"E EU QUE
NÃO CREIO PEÇO A DEUS POR MINHA GENTE..."
(Garoto / Vinicius de Moraes / Chico Buarque)
Peço a Deus por essa gente
que eu não conheço e que morre de desapreço e ignorância. Que morre do
preconceito de gente que pensa que isso é coisa de pederasta e que já está
cheia de ouvir falar em AIDS. Quantas pessoas terão que morrer para essa gente
se sensibilizar. Quantas vezes mais, hospitais como o Gaffrée
Guinle, vão ter que mendigar recursos para pesquisar a cura e amenizar o
sofrimento causado por um mal tão canalha que se adquire por amor ou - ironia
maior - por transfusão
de sangue (tentativa de manter a vida). E tantas são as transfusões e tantos
são os amores.
Hoje perco mais um amigo vítima desta síndrome. Um irmão querido. Um homem
bom, doce, meigo. Profissional respeitado por sua extremada competência e
dedicação. Um amigo mais que irmão e um irmão tão amigo. O que havia de melhor
em ser humano.
Hoje a gente está angustiado e
chateado porque você foi assim, sem mais nem menos, sem um adeus, um tchau, até
mais tarde. Nem mesmo um fax. Mas isso passa. Fica a força que te moveu durante
dois anos e meio entremeados de UTIs e esperanças.
Recheados de injeções e AZTs. Acompanhados de
transfusões de sangue e vida. Isso, vivendo, apesar e acima de tudo.
Fiquei eu a te dever minha
presença. A distância não justifica. Me perdoe meu
irmão Ézio e descanse em paz.
"...que vontade de
chorar."
31/12/91