EXTRATO DE: A DOUTRINA DE EPICURO
Autor: Benjamim
Farrington
Ed. Zahar
(1967/1968)
[Entre aspas, mas sem referência a autor,
são sempre falas/escritos de Epicuro.]
Epicuro (341-
O princípio
fundamental de seu pensamento era o de que uma sociedade feliz deve basear-se
na "amizade", um acordo mútuo para não infligir nem sofrer
injustiças, e não na "justiça", isto é, numa constituição ideada por
um legislador e imposta por sanções.
"Devemos
meditar sobre as coisas que fazem a nossa felicidade."
Seus adeptos eram
proibidos de participar da vida publica.
Sinecismo:
concentração da vida política de uma área geográfica muito grande em uma só
cidade. Processo atribuído ao Rei Teseu (supostamente governou Atenas entre 1234 e
Atenas era o centro
político de Ática.
A reforma de Sólon
(
Epicuro estava
basicamente interessado em defender a autonomia da vontade individual. (...)
Embora fosse inimigo implacável do que chamava de "o mito" (nome pelo
qual se referia à doutrina de que os deuses controlam todos os fenômenos da
natureza), afirmava que "seria melhor conformar-se com o mito sobre os
deuses do que ser um escravo do fatalismo dos filósofos naturais". (...) A
sua concepção do átomo levava em conta um mundo de natureza animada,
diferençado daquele por ser, em vários graus, o teatro da vontade.
Foi em Cólofon, por
volta de
Para Sócrates (469-
Platão (428-
Para Platão, a
primeira forma de cidade compreenderá certo número de comerciantes e lojistas,
bem como lavradores, construtores, tecelões, sapateiros, carpinteiros
ferreiros, etc. Nesse estágio os homens levam uma vida sadia e feliz. Seus
produtos básicos são os bolos de cevada, pão de trigo e vinho caseiro.
Satisfazem-se em se deitarem em ramos de teixo e murta espalhados no chão e
servir seus alimentos em esteiras de palha ou em grãs folhas. Têm sal,
azeitonas e queijos para saborear, e figos e bolotas torradas como sobremesa. Bebem
moderadamente, com grinaldas na cabeça, e cantam louvores aos deuses. Tomam o
devido cuidado para limitar a família e evitar o perigo da pobreza ou da
guerra.
À medida que
prossegue o exame do estado luxuoso, revelam-se inúmeras características
desagradáveis - diversões de classes, busca ilimitada da riqueza, lutas de
fronteiras com vizinhos, quando surge a necessidade de maiores territórios, e o
desenvolvimento da arte da guerra.
"Devemos nos
libertar da prisão dos negócios e da política. (...) Alguns desejos são
naturais e necessários, outro, naturais, porém desnecessários, alguns não são
nem naturais nem necessários, mas apenas devidos à imaginação ociosa."
O que temos de
Epicuro são três cartas e um punhado de frases.
A transição do
Estado Simples para o Faustoso produzira, não a felicidade, mas a desgraça. Nas
palavras de Dicearco (350-
Cícero (106-
A escola de Mileto,
nome para a sucessão de três pensadores - Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
Para os atomistas,
"a Natureza trabalha por partículas invisíveis".
Os pitagóricos
defendiam a crença na imortalidade da alma e na transmigração, aceitando assim,
uma forma tradicional, uma distinção radical entre alma e corpo que se
mostraria importante no desenvolvimento do seu pensamento.
Pitágoras (570-
Realizar o
despertar da virtude nos jovens, o nascimento do conhecimento ético na alma,
não como algo imposto a ela, mas descoberto nela, tornou-se a missão deliberada
de Sócrates.
Faustel de
Coulange, em sua obra La Cite Antique, diz: "Na cidade antiga, o estado e
a religião eram tão completamente unos que era impossível não só imaginar um
conflito entre eles como também distinguir um do outro."
E nas palavras de
Estrabão (
Nos círculos
governamentais, o direito do estado de ditar as crenças dos cidadãos era a
norma aceita. (...) Dentro do movimento epicurista, a diferença entre estado e religião
já era um fato consumado.
Platão, em sua obra
República explicando as disposições
quanto à classe dos guardiães:
"Ontem nosso assunto foi o estado ideal e seus cidadãos. Começamos
separando os fazendeiros e os artífices dos guardiães. A cada classe atribuímos
uma única ocupação. Somente os guardiães defenderiam a comunidade do perigo
externo ou interno, conduzindo seus súditos delicadamente, mas lidando
rudemente com os inimigos externos. Deveriam ser sustentados pelo estado, viver
em comum e dedicar todas as suas energias à manutenção dos padrões morais da
comunidade. As mulheres deveriam receber o mesmo treinamento dos homens e
partilhar das mesmas ocupações na guerra e na paz. Esposas e filhos deveriam
ser comuns. Pai algum deveria reconhecer o próprio filho. Os pertencentes ao
mesmo grupo de idade deveriam considerar-se irmãos e irmãs; todos os outros, em
grupos mais velhos, seriam país ou avos, os dos grupos mais jovens, filhos ou
netos. O casamento deveria ser feito por sorteio. Contudo, os homens e mulheres
encarregados do casamento deveriam, secretamente, manipular os sorteios de
maneira que os bons se casassem com os bons, e os ruins com os ruins. Os filhos
dos bons seriam educados, os dos ruins seriam afastados para distribuição entre
os fazendeiros e artífices. Todas as crianças deveriam ser mantidas em
observação e promovidas ou rebaixadas posteriormente, se aconselhável."
"Vã é a
palavra de um filosofo que não cura nenhum sofrimento do homem."
Para Epicuro,
nenhuma legislação penal, se pudesse ser aplicada, forçá-lo-ia a aceitar a cosmologia
de Platão. (...) À moderna religião dos deuses estelares [de Platão], opôs o
que chamou de "a ideia comum de Deus gravada na mente de todos". (...)
a autoridade dominadora do legislador foi abandonada em favor do principio do
consentimento voluntário.
No primeiro estágio
pastoral-agrícola da sociedade não existira nenhum legislador. A vida na Cidade
Simples baseava-se no contrato.
A astronomia, a
primeira ciência exata, baseada em observações dos movimentos periódicos do
sol, da lua e dos planetas, teve início no século VIII a.C. Isso surgiu numa sociedade que, ao contrário dos ingênuos
gregos que adoravam deuses em forma humana, dirigiam sua adoração para o
próprio céu e sua hierarquia de estrelas fixas e moveis.
Crítias, brilhante
escritor e político ativo, em
Em ensinamento de Epinomis, o décimo terceiro livro das Leis, de Platão: "os homens, que
são feitos de barro, devem aprender com as estrela, que são feitas de fogo. As
estrelas são a encarnação da alma;
Aristóteles comenta
que "o país deveria ser semeado de templos, alguns deles dedicados aos
deuses, outros, aos heróis", pois,
como Platão, ele aprovava os deuses antropomórficos como "um mito criado
para garantir a obediência da multidão e uma atenção adequada às leis".
A descrição de
Atenas por Plutarco (46-120 d.C): "Aos nobres estavam afeitos o controle
da religião, o suprimento das magistraturas, a exposição da lei e a
interpretação da vontade do céu."
"O motivo pelo
qual Epicuro se mantinha afastado da vida pública", diz seu biografo,
"era seu excepcional interesse pela igualdade."
Platão censura os
jovens ateus da sua época. Para Platão, não cabe aos jovens desafiar a sua
legislação porque ele prefere legislar na suposição de que os deuses existem.
Políbio (200-
Tito Lívio (
Para Platão,
"com a morte do corpo (...) um homem que viveu bem retornaria a seu lar a
fim de ter uma vida feliz em sua estrela natal. O que fracassou seria
reencarnado como mulher." [!!!!!!]
Enquanto Platão
salientava a realidade do universal e permitia ao particular apenas uma
existência indistinta e derivativa, Aristoteles foi o primeiro a ver a
necessidade de considerar a realidade como individual, e o indivíduo como o
real.
Aristóteles diz:
"Por mais queridos que sejam os nossos amigos, a verdade é ainda mais
querida."
Aristóteles
concluiu que a noção de um bem universal é uma ilusão. Devemos pergunta
"Bom para quem, para que finalidade e quando?". Para ele nenhum
legislador pode promulgar uma regra universalmente válida. [E concluiu:] o que
é alimento para um homem, para outro é veneno.
Para Aristóteles a
função do estado não é esmagar o indivíduo, mas proporcionar-lhe o ambiente em
que ele possa atingir o seu potencial mais elevado.
O ponto fundamental
da ética epicurista é a interiorização da virtude pela exaltação do papel do
sentimento sobre a razão.
Platão e Aristóteles,
considerando a filosofia como o valor mais elevado, visavam a criar uma
sociedade na qual ela pudesse florescer.
"Quando
afirmamos que o prazer é a meta (...) o que temos em vista é o ser livre da dor
no corpo e da angustia na mente. A isso damos o nome de vida agradável, e não é
obtida pelo beber e festejar contínuos, pela satisfação dos nossos apetites com
rapazes e mulheres, ou pelos banquetes dos ricos, mas pelo raciocínio sóbrio,
pela procura paciente dos motivos para escolha e recusa e pela nossa libertação
das falsas opiniões que mais contribuem para prejudicar a nossa paz de
espírito."
Em sua literatura
epistolar endereçada às suas comunidades espalhadas no Oriente, Epicuro surge
como o precursor de São Paulo.
"A morte, o
mais aterrador dos males, não é nada para nós; enquanto vivemos a morte não
existe, quando vem a morte, nós não existimos."
"Os seres
humanos", disse Epicuro, "não devem ser coagidos, mas
persuadidos."
Para Platão, a
tarefa dos governantes era proporcionar os mitos (o castigo divino tanto nessa
vida como na de além-túmulo) para controlar os produtores que, de acordo com
essa teoria, careciam de razão e só podiam ser governados pela força ou pelo
medo.
Aristóteles não
acreditava ser possível abandonar os aterradores mitos pelos quais as massas
devem ser controladas.
O ensino filosófico
de que os sentimentos são maus em si próprios, fazem parte da teoria política
de que a sociedade justa só pode existir se a minoria monopoliza o poder e
defende esse monopólio patrocinado ou tolerando a crença em deuses caprichosos
e irados, cuja vontade é expressa em calamidades naturais nesta vida,
estendendo-se para além do túmulo para roubar sua paz até mesmo na morte.
Epicuro atacou todo este conjunto de ideias.
Alexandre de Abonútico percebeu que os homens vivem suspensos entre o
medo e a esperança.
Um epicurista
deveria ser meigo e afável.
Diz Políbio:
"Arriscarei a afirmação de que o resto da humanidade zomba é da base da
grandeza romana, a saber, a superstição. Esse elemento foi introduzido pelos
romanos em todos os aspectos da sua vida privada e pública, com todos os
artifícios para amedrontar a imaginação, num grau que não poderia ser
melhorado. Muitos talvez sejam incapazes de compreender isso. Minha opinião é
que tal foi feito para impressionar as massas. Se fosse possível ter um estado
onde todos os cidadãos fossem filósofos, talvez pudéssemos prescindir desse
tipo de coisa. Mas as massas, em todos os estados, são instáveis, cheias de
desejos licenciosos, de ira irracional e paixão violenta. O Maximo que se pode
fazer é reprimi-las pelo medo do invisível e outras imposturas do mesmo tipo.
Não foi sem motivo, mas deliberadamente, que os homens de outrora introduziram
nas massas noções sobre os deuses e opiniões sobre a vida futura. A loucura e a
insensatez pertencem a nós, que procuramos dissipar essas ilusões."
Ensina o pontífice
Cevola a Cícero: "É conveniente que o povo seja iludido em questões de
religião."
Diz Cícero: "A
constante necessidade que tem o povo do conselho e da autoridade da aristocracia
mantém o estado coeso."
A Igreja Cristã, no
poder, revelou-se um grupo de perseguição, eliminando a liberdade de pensamento
e impondo, pela força, se necessário, a uniformidade de crença. (...)
Recorreu-se ao medo do inferno para manter a conformidade que a imagem da
Igreja não bastava para evocar. (...) A prova de um cristão era sua fidelidade
a uma crença e não a um modo de vida. O tremendo problema da condenação ou
salvação da alma na vida de além-túmulo exauriu a vida neste mundo de qualquer
importância que lhe pertencia por direito próprio.
PREDECESSORES,
CONTEMPORÂNEOS E POSTERIORES A EPICURO
Sólon (640-
Pitágoras (570-
Clístenes (565-
Sócrates (469-
Platão (428-
Crítias (460-
Aristóteles (384-
Epicuro (341-
Políbio (200-
Cícero (106-
Estrabão (
Tito Lívio (
Plutarco (46-120
d.C)
Alexandre de Abonútico (105-170 d.C.)