EXTRATO DE: 50 PENSADORES DA HISTÓRIA

Marnie Hughes-Warrington - Ed. Contexto - 2002

 

 

MICHEL FOUCAULT

Para ele, muitas pessoas acreditam que o advento do manicômio no século XIX introduziu tratamentos mais humanos para os loucos. Na sua opinião, ao contrário, os manicômios são mais desumanos porque estão associados à percepção de que os loucos são moralmente responsáveis pela própria doença.

 

Foucault explora em detalhes sanguinolentos a mudança de um sistema de justiça caracterizado por execuções públicas para um sistema caracterizado pelo encarceramento. [... isto se deu na perspectiva de que o novo sistema seria menos oneroso de controle social (!!!)]

 

O pan-opticismo abarca as ideias de vigilância permanente e de controle por meio da normalização. As atividades das pessoas são esmiuçadas de um modo que assegure que elas se sujeitem a padrões ocultos ou públicos e a valores que correspondam à “normalidade”.

 

Foucault tende [em defesa de suas proposições] a favorecer a ideia de que é possível tornar um argumento convincente se ele for proferido vigorosamente.

 

FRANCIS FUKUYAMA                 

Em um ensaio, Kant diz que acredita que está havendo um progresso em relação à realização de uma “constituição civil perfeita”: um estado no qual o direito fundamental humano à liberdade plena é equilibrado com os direitos dos outros. O mecanismo que torna esse progresso possível é o “antagonismo” ou a “sociabilidade associal dos homens”. As pessoas gostam de se associar umas com as outras, mas também gostam de se isolar porque desejam que tudo ocorra de acordo com seus anseios.

 

Sócrates sugere que a alma é movida por três coisas: o desejo, a razão e o thymos [vivacidade ou auto-estima]. O desejo e a razão dão forma a vários atos humanos. Mas as pessoas também procuram um reconhecimento “vivo” de seu próprio valor ou das pessoas, das coisas ou dos princípios que elas valorizam.

 

Para Nietzsche, a liberdade, a criatividade e a primazia, somente podem nascer do desejo de alguém de ser reconhecido como melhor do que os outros. O homem procura o combate, o caos e o sacrifício para provar que ele é mais do que um animal comum.

 

PIETER GEYL

Para ele, essas ondas “a favor” e “contra” Napoleão, demonstraram que os relatos históricos são influenciados pelos interesses ideológicos e políticos dos historiadores.

 

Não pode haver nenhum “olho de Deus” ou ponto de vista onisciente dos avanços históricos porque todas as histórias surgem de determinados contextos sócio-históricos. Independentemente dos historiadores gostarem ou mesmo de terem consciência disso, suas palavras são moldadas por suas ideias e esperanças.

 

Inúmeros fatores determinam mudanças históricas e isolar uma delas seria a-histórico.

 

G. W. F. HEGEL

Para ele, todo historiador, mesmo aquele que afirma que deixa os “fatos falar por si mesmos”,

Traz consigo suas categorias e examina os dados por meio delas. Em tudo o que se supõe científico, a Razão deve estar desperta e a reflexão deve ser aplicada.

 

... historiadores chegaram à conclusão de que suas próprias opiniões podem não estar de acordo com as opiniões das pessoas sobre as quais eles escrevem.

 

Assim sendo, “a história do mundo nada mais é que a evolução da consciência de liberdade”.

 

Para Sócrates, a razão, não os costumes sociais, era o juízo final sobre o certo e o errado.

 

Para ele, a liberdade só pode ser conseguida em sua plenitude em uma monarquia constitucional A monarquia é necessária porque em algum lugar deve haver o poder da decisão suprema. (...) [na democracia] o monarca na maioria das vezes não terá de fazer nada além de assinar o próprio nome. E convicção de Hegel é tal que o sufrágio universal não funciona, pois isso equivaleria ao povo votar de acordo com seus interesses materiais ou mesmo a preferências ou antipatias caprichosas que porventura as pessoas desenvolvessem por um ou outro candidato. Na monarquia constitucional, os interesses individuais e os interesses da comunidade estão em harmonia.

 

Na dialética, na medida que exploramos uma ideia (tese), chegamos a seus limites e necessariamente nos aproximamos de uma reflexão cuja ideia é diametralmente oposta (antítese). O conflito resultante entre a tese e a antítese leva à contemplação de uma nova idéia ou síntese, que, por sua vez, pode ser considerada uma de tese de outra tríade dialética.

 

MARTIN HEIDEGGER

A angústia (...) é a compreensão de que estamos sendo lançados no mundo e de que nossa existência é finita.

 

HERÓDOTO

As fases de desenvolvimento e declínio, acredita Heródoto, podem ser explicadas de duas maneiras. Primeira, a felicidade contínua gera arrogância. Pessoas arrogantes, diz ele, são propensas a ignorar conselhos. Uma vez que elas ultrapassam seus limites mortais, uma punição lhes inflige na forma de Justiça (Dike) ou castigo (Nemesis).

 

ERIC HOBSBAWN

Eu costumava imaginar que a profissão de história, diferentemente da física nuclear, por exemplo, pelo menos não causasse nenhum prejuízo. Hoje estou ciente de que isso é possível. Nossas investigações podem se tornar uma fábrica de bombas, assim como as oficinas nas quais o IRA aprendeu a transformar fertilizante químico em explosivo.

 

A história pode causar prejuízos porque o passado pode ser usado para legitimar determinadas ações. Ela pode ser o "fertilizante" das ideologias nacionalista, étnica e fundamentalista.

 

IMMANUEL KANT

Para Kant, a mente não é moldada pelo mundo da experiência; em vez disso, o mundo da experiência é moldado pelas formas e categorias imutáveis da mente que existem a priori e não se originam nem são testadas pela experiência sensorial.

 

Os indivíduos e as nações são moralmente obrigados a perseguir a paz.

 

TITO LIVIO

Na fundação de Roma, Rômulo estabeleceu rapidamente uma hierarquia social e política e usou a religião para assegurar seu governo.

 

MICHAEL OAKESHOTT

A mente humana cria o mundo que ela compreende. Isto é, somos nós que criamos a realidade, e o mundo material e o corpo físico não existem sem nós. A única realidade é a consciência e a experiência. Além disso, toda experiência humana está inter-relacionada; nada e ninguém está desunido, é único ou está isolado. A experiência humana é uma unidade

na qual todos os elementos são indispensáveis, na qual ninguém é mais importante do que ninguém e  ninguém está imune à mudança e à reorganização. A unidade de um mundo de ideias assenta-se sobre sua coerência e não sobre sua conformidade ou concordância com ideias estabelecidas.

 

PAUL RICOEUR

Somos seres de fraca memória. As suposições confirmam nossas ideias e ações. Às vezes, elas nos são transparentes; sabemos que elas estão abertas para discussão e para uma nova descrição. Porém, frequentemente nos esquecemos de que elas são suposições e as tomamos como verdades que dispensam explicação. Isso parece sensato, pois não seria praticamente possível submeter todas as nossas ideias e ações a um exame crítico.

 

Ricoeur acredita que o leitor entra em um diálogo com o texto e tenta compreender o que o texto diz à luz de suas experiências. (...) Portanto existe a possibilidade de o leitor interpretar mal um texto.

O leitor e o texto encontram-se em um "círculo hermenêutico". Em uma extremidade do circulo estão as características do texto que são independentes do leitor, e na outra estão as experiências de vida do leitor.

 

Se percebemos que as ideias e as esperanças que fundamentam os relatos históricos podem ser submetidas a um exame critico, então poderemos alcançar a compreensão de que  nossas próprias ideias e esperanças também estão abertas ao questionamento.

 

TÁCITO

Os imperadores não podem fugir da verdade severa da história.