EXTRATO
DE: COMO VENCER UM DEBATE SEM PRECISAR TER RAZÃO
Arthur
Schopenhauer (1788-1860)
Ed. Topbooks 1819/2003/2023
Schopenhauer é
um dos raros casos de precocidade filosófica que a História registra. Aos 31
anos publica “O Mundo como Vontade e Representação”.
INTRODUÇÃO E
NOTAS POR OLAVO DE CARVALHO
Dialética
erística, a arte do debate malicioso.
Na maioria
das discussões nascem apenas as falsas certezas e as decisões catastróficas.
Mais vale
saber sem poder provar do que produzir 1000000 de provas daquilo que no fundo,
não se intui de maneira alguma.
Uma vez
neutralizada a diferença qualitativa que era nossa única superioridade, o oponente
pode nos vencer pelo mais simples dos expedientes: reúne meia dúzia de
comparsas e nos esmaga pela força do número.
O melhor dos
treinos é lutar contra as nossas próprias mentiras final.
Fazer da
opinião pública o juiz da interioridade humana é, talvez, o pecado original da
cultura contemporânea, onde cada homem é obrigado pela pressão exterior, a apagar
de seu coração tudo aquilo que não seja confirmado pelo falatório dos vizinhos,
até chegar à suma degradação de se ignorar por completo e de ter de ir à
boutique esotérica ou psicoterapêutica da moda na esperança de comprar o último
modelo de autoconhecimento prêt-à-porter.
Na maior
parte dos casos, um homem tanto mais gesticula e dramatiza em defesa de suas
opiniões. Quanto menos está seguro delas por dentro por não. Mas havia
examinado bem.
Cada homem
nasce com sua filosofia pronta e todo o seu esforço de argumentação não passa
de uma tentativa de adornar com um verniz de racionalidade, suas preferências
pessoais. [Eu diria, geneticamente construídas.]
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Para
Aristóteles, só havia 4 ciências do discurso: a poética, a retórica, a
dialética e a analítica (hoje denominada lógica). Dessas, 2 lidam com a arte da
discussão: a retórica e a dialética.
Para
Aristóteles, a retórica é a arte da persuasão e esta tem 3 fatores: a pessoa do
orador, os fatos de que ele fala e o teor dos argumentos. Para ele, a retórica
se concentra nos argumentos. E a dialética é uma técnica de confrontar os
argumentos contraditórios oferecidos em resposta a uma questão, para encontrar,
por baixo deles, os princípios de base que permitam dar à questão uma resposta
mais racional.
Aristóteles
admitia a existência de 2 técnicas secundárias: a erística e a sofística.
Quanto à
dialética, não é uma arte de persuadir, nem propriamente de discutir, mas uma
técnica de confrontar os argumentos contraditórios oferecidos em resposta a uma
questão para encontrar por baixo deles. Os princípios de base que permitam dar
a questão uma resposta mais racional.
A dialética,
quando praticada a 2, é um exercício do qual só podem participar as pessoas
informadas e honestas dispostas a encontrar a verdade e, portanto, a abandonar
no curso da disputa as opiniões que se revelam inconsistentes.
Aristóteles
define a erística como a arte da discussão contenciosa ou belicosa, onde se
trata apenas de vencer e não de buscar uma prova.
40
A erística é
uma arte da discussão contenciosa, que, utilizando os instrumentos da
dialética, da sofistica, da erística e da retórica aristotélicas, abrange
também os aspectos psicológicos do duelo argumentativo, ao mesmo tempo que
deixa de lado as regras de ordem ética que faziam da dialética aristotélica um
instrumento confiável de investigação.
42
Para se
compreender um filósofo – dizia Benedetto Croce – é preciso saber contra quem
ele se levantou polemicamente. É uma regra dialética.
53
Para Schopenhauer,
só existem 2 métodos de pensar: A lógica, caminho rigoroso da demonstração da
verdade e a dialética arte de argumentar, independentemente da verdade.
O dialético
toma por ponto de partida, não as definições necessárias em si, mas as opiniões
ou as teses propostas pelo senso comum ou pelos filósofos e investiga qual é
dessas opiniões diversas a mais verossímil.
Só a lógica
pode provar a veracidade necessária de uma tese e ela é, portanto, o meio
indispensável de toda a demonstração científica. Mas a prova lógica depende
sempre de premissas e a questão decisiva na investigação científica não está,
portanto, em tirar logicamente as conclusões, mas sim em descobrir as
premissas.
Uma vez
encontrado o princípio, ele serve de premissa para muitas demonstra Sonic,
estas sim, deverão se ater rigorosamente à loja.
Diz ali
stories: Devemos selecionar desta maneira as proposições adequadas a cada
problema. Primeiro, temos de estabelecer o assunto, a definição e as
propriedades da coisa.
A dialética
nada prova sugere, compara, refuta, classifica, seleciona e descobre. A lógica
nada descobre: prova firma e consolida.
A não é, não-A.
Psicologicamente, a receita da negação de algo não é o mesmo que sua afirmação.
E chega mesmo a ser o seu contrário: a revolta contra a frustração de um desejo
não satisfaz esse desejo, mas até aumenta a frustração, porque os desejos só
podem ser satisfeitos por uma gratificação positiva.
[Num certo
momento da história], a disputa cada vez mais ruidosa e sangrenta entre as 2
formas possíveis do estado, a questão do destino, da alma parecia antiquada e
desinteressante. O giro do cenário for repentino e completo e a busca de Deus
estava excluída do terreno filosófico, doravante ocupado pela disputa de
ideologias.
Está aí a
raiz do mais trágico erro de perspectiva moral, em que a humanidade caiu ao
longo de toda a sua história: a convicção de que a sociedade, e não os
indivíduos concretos, o verdadeiro sujeito da responsabilidade moral,
pressuposto que está na base de toda a atual ideologia “politicamente correta”.
[A civilização
parece pender entre a busca da perfeição da alma e a luta pelo Estado
perfeito.]
O raciocínio
lógico, nada pode. Sem as premissas e não pode sequer encontrar os seus
próprios princípios que lhe são dados pela intuição intelectiva.
O desejo de
uma eternidade unidimensional, subjugada e reduzida, as condições do jogo
mental humano, traz em seu bojo uma reivindicação prometeica do poder absoluto,
que, não podendo elevar-se à condição sobre humana, acaba por se tornar apenas inumana.
Na tradução islâmica:
“mulher nasceu de uma costela torta; se tentas endireitá-la, ela se quebra.
A tagarelice
e a patifaria invadiram a cidadela mesma da filosofia e nela ocupam não raro os
lugares de comando. É preciso uma luta ativa e sem descanso para expulsá-las.
93
DIALÉTICA
ERÍSTICA (Schopenhauer) – TEXTO E COMENTÁRIOS (Olavo de Carvalho)
INTROITO
Dialética
erística é a arte de discutir mais precisamente a arte, de discutir de modo a
vencer. E isto per fas et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos).
Schopenhauer
faz sempre um contraste entre ter razão realmente, estar com a verdade, e
aferrar-se à razão, insistir teimosamente em ter razão quando não se tem.
Nossa vaidade
congênita, especialmente suscetível em tudo o que diz respeito à capacidade
intelectual, não quer aceitar que aquilo que, num primeiro momento,
sustentávamos como verdadeiro, se mostre falso e verdadeiro aquilo que o
adversário sustentava. (...) à vaidade inata associa-se a verborragia e uma
inata deslealdade.
96
(...) Daí vem
que, em regra geral, aquele que entabula uma discussão não se bate pela verdade
mas por sua própria tese (...).
Topos – do
grego “lugar”.
103
A dialética
aristotélica é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, exercício pedagógico técnica
da discussão e a arte da investigação.
110
(...) Tudo o
que é sensível é incerto, na medida que procedi do campo dos sentidos.
O que
Aristóteles enfatiza, aí não é a fragilidade do conhecimento sensível enquanto
tal, mas sua inaptidão para passar sem um longo Rodeio racional. Do lado
sensível, a afirmação de um próprio que demanda um procedimento generalizante,
abstrativo e na acessível ao aparato sensório.
Com
frequência, nós mesmos não sabemos se temos razão ou não. Muitas vezes
acreditamos tê-la e nos enganamos e com frequência as 2 partes, o creme.
Para
Demócrito, a verdade está nas profundezas.
Na
diabética de Aristóteles o confronto de 2 teses só é possível justamente
porque, diante mão, nenhuma delas é provadamente verdadeira.
Ainda na
dialética de Aristóteles também a investigação dialética não pode pressupor a
velocidade de uma das teses em disputas (seria o mesmo que dar a disputa por
resolvida antes de começa-la);
119
A BASE DE
TODA DIALÉTICA
O adversário
expôs uma tese. Para refutá-la, há dois modos e dois métodos. Os modos: a) ad
rem (não está de acordo com a natureza das coisas, com a verdade objetivo, ou
b) ad hominem, que não concorda com outras afirmações ou apartes do adversário,
isto é, com a verdade subjetiva, relativa. Os métodos são a) refutação direta,
ataca a tese em seu fundamento ou b) indireta, ataca em suas conseqüências.
121
Apagoe –
significa a ação de levar, conduzir, arrastar, arrebatar
Não se
deve discutir contra quem negue os princípios. Bing?
124
1 - Ampliação
indevida – Levar a afirmação do adversário para além de seus limites naturais,
interpretá-lo do modo mais geral possível, tomá-la no sentido mais amplo
possível e exagerá-la.
2 – Homonímia
sutil
Synonyma são
duas palavras que designam o mesmo conceito; Homonyma são dois conceitos
designados pela mesma palavra.
3 – Mudança
de modo
4 -
Pré-silogismos – Se queremos chegar a uma certa conclusão, devemos evitar que
esta seja prevista, e atuar de modo que o adversário, sem percebê-lo, admita as
premissas uma de cada vez e dispersas sem ordem na conversação.
Nota:
Se a
conclusão não for declarada explicitamente em parte alguma, ela terá ainda mais
força persuasiva, porque a vítima, ao tirá-la, acreditará estar raciocinando
livremente e assumirá responsabilidade pela crença que lhe foi incutida,
passando mesmo a defendê-la como expressão pura de sua opinião espontânea.
5 - Uso
intencional de premissas falsas – O verdadeiro também pode seguir-se de
premissas falsas, mas não o falso de premissas verdadeiras. Deste modo, podemos
também refutar teses falsas do adversário por meio de outra tese falsa que ele
aceite como verdadeira. Devemos adaptar-nos a ele e usar o seu modo de pensar.
6 - Petição
de princípio oculta
7 – Perguntas
em desordem
Erotemático –
do grego – perguntar, interrogar – é o método de perguntas e respostas.
8 –
Encolerizar o adversário – impedi-lo de raciocinar
9 – Perguntas
em ordem alterada
10 – Pista
falsa
11 – Salto
indutivo
12 –
Manipulação semântica
Bom, o que
uma pessoa totalmente sem intenção nem partidarismo chamaria de culto ou
doutrina pública de fé. Quem deseja falar a favor chamaria devoção, Piedade e
um adversário crendice, fanatismo. O que um chama manter uma pessoa em
segurança ou colocá-la sob Custódia, seu adversário chama de encarcerá-la. Um diz
o clero, o outro, os padres. Fervor religioso, contrasta com fanatismo. Passo
em falso contrasta com adultério. Desequilíbrio econômico com banca rota.
Mediante influência e ligações com “mediante suborno e nepotismo”.
Reconhecimento sincero com uma boa remuneração.
13 –
Alternativa forçada
“Deve-se obedecer
ou desobedecer os pais em todas as coisas.”
O cinzento,
colocado junto ao negro, parece branco. E junto ao branco, parece negro.
14 – Falsa
proclamação de vitória
Tratar como
prova o que não é prova.
15 - Anulação
do paradoxo.
16 – Várias
modalidades do argumentum ad hominem
17 Distinção
de emergência
18 – Uso
intencional da mutatio controversie
19 – Fuga do
específico para o geral
20 – Uso da
premissa falsa previamente aceita pelo adversário
21 – Preferir
o argumento sofistico
22 – Falsa
alegação de petitio principii (petição de princípio, dar por demonstrado aquilo
que se pretende demonstrar).
23 – Impelir
o adversário ao exagero
24 – Falsa
reductio ad absurdum
25 – Falsa
instância
Epagoge –
indução – É raciocínio probabilístico, fundado na premissa de que aquilo que se
dá num grande número de casos pode ser tomado como regra geral para todos os
casos possíveis.
26 – Retorsio
argumenti (remeter de volta)
Por exemplo.
É apenas um menino. Devemos deixá-lo fazer o que quiser. Retorce o.
Precisamente porque ao menino deve-se castigá-lo para quem não persevere em
seus maus hábitos.
27 – Provocar
a raiva
28 –
Argumento ad auditores
As pessoas
são inclinadas ao riso fácil, e os que riem estão do lado daquele que fala.
29 – Desvio
Qualquer
discussão entre pessoas comuns mostra como este estratagema é, por assim dizer,
instintivo. Se um debatedor lança ao outro reprovações pessoais, este não
responde com uma refutação, mas sim com reprovações pessoais ao primeiro, deixando
subsistir os lançados contra ele e, portanto, quase os admitindo.
30 –
Argumentum ad verecundiam (dirigido ao sentimento de honra)
Nota – Daí
também que seja quase impossível, num ambiente dominado por jovens, um debate
honesto e sem preconceitos.
Em
contrapartida, as pessoas comuns têm profundo respeito ante os especialistas de
todo gênero. Ignoram que quem faz de um assunto sua profissão não ama o assunto
em si, e sim o lucro que ele lhe dá; e que aquele que ensina um assunto raras
vezes o conhece a fundo, porque àquele que o estuda a fundo não resta, em
geral, tempo para dedicar-se ao ensino.
Nota:
Definição de “homem comum” de Ludwig von Mises – “O homem comum não especula
sobre os grandes problemas. Ampara-se na autoridade de outras pessoas,
comporta-se como um sujeito decente deve comportar-se, como um cordeiro no
rebanho. É precisamente esta inércia intelectual que caracteriza um homem como
um homem comum. Entretanto, apesar disso, o homem comum efetivamente escolhe.
Prefere adotar padrões tradicionais ou padrões adotados por outras pessoas
porque está convencido de que esse procedimento é o mais adequado para atingir
o seu próprio bem-estar. E está apto a mudar sua ideologia e consequentemente,
o seu modo de ação, sempre que estiver convencido de que a mudança servirá
melhor a seus interesses.”
Nota:
O homem não se liberta do “espírito de rebanho”, de que falava Nietzsche,
simplesmente por passar de um rebanho mais velho a um mais novo.
De fato, uma
vez que a opinião tinha um bom número de vozes que a aceitavam, os que vieram
depois supuseram que só podia ter tantos seguidores pelo peso concludente de
seus argumentos. Os demais, para não passar por espíritos inquietos que se
rebelam contra opiniões universalmente admitidas e por sabichões que quisessem
ser mais espertos que o mundo inteiro, foram obrigados a admitir o que todo
mundo já aceitava. Neste ponto a concordância torna-se uma obrigação. E, de
agora em diante, os poucos que forem capazes de julgar por si mesmos se
calarão, e só poderão falar aqueles que, totalmente incapazes de teer uma opinião
e juízo próprios, sejam o eco das opiniões alheias. E estes, ademais, são os
mais apaixonados e intransigentes defensores dessas opiniões. Pois estes, na
verdade, odeiam aquele que pensa de modo diferente, não tanto por terem opinião
diversa daquela que ele afirma, quanto pela sua audácia de querer julgar por si
mesmo, coisa que eles nunca poderão fazer, sendo por dentro conscientes disto.
“Eu digo, tu dizes
e, no fim, o diz também ele; depois de dar-lhe tantas voltas, ninguém mais vê
aquilo que se disse.” - Bayle
Não esquecer
que nos dias atuais, a simples adesão ao novo preconceito faz um sujeito se
sentir livre de preconceitos. O uso corrente da palavra preconceito é de terror
nitidamente preconceituoso. Pois cria uma prevenção irracional contra uma
opinião que, em geral, só se conhece por auto acusação de preconceito. É hoje
um dos estratagemas de uso mais frequente: ela dispensa o exame dos argumentos
da parte contrária.
A
suscetibilidade neurótica que espuma de raiva ante gracejos, por seu lado, não
é preconceito: é exemplo de superior neutralidade científica.
Aristóteles: Re,
as coisas que parecem justas há muitos dizemos que o são.
A
universalidade de uma opinião. Não é uma prova, nenhum indício de veracidade.
Se algumas
verdades admitidas por todos atravessam os tempos e outras não, estas últimas
não são realmente admitidas por todos, mas só aparentemente, e temporariamente.
Os dogmas das
várias religiões não são, por definição, opiniões aceitas por todos, mas só
pelos partidários das respectivas religiões. Não são universais, mas gerais, dentro
dos limites de uma classe.
De fato,
uma vez que a opinião tenha um bom número de vozes que aceitam, os que vêm
depois, supõem que só pode ter tantos seguidores pelo peso concludente de seus
argumentos. Os demais, para não passar por espíritos inquietos, que se rebelam
contra opiniões universalmente admitidas e por sabichões que querem ser mais
espertos que o mundo inteiro, são obrigados a admitir o que todo mundo já
aceita. Neste ponto, a concordância torna-se uma obrigação e, de agora em
diante, os poucos que forem capazes de julgar por si mesmos, se calarão e só
poderão falar aqueles que, totalmente incapazes de ter uma opinião e juízo
próprios, sejam o eco das opiniões alheias e estes, ademais, são os mais
apaixonados e intransigentes defensores dessas opiniões, pois estes, na
verdade, odeiam aquele que pensa de modo diferente, não tanto por terem opinião
diversa daquela que ele afirma, quanto pela sua audácia de querer julgar por si
mesmo, coisa que eles nunca poderão fazer, sendo por dentro conscientes disso.
Em suma, são muito poucos os que podem pensar, mas todos querem ter opiniões.
31 –
Incompetência irônica
32 – Rótulo
odioso
33 – Negação
da teoria na prática
34 – Resposta
ao meneio de esquiva
35 –
Persuasão pela vontade
Na maior
parte das vezes, pesam mais umas migalhas de vontade que 1 t de compreensão e
persuasão. Naturalmente, isto só funciona em circunstâncias muito particulares.
Fazemos o adversário perceber que sua opinião, desde o momento em que seja
aceita, fariam um dano notável a seus próprios interesses e ele a deixará cair
com a mesma rapidez com que soltaria um ferro candente que inadvertidamente
tivesse agarrado.
Um
proprietário de terras afirma a excelência da mecânica na Inglaterra, onde uma
máquina a vapor realiza o trabalho de muitos homens fazemo-lo observar que logo
também os veículos serão arrastados por máquinas a vapor. Com isso, cairá o
preço dos cavalos de seus numerosos estábulos. E veremos o que ele diz. Em tais
casos, a reação mais frequente é. Com que rapidez sancionamos uma lei que vai
contra nós?
O
entendimento não é uma luz que arde sem óleo, mas é alimentado pela vontade e
pelas paixões.
36 – Discurso
incompreensível
37 – Tomar a
prova pela tese
38 – Último
estratagema
Como diz
Thomas Hobbes: todo o prazer do espírito e todo o contentamento consiste em
termos alguém em comparação com o qual possamos ter auto estima de nós mesmos.
Um dos
maiores conselhos de Aristóteles é: não entrar em controvérsia com qualquer um
que chegue, mas só com aqueles que conhecemos e dos quais sabemos que têm
inteligência suficiente para não propor coisas absurdas que levem ao ridículo e
que têm suficiente talento para discutir à base de razões e não com bravatas, para
escutar e admitir tais fundamentos, e que enfim, apreciem a verdade, prestem
com gosto ouvido às razões, mesmo quando procedam da boca do adversário, e
sejam o bastante equitativos para suportar que não se lhes dê razão quando a
verdade está do outro lado.
E para Voltaire,
“A paz vale ainda mais que a verdade”. E um provérbio árabe, diz que “da árvore
do silêncio pende, como fruto, a paz”.
“Todo prazer do
espírito e todo contentamento consistem em termos alguém em comparação com o
qual possamos ter alta estima de nõs mesmos.”
- Hobbes
ADENDO E
ANOTAÇÕES DE SCHOPÉNHAUER
A dialética
erística é a doutrina do procedimento, que é inato no homem para pensar que ele
tem razão.
Para Aristóteles,
a persuasão é objetivo da retórica, não da dialética.
NOTAS FINAIS
Temístocles dirigindo-se a Eurípedes:
“Bate, mas escuta.”
Deixemos que
digam o que querem porque ser idiota é um dos direitos do homem.
“A paz vale
ainda mais que a verdade.” – Voltaire.
Dialética
Erística: a doutrina do procedimento que é inato no homem para pensar que tem
razão.
A dialética
parte de premissas que são prováveis ou admitidas como tal; a erística, de
premissas que não são realmente prováveis nem admitidas como tal, mas que
apenas o parecem aos olhos de um determinado público.
Maquiavel
prescreve ao príncipe que aproveite em cada momento a debilidade de seu
vizinho, para atacá-lo; do contrário, este pode, em qualquer ocasião, tirar
partido da debilidade do príncipe.
A dialética
de Schopenhauer se distancia da de Aristóteles: de um método de busca da verdade,
apto a encontrar os princípios de base das várias ciências, até uma arte do
maquiavelismo psicológico, há um longo caminho a percorrer – para baixo.
Pilatos:
Que é a verdade?
Demócrito:
A verdade está no profundo.
Olavo: é
claro que este provérbio tem apenas valor poético, não se devendo em hipótese
alguma aceitá-lo como verdade filosófica, em sentido literal, estrito, malgrado
todo o prestígio do misterioso. Pois como qualquer um sabe, por experiência, a
verdade pode estar tanto na profundidade como na superfície, há verdades
latentes e verdades patentes. Só a título de exercício, o leitor pode comparar
a sentença de Demócrito com esta de Plotino, aliás de igual valor poético: “A
essência salta aos olhos, pois se revela na forma”.
[Para
trazer luz à verdade é preciso saber onde ela está.]
Se o amor
tem sua sede na vontade, então também a tem o ódio. Mas se este se encontra no
sentimento, o mesmo de dá com o amor. (...)
Com isto, pode ver-se que os loci são certas verdades gerais que se referem a
classes inteiras de conceitos aos quais se pode, nos casos particulares,
recorrer para delas tirar argumentos e também para referirmos a elas como
universalmente evidentes. Mas na maioria os Loci são enganosos e sujeitos a
grande número de exceções.
Ad rem = à
coisa, refutação ao assunto
Ad hominem =
ao homem, refutação às idéias e convicções do interlocutor
COMENTÁRIOS
SUPEMENTARES (Olavo de Carvalho)
O Coronel
Fontenelle, diretor de Trânsito do então Estado da Guanabara, num debate de TV,
não podendo agredir a socos a deputada Conceição da Costa Neves, teve um ataque
cardíaco e morreu diante das câmeras.
220
Nos regimes totalitários
- uma invenção do século 20, que Schopenhauer não poderia prever -, a
manipulação semântica passou a ser usada já não no confronto polêmico, mas como
instrumento de um discurso monológico, destinado a bloquear primeiro a
expressão de ideias antagônicas e, depois, a mera possibilidade de pensá-las. (...)
A erística sem debate é um dos produtos mais requintados da perversidade
humana. (...) [O
objetivo dos demônios] é que enfim a vítima venha a assumir a responsabilidade pelo
crime.]
João Scot
Erígena: autoridade provém da razão. Não há razão da autoridade. (...) Não há
um cérebro totalmente livre da influência de alguma autoridade: porque o
decisivo em toda a argumentação é saber usar do argumento de autoridade como
simples ponto de referência digno de atenção, nunca como prova.
Desejo
mimético: desejamos porque todo mundo o deseja.
234
Por força da
velocidade das comunicações, a autoridade de crenças universalmente aceitas,
relativiza ou revoga no ato e sem exame, opiniões milenares.
Para
Nietzsche, o interesse de classe ou qualquer outro motivo alegado para explicar
a conduta humana não é senão o véu ilusório a encobrir a verdadeira motivação
da história toda: a vontade de poder.
O
esquecimento adquire o prestígio de um saber superior. Doutrinas que o público
desconhece, passam por “superadas” sem exame por mero decurso de prazo. O temor
de passar por um “sabichão que quer ser mais esperto que o mundo inteiro” cede
o lugar ao medo de passar por um bobalhão desatualizado, que se ocupa de ideias
superadas. Este preconceito é hoje o mais temível obstáculo em qualquer
discussão científica.
Raramente a
carga negativa ou positiva associada à palavra tem algo a ver com a realidade
do seu significado.
Principais
Marcos no caminho. Dessas novas formas de persuasão foram:
1. a descoberta dos reflexos
condicionados por Ivan Pavlov.
2. A descoberta da estimulação subliminar
por Otto. Poezl, psicólogo austríaco.
3. As descobertas do psiquiatra inglês
William Sargant.
4. A programação Neurolinguística.
Flo Conway e
Jim Siegelman que se pode, mesmo por programação Neurolinguística, não apenas
levar uma pessoa a decidir contra seus valores, suas convicções e seus
interesses mais óbvios, como também torná-la refratária de ante mão a qualquer
argumentação.
É
sempre a tentação da Árvore da Ciência que leva o homem a perder a Árvore da Vida.