INEPTIDÃO
A
questão é velha e rançosa, mas persiste. Discriminação
"preconceituosa" através da diferenciação de etnia, de cor, ou de
ambas. Discriminação é uma condição da natureza humana. Mais que humana, animal
e, portanto, entranhada na genética. Genética esta moldada pela necessidade de
sobrevivência. Discriminar é separar o que pode ser uma ameaça daquilo que pode
ser um benefício. Discriminação é o senso básico, mínimo, para prorrogar a
sobrevivência neste reino de espécies variadas. Se na sociedade moderna,
pretensamente como querem uns, se tornou um problema, é outra questão, questão
que, por isso, sempre volta à tona pela mão de alguma minoria que se auto
discrimina ou é discriminada por iniciativas de governos paternalistas com a
desculpa de proteger ou de criar sustentação para políticas populistas,
consequentemente, injustas por definição.
Vou
com fúria ao teclado após assistir alguns minutos de um programa de um canal de
televisão a cabo em que o jornalista Alexandre Garcia entrevista um pesquisador
da área de biogenética e uma representante do INEP, entidade que é braço do
governo petista que patrocina, neste momento, uma ampla e geral pesquisa em
mais de 260 mil escolas brasileiras para, entre outras coisas, saber qual a cor
e a raça dos estudantes brasileiros. Enquanto o pesquisador relata que os
estudos genéticos realizados no Brasil - em consonância com estudos realizados
no mundo inteiro - só provam que não há como nos separar por cor e muito menos
por raça, a representante do INEP aumenta o tom de voz para insistir na tese
dos negros oprimidos do Brasil. Não estranhamente, ela mesma, uma parda.
O
problema das minorias é recorrente e dialético. Ora querem se ver como
minorias, ora querem (precisam) se ver como maioria. A proposição afeta todas
as áreas da condição humana, mas concentremo-nos no aspecto étnico por ser a
questão em foco. Os negros - mas só os negros inseridos em uma nação
majoritariamente composta por não-negros - clamam por uma inserção não
discriminatória na sociedade, mas usam como tática enfatizar a diferenciação
étnica, mas que insistem, contra todo o conhecimento científico, em considerar
como racial. A tese da "doutora" do governo é que existe uma
oligarquia que não discute "o problema" como uma estratégia para
manter a discriminação. Ora, alguma coisa está errada. Se eu não me sinto
discriminado (e para isso eu preciso antes me sentir negativamente diferente) é
pela simples razão de que minha cor é semelhante à cor da maioria dos cidadãos
com os quais convivo nos ambientes sociais que frequento.
E, inversamente, não sou eu que me sinto positivamente diferente, mas sou assim
discriminado em função de cor porque o meu sobrenome revela uma ancestralidade
européia e esconde, convenientemente, a africana. O que a doutora quer com a
evidenciação da cor e da "raça" de cada um, é sustentar argumentos
para benesses a minorias, particularmente à minoria a que ela se vincula.
Depois
que passei dos 40 anos, já com filhos despachados para a vida e o mundo, passei
a achar absolutamente estúpido as fichas cadastrais que me perguntam o nome de
meu pai e de minha mãe. Sempre penso, para que será que serve isto? Não posso
imaginar que estando eu perto dos 60 anos, se não honrar algum compromisso
assumido, o credor irá cobrar do meu velho e alquebrado pai ou vá bater na
lápide do túmulo de minha mãe! A mesma irritação me virá se tiver que responder
qual a minha cor e minha "raça". Eu disse "virá" porque
nunca enfrentei qualquer questionário com essa pergunta. Mas caso venha, a quem
interessará a resposta? Não sendo uma questão médica vinculando minha cor ao
risco de adquirir câncer de pele, a que propósito servirá? Além de uma dúvida
terrível antes de responder a que "raça" pertenço, se eu responder de
alguma forma, que diabos de utilidade isto terá a não ser para me discriminar,
para o bem ou para o mal?
Nunca
entendi a utilidade destas perguntas e o porquê delas só serem feitas em
circunstâncias em que a presença esperada de não-brancos é alta e/ou quando se
quer classificar quem irá ser o beneficiado por algum programa de
"ajuda" governamental. Sendo originário de família de classe média,
cujo chefe de família era um comerciante bem sucedido, e tendo frequentado escolas particulares, nunca fui submetido a tal
constrangimento. Mas fico questionando por que não perguntam o tamanho do meu
nariz (talvez servisse à indústria ótica), ou quanto calço (idem, indústria de
calçados, chuteiras) etc. Ou será que o governo está pensando em abrir uma nova
"Ana", ANACOR, por exemplo, para controlar o mix de cor de pele da
população brasileira de modo a não permitir que nasçam mais nequinhos
que branquelos? Ou vice-versa.
Preconceito,
descriminação, diferenciação, são conceitos que nos ajudam a viver. O governo
precisa ser mais apto, mais capaz, mais ágil em proporcionar crescimento
econômico para eliminar a diferença entre os mais ricos e os mais pobres e, de
preferência, eliminar a pobreza. Se tal acontecer, as diferenças estarão
minimizadas, e poderemos parar de ser ineptos.