EXTRATO DE: O ECONOMISTA CLANDESTINO

AUTOR: TIM HARFORD

ED.: RECORD 2007/2009

 

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Muitas vezes a escassez relativa e o poder de barganha mudam com rapidez e produzem um efeito profundo na vida das pessoas.

 

22

O arrendamento da pradaria fértil será sempre igual à diferença na colheita de grãos entre a terra fértil e qualquer outro tipo de terra arrendada a custo zero ou nominal. Os economistas chamariam essa outra terra de “marginal” porque está no limite entre ser ou não cultivada.

 

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A vontade de pagar caro por cafés em lojas bem localizadas fixa o preço do aluguel e não o contrário.

 

27

(..) as pessoas com alto grau de instrução têm objeções à imigração de outras pessoas com nível de instrução similar, assim como os trabalhadores menos instruídos reclamam a respeito da imigração de seus similares.

 

[Por que a pipoca é tão cara no cinema?]

 

34

Locadores e executivos não são os únicos que gostam de evitar a competição de mercado e que adoram a renda de monopólio. Sindicatos, lobbies, pessoas que estudam para uma qualificação profissional, e até governos também gostam. Todo dia várias pessoas estão tentando evitar a competição e colher os benefícios de outros que através dela obtiveram sucesso. Os economistas chamam esse tipo de comportamento de “criação de renda de monopólio” e “busca de renda de monopólio”.

 

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Um método popular é o uso da violência, bem aceito no narcotráfico e em ouros tipos de crime organizado. Os traficantes preferem não ter competidores forçando o preço de suas mercadorias para baixo. Ao dar tiros e atacar fisicamente um numero suficiente de pessoas, o integrante de uma gangue criminosa diminui o interesse de certos rivais que porventura queiram entra no mercado, e assim mantém seus lucros.

 

37

As perspectivas de promoção são boas, considerando-se as baixas no numero de integrantes (com certa freqüência alguns abandonam as quadrilhas e outros são assassinados). Mas, mesmo considerando tais perspectivas, os salários na media ficam abaixo de US$10 a hora. Isso não é muito, se considerarmos que num período de 4 anos um típico bandido do trafico é preso em medias seis vezes, envolve-se em tiroteios duas vezes e tem ¼ de chance de ser assassinado.

 

38

O propósito de um sindicado é prevenir que trabalhadores compitam uns com os outros,depreciando os salários e as condições de trabalho.

 

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No Reino Unido, o salário dos professores é baixo, apesar de haver um déficit de professores qualificados. Isso porque o governo, o único empregador, tem um tremendo poder de barganha. Normalmente, quando há um déficit de trabalhadores, a competição entre os empregadores aumenta os salários. Só numa situação onde há um único empregador é que observamos um déficit de professores e salários que não crescem em conseqüência. Os professores têm algum poder de escassez, mas nesse caso o governo tem muito mais.

 

Muitas das organizações criadas para nos proteger de profissionais “não-qualificados” servem para manter um certo número de “qualificados” aos quais somos dirigidos.

 

42

Alguns atribuem a resistência da classe trabalhadora em relação aos imigrantes a uma espécie de racismo. Uma teoria alternativa e mais convincente sugere que todos estão agindo de acordo com seus interesses.

 

43

O economista pode demonstrar que a entrada de vários imigrantes qualificados ajudará no controle da diferença do numero destes e dos não-qualificados, enquanto que admitir a entrada dos não-qualificados terá o efeito oposto.

 

Os economistas chegam a conclusões similares hoje em dia sobre leis protecionistas que protegem grupos à custa do resto das pessoas tanto nos paises desenvolvidos como nos paises em desenvolvimento.

 

46

Escassez dá poder mas não poder ilimitado.

 

48

As organizações de café ligadas ao movimento do “comércio justo e equitativo” fazem promessas ao produtor, não aos consumidores. Se você compra esse tipo de café, está garantido que o produtor receberá um bom preço. Mas não há nenhuma garantia que você pagará um bom preço.

 

52

A Amazon cobrava baseada no perfil e histórico de cada cliente. [m produto podia ter vários preços de acordo com a “cara” do cliente.] Quando descobriram o que ela fazia, houve uma grita. (...) e ela prometeu que não mais faria isso.

 

Curiosamente, as pessoas não têm muita objeção em relação à segunda tática, a estratégia de identificação de um grupo específico, que consiste em oferecer preços distintos a grupos de pessoas distintas. (...) As empresas que querem maximizar o valor de sua escassez estão interessadas em quem quer pagar mais, não em quem pode pagar mais.

 

60

(...) se algumas lojas cobrassem mais sobre o mesmo produto, com serviço similar, num local próximo e similar, isso implicaria que os seus fregueses são todos idiotas.

 

68

Não é por causa de uns milhares de francos que teriam que ser usados para colocar um teto num vagão da terceira classe, ou estofar assentos, que uma empresa ou outra tem vagões abertos com assentos de madeira. (...) Elas se recusam a dar mais aos mais pobres o que é necessário, para dar aos mais ricos o que é supérfluo [e poder, então, cobrar muito por isto].

 

69

A forma mais eficiente para a IBM precificar suas impressoras era produzir em massa um único modelo e vendê-lo por dois preços distintos. Mas é óbvio que, para que todos se interessassem pelo modelo mais caro, eles teriam que tornar o mais barato mais lento.

 

78

Sendo realista, temos que admitir que seria muito improvável que uma empresa tivesse tanta informação sobre todos os seus clientes para poder executar vendas perfeitamente eficientes. A empresa teria que ser capaz de dar uma espiada no coração de cada cliente em potencial para descobrir o quanto eles estão realmente interessados pelo produto. Seria necessário um supercomputador no caixa. Isso não é mito provável. Mas isso talvez nos leve a refletir. E se pudéssemos inserir todas as preferências de todos os consumidores num supercomputador? E se você tivesse toda a informação necessária para nunca perder uma venda? O mundo seria melhor?

 

81

Num mercado livre, as pessoas não compram coisas que valem menos para elas do que o preço cobrado. E as que vendem não o fazem por menos do que vale para elas o preço que estão pedindo (se o fizerem, não será por muito tempo; as lojas que vendem café pela metade de seu  custo de produção vão à falência com rapidez).

 

82

O valor do produto para quem compra é igual ou maior do que o preço. Para o produtor e o que vende, o valor é igual ou menor do que o preço. Muito óbvio, talvez, mas as implicações são dramáticas.

 

89

Parece haver uma vontade generalizada de pagar por uma boa escola, e isso se reflete no preço dos imóveis, muito mais caros nas áreas com escolas de melhor reputação. O sistema fora do mercado, que dá preferência às crianças locais, transfere o dinheiro que os pais estariam dispostos a pagar em educação para as mãos dos proprietários de imóveis em áreas com boas escolas. Isso não faz sentido. Um sistema de mercado iria apenas direcionar a verba para pagar por um maior numero de boas escolas.

 

105

2 conceitos distintos de preços e a diferença é importante. O preço médio que o motorista pata para uma ida à cidade é muito alto se ele já estiver pagando uma taxa anual. Mas o preço que ele paga para outra ida adicional é baixo. A viagem não consome muito combustível e não se cobram as viagens extras dos motoristas. Uma vez pago pelo direito de dirigir o carro nas ruas, você não recebe um desconto se rodar menos. Então é melhor dirigir sem parar, pois não se paga nenhuma sobretaxa pó isso. Essa é a diferença entre o preço médio e o preço marginal, que é o prelo de uma viagem [extra] apenas.

 

112

É verdade que os ricos podem dirigir mais que os pobres, mas também é verdade que os ricos podem comer mais que os pobres.

 

120

Enquanto as pessoas tiverem de lidar com a verdade ou pelo menos com a melhor estimativa sobre o custo de suas ações, elas vão achar uma forma de reduzir tais custos.

 

A cada ano, uma em cada três pessoas muda de emprego e uma em sete muda de casa.

 

128

O mais importante é que o problema das fraldas, como todo problema ambiental, de maior ou menor porte, não será resolvido por uma pequena minoria falando sobre escolhas morais apropriadas em termos de ação individual.

 

131

As externalidades não são externalidades se as pessoas podem se sentar e negociar. Lembre-se que elas foram chamadas de “externalidades” porque ficavam de fora das transações de mercado.

 

134

Quanto maior for a capacidade das pessoas de sentar-se e negociar, maior é a probabilidade de o governo fazer besteira caso se intrometa na questão. Em primeiro lugar porque os governos podem ser influenciados por grupos e lobbies, então nem sempre agem de acordo com o interesse público. Segundo, por causa da overdose de soluções.

 

138

Os economistas já sabem há muito que, se uma das partes numa negociação tem informação privilegiada e a outra não, os mercados não funcionam do jeito que esperamos. Isso faz sentido até intuitivamente. Mas até a publicação de um estudo revolucionário do economista americano Gorge Akerlof, em 1970, os economistas não tinham idéia de como era dramático e sério esse problema.

 

139

Nenhum vendedor está disposto a vender um bom carro por menos de US$4.000 mas nenhum comprador está disposto a oferecer essa quantia por um carro que tem 50% de chances de ser uma carroça. Os vendedores não oferecem os “pêssegos”, os compradores sabem que não, e no fim das contas os únicos carros à venda são os “limões”.

 

145

Como o negócio do seguro em si depende da ignorância mutua, qualquer avanço na medicina, que diminui o nível de ignorância tanto para seguradoras como para segurados, vai enfraquecer o argumento de se ter seguro. Quanto mais sabemos sobre as coisas, menor é a necessidade de se fazer seguro. Isso é preocupante se queremos dar às pessoas a habilidade de se proteger dos altos custos da falta de sorte.

 

150

A dificuldade em resolver o problema dos “limões” talvez explique por que o sistema de seguro-saúde nos Estados Unidos esteja funcionando tão precariamente. Os Estados Unidos baseiam o seu sistema numa rede privada de seguradoras que financia boa parte dos gastos médicos da população. Isso não é comum. No Reino Unido, Canadá e Espanha, a maioria desses gastos é paga pelo governo. Na Áustria, Bélgica, França, Alemanha e na Holanda esses gastos são pagos por um sistema de seguro social. As pessoas são obrigadas a comprar apólices, mas os prêmios, por lei, estão ligados à renda das pessoas e não à probabilidade de pedirem reembolsos.

 

154

Risco moral – moral hazard – se você recompensar as pessoas quando algo ruim lhes acontece, elas podem se tornar descuidadas.

 

Se o meu carro tem seguro contra roubo, eu vou estacionar em qualquer lugar que ache uma vaga, até mesmo numa rua deserta que não pareça ser muito segura.

 

155

Se o dedutível do meu seguro de automóvel for de US$200, o medo de perder essa quantia não vai me levar a tomar precauções radicais, mas terá o suficiente para que eu verifique se o meu carro está trancado ou não.

 

157

No caso do sistema de saúde britânico que é gratuito para todos, o tratamento é universal, ou seja, se a pessoa for a qualquer clinica ou hospital no país, ela será atendida sem ter de pagar.

Como se pode supor, esse sis gera filas, as pessoas têm de esperar e não há muita escolha para o paciente. Você aceita qualquer tratamento que os médicos disserem que é apropriado. Ou isto ou nada.

 

171

Não vale a pena gastar tempo e fazer um esforço analisando o mercado ou tentando descobrir novas informações se todos estão fazendo o mesmo. Por outro lado, um mercado cheio de oportunidades não exploradas poderia proporcionar grandes lucros a qualquer investidor que estivesse disposto a analisá-lo, o que nos levaria a menos oportunidades. Então temo um ponto de equilíbrio entre as duas situações. Um mercado quase aleatório com algumas idiossincrasias que recompensaria o investidor bem-informado, que, por sua vez, manteria o mercado aleatório.

 

175

Enquanto os grandes investidores forem sensatos, o preço das ações deverá refletir as perspectivas fundamentais tanto a curto como a longo prazo. Mas os investidores são sensatos?

 

178

Os gestores [de empresas, de fundos etc], tomando decisões acerca de enormes quantias, estão sendo pagos para segur o modismo em vez de escolher as ações com melhores probabilidades de alta. Isso significa que o mercado de ações é propício a vários erros de julgamento.

 

OBS: A relação P/L a longo prazo sempre esteve, historicamente em torno de 16.

 

184

A premissa é a de que, se estamos nomeio de uma revolução econômica, as ações deveriam valer muito. E a premissa está errada. O preço das ações deve subir apenas se há uma boa expectativa de lucros no futuro. Como observamos anteriormente, os lucros advêm da escassez. (...) Então o preço das ações deve subir apenas se as transformações econômicas aumentam o nível em que as organizações possam controlar os recursos escassos.

 

Historicamente, não há uma ligação clara entre uma transformação econômica e maior lucratividade para as empresas em geral. Na verdade, ocorre o inverso.

 

187

Empresas sem poder de escassez não podem se tornar lucrativas [e nada vai mudar isso].

 

E não importa se alguém no mundo possa fazer o que você faz. O que importa é que você chegou lá antes dos outros.

 

188

A internet devora o poder de escassez.

 

Se você quiser ganhar muito dinheiro, é melhor ter uma idéia clara sobre o que pensa que sabe e o que os participantes e agentes do mercado estão ignorando.

 

 

190

Um jogo, para um teórico, é qualquer atividade na qual a sua previsão sobre o que outra pessoa fará afeta o que você decide fazer.

 

197

Von Neumann demonstrou que o correto é blefar com a pior mão possível.

 

232

Qualquer projeto tem mais chance de dar certo se as pessoas que se beneficiam dele são as que o tornam possível.

 

235

O exemplo nepalês demonstra que, se uma sociedade puder criar sistemas de incentivo eficientes, não há infra-estrutura ou avanço técnico que possa tirá-la do atraso e da pobreza. Os projetos de desenvolvimento são em geral comissionados por pessoas que têm mais interesse em seu sucesso profissional – ou em propinas – do que no sucesso do projeto em si.

 

238

A podridão começa com o governo, mas atinge toda a sociedade. Não há por que investir em um negócio, posto que o governo não poderá protegê-lo de ladrões ou de pessoas que queiram extorqui-lo. (Então é melhor tornar-se um ladrão.)

 

243

Segundo o biólogo Edward O. Wilson, daqui a uma dezena de gerações todos os seres humanos serão “iguais”, no sentido de que seja em Londres, Shangai, Moscou ou Lagos, a mesma mistura racial será encontrada.

 

254

A maioria esmagadora do comércio exterior ocorre entre os países ricos e não entre ricos e pobres.

 

255

Offshoring – fora do país.

 

260

Quanto mais subsidiada é a agricultura, maior é o consumo de fertilizantes.

 

283

O bom senso nos diz que se você quiser ficar em melhor situação financeira no futuro, comparada com a de hoje, é melhor investir o dinheiro do que gastá-lo agora usufruindo de bens e serviços.

 

Grande parte do desenvolvimento das nações pode ser atribuído a este princípio, o de investir hoje para colher os frutos amanhã.

 

Muitas economias pobres buscam investimento externo mas não conseguem obter a confiança de seus cidadãos, que estão doidos para investir no exterior ajudando na fuga de capitais. Portanto não é nenhuma surpresa que as taxas de poupança interna sejam baixas, e o percentual investido na própria Republica dos Camarões seja menor ainda. Se o gov não criar um clima propício para o investimento, não há como promover o desenvolvimento.

 

297

As lições deste livro:

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS:

 

Livro de Andy Grove (Intel): Apenas os paranóicos sobrevivem.

 

Livro: A teoria dos jogos e o comportamento econômico – Von Neumann e Oskar Morgenstern