ESTÁ NA HORA DO BRASIL
"Quando eu era criança pequena, lá na
minha terra..."
Joselino Barbacena, personagem da
Escolinha do Prof. Raimundo, interpretado por Antônio Carlos Pires
Não sei se ainda é assim, deve ser, porque o
que funciona perdura. Era um sistema de rodízio onde, a cada domingo ou
feriado, apenas algumas farmácias ficavam abertas. Era bom pra todo mundo. Para
os comerciantes que não ficavam obrigados a abrir com pouco movimento. Para os
empregados, que iriam usufruir mais domingos e feriados com suas famílias. E
para nós, cidadãos, que não ficávamos privados de um serviço essencial como o
do comércio de medicamentos.
Agora, lá na minha terra - e provavelmente na
sua também -, isso era feito pelos próprios comerciantes do ramo sem
interferência do poder público. Eram eles mesmos que determinavam a escala. O
quem e quando. Além disso, eles mesmos cuidavam de colocar nos jornais a
relação das farmácias de "plantão". E o mais interessante: afixado na
porta de todas as farmácias que ficavam fechadas, um cartaz indicando o nome e
o endereço das que estavam de plantão naquele dia. Durante anos nunca ouvi
ninguém reclamar. Nem notícia de que algum dono de farmácia tivesse furado o
esquema.
E por que será que o Brasil não pode
funcionar assim? Não venham me dizer que o povo não sabe. Nem, como já disseram
do exercício do voto, que "o povo não está preparado", "não sabe
votar". Não podemos continuar confundindo perda do traquejo com
incapacidade. Bem melhor seria dar um voto de confiança e assumir que somos uma
nação de indivíduos capazes.
O próprio governo tem a possibilidade de dar
um exemplo nacional de como a sociedade pode ser livre sem perder a
responsabilidade social. Querem ver?
Pegue-se a transmissão obrigatória da Hora
do Brasil por todas as emissoras de rádio AM e FM. É o maior exemplo de
desperdício, sinônimo de improdutividade, num governo que propõe como base de
sustentação da política de desenvolvimento, um projeto de qualidade e
competitividade. É muita emissora de rádio pra pouco ouvinte. Igual a muita
farmácia pra pouco doente. Que tal o governo apenas determinar a relação entre
população e quantidade de rádios que devem transmitir o dito programa em cada
cidade e deixar o resto com as empresas de radiodifusão?
Apenas para exemplo, a coisa poderia
funcionar mais ou menos assim: haveria um plantão de emissoras por períodos
(digamos de três meses) que transmitiriam a Hora do Brasil; as demais estariam
com suas programações normais e, de 15 em 15 minutos, informariam o nome e a
frequência das emissoras de plantão.
O estado não perde nada, pois quem ouve
hoje, continuará ouvindo. O estado continuará tendo o seu canal de comunicação
com o Brasil inteiro. O Estado ganha porque estará atendendo a uma
reivindicação nacional. O Estado também ganha porque será uma atitude de
distensão junto aos veículos de comunicação que, além da Hora do Brasil, estão
obrigados a ceder horário para os partidos políticos. O cidadão brasileiro ganha a liberdade de ouvir o que bem lhe apetece.
O cidadão não perde porque o programa não acaba.
O empresário do setor de radiofonia ganha a possibilidade de gerar mais receita. Que gera mais lucro.
Mais imposto de renda. Mais investimento. Mais oportunidade de trabalho.
Vamos tirar as camisas de força que impedem
o desenvolvimento do Brasil. O governo tem a possibilidade de dar um grande
passo neste sentido, pois tem à mão uma oportunidade que, dada sua abrangência,
repercutirá nos mais distantes municípios deste país,
servindo de exemplo para outras iniciativas.
Está na hora de mudar o sistema de
transmissão da Hora do Brasil porque chegou a hora do
Brasil.