Autor:
Bill Gates
Editora:
Companhia das Letras - 1995
“Pouco
a pouco, a máquina se tornará parte da humanidade”, escreveu o aviador e
escrito francês Antoine de Saint-Exupérry, em suas
memórias de 1939, Terra dos Homens. Falando da tendência que têm as pessoas de
reagir a novas tecnologias, usou como exemplo a lenta aceitação da ferrovia no
século XIX. Saint-Exupéry descreve como as primeiras locomotivas, arrotando
fumaça e fazendo um barulho dos demônios, eram execradas e chamadas de monstros
de ferro.
Por
volta de 1450, Johann Gutenberg, um ourives da cidade de Mainz,
na Alemanha, inventou o tipo móvel e apresentou a primeira prensa na Europa (a
China e a Coréia já possuíam prensas).
(sobre
o crescimento da Microsoft) – Claro que não existe uma resposta simples e que
houve uma boa dose de sorte, mas acho que o elemento mais importante foi nossa
visão original. (...) Nosso insight inicial tornou tudo um pouco mais fácil.
Estávamos no lugar certo na hora certa. (...) Se Wang
(um criador de máquinas processadoras de texto, com programas proprietários)
tivesse entendido a importância de aplicativos compatíveis, talvez não houvesse
uma Microsoft. Hoje eu poderia ser um matemático ou um advogado e minhas
incursões de adolescente pelo campo dos microcomputadores não seriam mais que
uma lembrança distante.
As
horas vagas eu preenchia com muito pôquer, que tinha atrativos próprios para
mim. Um jogador de pôquer coleta fiapos de informação – quem está apostando com
ousadia, que cartas estão à mostra, qual o padrão do sujeito ao apostar e
blefar - , em seguida junta essa informação toda e esquematiza um plano de
jogada. Acabei ficando muito bom nesse tipo de processamento de informação.
(as
lâmpadas com wats na potência de 2)
Os
padrões, de fato, em geral se desenvolvem no mercado através de um mecanismo
econômico muito semelhante ao conceito da espiral positiva que impulsiona as
empresas bem-sucedidas: o sucesso reforça o sucesso.
Embora
geralmente construísse seus próprios microprocessadores, a IBM decidiu comprar
da Intel os microporcessadores para seu PC. Para a
Microsoft, foi importante a IBM ter decidido não criar seu pp
software e licenciar o nosso sistema operacional.
Queríamos
que o mesmo tipo de pressão que estava levando as fitas em VHS às prateleiras
de todas as distribuidoras de vídeo forçasse o MS-DOS a se tornar o padrão. E
víamos três maneiras de por o MS-DOS na frente. A primeira era fazer do MS-DOS
o melhor produto. A segunda era ajudar outras empresas do ramo a escrever
software com base no MS-DOS. E a terceira era garantir que o MS-DOS fosse
barato.
Fizemos
um trato que, para a IBM era fabuloso: uma taxa única, pequena, concedia à
empresa o direito de usar o sistema operacional da Microsoft em tantos
computadores quanto conseguisse vender. Ou seja, a IBM tinha um incentivo para
promover o MS-DOS e vende-lo a baixo preço. Nossa estratégia funcionou. A IBM
vendia o UCSD Pascal P-System por cerca de 450 dólares, o CP/M-86 por cerca de
175 dólares e o MS-DOS por volta de sessenta dólares.
O
mercado (de computadores ou de produtos eletrônicos de consumo) adota padrões
porque os usuários insistem na padronização. A padronização serve para garantir
intercambio operacional, para minimizar o treinamento do usuário e, claro, para
fomentar ao Maximo a industria de software.
Muitas
residências já estão ligadas a duas infra-estruturas de comunicação dedicadas:
as linhas telefônicas e os cabos de televisão. Quando esses sistemas de
comunicação especializados convergirem, de forma generalizada, para um único
aparelho de informação digital, a estrada da informação terá chegado.
Por
mais que o decodificador se pareça com um PC, sempre haverá uma diferença
fundamental entre a maneira como os PCs e as tvs sim usados: a distância que os separa do usuário. (...)
A televisão de tela grande, do outro lado da sala, não se presta ao uso de um
teclado, nem oferece privacidade, apesar de ser ideal para aplicações que
várias pessoas observam ao mesmo tempo.
Quando
as pessoas estiverem preocupadas com o problema da sobrecarga de informação,
pergunte-lhes como elas escolhem o que
lêem. Quando visitamos uma livraria ou uma biblioteca não nos preocupamos em
ler todos os volumes. A gente se arranja sem ler tudo porque existem auxiliares
de navegação que apontam a informação que nos interessa, de forma que possamos
encontrar o material que queremos.
Uma
maneira de entender os diferentes métodos de seleção é pensar neles
metaforicamente. Imagine informações específicas – uma coletânea de fatos, uma
notícia de última hora, uma lista de filmes -, todas colocadas num armazém
imaginário. Uma rotina de consulta faz a busca por todos os itens do armazém, p
ver se lhe corresponde algum critério determinado por você. Um filtro é uma
checagem de todas as novidades que entraram no armazém, p verificar se combinam
com aquele critério. A navegação espacial é a maneira como você se desloca
dentro do armazém, checando o estoque por localização. Talvez a abordagem mais
intrigante e a que promete ser de uso mais fácil seja engajar o auxilio de um
agente eletrônico que o represente na estrada.
você
poderá programar um filtro p coletar informações sobre seus interesses
particulares, como notícias sobre os times esportivos locais ou determinadas
descobertas científicas. Se a coisa mais importante para você for a
meteorologia, o seu filtro colocará isso no alto do seu jornal personalizado.
A
função de um agente é ajuda-lo. Na Era da Informação,
isso significa que o agente vai estar ali para ajuda-lo.
Hoje
o computador é como um assistente no primeiro dia. Precisa das instruções
explicitas do primeiro dia o tempo todo.
A
Internet refere-se a um grupo de computadores conectados, usando “protocolos”
padrão ou descrições de tecnologias para trocar informação. Está muito longe de
ser a estrada, mas é o mais próximo dela que estamos hoje, e evoluirá na
direção da estrada.
O
fornecimento de acesso à Internet vai ficar ainda mais competitivo nos próximos
anos. Grandes companhias telefônicas de todo o mundo vão entrar no negocio. Os
preços cairão significativamente. As companhias de serviços on-line como a CompuSErve e América Online vão incluir o acesso à internet
como parte dos seus serviços.
(Idéia
da enciclopédia na rede. )
A
primeira regra de qualquer tecnologia utilizada nos negócios é que a automação
aplicada a uma operação eficiente aumenta a eficiência. A segunda é que a
automação aplicada a uma operação ineficiente aumenta a ineficiência.
Em
vez de correr para comprar para cada funcionário o mais novo e o mais fantástico
equipamento, os diretores de uma empresa de qualquer tamanho deveriam primeiro
parar e pensar sobre como gostariam que sua empresa funcionasse.
Ned
Ludd foi um trabalhador inglês que teria destruído
maquinário em 1779. Os luditas, que devem seu nome a
ele, foram bandos de trabalhadores ingleses que destruíram equipamentos testeis
nas zonas industriais da Inglaterra entre 1811 e 1816, por acreditar que eles
seriam responsáveis por uma diminuição da oferta de emprego, e foram
violentamente reprimidos. Por extensão, um ludita é
qualquer um que se oponha a avanços técnicos ou tecnológicos.
Gateways
– equipamentos que traduzem protocolos de uma rede para outra.
Demorará
décadas para implementar todas as principais mudanças, porque a maioria das
pessoas se acomoda com o que aprende inicialmente e reluta em alterar padrões
conhecidos.
Os
políticos já estão discutindo em quais circunstâncias um serviço online deveria
ser tratado como uma empresa de transportes e quando deveria ser tratado
como uma editora. As companhias telefônicas sim consideradas legalmente
empresas de transportes; elas transportam mensagens sem assumir nenhuma
responsabilidade por elas. Se um telefonema obsceno o perturba, a companhia
telefônica cooperará com a polícia, mas ninguém acha que é da telefônica a
culpa de algum maluco estar ligando para você para falar obscenidades.
Os
serviços online funcionam simultaneamente como empresas de transporte e
editoras, e aí está o problema. Quando agem como editoras e oferecem um
conteúdo que adquiriram, produziram ou editaram, faz sentido que se apliquem as
regras de proteção contra a calúnia e o estímulo auto-regulador que é a
reputação editorial. Mas esperamos também que eles entreguem nossa
correspondência eletrônica da mesma forma que uma empresa de transporte, sem
examinar seu conteúdo nem se responsabilizar por ele.
Se
não puder encontrar exatamente o que precisa na estrada, você poderá contratar
um consultor de vendas competente por cinco minutos ou uma tarde, via
videoconferência. Ele o ajudará a escolher produtos que seu computador comprará
então do fornecedor confiável mais barato.
Uma
companhia como a Ferrari ou a Porshe poderia enviar
mensagens de um dólar para fãs de automóveis, na expectativa de que a visão do
carrão ou o som de seu motor acabem gerando interesse. Se levar pelo menos um
em cada mil usuários a comprar um carro novo, o anúncio valerá a pena.
Os
amplos benefícios de uma produtividade cada vez maior não sim consolo para
aqueles cujo emprego está na linha de fogo. Quando uma pessoa foi treinada para
um emprego que não é mais necessário, não se pode simplesmente sugerir que ela
vá aprender algo novo. Os ajustes não sim simples ou rápidos assim, mas, no
fim, sim necessários.
Seria
necessária uma maciça quantia de dinheiro para dar a todas as escolas primárias
de todos os bairros pobres o mesmo tipo de biblioteca que têm as escolas de beverly Hills. Todavia, quando se
ligas as escolas online, todas obtêm o mesmo acesso à informação, onde quer que
ela esteja armazenada. Todos nascemos iguais no mundo virtual e podemos usar
essa igualdade para nos ajudar a enfrentar alguns dos problemas sociológicos
que a sociedade ainda tem que resolver no mundo físico. A rede não vai eliminar
as barreiras do preconceito e da desigualdade, mas será uma força vigorosa
nessa direção.
Tipicamente,
há enormes custos iniciais de desenvolvimento para a propriedade intelectual.
Tais custos sim os mesmos, quer se venda uma única cópia de uma obra ou 1
milhão delas.
Podemos
esperar debates acalorados sobre se o governo deve ou não subsidiar conexões
nas áreas rurais, ou criar uma legislação que faça com que os usuários urbanos
subsidiem os rurais. O precedente para isso é uma doutrina conhecida como
“acesso universal”, criada para subsidiar o correio, a telefonia e os serviços
elétricos nas áreas rurais do Estados Unidos. Ela determina um preço único para
a entrega de uma carta, de uma chamada telefônica ou de energia elétrica, não
importa onde você more.
Sem
dúvida alguém vai propor a “democracia direta”, estabelecer votação para
todas as questões. Pessoalmente, não creio que a votação direta seja uma boa
maneira de se exercer o governo. Há espaço no governo para que parlamentares –
que sim apenas intermediários – dêem sua contribuição. A ocupação deles é
justamente ter o tempo de compreender todas a nuances das questões complicadas.
A política implica acordo, algo quase impossível sem um número relativamente
pequeno de parlamentares tomando decisões conscientes a respeito da alocação de
recursos. Desenvolver tal especialidade é o trabalho de tempo integral de um
legislador. É isso que permite que os melhores entre eles proponham ou adotem
soluções não óbvias, que a democracia direta pode não contemplar, porque talvez
os votantes não compreendam os sacrifícios necessários para um sucesso de longo
prazo.
Você
saberá que a estrada da informação se tornou parte de sua vida quando começar a
ficar irritado se a informação de precisa não estiver disponível através da
rede. Algum dia, você vai procurar o manual de sua bicicleta e vai ficar
chateado porque o manual é um documento de papel que se pode perder. Vai ficar
desejando que fosse um documento eletrônico interativo, com ilustrações
animadas e instruções em vídeo, sempre disponível na rede.