EXTRATO DE:AÇÃO HUMANA
Autor: Ludwig von Mises (1881/1973)
Ed. LVM - 1949/2010/2022
Por muito tempo
filósofos ansiaram por compreender os fins que deus ou a natureza estariam
procurando atingir no curso da história humana. Eles buscavam a lei do destino e
da evolução da humanidade. Mas mesmo aqueles pensadores para os quais a
investigação era llivre de qualquer tendência
teológica, fracassaram por completo em seus esforços, pois estavam
comprometidos com um método ineficaz. Lidavam com a humanidade como um todo, ou
através de conceitos holísticos, tais como, nação, raça ou igreja. Os problemas
sociais eram considerados problemas éticos. O necessário para
construir a sociedade ideal, pensavam eles, eram bons governantes e
cidadãos virtuosos. Com homens honrados qualquer utopia podia ser realizada. A
descoberta da inevitável interdependência dos fenômenos de mercado, derrubou esta opinião.
Fazer escolha é o
que determina todas as decisões humanas. Ao fazer sua escolha, o homem não
apenas seleciona um dentre vários bens materiais e serviços, pois todos os
valores humanos são oferecidos como opção. Todos os fins e todos os meios, sejam materiais ou ideias, o sublime e o básico, o nobre e
o ignóbil, são ordenados e uma sequência e submetidos a uma decisão que escolhe
um e rejeite o outro.
Praxeologia, a teoria geral da ação humana.
Catalaxia é a ciência das trocas.
O marxismo afirma
que a forma de pensar de uma pessoa, é determinada pela classe à qual ela é
ligada.
Spinoza: De fato, assim
como a luz manifesta a si mesma e a escuridão, a verdade oferece a medida para
si mesma e para a falsidade.
Holilogismo:
doutrina que assegura que a estrutura lógica humana se difere entre as pessoas
devido a sua classe, raça ou nação.
Não existe
perfeição no ser humano nem em qualquer outra empreitada humana. A onisciência
é negada ao homem. A teoria mais elaborada que parece satisfazer completamente
a nossa sede de conhecimento, pode, um dia, ser emendada ou suplantada por uma
nova. A ciência não nos dá a certeza finais e absolutas, apenas nos dá certezas
dentro dos limites de nossa capacidade mental e do estado predominante do
conhecimento científico.
Viver implica tanto imperfeição quanto
mudança.
A praxeologia não
faz distinção entre o homem ativo e enérgico e o homem passivo e indolente.
Porque não fazer nada e se tornar inútil, também são ações e também determinam
o curso dos eventos. Ação, portanto, é não somente fazer, é
também furtar-se de gazer o que poderia ser feito.
O objetivo da
praxeologia é remover algum desconforto.
Desde tempos
imemoriais, os homens sempre foram ávidos por saber qual seria a fonte de todo
o movimento, o primeiro moto, a causa de todos os seres e de toda mudança, a
última substância da qual tudo se aviva e que é causa de si mesma. Sempre haverão alguns fenômenos irredutíveis, indivisíveis, algum
resultado final.
Existem relações
entre processos mentais e fisiológicos, isso é o que sabemos. Mas sobre a
natureza e o funcionamento desta conexão, pouco ou nada sabemos.
Aquele que critica,
está a mostrar-nos o que ele faria se estivesse no lugar do seu próximo. Ou, em
ditatorial arrogância, alegremente descartando a vontade e as aspirações do
outro, declara que condição deste outro homem melhor se adequaria a ele
próprio, o crítico.
Viver para o homem,
é o resultado de uma escolha, de um julgamento de valor.
Os ensinamentos da
praxeologia e da economia, são válidos para qualquer ação humana, sem levar em
conta os seus motivos, causas ou metas implícitas.
A causalidade é um requisito da ação.
Em um mundo sem
causalidade, o homem estaria perdido para encontrar qualquer orientação e
direção. O homem nem é capaz de imaginar as condições de tão caótico universo.
[Uma causa não tem
objetivo porque ela é simplesmente uma consequência.]
Toda mudança deve
ser compreendida como movimentos sujeitos às leis da mecânica.
Mises deixa a pergunta: e quem sabe o que é
de fato a verdade?
É inegável que a
prática de considerar os semelhantes como seres que pensam e reagem como eu, tem dado certo. Isto não quer dizer que todos os seres
devam ser tratados da mesma maneira.
A ação humana,
inseparavelmente ligada ao pensamento humano, é condicionada pela necessidade
lógica. É impossível à mente humana
conceber relações lógicas que contrariem a própria estrutura lógica de sua
mente.
A causalidade leva
a um “regressus in infinitum”
cuja razão nunca se exaure.
A teleologia quer saber, tão logo a questão é levantada, o que move o primeiro
motor. Qualquer um dos métodos determina em um dado final que não pode ser analisado
e interpretado.
Quem procura por
uma certeza inconquistável, tem de recorrer à fé e tentar aquietar a sua
consciência, adotando um credo ou uma doutrina metafísica.
Nenhum artifício
dialético, pode negar o fato de que o homem é movido
pela ideia de atingir certos fins.
Quem lida com o
disparo de uma arma de fogo, do ponto de vista da física ou da química, não é
um praxeologista. Negligencia o próprio problema que
a ciência do comportamento intencional do homem procura esclarecer.
Nunca devemos
esquecer que a palavra instinto nada mais é que um marco para indicar um ponto
além do qual somos incapazes de continuar com a nossa verificação científica,
pelo menos até o presente momento.
Há para quem, o
único caminho para alcançar a bem-aventurança e a salvação, é tornar-se
perfeitamente passivo, indiferente e inerte, como as plantas. O supremo bem é
abrir mão do pensar e do agir.
A Praxeologia trata
do homem agente, não do homem transformado em planta e reduzido a uma
existência meramente vegetativa.
Nenhum experimento
de laboratório pode ser realizado em relação à ação humana.
Toda experiência
história está aberta a várias interpretações e de fato é interpretada de
diferentes maneiras. Fenômenos complexos que são produzidos por várias e
entrelaçadas cadeias causais, não podem testar nenhuma teoria.
Onde haja algo a
explicar a mente humana nunca perdeu a chance de inventar “ad
hoc” algumas teorias imaginárias sem qualquer
justificativa lógica.
O estado atual do
universo é produto de seu passado.
O conhecimento humano é condicionado pela
estrutura da mente humana.
O conteúdo dos
pensamentos primitivos do homem difere do conteúdo dos nossos pensamentos, mas
a estrutura formal e lógica em ambos é idêntica.
[Isso explica a
capacidade do índio de absorver imediatamente as tecnologias dos civilizados.]
A mente primitiva,
como a nossa, anseia encontrar as razões para o que acontece, mas não as busca
na mesma direção que nós.
O quer que o homem
faça, sempre será ação, ou seja, o uso de meios para a obtenção de fins.
Magia é, em sentido
mais amplo, uma variedade de tecnologia.
O
conceito e ação não implica
que esta seja guiada por uma teoria correta e uma tecnologia promissora que
atinja o objetivo pretendido. Isso apenas implica que o executor da ação
acredita que os meios aplicados produzirão o efeito desejado.
A estrutura lógica
da mente é uniforme em todos os homens, de todas as raças,
idades e países.
O raciocínio apriorístico
tende a tornar manifesto e óbvio o que estava oculto e desconhecido. O exemplo
é a existência do triângulo retângulo. O teorema de Pitágoras já estava
implícito no triângulo retângulo, apenas houve uma formulação para entender a
existência dele.
[O conhecimento, no
fundo, é saber a origem da existência de algo, ela já existia, apenas não era
do seu conhecimento.]
Os filósofos têm
ignorado a existência da ação humana. Suas contribuições foram inúteis para a
praxeologia.
Einstein: No que
toca aos teoremas da matemática, eles não são certos, e à medida que não são
certos, não se referem à realidade. Não há modo de ação pensável, em que meios
e fins, ou custos e benefícios, não possam ser claramente distinguidos e
precisamente separados.
A experiência em
relação ao dinheiro, requer familiaridade com a categoria praxeológica chamada
meio de troca.
O carrasco, não o
Estado, é quem executa o criminoso. É o significado dos interessados que
identifica, na ação do carrasco, uma ação do Estado.
O coletivo social,
não tem existência em realidade sem as ações dos membros individuais.
Ninguém jamais
percebeu uma nação sem perceber seus membros.
O nós é sempre
resultado da soma de dois ou mais egos.
No tocante a
problemas políticos e econômicos, o “pluralis gloriosus” evolui para o “pluralis
imperialis” e como tal desempenha o papel
significativo preparando o caminho para a aceitação de doutrinas que determinam
políticas econômicas internacionais.
A vida humana é uma
sequência incessante de ações isoladas, mas uma ação isolada não é de modo
algum apartada de outras, é um elo de uma cadeia de ações que juntas formam uma
ação em nível mais elevado visando um fim mais distante.
Uma catedral é
alguma coisa distinta de uma pilha de pedras unidas, mas o único modo de se
construir uma catedral é colocar uma pedra sobre outra.
[Essa última
proposta deve ser analisada no contexto da criação divina. A criação divina
elimina o processo da construção pelas partes.]
O indivíduo é o
produto de uma longa linha de evolução zoológica que moldou sua herança
fisiológica.
A vontade do homem
não é livre no sentido metafísico do termo. É determinada
pelo seu passado e por todas as influências a que ele e seus antepassados foram
expostos.
O indivíduo não
vive simplesmente como um homem em abstrato, vive como filho de sua família, de
sua raça, de seu povo e sua idade. Como cidadão do seu país, como membro de um
grupo social definido, como praticante de uma dada vocação, como seguidor de
ideias religiosas, metafísicas, filosóficas e políticas definidas. Como partidário de muitas lutas e controvérsias.
Ele mesmo não cria suas ideias e escalas de valor, toma-as emprestadas de
outras pessoas. Sua ideologia é o que seu ambiente lhe impõe. Apenas muito
poucos homens têm o dom de pensar ideias novas e originais e mudar o corpo
tradicional de credos e doutrinas.
O homem comum não
especula sobre as grandes questões. Quanto a estas, confia na autoridade de
outras pessoas, comporta-se como todo sujeito decente deve se comportar, ele é
como ovelha no rebanho. O homem comum faz escolhas, escolhe adotar padrões tradicionais
ou padrões adotados por outras pessoas, pois está convencido de que este
procedimento seja o mais adequado para obter o seu próprio bem-estar. Está
pronto para mudar sua ideologia e consequentemente seu modo de agir, sempre que
se convencer de que isso servirá melhor a seus próprios interesses. Tão logo
descobre que a insistência no modo atual pode impedir a realização de fins
considerados mais desejáveis, ele muda de atitude.
O historiador não
relata fatos tal como aconteceram, relata apenas fatos relevantes [na visão
egocêntrica dele]. A
história nunca pode ser outra coisa se não a distorção de fatos. Nunca pode ser realmente algo científico,
neutro em relação a valores e intenções, apenas visando a
verdade.
O historiador tenta
atribuir a cada ação a sua relevância, isto é, sua influência no curso dos
acontecimentos.
Os
escritos dos historiadores são sempre unilaterais e parciais. Eles não relatam
os fatos, eles os distorcem.
[Elaborar sobre a
questão de ações que têm eco maior do que outras.]
Cada nação, partido
e grupo linguistico, tem seus próprios historiadores e suas próprias ideias
sobre a história.
[Além disso, a
evolução do conhecimento muda a história. Na China, por um exemplo de Mises,
quando não choveu porque o imperador pecou, e quando choveu foi porque ele se
penitenciou do seu pecado.]
Ao procurar as
causas de uma vaca não dar leite, um veterinário moderno desconsiderará,
inteiramente, todos os relatos sobre um mau-olhado de uma bruxa. Sua visão
teria sido diferente a [apenas] 300 anos.
[Dependendo do lado
que você está numa contenda, a interpretação dos fatos
desfavoráveis ou favoráveis, diferem.]
Da mesma forma, um
historiador europeu tratando das invasões mongóis do século XIII, pode falar de
eventos favoráveis e desfavoráveis, pois assume o ponto de vista dos defensores
europeus da civilização ocidental, mas essa aprovação de padrão de valor de uma
das partes, não necessariamente interfere no conteúdo material de seu estudo.
[Analisar, avaliar,
as religiões como fatores impeditivos do entendimento dos processos tanto da
vida quanto do universo.]
Indivíduos
diferentes analisam as mesmas coisas de maneiras diferentes. E as avaliações
mudam entre os mesmos indivíduos em diferentes condições. [circunstâncias]
O entendimento
tenta atribuir relevância a cada fator histórico, mas o entendimento do
historiador é sempre pintado com as marcas de sua personalidade, refletindo a
mente de seu autor.
O entendimento não
é um privilégio de historiadores, é um assunto de todos. Ao observar as
condições de um ambiente, todos somos historiadores.
[As ciências “a
priori”, para Mises: a lógica, a matemática e Praxeologia.]
A ação,
necessariamente, visa sempre o futuro. Visa, portanto, condições incertas, e,
portanto, é sempre especulação. O homem, agente, observa, por assim dizer, com
os olhos de um historiador no futuro.
Não é o tipo ideal
que determina o modo de entendimento. É o modo de entendimento que pede a
construção e o uso de tipos ideais correspondentes. Aqui vai um exemplo: se
falar de Napoleão deve referir-se a esses tipos ideais como comandante,
ditador, líder revolucionário, e tratar da revolução francesa, deve referir-se
a tipos ideais como revolução, desintegração de um regime estabelecido a
anarquia.
O tipo ideal não é a
incorporação de um lado o aspecto das várias metas e desejos do homem. É sempre
a representação de fenômenos complexos da realidade, quer
seja de homens, instituições ou ideologias.
Certos economistas
atrapalharam-se com um suposto paradoxo de que ouro tem mais valor que ferro, embora este último seja mais útil do que o primeiro.
[A respeito da teoria do valor das coisas.]
[Fazer algo numa
abordagem não de defender as ideias liberais, mas de analisar como seria o
mundo baseado nas ideias progressistas.]
Os déspotas e as
maiorias democráticas estão embriagados pelo poder. Eles devem relutantemente
admitir, estarem sujeitos às leis da natureza, mas rejeitam a própria noção de
lei econômica. Não são eles os legisladores supremos? Não têm eles o poder de
subjugar todos os adversários?
Nenhum senhor da
guerra está propenso a reconhecer quaisquer limites que não sejam aqueles que
lhe foram impostos por uma força armada superior.
Os servis escribas
estão sempre prontos a alimentar tal complacência expondo as doutrinas
apropriadas.
A economia é um
desafio à presunção dos detentores do poder. Um economista nunca pode ser o
favorito de autocratas e demagogos, com estes ele é sempre um criador de
travessuras. E quanto mais interiormente convencidos de que suas objeções são
bem fundamentadas, mais o odeiam.
Nada pode invalidar
a afirmação de que o homem faz uso de sua razão para realizar anseios e
desejos.
Vida e realidade não são lógicas nem
ilógicas. São o que são.
O homem procura a verdade, isto é, a
compreensão mais adequada da realidade. Isto na medida em que a estrutura de sua mente e de seu
raciocínio, torna a verdade acessível para ele.[verdade]
O homem nunca pode
tornar-se onisciente, nunca pode estar absolutamente certo de que suas
investigações não estão equivocadas, e de que aquilo que ele considera verdade,
não é erro.