mudança que
transformam o nosso mundo.
No período de
turbulência e perigo extremos que virá, a sobrevivência irá depender de
fazermos algo que ninguém fez em pelo menos dois séculos. Assim como inventamos
uma nova forma de guerra, teremos de inventar uma nova "forma de paz".
SEXTA PARTE: PAZ
23. SOBRE FORMAS DE
PAZ
O duelo exemplifica
um dos métodos salva-vidas adotados por povos primitivos para minimizar os
efeitos da violência. Em vez de tribos ou clãs inteiros fazendo-se em pedaços,
muitos grupos primitivos resolviam suas disputas armando combates simples, a
escolha de um defensor para representar cada lado. (....) Na lenda
homérica, Menelau, pelos gregos, e Páris, pelos troianos, travam um duelo igualmente decisivo.
Antropólogos têm encontrado indícios de combates isolados entre os homens das
tribos tlingit, no sul do Alasca, maori, na Nova
Zelândia, e outras comunidades do Brasil à Austrália. (....) Por horrível
que fosse a escravatura, ela foi uma das muitas inovações da Primeira Onda que
tiveram o efeito de reduzir a contagem de corpos no campo de batalha. Ela fez
parte da forma de paz da civilização da Primeira Onda. (....)
O industrialismo quando surgiu pela primeira vez na
Europa ocidental, deu forte ênfase às relações contratuais. Os contratos
tornaram-se parte do dia-a-dia da vida empresarial. Sistemas políticos eram
justificados como exemplares típicos de "contrato social" entre
líderes e liderados. Tratados e acordos tornaram-se, assim, elementos chave da
forma de paz da Segunda Onda. Alguns estabeleciam limites éticos para o
comportamento do soldado. (....) A crise que o mundo
enfrenta hoje é a ausência de uma forma de paz da Terceira Onda que corresponda
às novas condições do sistema mundial e às realidades da forma de guerra da
Terceira Onda. (....)
Infelizmente é
ingênuo presumir que as Nações Unidas, dada a sua estrutura atual, poderiam
abafar as chamas da guerra desde que tivesses apoio financeiro adequado. Há
coisas demais que a ONU não pode fazer, e não poderia fazer ainda que tivesse
todo o dinheiro que quisesse. (....) Em vez de lamentar o custo das tecnologias de
vigilância baseadas no espaço e dos sensores de mar e terra, precisamos
considerar esses itens como despesas sociais vitais para a preservação da
paz. (....) O
intercâmbio de dados, informações e conhecimento num mundo cada vez mais
marcado por corridas armamentistas regionais é, nitidamente, uma ferramenta da
Terceira Onda para a paz. (....) São essas
especulações pura ficção científica? Segundo um bem-informado alto funcionário
da indústria bélica, não. Na verdade, disse-nos ele, "poderíamos ter
codificado todos os aviões que vendemos. Poderíamos ter colocado um rótulo ou
um identificador em todos os chips que operam aviões que vendemos ao Oriente
Médio. (...) Na eventualidade de uma ação hostil, iríamos poder nos comunicar
com aquele chip e ele iria dar defeito. Isso tem de estar acontecendo de uma
forma ou de outra". Esse alto funcionário não foi o
único anos dizer isso.
Será que o
comprador pode descobrir o componente embutido? "Muito difícil",
dizem os altos funcionários, "extremamente difícil (...) quase
impossível".
Existe também o
problema da evasão de cérebros que deverá crescer. No setor privado, está
surgindo toda uma nova legislação relativa à propriedade intelectual. A GM
processa um ex-executivo por ter levado, segundo se alega, 14 caixas de discos
de computador e documentos para a Volks. A IBM processa um ex-empregado para
evitar que ele trabalhe para a Seagate, fabricante de
unidades de disco para computadores. São tentativas de regulamentar o fluxo de
poder mental entre companhias por motivos puramente comerciais. (....) Foram
precisos 2 anos depois do estouro da guerra para que os EUA finalmente
anunciassem que iriam lançar uma Rádio Sérvia Livre, mas apenas em ondas
curtas, sendo explicado, de forma pouco convincente, que uma emissora em ondas
médias iria precisar de transmissores maiores perto da área alvo. Em
25. O SISTEMA
GLOBAL DO SÉCULO XXI
Poucas palavras são
pronunciadas com maior imprecisão do que o termo "global". Dizem que
a ecologia é um problema "global". Os meios de comunicação, segundo
dizem, estão criando uma aldeia "global". Companhias anunciam, orgulhosamente,
que estão se "globalizando". Economistas falam de crescimento ou
recessão "global". E não existe politico,
alto funcionário da ONU ou especialista dos meios de comunicação que não
estejam preparados para nos fazer uma preleção sobre o "sistema
global". (....)
Existe, é claro, um sistema global. Mas não é o que a maioria das pessoas
imagina. (....)
Nos últimos 3 séculos, a unidade básica do sistema mundial tem sido a
nação-estado. Mas esse bloco sobre o qual se construiu o sistema global está
mudando. (....) Ao depor perante o Comitê de Relações
Exteriores do Senado, o secretário de Estado Warren Christopher avisou que
"se não encontrarmos uma maneira pela qual diferentes grupos étnicos
possam viver juntos num país (...) teremos 5.000 países, em vez dos cento e
tantos que temos agora". (....) Muitos dos
estados de hoje irão dividir-se ou reformar-se e as unidades resultantes podem
não ser, em absoluto, nações integradas, no sentido moderno, mas uma variedade
de outras entidades, de federações tribais a cidades-estados da Terceira Onda.
As Nações Unidas poderão vir a ser, em parte, um clube de ex-nações ou de fausses nações, outros tipos de unidades políticas usando
as roupas de uma nação.
Os setores mais
dinâmicos da nova economia não são nacionais: são subnacionais,
supranacionais ou transnacionais. (....) Além do mais,
enquanto grupos pobres, sem poder, exigem "soberania", os estados
mais poderosos e economicamente mais avançados estão perdendo a sua. (....) Os mais
básicos componentes do sistema global, tal como se entende até agora, estão se
decompondo. Há mais estados no sistema, e nem todos, apesar de sua retórica,
são nações. (....) A serem incluídos em breve na mais
recente e terceira camada do sistema estão as "tecnópolis".
Nas palavras de Riccardo Petrella, da Com. Européia,
"empresas transnacionais (...) estão criando (...) redes que não passam
pelo arcabouço da nação-estado.(...) "As
verdadeiras potências tomadoras de decisões do futuro (...) serão as companhias
transnacionais aliadas a governos citadino-regionais." (....) As Nações
Unidas descrevem 35.000 companhias como empresas transnacionais. Essas
companhias têm, em conjunto, 150.000 filiadas. Essa rede tornou-se tão extensa
que se calcula que um quarto de todo o comércio mundial consiste, agora, em vendas
entre subsidiárias da mesma firma. (....) Médicos, físicos, jogadores de golfe,
metalúrgicos, escritores, sindicatos de classe e grupos ambientais têm, todos,
interesses maiores do que os nacionais e suas próprias organizações e agendas
globais. (....) Redes ligam todos, de extremistas locais a inerrantes
bíblicos, fascistas zen, sociedades criminosas e admiradores acadêmicos dos
terroristas do Sendero Luminoso, do Peru, todos formando parte de uma
"sociedade civil transnacional" que prolifera com rapidez e que nem
sempre pode agir com civilidade. (....) Nada destaca o momento histórico de
hoje do período anterior de forma mais notável do que a aceleração da mudança.
Quando assinalamos isso pela primeira vez em O Choque do Futuro, há muitos
anos, o mundo ainda precisava ser convencido de que os acontecimentos estavam,
realmente, aumentando a velocidade. Hoje, poucos duvidam disso. A sensação de
que os acontecimentos estão se passando mais depressas
é palpável. (....) Essa aceleração, em parte impulsionada pela comunicação mais
rápida, significa que pontos quentes podem materializar-se e a guerra pode
estourar no sistema global quase que da noite para o dia. Acontecimentos
dramáticos exigem respostas antes que governos tenham tido tempo de compreender
o seu significado. Políticos são compelidos a tomar cada vez mais decisões
sobre coisas que conhecem cada vez menos a um ritmo cada vez mais rápido. (....) Essas diferenças produzem
visões de mundo acentuadamente diferentes. Por exemplo, é difícil, para a
maioria dos norte-americanos, cuja vida diária está entre as mais rápidas do
mundo e cujos horizontes do tempo estão truncados, sentir empatia pelos
sentimentos de árabes e israelenses em luta que defendem suas posições citando
alegações que têm 2.000 anos de idade. Para os norte-americanos, a história
desaparece em si mesma com muita rapidez, deixando apenas o instante imediato.
Em outras palavras, estamos construindo não apenas um sistema global de três níveis, mas um sistema
que funciona em três faixas de velocidades diferentes. (....)
Para as economias da Primeira Onda, terra, energia, acesso a água para
irrigação, óleo de cozinha, alimentos em épocas de desespero, um mínimo de
alfabetização, e mercados para produtos agrícolas ou matérias-primas são, de
modo geral, os pontos essenciais para a sobrevivência. Sem terem indústria e
serviços exportáveis baseados no conhecimento, elas consideram seus recursos
naturais, de florestas tropicais a suprimento de água a áreas de pesca, como
seus principais ativos vendáveis. (....) Os estados na
camada da Segunda Onda, ainda valendo-se das mão-de-obra manual barata e da
manufatura em massa, são nações com economias nacionais concentradas,
integradas. Por serem mais urbanizados, precisam de vultosas importações de
alimentos, seja de seu próprio interior, seja do exterior. Precisam de altos
insumos de energia por unidade de produção. Precisam de matérias-primas em
bruto para manter suas
fábricas em atividade ferro, aço, cimento, madeira, petroquímicos e
semelhantes. São a pátria de pequeno número de
empresas globais. /são os principais produtores de poluição e outros pontos
negativos ecológicos. Acima de tudo, precisam de mercados de exportação para
seus produtos manufaturados em massa. (....) As
"pós-nações" das Terceira Onda formam a mais nova camada do sistema
global. Ao contrário dos estados agrícolas, não têm grande necessidade de mais
território. Ao contrário dos estados industriais, não precisam de vastos
recursos naturais próprios. (por não ter esses recursos naturais, o Japão da
Segunda Onda apossou-se da Coréia, da Manchúria e de outras regiões ricas em
recursos. O Japão da Terceira Onda, em comparação, ficou incomensuravelmente
rico sem ter colônias ou matérias-primas próprias.) (....)
As "pós-nações" da Terceira Onda, é claro, ainda precisam de energia
e de alimentos, mas o que também precisam é de conhecimento conversível em
riqueza. Precisam do acesso ou do controle de bancos de dados e de redes de
telecomunicações. Precisam de mercados para produtos e serviços que fazem uso
intensivo da inteligência, para serviços financeiros... consultoria
administrativa...software...programação de tevê... seguro...
pesquisa farmacêutica...gerenciamento de redes... integração de sistemas de informações... informação
econômica...sistemas de treinamento... simulações... serviços noticiosos... e todas as
tecnologias de informações e telecomunicações das quais tudo isso depende.
Precisam de proteção contra a pirataria de produtos intelectuais. E, quanto à
ecologia, querem que os países "imaculados" da Primeira Onda protejam
suas florestas, seus céus e o seu verde para o "bem global"
ainda que isso, às vezes, impeça o desenvolvimento econômico. (....) Por fim, neste momento crítico, o sistema é tudo,
menos racional. Está na verdade, mais
suscetível ao acaso do que nunca, o que quer dizer que o seu comportamento é
mais difícil, talvez até impossível, de prever. (....)
Entre 68 e 90 ocorreram aumentos maciços da população global, mas apesar das
previsões de um dia do juízo final;, as ofertas de alimentos per capita no
mundo aumentaram mais depressa ainda, segundo a FAO, e o número de pessoas
cronicamente subnutridas teve uma queda de 16%.