EXTRATO DE: ÉTICA E VERGONHA NA CARA!
Autores: Mario
Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho
Ed.: Papirus 7 Mares 2015
[A história do
corredor Espanhol, Iván Fernández Anaya,
que assim justifica ter ajudado o outro a ganhar]: "Se eu ganhasse desse
jeito, o que ia falar para a minha mãe?"
"Não há nada
mais vergonhoso do que uma pessoa fugiu ou praticar uma atitude indigna diante
de alguém que ela ama." - Personagem Fedro, em O
Banquete, de Platão.
Tratando
diretamente da temática da corrupção, temos o indivíduo que se vê diante da
possibilidade de um fantástico enriquecimento mediante um esforço mínimo.
[Tem gente, e eu
conheço uma que tem] uma expectativa de que o delito compense a eventual
situação da penalidade.
Ética consequencialista, ou da consequência: o valor moral da
minha conduta está ao que ela acarretar ao mundo. Se ela produzir bons efeitos
- ética da eficácia - ela foi boa; se, entretanto, produzir maus efeitos, ela
foi ruim.
Steve Jobs:
"Curioso, porque jamais poderia imaginar que as coisas que eu estava
fazendo levariam a esse resultado a que cheguei. Hoje as pessoas julgam o que
eu fiz em função do ponto a que cheguei, mas não houve da minha parte uma
estratégia deliberativa orquestrada para chegar aonde cheguei. Porque aonde
cheguei decorreu de um milhão de causas que até eu ignoro - causas psicológicas
das pessoas que contratei, causas macroeconômicas que eu não podia controlar. E
hoje as pessoas querem fazer de mim um guru por ter arquitetado as coisas de
maneira que chegasse a esse resultado. Mas não sou causa dos resultados que eu
mesmo colhi.”
E Adolfo Sánchez Vázquez, discute em um de seus livros, Filosofia da Práxis,
"os resultados inintencionais das práticas
intencionais" e "os resultados intencionais das práticas inintencionais".
Qual é o resultado
que torna justo o caminho?
Definição de causa:
aquilo sem o que o efeito não aconteceria.
A ética precisa ter
uma leitura circunstancial, ou seja, uma leitura que leva em conta o tempo
histórico, o momento.
Não significa que
um código valia de um jeito e agora vale de outro, mas que, se não
considerarmos a ambiência histórica, social e cultural, não compreenderemos de
fato os valores ali colocados.
Se formos esperar
uma sociedade ideal para que a ética possa existir, é possível que ela não
venha a existir nunca.
A ética é a
filosofia na origem.
A reflexão sobre
idealidades deve ser entendida sempre como norte, mas jamais como uma condição
de possibilidade teórica.
"Vida real é a
sua vida ou a vida que podemos ter? Realidade é aquilo já existente ou o que
trazemos conosco também como possibilidade? Vida real é só a sua ou vida real é
aquela mais abrangente, e apenas um dos modos de ela ser é esse que você supõe
que seja realidade?" Mario Sergio
Adaptar a criança,
simplesmente colocá-la como parte de uma engrenagem, é uma forma muito grave de
cinismo, mais até do que poderiam imaginar [os pais, as famílias].
A ética é a transcendência
em relação à natureza; a necessidade de encontrar caminhos quando o instinto
não responde mais; a necessidade de perceber que vontade não é desejo, porque
vontade, muito mais do que uma inclinação do corpo, é uma decisão racional,
elaborada e criativa sobre para onde queremos ir.
O anarquismo não é
ausência de ordem, mas ausência de coerção.
A ética implica
necessariamente conduzir a si mesmo.
Não vivemos as
tristezas das hipóteses de vida que não vivemos, dando
a impressão permanente de que teríamos evitado as tristezas que sentimos se
tivéssemos optado por outros caminhos, porque, claro, aqueles percalços, não os
conhecemos propriamente.
Sem uma referência não é possível atribuir
valor.
"Sempre
preferi deixar dezenas de mulheres esperançosas do que
só uma desiludida." Mario Quintana.
"Existe sim um
critério para a ética: é bom tudo aquilo que faço que diminui
o meu poder sobre outra pessoa; é ruim tudo aquilo que faço que aumenta o meu
poder sobre ela." Prof. Antonio Joaquim Severino. [Discutível, pois no meu
entender o fazer o bem ao outro, independente de sua vontade, aumenta seu poder
sobre o outro.]
Como devo viver? Buscando meu lugar no
cosmo.
No campo da vida
pública, quem está correto: aquele do "rouba mas
faz" ou aquele que, sendo decente, nada realiza porque se constrange e aí
não tem eficácia nessa organização?
[O PT aplicou ao extremo o conceito de]
relativismo moral, a ética da conveniência.
A corrupção é algo
da esfera da vida.
Mas seja qual for o
sistema, sempre haverá a possibilidade de dizer: "Este jogo eu não
jogo".
[Por que livros de
receita de vida, tipo os 7 hábitos dos que....] vendem
tanto? Porque o indivíduo prefere uma solução pronta a
outra que ele mesmo tenha que buscar.
A escola cínica
expressa a convicção da absoluta liberdade da ação do indivíduo.
O que se destaca no
tema da corrupção na relação do público com o privado é o cinismo.
Uma primeira ideia,
polêmica, que se afirma na literatura clássica, é que a corrupção política é
tanto mais provável quanto mais pobre for a sociedade.
Um segundo ponto é
a ideia de que uma cultura de submissão e excessivamente respeitadora de
hierarquias é uma cultura que favorece comportamentos de corrupção.
O que afirmam os
estudos é que quanto mais os processos de legitimação de uma situação de poder
estiverem centrados na tradição e no carisma, maiores as chances de condutas
corruptas.
Quando a corrupção
é normal, faz-se necessário mudar a norma, o que não é tão fácil porque depende
de outras coisas. Mas quando é comum, é preciso diminuir a frequência.
Na Suécia, no
metrô, compra-se um cartão (não magnético) com validade de 1
mês. Basta portar. Próximo ao vencimento, compra-se outro. 2
vezes ao dia, a policia faz blitzes. Um Sueco pego sem cartão, paga 12 mil coroas. Um estrangeiro
é deportado.
"Confie em
Alá, mas amarre sempre seus camelos."
Na Suécia, o
estacionamento enche de fora para dentro. Há uma suposição ética: quem chega
mais cedo tem mais tempo para caminhar até o prédio.
Uma grande questão: do ponto de vista ético,
corruptor e corrupto se distinguem em quê?
A ocasião faz o ladrão
só quando há uma decisão por ser ladrão; não é a ocasião, mas o possível ladrão
que decide. Portanto, a decisão continua a ser determinada pelo indivíduo e não
pela circunstancia.
Quanto mais
tivermos proximidade e participação da sociedade em atitude de vigília em
relação a seus representantes, maior será a tendência a diminuir a corrupção.
[Mas a corrupção
começa nas famílias logo após o nascimento pois]
Crianças aprendem desde bebes, ainda no berço, como fazer isso, seja com o
choro ou com o bracinho esticado, seja com o tipo de
afago ou com relação ao beijo. Isto é, ser corrupto é uma possibilidade quase berçária.
Autonomia é fazer o que se d3eseja no âmbito
do pacto de convivência.
Soberania é fazer o
se quer.
Ética implica uma preocupação
com o outro que vai alem do nosso mero bem-estar e prazer.
Não vivemos numa
era mais violenta. Ao contrario, vivemos numa era muito menos violenta do que a
história humana teve anteriormente. O que temos hoje são mais notícias sobre a violência
e maior rejeição a ela como algo do nosso dia a dia.