EXTRATO DE: CONFLITO DE VISÕES
Origens Ideológicas das Lutas Políticas
Autor: Thomas
Sowell
Ed. É Realizações:
2007/2011/2021
Todo homem, onde quer que vá, está cercado
por uma nuvem de convicções que o acompanha como moscas em um dia de verão.
Bertrand Russell
PREFÁCIO
Conflitos de
interesse predominam por períodos curtos, porém conflitos de visões dominam a
história.
CAPÍTULO 1 –
OPINIÃO PÚBLICA PAPEL DAS VISÕES
Uma coisa curiosa
sobre opiniões políticas é a frequência com que as mesmas pessoas se posicionam
em lados opostos acerca de diferentes questões.
A realidade é muito
complexa para ser compreendida por qualquer mente.
Todas as visões são
até certo ponto simplistas (...).
(...) as visões
sociais e a teoria social lidam com interações complexas e, frequentemente,
subconscientes de milhões de seres humanos.
Há tantas visões
quantos seres humanos (...) e mais de uma visão pode ser compatível com um
determinado fato.
As
batalhas políticas diárias são um pot-pourri de interesses específicos, emoções
coletivas, conflitos de personalidade, corrupção e vários outros fatores.
[política][políticos]
CAPÍTULO 2 – VISÕES
RESTRITAS E IRRESTRITAS
No cerne de todo código moral há uma imagem
da natureza humana, um mapa do universo e uma versão da história. Para a
natureza humana (do tipo concebido), em um universo (do tipo imaginado), depois
de uma história (assim compreendida), aplicam-se as regras do código. Walter
Lippmann
[Em um continuum] no mundo real frequentemente
há elementos de cada [extremo] inseridos [em cada ponto] de maneira inconsistente,
bem como inúmeras combinações e trocas.
As limitações
morais do homem em geral e seu egocentrismo em particular não foram lamentadas
por Smith nem vistas como coisas a serem modificadas. [Smith tratou a tentativa
de mudar natureza humana tanto como vã quanto sem sentido.]
Alexander Hamilton: é próprio de todas as
instituições humanas, mesmo aquelas mais perfeitas, ter defeitos assim como
qualidades – tanto propensões ruins quanto boas. Isto decorre da imperfeição do
Instituidor, o Homem.
(...) os benefícios
econômicos para a sociedade não foram buscados intencionalmente pelos
indivíduos, mas surgiram sistematicamente de interações do mercado, sob pressões
da concorrência e impulsionados pela motivação do ganho individual.
Século XVIII – Idade
da Razão
Adam Smith
considerava o egoísmo humano uma dádiva.
[Para a visão
irrestrita] a pobreza ou outras fontes de insatisfação somente poderiam ser o
resultado de intenções maldosas ou de cegueira diante de soluções rapidamente
alcançáveis por meio da mudança das instituições existentes.
Para a visão
irrestrita, não há razoes insolúveis para os males sociais, portanto, não há
razão para que estes não sejam resolvidos, com suficiente comprometimento
moral. [imperfeição]
A visão restrita é
uma visão trágica da condição humana. A visão irrestrita é uma visão moral das
intenções humanas, que são vistas como finalmente decisivas.
[Os humanos] são
seres humanos são criaturas tragicamente restritas.
[Se para Hobbes, na
obra Leviatã, o poder armado das instituições políticas foi o que evitou a
guerra de cada um contra todos (...) entre os homens em seu estado
natural,(...)] [faltou explicar como evoluímos até antes da chegadas das tais
instituições políticas!!!]
CAPÍTULO 3 – VISÕES
DE CONHECIMENTO E DE RAZAO
Hayek: Nossos hábitos e habilidades, nossas
atitudes emocionais, nossas ferramentas e nossas instituições – todos são
adaptações à experiência passada que evoluiu por eliminação seletiva de uma
conduta menos adequada.
O conhecimento é a
experiência social de muitos, incorporado ao comportamento, aos sentimentos e
aos costumes, mais do que a razão especialmente articulada de poucos, por mais
talentosas e inteligentes que essas poucas pessoas possam ser.
Deveríamos cuidar
dos defeitos da ordem social, segundo Burke, com o mesmo entusiasmo que temos
ao cuidar dos ferimentos de nosso pai.
Burke: Devemos
tolerar debilidades até que se corrompam em crimes.
Godwin: as ilusões
do ignorante.
Burke: sou incapaz
de distinguir o que aprendi com outros dos resultados de minha própria
reflexão.
Hayek: Praticamente qualquer indivíduo tem
alguma vantagem sobre todos os outros [considerando o conhecimento disponível]
porque ele dispõe de informações diferenciadas sobre que uso benéfico se pode
fazer, mas cujo uso se pode fazer somente se as decisões que dependem dele são
feitas por ele ou com sua cooperação
ativa.
Ao se conceber o
conhecimento tanto fragmentado quanto amplamente disperso, a coordenação
sistêmica entre muitos suplanta a sabedoria especial de poucos.
Godwin: Se fosse possível fornecer os ditames
simples do nível de justiça a todas as capacidades, poder-se-ia esperar que
toda a espécie se tornaria sensata e virtuosa. [Ele reconhece, mas insiste
em ignorar.]
Tudo pode [pode?]
ter uma causa, e mesmo assim os seres humanos podem não ser capazes de
especificar o que é.
É compatível com a
visão irrestrita promover fins igualitários por meios desiguais.
Na visão restrita,
as limitações inerentes aos indivíduos significam que a melhor contribuição de
cada indivíduo para a sociedade é aderir às tarefas especificas de seu papel institucional
e deixar os processos sistêmicos determinarem os resultados.
Burke: Reverencio os homens nas funções que
lhes pertencem, mas não além disso.
Na visão restrita,
o que cabe ao homem de negócios é a direção de sua firma individual para
promover, dentro da lei, sua prosperidade.
Para a visão
restrita, o que é moralmente fundamental é a fidelidade ao dever de seu papel
na vida. (...) Já na visão irrestrita, o dever de uma pessoa é destinar o bem à
humanidade.
Burke: [os adeptos da visão irrestrita]
podem fazer as piores coisas sem serem os piores dos homens.
Schumpeter: a primeira coisa que um homem
fará por seus ideais é mentir.
Burke: Não há desculpa para a ignorância presunçosa
conduzida pela paixão insolente.
Hobbes: as palavras são a vitrine dos os
sábios, mas para os homens tolos elas têm um valor real.
Quando o
conhecimento é (...) abrangente, (...) difundido de forma mais ampla, (...) os
intelectuais não têm vantagem preponderante sobre o homem comum.
Hamilton via os
intelectuais como perigosos, por causa de sua tendência de seguir “os fantasmas
traiçoeiros de um espírito de inovação sempre sedento de nunca satisfeito”.
CAPÍTULO 4 – VISÕES
DE PROCESSOS SOCIAIS
A língua é o protótipo
de uma ordem desenvolvida complexa (...).
Godwin: O que é
necessário é que percepções de bom senso, claras e corretas obtenham
ascendência no mundo.
O funcionamento da
sociedade depende da coordenação social de “milhões
de ocorrências que não são conhecidas em sua totalidade por ninguém”. Hayek
(...) ligações sentimentais
que surgem naturalmente devem ser utilizadas socialmente como um contrapeso
para o egoísmo pessoal.
Visto que limitações
nos h os e na natureza são inerentes, as decepções também o são. Nessa visão, a
questão não é se “problemas” são “resolvidos” – não serão -, mas se as melhores
compensações disponíveis foram feitas.
CAPÍTULO 5 –
VARIEDADES E DINAMICAS DAS VISÕES
Formulação marxista: de cada um de acordo com
sua capacidade, para cada um de acordo com suas necessidades.
O que faz uma visão
ser uma visão não é sua abrangência, mas sua coerência (...).
CAPÍTULO 6 – VISÕES
DE IGUALDADE
Hayek: Há desigualdades irremediáveis, da
mesma fora que há ignorância irremediável por parte de todos.
As
maravilhas tecnológicas modernas trouxeram pouca melhora para o que o rico já
tinha, porém revolucionaram muito as vidas das massas.
Socialistas
democráticos [??] eram considerados por Hayek indivíduos genuinamente humanos
sem a “crueldade” necessária para atingir seus objetivos sociais, mas também
eram vistos por ele como pavimentadores do caminho para outros – incluindo
fascistas e comunistas – que concluiriam a destruição da liberdade depois de
minar irremediavelmente os princípios de igualdade perante a lei e as
limitações no poder político na busca da “ilusão da justiça social”.
O governo, enquanto
entidade deliberadamente criada, pode agir com intenção e ser moralmente
julgado por seus atos, mas não a sociedade. (...) O governo (...) não tem a
onisciência de fato para prescrever resultados justos ou iguais.
Hayek: (...) as recompensas são baseadas
somente em parte em conquistas e em parte em mera sorte.
Para Adam Smith os
homens eram menos diferentes do que os cachorros, que as diferenças entre um filósofo
e um porteiro resultavam simplesmente da educação.
Hamilton: Onde predomina a virtude? De fato,
a diferença reside não na quantidade, mas no tipo de vícios que ocorrem em
todas as classes.
Godwin: o camponês passa pela vida, com algo
da insensibilidade desprezível de uma ostra.
Myrdal: as massas de camponeses como
extremamente atrasadas [serão] redimíveis somente por meio dos esforços
comprometidos da elite instruída.
Na visão restrita,
é o julgamento que deve ser exercido de forma igual e individual tanto quanto
possível, sob a influência das tradições e dos valores provenientes da
experiência de muitos, amplamente compartilhada, mais do da articulação
especial de poucos.
CAPÍTULO 7 – VISÕES
DE PODER
A visão restrita dá
ao poder um papel explicativo muito menor (...).
De acordo com a
visão dos simpatizantes da visão restrita, guerras são uma atividade
perfeitamente racional do ponto de vista daqueles que prevêem ganhos para si
mesmos, sua classe ou país, quer essas previsões sejam equivocadas ou não, como
poder ser todos os cálculos humanos. O fato de seus cálculos não considerarem o
sofrimento de outros não surpreende os adepto das da f restrita da natureza
humana.
Godwin: é
impossível que um homem cometa um crime no momento em que o vê em toda sua
maldade. [??????]
A visão irrestrita
vê a própria natureza humana como avessa ao crime, e a sociedade como
destruidora dessa aversão natural por meio de suas próprias injustiças,
insensatez e brutalidade.
Smith:
a misericórdia em relação ao culpado significa crueldade para com o inocente.
Na visão restrita,
cada nova geração que nasce é na verdade uma invasão da civilização por
pequenos selvagens, que devem ser civilizados antes que seja muito tarde.
Mill: as Massas
soberanas se deixam guiar pelos conselhos e influência de Um ou Poucos
especialmente talentosos e instruídos.
O
problema primordial dos políticos não é trabalhar para o bem publico, mas ser
eleito e permanecer no poder.
Myrdal: Para ele o
“modernismo não ocorrerá por um processo de evolução natural”, mas somente por
meio de “políticas públicas radicais” para “propiciar desenvolvimento através
da intervenção do Estado”.
Segundo Bauer, “os
intelectuais” eram vistos muito mais como um perigo especifico do que como uma
fonte de progresso, pois “suas tentativas no sentido de melhorar diferenças de
cultura, língua, condição social, riqueza e renda”, bem como “de dissolver os
agentes de ligação da sociedade” só poderiam levar a uma “extrema concentração
de poder”.
A possibilidade de
impor a vontade de alguém no comportamento de outras pessoas é uma
característica da visão irrestrita.
Para
Tribe, pode haver “igualdade de voto”, mas não há “igualdade de voz”.
Tribe: O que é
então o conteúdo do suposto poder de comandar e designar trabalhadores para
varias tarefas? Exatamente o mesmo poder de um pequeno consumidor de comandar e
designar seu quitandeiro para várias tarefas. O consumidor pode designar seu
quitandeiro para a tarefa de obter tudo o que o consumidor pode levá-lo a fornecer
a um preço aceitável para ambas as partes. Isso é precisamente tudo o que um
patrão pode fazer em relação a um empregado.
O acumulo de poder
militar (...) é absolutamente essencial para preservar a paz, conforme a visão
restrita.
Monitorar o desejo
de um grande número de resultados individuais costuma estar além das
capacidades de qualquer indivíduo ou conselho, como os adeptos da visão
restrita supõem que seja; dessa forma, os esforços no sentido de produzir
benefícios devem voltar-se para processos gerais e restrições de poder – o que
significa restringir a capacidade de alguns de reduzir as opções de outros.
CAPÍTULO 8 – VISÕES
DE JUSTIÇA
Para Smith, como a
sociedade “não pode subsistir entre aqueles que estão sempre dispostos a ferir
e machucar uns aos outros”, a justiça é, instrumentalmente, a virtude
primordial da sociedade.
Holmes: Venero a
lei, mas pode-se criticar até o que se reverencia.
Blackstone:
“a razão do homem é corrompida, e seu entendimento, cheio de ignorância e
erro".
Tribe: Precisamos
fazer escolhas, renunciando, porém, à liberdade também ilusória de escolher
tudo o que desejarmos escolher. Há uma Constituição especifica, necessariamente
imperfeita – e á de acordo com esses termos que afinal fazermos escolhas.
Holmes: Todo ano,
senão todo dia, temos que apostar nossa salvação em alguma profecia baseada em
conhecimento imperfeito.
Hayek é um dos
poucos escritores da visão restrita que discute a justiça social – e ele a
caracteriza como “absurda”, uma “miragem”, “uma invocação vazia”, “uma
superstição quase religiosa” e um conceito de que “não pertence à categoria do
erro, mas à da estupidez”.
Fundamentalmente
para o conceito de justiça social é a noção de que indivíduos têm direito a
alguma parte da riqueza produzida por uma sociedade simplesmente por serem
membros daquela sociedade, independentemente de quaisquer contribuições
individuais feitas ou não para a produção de tal riqueza.
CAPÍTULO 9 –
VISÕES, VALORES E PARADIGMAS
As variações
incontroláveis, que impedem experiências de laboratório com sociedades,impedem
as confrontações decisivas que destroem determinadas hipóteses (...).
Visões
são somente a matéria-prima a partir da qual teorias são construídas e certas
hipóteses são deduzidas.
Em um extremo na
relação entre evidencias e visões temos a subordinação total das evidencias às
conclusões (...).
Evidencias não
precisam ser falsificadas com o objetivo de serem burladas. (...) Todavia,
embora não prediga especificamente nenhum resultado concreto, pode insinuar e
ser muito eficaz em sua insinuação.
A questão não é que
uma determinada conclusão estava equivocada, mas que uma afirmação amola e sem
fundamento não foi contestada só longo de muitos anos porque era adequada para
determinada visão. A capacidade de sustentar asserções sem evidências é outro
sinal da força e persistência das visões.
O que distingue os
partidários da visão restrita é que as limitações do no estão no cerne de suas
teorias – desempenham o papel da gravidade, mais do que o da resistência
atmosférica (...).
[Cada vez mais] há
menos lugares para se esconder de evidencias cientificas.
As
coisas devem funcionar antes de funcionarem para qualquer fim especifico.
Pessoas com os
mesmos valores morais rapidamente chegam a conclusões políticas divergentes.
[É a ameaça à
verdade de alguém que provoca a reação irada.] Valores existentes pareciam
ameaçados somente porque a visão em que se baseavam parecia estar ameaçada – e
não porque Copérnico e Galileu propagassem valores alternativos.
As
visões são (1) projeções simplificadas da realidade e (2) estão sujeitas a
contradição por fatos (...).
A conversão
instantânea de toda uma sociedade parece muito improvável; e quando o processo
de conversão se prolonga, somente a mortalidade individual é capaz de garantir
que muitas conversas jamais se concluirão, e que novos indivíduos devem começar
o processo de lealdade à visão e duvidar de tudo desde o começo.
Recorrer
a visões como um meio de recrutar aliados políticos é uma prova do atrativo
limitado de interesses específicos (...).
A questão não é
qual política e sistema social é melhor, mas, sobretudo, o que está
implicitamente suposto quando se defende uma política ou sistema social em
relação a outro.
Igualdade como uma
característica de processo significa a aplicação das mesmas regras para todos
(...). Resultados contam (...) mas somente a eficácia de processos particulares
(...) pode ser avaliada pelo homem, não cada resultado individual isoladamente.
Os adeptos da visão
restrita tendem a referir-se a seus adversários como bem –intencionados, mas
equivocados ou idealistas.
Considerando os
limites inerentes dos seres humanos, a pessoa extraordinária (moral ou
intelectualmente) é extraordinária somente dentro de uma determinada área muito
restrita, talvez à custa de sérias deficiências em algum outro lugar, e pode
haver pontos cegos que não lhe permitam ver algumas coisas que são claramente
visíveis aos olhos de pessoas comuns.
Na visão restrita o
controle deveria ser tão disperso quanto possível (...).
Por mais poderosa
que a ideologia seja, ela não é onipotente. Fatos inevitáveis e brutais (...)
levaram muitos, simultaneamente, a abraçar ou abandonar uma ideologia.
[e uma ideologia]
pode aniquilar totalmente as evidências.
Partidários da
visão irrestrita colocam a liberdade de expressão acima dos direitos de
propriedade (...).
Dedicação
a uma causa pode legitimamente implicar sacrifícios de interesses pessoais, mas
não sacrifícios da mente ou da consciência.